ANÁLISE DA GESTÃO DE PESSOAS NAS ESCALAS DE SERVIÇO 24 HORAS NA POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA



ANÁLISE DA GESTÃO DE PESSOAS NAS ESCALAS DE SERVIÇO 24 HORAS NA POLICIA MILITAR DE SANTA CATARINA
Amilto da Silva Bento
Centro Universitário Leonardo da Vinci ? UNIASSELVI
Pos Graduação em Administração de Pessoas
17/03/2011.


Resumo: Com base nas realizações dos estudos e pesquisas, podemos constatar que o policial militar de Santa Catarina, está exposto a uma variedade muito grande de escalas de serviço, dificultando com isso que o policiamento seja feito de forma competente e eficaz. Pois a grande maioria dos policiais que trabalham em escalas de turnos de 24 horas, tem seus rendimentos prejudicados, comprometendo assim seu desempenho em ocorrências, que em geral seria de fácil resolução. Caso este policial estivesse em um turno menos desgastante como é o turno de 12 horas, não comprometeria seu condicionamento físico, psicológico, profissional e espiritual. Para que um policial esteja bem preparado fisicamente, espiritualmente, psicologicamente e profissionalmente, este deverá estar em uma escala que não o sobrecarregue, a escala 12x24, 12x48, segundo pesquisas realizadas é mais compatível com o pessoal que trabalham em viaturas e bases operacionais da Policia Militar de Santa Catarina. O Policial trabalhará 12 horas diurnas e folgará 24 horas, retornando ao trabalho para trabalhar 12 horas noturnas e após este plantão folgará 48 horas. Evitando assim que tenha um turno muito longo e seja exposto ao estresse do cotidiano policial por 24 horas ininterruptas.


Palavras-chave: Policial, Escalas de serviço, Rendimento, Efeitos físicos e psicológicos.


1 INTRODUÇÃO

A Gestão de Pessoas tem o objetivo de planejar, orientar, organizar e liderar pessoas que façam parte de uma empresa ou organização, sendo estas publicas ou privadas. Esse conjunto de esforços busca colher resultados tanto no âmbito do desenvolvimento dos indivíduos, quanto na sua satisfação em realizar as tarefas ou funções a estes designadas. "As organizações vêm passando por profundas e importantes transformações como respostas as exigências derivadas de diferentes fenômenos como, desenvolvimento cientifico e tecnológico, mudanças políticas e econômicas, entre outros" (Claro, 2009. p. 11). Para Fischer (1992), as mudanças que vêm acontecendo nas organizações não são de natureza episódica, mas constituem processos contínuos na vida das empresas.
Com base nestes conhecimentos quero expor a situação de Policiais Militares submetidos a uma variedade de escalas, em que prevalecem as escalas de turnos de 24 horas trabalhadas em setores da Policia Militar de Santa Catarina.

A Policia Militar de Santa Catarina é responsável por patrulhar e garantir a segurança da sociedade catarinense, além dos turistas, visitantes e trabalhadores que se utilizam das rodovias que cortam o estado catarinense. [...] a Polícia Militar (Wikipedia, 22/01/11) é presente em todo o território catarinense, contribuindo, efetivamente, não só para a segurança, como para a preservação da cultura e das tradições de Santa Catarina. É considerada uma corporação modelo, modernizando-se nas ações de prevenção, segurança e proteção à comunidade catarinense.

Para realizar este Trabalho a Policia Militar de Santa Catarina, conta com um efetivo de aproximadamente de 10.000 policiais entre homens e mulheres. A Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do Exército, organizada com base na hierarquia e disciplina, subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuições estabelecidas em lei:

I ? Exercer a Polícia Ostensiva relacionada com:

- A preservação da ordem e da segurança pública;

- O radio patrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial;

- O patrulhamento rodoviário;

- A guarda e fiscalização do trânsito urbano;

- A guarda e fiscalização das florestas e mananciais;

- A polícia judiciária militar;

- A proteção do meio ambiente.

Compete ainda à PMSC atuar nos seguintes campos:

- Atuação no Campo da Segurança Pública (como polícia ostensiva preventiva e como polícia ostensiva repressiva);

- Atuação no campo da segurança integrada;

- Atuação no campo da defesa territorial; e

- Atuação no campo da defesa civil.


