ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO ALÍVIO DA DOR DO RECÉM-NASCIDO





INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de saúde, em 1961, definiu que deve ser considerado recém-nascido (RN) toda criança, desde o nascimento até o vigésimo oitavo dia de vida. Esta criança encontra-se em um período de transições rápidas e necessárias. Necessita de afeto e cuidados específicos, para que passe por este período sem complicações ou traumas maiores.
Quando há alguma alteração ou disfunção, esta criança pode ficar institucionalizada, a depender da decisão do médico responsável. A hospitalização pode atrapalhar a formação do vínculo mãe-filho pela necessidade de controle de práticas que possam causar infecções. Assim, a criança, que já tem sentimentos e maturidade neurológica, sente-se isolada e carente de afeto.
O enfermeiro neonatologista deve atuar para garantir a segurança física e emocional deste RN, detectando complicações e sanando-as de maneira eficaz. Mesmo quando está fora do seu alcance, deve comunicar a quem seja necessário a complicação detectada e solicitar auxílio para a solução do problema.

1. DOR
A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesões reais, potenciais ou descritas em termos de tais lesões (Silva, Silva e Viana, 2009). A sensação de dor é sempre subjetiva. Também pode ser entendida, pela equipe de saúde, como um sinal de advertência, uma sensação desagradável que tem origem no tronco, raiz ou terminação de algum nervo da rede sensorial. Este conceito é aceito, também, por Larson (1999).
1.1 DOR NO RN
Até a década de 1970, acreditava-se que o RN não sentia dor, pela imaturidade do Sistema Nervoso Central (SNC) e ausência de memória da dor. Levetown (2000) garante que pesquisas posteriores a este período demonstraram que o córtex do feto tem seus neurônios funcionantes a partir da vigésima semana gestacional, e então já ocorre a percepção cutâneo-mucosa e sensorial.
O RN prematuro possui plena capacidade de percepção, mas pequena capacidade de inibição da dor (Gaíva e Gomes, 2003). Por estas características, é mais sensível à dor do que o RN a termo e adultos.

2. RESPOSTAS DOS NEONATOS EM SITUAÇÕES DE DOR
De acordo com Gaíva e Gomes (2003) e Gardner (1994), as respostas dos neonatos podem fornecer subsídios para a avaliação da dor do RN, e podem ser:
2.1 RESPOSTAS COMPENSATÓRIAS FISIOLÓGICAS

  •  Aumento da Frequência Cardíaca (bradicardia), Frequência Respiratória, Pressão Arterial, Pressão Intracraniana;
  •  Redução da Respiração profunda (bradipnéia, apnéia);
  •  Palidez ou rubor, sudorese, dilatação de pupilas.

2.2 RESPOSTAS COMPENSATÓRIAS HORMONAIS E METABÓLICAS

  •  Aumento da atividade renal, níveis de catecolaminas, níveis séricos de glicose, lactose e cetonas;
  • Redução da secreção de Insulina.

2.3 RESPOSTAS COMPENSATÓRIAS COMPORTAMENTAIS

  • Vocalização: choro, soluço, resmungo;
  • Expressões faciais: caretas, franzimento de sombrancelhas, tremor de queixo e olhos apertados;
  • Movimentos corporais: retração de membros, agitação, hipotonia ou hipertonia, aversão ao toque;
  • Estado geral: alteração no ciclo sono/alerta, irritabilidade, letargia, não-resposta ao estímulo sonoro.


3. AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM
Considerando os sinais e sintomas acima relacionados, é possível observar o RN buscando a detecção de alterações e, a partir daí, sugerir e elaborar os seguintes diagnósticos de enfermagem, segundo a proposta da Associação Norte-americana de Diagnósticos de Enfermagem (NANDA, 2006):

  •  Adaptação prejudicada;
  •  Capacidade adaptativa intracraniana diminuída;
  •  Padrão ineficaz de alimentação do lactente;
  •  Amamentação ineficaz;
  •  Ansiedade;
  •  Risco de aspiração;
  •  Comportamento infantil desorganizado;
  • Débito cardíaco diminuído;
  •  Dor aguda;
  •  Síndrome do estresse por mudança;
  •  Processos familiares interrompidos;
  •  Risco de infecção;
  •  Integridade da pele prejudicada;
  •  Interação social prejudicada;
  •  Medo;
  •  Padrão respiratório ineficaz;
  •  Padrão de sono perturbado;
  •  Risco de sufocação;
  •  Risco de desequilíbrio da temperatura corporal;
  •  Troca de gazes prejudicada.


4. PRESCRIÇÕES DE ENFERMAGEM AO RN COM DOR
Ao realizar o trabalho de enfermagem sistematizado, pretende-se atuar de maneira eficaz buscando a resolução das alterações e disfunções dos pacientes. Baseado neste preceito e nos diagnósticos anteriores, são sugeridas as seguintes prescrições de enfermagem, elaboradas a partir dos trabalhos de Gaíva e Gomes (2003) e Gagliazzi, Urasaki e Gonçalves (2000):

  • Registrar as respostas positivas e negativas da terapia analgésica e/ou de alívio da dor;
  •  Avaliar e registrar características da dor (duração percebida);
  •  Avaliar prejuízos nas atividades rotineiras (dor, irritabilidade, etc.);
  •  Verificar alterações nos Sinais Vitais e saturação de oxigênio na dor aguda;
  •  Avaliar o que melhora ou piora a dor (posição, medicamentos, esforços);
  •  Manter RN confortável;
  •  Medicar conforme prescrição médica;
  •  Associar procedimentos não invasivos para alívio da dor (massagem, aplicação de calor/frio, etc.);
  •  Diminuir o excesso de luz;
  •  Reduzir níveis de ruídos dos equipamentos;
  •  Reduzir manipulação do RN;
  •  Limitar procedimentos dolorosos;
  •  Realizar contenção em "ninho".

Especialmente, ante necessidades maiores, pode-se recorrer à sucção:

  •  Sucção não-nutritiva: chupeta, dedo do bebê ou dedo mínimo do enfermeiro, com a polpa voltada para palato do RN. Pode ser utilizada durante pequenos procedimentos, como coleta de sangue, pois aumenta a oxigenação, aclama e reduz o choro;
  •  Sucção nutritiva: é recomendada a utilização de 1 ml de solução glicosada a 25% ou 2 ml de solução glicosada a 12,5%, oralmente, cerca de um a dois minutos antes da realização de pequenos procedimentos, como punções capilares e venosas.

A administração de glicose mostra-se eficaz na redução proporcional do tempo de choro após procedimentos dolorosos simples, e reduz indicadores comportamentais e fisiológicos da dor (Gaíva e Gomes, 2003).

5 REFERÊNCIAS
GAFLIAZZI, MT; URASAKI, MBM e GONÇALVES, R. Intervenções de enfermagem. São Paulo: EPU, 2000.
GAÍVA, MAM e GOMES, MMF. Cuidando do neonato: uma abordagem de enfermagem. Goiânia, AB, 2003.
GARDNER, SL. Pain and Pain relief in the neonate. MCN, v. 19, p. 85-90, 1994.
LARSON, BA. Pain management in neonates. Acta paediatr., v.88, p. 1301-10, 1999.
LEVETOWN, M. Atitudes, crenças e ética. In: Nestlé Nutrition Services. A dor na Infância. Anais Nestlé, v. 59, p. 32-40, 2000.
NANDA. Diagnósticos de enfermagem da Associação Norte-americana de Diagnósticos de Enfermagem. Trad. Cristina Correa. Porto Alegre: Artmed, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Public health aspects of low birth weigth. (Technical report, series, 217). 1961.
SILVA, CRL; SILVA, RCL e VIANA, DL. Compacto dicionário ilustrado de saúde e principais legislações de enfermagem. 4. ed. São Caetano do Sul, SP: Yendis, 2009.


Autor: Andressa S. Silva


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