Uma crônica piegas



Uma crônica piegas?!

Por Assis Rodrigues


Perdão, provável leitor, não é desleixo para com você, mas inicio o texto agora "sem saber mesmo o rumo que irás tomar". O texto domina quem escreve, sabia? Não gosto de reler para fazer as correções dos erros de digitação e gramaticais porque se eu parar para fazer isso você não receberá este rabisco. Aguarde os contos de "Santas, porém putas: contos e crônicas" que serão lapidados tal qual uma jóia.

Meu amigo L. T. D. me deu um conselho. Disse-me: já que você se arrepende, não envie de imediato, pare, pense, reavalie-o. Hoje não irei seguir tão nobre e sensato conselho, pois objetivo é mais enviar fotos do que a crônica, e também sei que não irei citar nome de ninguém, a não ser na forma acima: pelas iniciais. O texto já começa a fluir. Siga comigo a trilha.

Mais uma vez é alta madrugada, hoje eu sei que não tive insônia, resolvi mesmo deixar o sono preso. Gosto da noite, do seu indevassável mistério, dos seus "fantasmas" (sei que isso não existe, faz parte dos grandes mitos da humanidade). Ainda mais hoje que a lua brilha lá fora, joga sobre o céu (espaço aéreo) e no espaço terrestre uma luz azul, que nos encanta. Ih, já tem gente querendo dizer que eu sou lunático, alguém com o pensamento de Simão Bacamarte, só pode. F. e F. eu não sou o Simão. Você tem o direito de assim pensar, mas tenho certeza que o que falo para você me comparar ao personagem não tem sentido, pois eu falo com razão. Que pense o que quiser, como escreveu a sempre inspirada ovelha negra Rita Lee em verso: "Dizem que sou louco, por pensar assim, se eu sou muito louco por eu ser feliz (...) Eu juro que é melhor não ser o normal, se eu posso pensar que Deus sou eu(...)". Sim, eu sou deus e sou o diabo, depende do momento. Todos nós somos os dois ao mesmo tempo, são, afinal, os dois lados de uma mesma moeda, como dizem.

Você sabe (pode haver momento que eu mude pessoa do singular para o plural, oquei?) que não é da minha personalidade ser piegas, cair para o lado do idealismo, nada de romantismo, de ilusões, pois encaro o mundo como ele é: real. Escreveu o poeta Cartola, em estado poético único, um poema para todo o sempre amém. Sei que você sabe que poesia e poema não são mesma coisa. O poeta escreveu em "O mundo é um moinho", que não foi escrito para uma amante, mas para uma filha, é o que falam, no entanto, diz muito sobre as ilusões, sobre o mundo imaginário, as obsessões maléficas, que da cura tenho gravado no braço direito a palavra "liberdade" e o desenho de uma asa, após perceber que a mente humana é perigosa, pode nos levar a ilusões obsessivas, doentias. Vicia-se nisso, e ao me libertar disso resolvi fazer a tatuagem.


Liberdade, fraternidade e igualdade. Opa, o que tem a ver a Revolução Francesa com o que eu escrevo? A palavra liberdade. Nem isso, aqui a liberdade foi usada em outro contexto. Hoje nós sabemos que tal lema continua, mas somado a outros valores na sociedade contemporâneo. Hoje já se fala em direitos humanos e/ou fundamentais até de quinta geração. Este termo também é criticado por muitos autores. Não quero escrever um artigo jurídico, então, paro por aqui. Vamos ao poema de Cartola, disse o mestre do samba, da música (transcrevo trechos):
"(...) Preste atenção o mundo é um moinho/Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos/ Vai reduzir as ilusões a pó/ Preste atenção querida/De cada amor tu herdará só o cinismo/ Quando notares estás à beira do à beira do abismo/ Abismo que cavastes com teus pés."


Você, leitor, já percebeu que nos últimos dias ando muito musical. Eu gosto muito dessa música. Ela diz muito. Dispensa comentários. Apenas quero dizer que é assim que eu encaro a vida. Assim é a vida. O verso "De cada amor tu só herdarás o cinismo" é título de um ótimo romance do meu amigo Arthur Dapieve, este mesmo me deu em mãos, de presente - o livro. Eu não nego: acho irretocável esse verso, seria um sacrilégio retocá-lo, é claro. Ah, legal que tem um livro sobre a poesia do imortal Chico que mostra como o poema foi feito, para depois informar como teve que ficar devido à censura do Brasil ditatorial. Doce engano, alguém acredita que vivemos uma democracia? Esta continua sendo no Brasil uma utopia, também, com o governo do PT, o que poderíamos esperar?


