O cachorro e o poste do cachorro



Toda manhã Boris fazia o mesmo percurso até o poste em frente à casa dos donos. E, cumprindo um ritual, dava uma espreguiçada, cheirava o "parceiro- vegetal" e, depois, erguendo a perna até não poder mais, esvaziava a bexiga.
Todos, na vizinhança, conheciam e chamavam Boris pelo nome. E até nesse momento íntimo os "olhofotes" acompanhavam o puro schnauzer.
Notável era o orgulho do poste em ter sido o escolhido para servir àquele cachorro tão elegante. Tão cheiroso!
A cumplicidade entre o "mijante" e o mijado era tanta que os demais cachorros da rua desenvolveram um certo repúdio coletivo ao canteiro em que o ato ocorria. Espaço já impregnado daquela urina azul!
Certa vez, quando Boris estava se dirigindo ao "amigo-poste" sentiu uma fisgada na coluna... E, assim, decidiu que não seria boa ideia levantar a perna. Agachou-se e, antes de liberar o jato, ouviu a cachorrada gritar:
Assumiu a "cadelice" Boris? (!) Cachorrinho de madame deu nisso...
Cuidado com a micose de grama, vai ter que ir ao veterinário! Au, au... (gritou um desafeto).
Quem sabe já cortam fora de vez? (concluiu outro)
Boris meteu o rabo entre as pernas e, sem sucesso, correu à casa, deixando um rastro inevitável pelo caminho. Antes de alcançar o fio da calçada, ouviu ainda um último deboche:
Vai lá colocar um perfuminho francês?
Cheio de vergonha, Boris nunca mais voltou àquele canteiro. Logo escolheu uma árvore de tronco grosso em outra rua, atrás da qual poderia se esconder, caso uma nova dor surgisse.
Quanto ao amigo-poste?
Custou muito para recuperar a alegria, a moral, arranjar um novo parceiro, alguém que não sentisse nele o cheiro de Boris!
Afinal: poste marcado, poste feliz!




Autor: Maria Cristina Schefer


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