2 ESCALAS DE TRABALHOS


2.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS ESCALAS DE 24 HORAS

A Policia Militar de Santa Catarina, para realizar seu trabalho de proteger, fiscalizar, patrulhar e garantir a segurança da sociedade catarinense, conta com seu efetivo que é formado por policiais militares de ambos os sexos.

A Administração de Pessoal está focada no estímulo a um clima organizacional positivo, considerando as três dimensões do ser humano: físico, mental e espiritual. Nesse sentido a gestão de pessoal está voltada intrinsecamente para mantença da auto-estima, postura e desempenho profissional do policial militar, nos principais pontos que interferem diretamente na sua capacidade de realização das atividades, próprias das funções de polícia ostensiva.

O grande desafio do setor de gerenciamento de pessoas da Policia Militar de Santa Catarina, está em encontrar uma escala que possa ser eficaz para o policiamento a ser realizado, quanto ao menor desgaste possível dos policiais. Visto que seu efetivo este dividido entre diversos setores, isso faz com que cada setor possua uma escala de serviço diferente.

Com base nas Diretrizes de Procedimento Permanente nº. 005/89/CMDO G e nº. 010/89/CMDO G (Comando Geral, 23/11/98) que trata de Turnos e Escalas de Serviço, estando assim divididos:

- Escala de 24x48, onde o policial trabalha 24 horas e folga 48 horas;

- Escala de 24x72, onde o policial trabalha 24 horas e folga 72 horas;

- Escala de 12x24, 12x48, onde o policial trabalha 12 horas durante o dia e folga 24 horas retornando a trabalhar 12 horas no período noturno, folgando 48 horas;

- Escala de 12x12, onde o policial trabalha 12 horas e folga 12 horas;

- Escala de 12x36, onde o policial trabalha 12 horas e folga 36 horas;

- Escala de 12x60, onde o policial trabalha 12 horas e folga 60 horas;

- Escala de 6x18, onde o policial trabalha 6 horas e folga 18 horas;

- Escala de 16x32, onde o policial trabalha 16 horas e folga 32 horas;

- Escala de expediente administrativo, que corresponde a 8 horas diárias, além das escalas extras, que são escalas onde o policial trabalha em eventos fora do seu turno.

Os policiais que trabalham em escalas de 24 horas, geralmente trabalham em um nível elevado de estresse, pois um turno de 24 horas exige muito da sua capacidade física e mental.

As escalas de trabalho em Quartéis, Viaturas e Bases Operacionais da Policia Militar Santa Catarina, são geralmente organizadas em turnos fixos contínuos, uma vez que os serviços dessas instituições exigem um funcionamento ininterrupto durante as 24 horas do dia, sete dias por semana.

Um trabalhador da área de Segurança Publica, têm que estar completamente concentrado em suas funções e atribuições, haja vista que este agirá sempre em condições de conflitos, pois sempre que um policial é solicitado para o atendimento de uma ocorrência este ambiente já está sujeito a um nível elevado de estresse.

Com isso um indivíduo submetido a esquemas temporais alterados, como é o caso de um Policial que é escalado em turnos de 24 horas, caso este tenha que atender uma solicitação, após as 12 primeiras horas de seu plantão, certamente não será um atendimento padrão, pois o Policial já estará sobrecarregado pelos atendimentos anteriores. Sendo assim uma escala de 24 horas é prejudicial ao policial e ao cidadão que por ventura necessitar do seu de seus amparos.