Céus!Por falar em céu, voltei a olhar da minha janela a luz da lua. Está mesmo tão linda nesta madrugada. Queria tanto estar num lugar em que eu pudesse deitar no chão, de cabeça para cima, olhos bem abertos para ver todo o azul do luar (desculpa a rima pobre) ou ir à Lua, mas ficar com os pés no chão. Ih, voltei à caminhada de hoje, pois gosto tanto disso e por que não fazer mais? Há tempo. A mania de dizermos que não temos tempo para isso, para aquilo, para você, para ti, muito menos para nós mesmos parece que virou lei, e de muita efetividade. Tempo temos, repito. Sei que não posso ficar aqui por muito tempo, pois ninguém se dará ao trabalho de ler algo desse velho rabugento. Sem problemas, na verdade eu escrevo para mim, para o meu próprio prazer.


Se tiver algum leitor me seguindo, não se perca, pode me seguir, aviso: terei que passar por muitos curvas, espero que não desista, pois poderá arrepender-se. Falo das curvas que você com certeza também tem por elas muita admiração. Gosto muito de percorrê-las, admirá-las, tê-las como posse, mas são tantos os que têm direito a elas.


Não tem jeito. Estou embromando de novo, parece que estou querendo fugir da pieguice que era meu objetivo. Não sou piegas, sou chato! Ouvi isso de uma das pessoas que em mim nada afeta, por dois motivos: ela não é obrigada a ler e por saber que não tem capacidade de fazer crítica literária. É pessoa que está longe da arte literária. O que diz um futuro defensor público não me importa. Sei que muita gente já entendeu a mensagem.


Pronto. Paro de enrolar. Serei piegas, obsoleto, cafona, seja o que vou. Além de "O mundo é um moinho" gosto muito de "As rolam não falam", "Acontece", todas do Cartola, só para citar as músicas dele. Cartola, Pixinguinha e Candeia foram verdadeiros poetas. Hoje um público que eu não entendo fica ouvindo pagodes, do tipo coisas de um cara que tem no nome Pagodinho. Liberdade deles, claro.


Bobagem, eu sei, pois admirar o belo às vezes parece que nos torna cafona. Nada disso, somente alguém com inteligência pode apreciar o belo e senti-lo (o tal de ex-presidiário, que faz lixo musical, que chamam de pagode ? é pobreza total, e também do Pagodinho), ter sentimentos e emoções que a arte nos proporciona não é brega. Entenda ? digo a arte e não lixo, pobrezas outras. Parece piegas por ser de admiração, de chegar a querer dizer que o mundo é belo, apesar dos pesares, sim, que a vida vale a pena, custe o que custar. E dizer obrigado. Sim, obrigado por está podendo caminhar bem, por falar, agir... Dizer obrigado pela amizade dos verdadeiros amigos - AMIGOS. Prometo, no próximo parágrafo começo com mais vigor a percorrer a trilha que leva à Cachoeira dos Primatas, e nela vimos vários.


Meu amigo de trilhas, viagens (Recife, Olinda, Ouro Preto, BH...) e estudos, amigo pra valer, o B. F. A. e eu ficamos maravilhados com o espetáculo que eles, primatas, fizeram questão de nos presentear. Tudo de graça, nem bananas tínhamos para oferecer. Ficamos horas olhando para cima, para o palco: a copa das árvores, que formam uma verdadeira rede, pois é uma mata fechada. Só indo para saber o significado de um passeio desses.
Isso de me sentir mais elevado acontece nas coisas que parecem ser tão simples. Acontece quando faço trilhas, quando entro em contato com a natureza que não seja somente a humana, quando eu saio da selva de pedra, da aflição, da ansiedade cotidiana, para me largar, poder respirar aliviado por saber que se trata de ar puro, de embrenhar-me nas trilhas da maior floresta urbana do mundo, que nós, moradores no Rio, podemos apreciá-las, percorrê-las calmamente, que privilégio!


Quando estou em lugares que me fazem bem, às vezes me bate um leve medo, aqui esta palavra não deveria ser usada, eu sei, saiba que a uso num sentido como se de repente fosse despertar, como se estivesse em um sonho, e por isso todo o meu bem-estar desaparecer, e não poder mais apanhá-lo, porque na verdade quando lá estou, durante todo o tempo, esqueço-me, para ser mais eu, deixar de lado o meu tão enraizado existencialismo mortal, para viver um existencialismo mais sublime, e, ao mesmo tempo, apesar de ter certeza que é palpável, que é real, existir mais e mais - ser por algumas horas, eterno.


