DOENÇAS DE MULHER



CLASSIFICAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS PELA SABEDORIA POPULAR

Brena Aragão*
Claudia Xavier*
Diego Bruno Bentes
Edilene Gomes*
Ingrid Ferreira*
Marília Gabriela Andrade*
Marly da Conceição*
Silvio Lobato*
Augusto Oliveira**

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*Acadêmicos da turma 3 PED-N Instituto de Ensino Superior do Amapá ? IESAP
**Professor Doutor em Desenvolvimento Socioambiental.

Resumo:

Devido o vasto território, o Brasil possui uma das maiores biodiversidades do mundo, porém, pouco se conhece do potencial desses recursos naturais, em especial o medicinal. Por constituir-se em verdadeiro patrimônio genético, científico, econômico e cultural ligado ao saber popular, esse paper tem como objetivo contribuir com o estudo do uso de plantas medicinais, de suas utilizações e os saberes populares do Amapá. Para tanto, procura destacar a classificação das plantas medicinais utilizadas no tratamento das "doenças de mulher".

Palavras-Chave: Plantas Medicinais. Saber Popular. Doença de mulher.


Há uma crescente preocupação em nível mundial, com o problema de extinção das espécies da fauna e flora. Essa preocupação deve atingir, sobremaneira, aos brasileiros, pois esse fenômeno ocorre com bastante freqüência. Os esforços, até certo ponto isolados, administrados por algumas instituições no sentido de defender o patrimônio genético do país, que ainda estão desconhecidas e a demonstração de eixos com espécies vegetais nativas é crescente. As dificuldades encontradas para uma avaliação precisa sobre o nível de perda de espécies são muito grandes no Amapá. Mesmo assim, as listas de espécies ameaçadas e/ou extintas estão longe alcançar os objetivos desejados. O olhar acadêmico, a respeito do conhecimento que estas populações detêm sobre plantas e seus usos, tem crescido, após a constatação de que a base empírica desenvolvida por elas ao longo de séculos pode, em muitos casos, ter uma comprovação científica, que habilitaria a extensão destes usos à sociedade industrializada.
A utilização de chás (infusão e/ou decocção), de plantas frescas e/ou seca, é vista por alguns pesquisadores da área de forma errônea, pois são preparados em tempo que cada usuário conhece, porém, através deste trabalho, tenta-se dar esses esclarecimentos quanto às praticas herdadas e sobre grande importância científica. E também sobre males irreversíveis provocado ao organismo com preparações dos chás em vasilha de alumínio, pois o seu preparo deve ser em vasilha de louça ou vidro e o tempo de preparo que não deve ultrapassar 6 (seis) horas, onde perde-se todos os metabólicos secundários proveniente da planta e que assim não ocorrerá ação desejada no organismo (ACCORS, 2000). O paper se enredará por questões como o uso da plantas medicinais na história, o saber popular amapaense e as políticas nacionais das plantas medicinais e por fim abordara sobre saber popular, classificação de plantas medicinais para prevenção de "doenças de mulher".
A Fitoterapia, dada a sua capacidade de transformar e imprimir um saldo positivo quanto aos aspectos sócio-político-econômicos, constitui-se uma valiosa opção para todos na América Latina, notadamente para o Brasil. "Fitoterapia nasceu com a humanidade. Podem ser citados ilustres personagens da História que contribuíram para impulsionar a Fitoterapia. Por exemplo: Hipócrates, ilustre médico grego, que aconselhava medicamentos vegetais, Cho-Chinkei, o pai da medicina chinesa, Avicena, o pai da medicina árabe; Galeno, pai da farmácia; o romano Dioscórides" (LEÃO et al., 1993).
Na Grécia Antiga, os médicos acreditavam que a saúde resultava de um equilíbrio de forças naturais por isso adotavam plantas medicinais em seus tratamentos. As sociedades judaicas e mais tarde cristãs, para as quais as doenças eram consideradas um castigo divino, também adotava a fitoterapia.
No século XVI, a medicina era muito diferente do que é hoje em dia. Médicos que também chamavam físicos estudavam-se pelos livros de filósofos muito antigos e curavam os doentes consoantes os métodos indicados nesses livros. As disciplinas que se ensinavam nas universidades de medicina eram filosofia e lógica em vez de anatomia, química.
Depois da II Guerra Mundial houve uma difusão dos fármacos sintéticos, representada pelo avanço dos antibióticos e da vacinação em massa, causando a ilusão de que a tecnologia moderna havia vencido a guerra contra a doença e terapias naturais perderam o prestígio e a credibilidade (FARIA 1998).
Atualmente, no fim do século do XX e o início do século XXI, foram marcados pelo grande avanço na ciência e da tecnologia e pelos impactos que estas causaram na medicina. No entanto, apesar de todo esse desenvolvimento, em diversos casos a medicina ainda se mostra incapaz de resolver os problemas de saúde. Apesar de altas tecnologias terem sido incorporadas aos sistemas de diagnósticos e terapias, pesquisas mostram que cresce a insatisfação das pessoas com os custos dos tratamentos, com a frieza do atendimento médico, além da suspeita sobre a eficácia de alguns procedimentos médicos. A queixa geral das pessoas é o distanciamento entre o médico e o paciente (FIGUEIREDO et al., 2003).