"[...] o caso dos trabalhadores que trabalham à noite, podem apresentar perturbações no seu ritmo biológico endógeno em função do conflito temporal entre relógios biológicos e esquema social imposto externamente, pois devemos lembrar que o organismo passará por uma fase de adaptação. A espécie humana é diurna e, sendo assim, trabalhar no sentido inverso ao funcionamento fisiológico do organismo pode levar a alteração do desempenho físico e mental do trabalhador, o que pode ocasionar conseqüências à sua saúde porque, em termos biológicos, a noite é o momento em que o organismo se prepara para renovar suas energias. Dessa forma, o sujeito que trabalha à noite e dorme no período da manhã tem sono caracterizado por perturbações, tanto na sua estrutura interna, quanto na sua duração, sendo menor que o sono noturno denominado, também, de polifásico porque apresenta períodos fracionados. Os trabalhadores do serviço noturno têm um desgaste psicofisiológico maior do que aqueles que trabalham durante o dia, pois trabalham no momento em que as funções orgânicas encontram-se diminuídas, sendo assim, ocorrem algumas alterações, seja na temperatura, nos hormônios, na psique, no comportamento ou no desempenho. A forma de organização do trabalho que, muitas vezes, não leva em conta a variabilidade do indivíduo pode aumentar o risco de repercussões prejudiciais à saúde do mesmo. Nesse sentido, a preocupação com o serviço noturno é um tema atual que cada vez mais vem sendo estudado por profissionais de diversas áreas devido a preocupação com a saúde do trabalhador no serviço noturno." (Menezes, 1996).


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos dados coletados em pesquisas de campo, realizadas no período correspondente entre 08 a 22 de Fevereiro de 2011, em que se utilizou a forma de pesquisa quantitativa, onde os policiais militares entrevistados, responderam um questionário sobre as condições de trabalhos em turnos de 24 horas na Policia Militar de Santa Catarina. Após analises destes dados, podemos constatar que:

88,57% afirmaram que já trabalharam em escala de 24 horas.

82,86% afirmaram que trabalhar em escala de 24horas é muito cansativo.

100% afirmaram conhecer alguém que trabalha em escala de 24 horas.

60% recomendariam uma escala de 24horas, se o turno fosse de 24x72, já 40% dos entrevistados não recomendariam uma escala de 24 horas, seja de qualquer forma.

42,86% afirmaram que a melhor escala para se trabalhar é 12x24, 12x48, 28,57% afirmaram ser a escala 24x72 e 20% afirmaram ser a escala de expediente administrativo.

51,43% concordam com a possibilidade de variedade de escalas, 48,57% não concordam com a variedade de escalas.

40% quando trabalharam em escala de 24 horas sentiram-se muito cansados, 34,29% sentiram-se cansados e 25,71% sentiram-se estressados ao termino do plantão.

74,29% quando trabalharam em escala de 24 horas foi por imposição, 28,86% por opção.

82,86% afirmaram que não conseguem manter o mesmo nível de concentração durante um turno de 24 horas,

51,43% trabalham em viaturas e 48,57% trabalham em bases operacionais.

62,86% têm idade superior a 30 anos e 37,14% tem idade inferior a de 30 anos.

77,14% trabalham a mais de 05 anos na Policia Militar de Santa Catarina.

60% se adaptaram melhor na área operacional (Viaturas e Bases) e 40% na área administrativa.

82,86% são policiais do sexo masculino.

57,14% não concordam com uma escala única, 20% são a favor e optaram pela escala 12x24, 12x48.

97,14% dos entrevistados se consideram vocacionados para ser Policial Militar.

Como podemos comprovar a grande maioria dos policiais entrevistados, são contra as escalas de 24 horas de serviços, na Policia Militar de Santa Catarina, pois se sentem muito cansados, estressados, tanto física, mental e psicologicamente, sentem diminuição de sua concentração e de seu desempenho. Além disso, a imposição neste tipo de escala pelo comando colabora para o descontentamento e baixa produtividade pelo policial militar.

Cabe ao setor de gestão de pessoas da policia Militar de Santa Catarina, identificar os motivos que estejam prejudicando o desempenho dos policiais, após esta identificação, providenciar soluções que possam surtir efeitos sobre os policiais e sobre a sociedade em que estes estejam servindo. Pois como podemos constatar nos estudos e pesquisas realizados, uma escala de serviço em turno de 24 horas sobrecarregará o policial fisicamente, psicologicamente, profissionalmente e espiritualmente, pois o alto nível de estresse que este policial é submetido durante esse turno de 24 horas altera seu rendimento, principalmente na segunda parte do seu turno, ou seja, nas ultimas 12 horas