Por isso e por também gostar da selva de pedra que é a cidade do Rio de Janeiro, no entanto se diferencia em muito das outras. Eu amo o Rio. Não consigo imaginar-me vivendo muito tempo longe desta cidade, que encanta a todos. Já escrevi em outro rabisco esse amor pela cidade cheia de curvas, charmosa que é colírio que pode curar a cegueira. Na época comparei-a a uma mulher, bela e sofrida, que até apanha, mas está sempre de cabeça erguida.


Que ela dê uma surra em seus moradores cruéis, que não conseguem tratá-la com o amor que merece. Dar-lhe-ei um chicote para açoitar seus algozes: os políticos safados, policiais e demais servidores sem escrúpulos que sujam sua imagem, de falsos crentes seja de que religião for... Rio, dar uma surra nos charlatões que danificam a cidade com cartazes do tipo: trago a pessoa amada em 24 horas. Mata ou em caos menos grave expulsa com toda tua força de autodefesa todos os criminosos: traficantes, bicheiro-assassinos que comandam as escolas de samba, os PM?s que não passam de bandidos de farda, os políticos ladrões, os que freqüenta suas belas praias, ficam em tuas curvas, mas fazem delas depósitos de lixo, os flanelinhas, enfim, todos os que te maltratam. Você é tão linda quanto a Luana Piavani, portanto, faça uso da Lei Maria da Penha.


O Rio é uma mulher muito forte e encontra em si mesma os antígenos para a cura e segue linda. Ela tem seu charme, ela é boêmia, sedutora, é provocante, lasciva também, pois muito sensual, é múltipla, é democrática. Bela tal qual a Luana Piovani, a Sheron Menezes, a Mariana Ximenes, a Maitê Proença (mesmo coroa dá de 10 a zero em muitas donzelas), a Maria Bethânia, o Chico Buarque, o Paulinho da Viola, a Marisa Monte e tantas outras belezas efêmeras, porém eternas pela arte. Para ser sincero ela (a cidade do Rio) é indescritível em sua plenitude, apenas exemplificada assim. Cada curva sua é um deslumbramento. Como esquecer, por exemplo, as curvas da Av. Niemayer, do caminho da Vista Chinesa, de Santa Teresa, da Pista Cláudio Coutinho, das Paineiras, as curvas da praia de Copacabana? A Barra dá a sensação que não pertence ao Rio. Não gosto de lá e de suas extensões.

Rio, você possui o Corcovado (que sem a estátua do Cristo seria mais belo), o Morro da Urca junto ao Pão de Açúcar, a Pedra Bonita, a Pedra da Gávea, uma extensão de belas praias, a Lapa (já um pouco decadente, mais pela freqüência de pessoas que atingem a tua beleza, tem o Arco do Teles, o B.G .... Tu és infinitamente bela.

Não tem como descrever o que se sente quando se chega ao topo da Pedra da Gávea; só o fato de ultrapassar a tua famosa Carrasqueira já é possível ter o sentimento de total paz, mente liberta, apesar de ainda caminhar muito até o teu topo. Vontade de gritar, abraçar a todos que por lá estão. Lá nos sentimos íntimos de todos. Não há diferenças. Isso acontece em todas as trilhas. As pessoas ficam mais humanas, não vêem o outro como estranho, pois todos se cumprimentam. Faz me lembrar do interior em que as pessoas falam com todos que encontram num caminho. Não sei se todo fascínio que tenho pela beleza natural vem do que dizem com o que eu pareço: índio. Pode ser que venha dos meus antepassados mais distantes, dos mais próximos não é. Todo mundo diz que eu pareço com índio. Perguntam se eu sou do Pará, do Amazonas, e quando dizem que pareço com boliviano já não gosto muito. Mas tem um amigo do E.B que só me chama de "La paz", e não vejo mal nisso. Prefiro, porém, ser parecido com índio brasileiro.


Como me senti vitorioso na última vez que fui à Pedra da Gávea, pois pensei que não ia conseguir, por estar tão fora de forma. Mas meu amigo E. M, eterno sócio, que ia conhecê-la pela primeira vez, me ajudou muito. É, respira-se, descansa-se um pouco e continua. E ao chegar lá eu não acreditei: venci um obstáculo aparente. A primeira vez estava eu ótimo, em plena forma física, quase subi correndo. E dessa primeira experiência de Pedra da Gávea, lugar mítico, eu me lembro de uma garota que pensávamos que ela não ia conseguir. Chegamos à Carrasqueira e indagamos: será que ela passar por ela? Passou. No retorno foi a primeira a descer. Parece tão banal o que escrevo, não é, pois falo de superação. Piegas, já falei que hoje minha crônica seria neste estilo, bem diferente do que você leitor e amigos conhecem. O que quero mesmo dizer é que nós podemos muito mais do que imaginamos.