Desde 1978, a OMS tem expressado a sua posição a respeito da necessidade de valorizar a utilização de plantas medicinais no âmbito medicinal, tendo em conta que 80% da população mundial utiliza estas plantas ou preparações destas no que se refere à atenção primária de saúde. Ao lado disso, destaca-se a participação dos países em desenvolvimento nesse processo, já que possuem 67% das espécies vegetais do mundo (BRASIL, 2009).
Considerando os preceitos da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde saúde é, "Um estado Completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença". O Ministério da Saúde organizou o Primeiro Encontro Nacional de Assistência Farmacêutica, em outubro de 2003 onde foi discutida a implantação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos no SUS (BRASIL, 2009).
A Lei Orgânica de Saúde (Lei 8080/90), que dispõe sobre a política de saúde no país remete à necessidade da implantação de uma Política Nacional de Medicamentos, centrada nas ações de Assistência Farmacêutica integral, como uma das condições estratégicas para a efetiva implantação no SUS. A Política Nacional de Medicamentos, como parte essencial da Política Nacional de Saúde, no âmbito de suas diretrizes para o desenvolvimento (BRASIL, 2004).
Os remédios farmacêuticos ainda são recomendados, porém, "deverá ser continuado e expandido o apoio às pesquisas que visem o aproveitamento do potencial terapêutico da flora e fauna nacionais, enfatizando a certificação de suas propriedades medicamentosas". Diante disso, a Gerência Técnica de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Políticas da Saúde constituiu um Grupo de Estudo de Fitoterápicos para elaboração da "Proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos", que objetiva garantir acesso e uso racional das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos, com segurança, eficácia e qualidade, contribuindo ao desenvolvimento deste setor no país (BRASIL, 2009).
Em contrapartida e também, em apoio a essa forma alternativa de tratamento, o conhecimento popular contribui e deixa em desconfiança tal tratamento. Essas dúvidas são geradas devido a falta de conhecimento dos próprios "benzedeiros1". Em resposta à entrevista, feita pelo grupo, de como conhece as classificações das ervas e de que como aprendeu, Dona Castorina2 responde que "foi um dom de Deus" e que são "plantas que Deus deixou isso aí vem do fundo da terra, não leva mistura de nada e vem com toda sustância (vigor físico)".
Quebra-pedra, guaraná e espinheira-santa são exemplos de plantas popularmente conhecidas e utilizadas no Amapá para fins terapêuticos, existem "tantas plantas com qualidade curativas que sobre elas já se escrevem verdadeiros tratados (BIAZZE, 2001, p.166)", mas infelizmente, por não possuirmos uma política adequada na área de registro de produtos obtidos de plantas medicinais, fica em dúvida sua efetividade.
A necessidade exige e a ciência busca a unificação do progresso com aquilo que a natureza oferece, respeitando a cultura do povo em torno do uso de produtos ou ervas medicinais para curar os males (ACCORSI, 2000). As plantas medicinais sempre foram utilizadas, sendo no passado o principal meio terapêutico conhecido para tratamento da população. A partir do conhecimento e uso popular, foram descobertos alguns medicamentos utilizados na medicina tradicional, entre eles estão os terapêuticos (uso popular) e fitoterápicos (manipulados) (BOTSARIS, 1999).
Dessa forma através da etnobotânica que se busca o conhecimento e o resgate do saber botânico tradicional, particularmente relacionado ao uso dos recursos da flora (ALMEIDA, 1993), Estas exigências podem ser encaradas como respostas às questões lançadas pela medicina comum, onde o campo do conhecimento seja popular ou científica da etnobotânica deveria abordar, entre outros aspectos, a forma como o homem acumula e transmite o conhecimento sobre o ambiente, a geração em que tecnologias para utilizar os recursos naturais (seleção e domesticação de espécies vegetais, produção de medicamentos) e o impacto desta mesma tecnologia sobre a relação homem-planta.
Observa-se que atualmente as plantas medicinais têm sido revalorizadas, por
diversas razões, uma em relevância neste trabalho, é a acessibilidade da população
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1 termo usado para pessoas que trabalham com curas através de "rezas" e ervas
2 Entrevista realizada com a curadora popular D. Maria Casturina da Silva no dia 20/11/2010.
em relação às plantas medicinais, de acordo com Biazzi (2001, p. 166):