Como a gestão de pessoas visa o bem estar do colaborador, para que este possa ter um desempenho cada vez melhor em suas funções e atribuições, o setor de administração de pessoas da Policia Militar de Santa Catarina tem um grande desafio, que é padronizar uma escala não muito maçante para o policial da área operacional, como comprovado nas pesquisas, os policiais entrevistados, que trabalham em viaturas e base operacionais da Policia Militar de Santa Catarina, melhor se adaptam sem que haja muito prejuízo dos rendimentos, deste trabalhador, é a escala onde o policial trabalhará 12 horas diurnas e folgará 24 horas, retornando a trabalhar 12 horas noturnas e folgando assim 48 horas (12x24, 12x48). O que trará benefícios tanto ao policial quanto ao Estado que contará com policiais menos fadigados pelo estresse do cotidiano, além de melhorar no atendimento ao cidadão.

[...] E não é difícil entender "o interesse que o próprio Estado tem no descanso de seus servidores, visto que, restauradas as energias perdidas, poderão dedicar-se novamente, com maior rendimento, às funções que lhes são peculiares." [...] Vê-se, então, que a Administração, no intuito de resguardar a saúde dos servidores abarcados pela norma citada, para que prestassem o serviço com qualidade, estabeleceu um limite de horas extras a ser cumprido por eles (Roesler, 2009).

(Chaves, 1995) "o trabalhador noturno não tem, em absoluto, seu ritmo circadiano invertido ou ampliado, mas sim, desestruturado, uma vez que, dadas as características do horário do turno, não são todas as noites que o trabalhador permanece acordado, assim como não são todos os dias que ele dorme: [...]".

Nos sistemas de turnos fixos noturnos há uma tendência do trabalhador, nos seus dias de folga, tentar acompanhar a sociedade, o que obrigaria constantemente a modificar seu horário de dormir, de se alimentar, de lazer em função de seus horários de trabalho (Moreno,1993).

A quantidade de sono do trabalhador noturno pode ficar reduzida em até duas horas por dia, acumulando-se um débito de sono. A qualidade do sono fica, também, diminuída principalmente no estágio dois e no sono paradoxal, sem que a fadiga seja queixa particularmente observável nos que trabalham no turno noturno, (Meijman,1981).

Para obtenção de um clima organizacional favorável nas OPM, devem ser observados os fatores inerentes aos estímulos por recompensas e à correção de condutas. Além disso, é preciso prover acompanhamento médico, odontológico, psicológico, religioso e social, bem como em relação ao seu condicionamento físico e técnico, complementado por avaliação de desempenho periódica, objetivando o crescimento pessoal e profissional do policial militar.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA disponivel em:
acesso em 22/ janeiro/2011

UM POUCO DE HISTÓRIA disponível em: acesso em: 22/janeiro/2011

FATORES MOTIVACIONAIS, ALTERAÇÕES E LIMITAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO NOTURNO disponível em:

acesso em: 05/fevereiro/2011

O TEMPO PASSA CADA VEZ MAIS RÁPIDO. ORGANIZAÇÃO É O PRIMEIRO PASSO DO SUCESSO disponível em:
acesso em: 05/fevereiro/2011

CAPÍTULO II - O TRABALHO EM TURNOS E NOTURNO disponível em:
acesso em: 05/fevereiro/2011.

HISTORIA DA POLICIA MILITAR DE SANTA CATARINA disponível em:
acesso em: 05/fevereiro/2011

CLARO, MARIA MARCELA FERNANDEZ DE. Gestão de Pessoas. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. - Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2009. X; 74 p. il.

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível 2009.010036-9. Decisão monocrática. Apelante: Estado de Santa Catarina. Apelados: Adão Armando Feijó e outros. Relator: Ricardo Roesler. Julgamento 17 dez. 2009. Disponível em: . Acesso em: 21/Fevereiro/2011.

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA. Diretriz de procedimento permanente nº 005/89/Cmdo G. Disponível em: . Acesso em: 21/fevereiro/2011.

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA. Diretriz de procedimento permanente nº 010/89/Cmdo G. Disponível em: . Acesso em: 21/fevereiro/2011.

Autor: Amilto Dasilva Bento


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