Na segunda vez realmente foi "puxado" todo o percurso. Imaginem se eu tivesse desistido, até hoje estaria me condenando e me sentindo fracassado. Consegui, venci e na volta fechamos com brinde no Clube Piraquê, com direito a relaxamento em grandes hidromassagens, saunas seca e a vapor. E que vista se tem da Lagoa de dentro da sauna seca do clube. Lagoa Rodrigo de Freitas - outra maravilha desta cidade. Tínhamos que brindar pelo dia, pela vitória, mesmo cansados, felizes.


Ah, a trilha Parque Lage ? Corcovado ( no caso específico é escrito mesmo com "g"), já a percorri tantas vezes. Lembro-me que foi a segunda trilha pesada que minha querida S.M.B. fez comigo, ela tão linda e leve como um pequeno pássaro e forte como uma tigresa. No dia em que ela foi o meu amigo E.B, grande mestre, também foi. Atualmente quando eu a S.M.B vamos tomar banho de cachoeira depois vamos almoçar no Severina. Cada lugar citado pode-se ir várias vezes, pois cada vez é como se fosse a primeira. Não é uma mera repetição. São novas as sensações, sempre se tem a sensação de bem-estar, porém. Alcança-se o nirvana. Sério! Não estou fazendo ironia com algo tão sério. Peço que também não leve para conotação religiosa, por favor.


Pedra da Gávea, como descrever o que sentimos ao chegar lá? O próprio ato de percorrer essas trilhas já é algo que nos tira da mesquinhez da vida, o contato com toda a natureza ao nosso redor nos deixa leves, há um cansaço. .. O quê? Cansaço? Tudo são flores em nossas vidas em tais momentos. Amigos E.M e L.T.D., a última vez que fomos à Pedra Bonita, hem?! Inesquecível. Fomos num grupo de mais pessoas que no momento não lembro os nomes. Sim, no dia em que lá estive pela última vez, todos nós flutuamos - sempre se sente além chão, quando lá estamos - os pássaros humanos nos pegaram e vários voos fizemos naquele dia tão bonito. Livres, leves e soltos, para usar de um clichê.


Na Pedra Bonita também já fui outras vezes. Já disse: cada vez é única. Normal, tudo é o momento. Não é o que foi nem o que será. O que será nunca saberemos se será. A primeira fui com meu irmão, com a linda S.M.B e a A., esta tivemos que contê-la para não ser raptada por um pássaro humano, lá onde eles pegam vôo, bem antes de começarmos a verdadeira trilha que nos leva até "à bela" Pedra Bonita. Nesse dia caminhamos muito, pois a caminhada começou logo no início da Estrada das Canoas.


Eu sei que as cachoeiras do Horto não são minhas, mas sinto como se fossem. Eu e a A.C.F. adorávamos percorrer várias num mesmo dia. Saíamos do Horto, a pé, e íamos para a dos Primatas. Elas não são minhas, não são de ninguém, são de todos nós, é um bem comum de todos. Um bem coletivo. Aproveitem. Lá podemos lavar as nossas almas, toda sujeira do nosso ser vai parar nas profundezas do mar ou mesmo evaporam. Falei em alma, não entenda como espírito, coisas tão abstratas, e sim como a mente. Limpeza da mente. É neste sentido que falo. Sei do entendimento dos outros, e respeito. E não julguem o meu rabisco como coisas do tipo autoajuda, isso será imperdoável. Sei que o estilo está próximo, pois falo do óbvio? Será? Não, das belezas que falo não são óbvias. Exigem que sejam vividas.


Leitor, o sublime é humano. Ontem meu amigo ao começar a fazer a trilha disse algo muito, muito humano: obrigado por me apresentar a este lugar. Claro que eu que tenho que agradecer ao ter boa companhia para fazer algo que eu tanto gosto. Até faço sozinho, também curto minha companhia, mas com pessoas amigas sempre é melhor. Da mesma forma agimos quando fomos ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Simultaneamente nos olhamos para dizer ao mesmo tempo, também, obrigado pelo passeio. Pieguice? Que seja, mas o bem-estar nos proporciona e nos libera para não termos medo de demonstrar as satisfações que parecem simples, mas tão importantes para as nossas vidas.


Ah, C.L, você me deve uma trilhada, lembra? E obrigado a todos os amigos trilheiros. Espero que todos sempre sigam as trilhas e veredas da paz, da alegria, do bem viver. E temos que ter mais contato com a natureza, nada de só natureza humana. Já disse um filósofo que o homem é o lobo do homem, então, não é na Floresta da Tijuca que iremos encontrar predadores do nosso ser.

Assis Rodrigues é um cara que brinca com as palavras...





Autor: Assis Rodrigues


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