As plantas que nascem, muitas vezes de forma gratuita, em nossos quintais ou pelos caminhos operam milagres de bem estar, recuperação e alívio. Aproximando-nos das plantas, procurando conhecê-las, estaremos enriquecendo a vida com companhia, beleza e saúde.

Conforme o traçado abaixo, notaremos como são classificados cientificamente e popularmente cada planta para cura ou prevenção de doença de mulher:
? Verônica (popular)
? Dalbergia subcymosa (científico)
Parte da planta utilizada: entre casca.
Uso fármaco-terapêutica: utilização para a anemia e antiinflamatório (pomada).
Modo de usar pelo saber popular: De acordo com a Dona Castorina o modo de utilização da verônica é traçado por um ritual próprio, passado de geração em geração, relata o modo popular de usar, a planta citada, da seguinte maneira:

Pro útero, pega a verônica, o barbatimão, casca da goiaba, você ferve, de manhã você coloca numa bacia, aí você toma aquele banho de asseio, fica saradinha (enrijece a parede vaginal), gostosa, isso aí tudo ajuda. [...] que é uma coisa que dá sustância dá força na mulher, isso aí faz uma garrafada e dá pra a pessoa beber3.

Observações: como chá também tem função de "limpeza do útero4"
Propagação: utilização da entre cascas.
? Barbatimão (popular)
? Stryphnodendron adstrinfens (científico)
Parte da planta utilizada: casca do caule.
Uso fármaco-terapêutica: para diarréia e gonorréia (pomada).
Modo de usar pelo saber popular: Faz-se uma bebida (vinho) misturada à verônica, cuminho, o alecrim, põe em uma garrafada5, e toma em cada manhã.
Observações: internamente deve ser usado com cautela. Seu vinho em excesso pode causar problemas estomacais e náuseas, porém, de acordo com o conhecimento popular do uso e do "descuido, que às vezes a mulher não se cuida
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3 Resposta da Dona Castorina sobra falta de credibilidade do povo sobre o conhecimento plantas medicinais como uma alternativa de cura de doenças de mulheres.
4 termo utilizado pelos benzedeiros para informar sobre desinflamação do útero.
5 termo utilizado pelos benzedeiros para o remédio via oral.
isso vai juntando, acumulando e forma a doença6".
? Muirapuama ou Marapuama (popular)
? Ptychopetalum olacoides (científico)
Parte da planta utilizada: folhas
Uso fármaco-terapêutica: utilizado como pomada cicatrizante.
Modo de usar pelo saber popular: é utilizado junto ao barbatimão e a verônica como garrafada para a limpeza do útero.
Observação: utilização dessa garrafada é de apenas de uso preventivo, o descuido da saúde poderá ocorrer em alguns casos não poderão ser tratados apenas com a garrafada, terá que buscar alternativas, ou em especial a médica.
A participação social na produção da ?farmácia verde? comunitária deve ser estimulada, com envolvimento das prefeituras, secretarias de saúde e agricultura, associações comunitárias e instituições de ensino, pesquisa e extensão, para aproveitamento integral dos benefícios. Devem para isso também contar com o suporte dos gestores públicos para implantação e manutenção de programas locais, com participação de profissionais e agentes comunitários em integração com a comunidade (AMOROZO, 2002).
A tradição no uso de plantas medicinais na faixa etária de 18 a 78 anos está bastante moderado, sendo a maioria mulheres, mas esta tradição vem perdendo espaço gradativamente para a medicina alopática, por influência da própria convivência entre as pessoas e pelo atendimento médico, portanto cabe ao Poder Público abraçar a causa e reverter esta realidade através do investimento em Laboratórios oficinais e magistrais para assim garantir saúde e serviço no Sistema Único de Saúde (SUS) de Qualidade e baixo custo (BRASIL, 2004).
O uso de plantas medicinais poderá melhorar significativamente a qualidade de vida das famílias, pois além do seu uso, cultivo e comercialização, poderá ser uma alternativa de renda para agricultura familiar. É importante aumentar o apoio à pesquisa científica nesta área e investir mais no cultivo e domesticação das plantas do cerrado, com isto proteger as espécies do extrativismo predatório.


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6 resposta da entrevista, D. Castorina, sobre a eficiência das plantas medicinais.
Estudar intensivamente as plantas medicinais no tocante aos seus aspectos etnobotânico, fitoquímico, clínico e fitotécnico, buscando um produto de qualidade, conforme designação da ANVISA. "Garrafada" ou um produto industrialmente criado são através do conhecimento popular e científico, são preventivos de doenças de mulher.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Edvaldo Rodrigues de. Plantas medicinais brasileiras. Conhecimentos populares e científicos. São Paulo, Hemus, 1993.

ACCORSI, WR. Medicina natural, um novo conceito. A fórmula: guia de negócios. Revista espaço para a saúde, Londrina: 2000.

AMOROZO, Maria Christina de Mello. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Bot. Bras., abr. 2002, vol.16, no.2, p.189-203. ISSN 0102-3306

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos.

BRASIL. Ministério da Saúde, Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares ? PMNPC, Brasília-DF, 2009.

BIAZZE, Eliza M.S. Recurso para uma Vida Natural. 20ª ed. Casa Publicadora Brasileira: São Paulo, 2001.

BOTSARIS, A.S. Machado P.V. Introdução a fitoterapia. Memento Terapêutico Fitoterápicos. São Paulo: Hemus,1999.

FARIA, A. P. O C., O Uso de Plantas Medicinais em Juscimeira e Rondonópolis, Mato Grosso: Um Estudo Etnoecologico. Dissertação apresentada ao Programa de pós-graduação em Ciências Biológicas, do Instituto de Biociências, para a obtenção do titulo de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, Cuiabá ? MT, 1998,

FIGUEIREDO, L. et al , A Europa das Descobertas e das Invenções Científicas, CIÊNCIA VIVA, 2003. http://www.cienciaviva.pt/projectos.

LEÃO, M. G., Momento Terapêutico da Fábrica de Medicamento de Mirassol D?Oeste - FAMEM, Secretaria Municipal de Saúde de Mirassol D?Oeste-MT, 1995.

MARTINS, E. R.; CASTRO, D. M., CASTELLANI, D. C. & DIAS, J. E., 1994. Plantas Medicinais. Imprensa Universitária, Viçosa. MG, p. 220.



Autor: Marly Da Conceição Braga


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