Memória da Infância



INTRODUÇÃO
A área de conhecimento da Psicologia Social como os fenômenos sociais atuam na constituição da subjetividade, isto é, estuda como o ser humano se constitui a partir das relações que estabelece com os outros humanos e com a natureza. A memória do trabalho é uma atividade ativa e não uma atividade passiva.
Nessa era de globalização nosso círculo social está cada vez mais fechado para os que não são economicamente produtivos, fazendo crescer sempre mais o preconceito ao redor dos idosos. Além de muitas vezes eles já não "servirem" mais para o mercado de trabalho, a própria família tenta se livrar da responsabilidade de cuidar de um idoso, em certos casos por falta de tempo, às vezes por falta de compaixão.
Quase sempre o idoso não sofre de uma doença degenerativa, porém a família acaba por levá-lo a morar em um lugar onde "fantasiosamente" será melhor tratado.
É normal as pessoas começarem a fase idosa (a partir dos 60 anos) já se sentindo excluídas da sociedade. Nosso trabalho tem como tema principal fazer com que essas pessoas resgatem a memória de sua infância contribuindo para o seu bem-estar e quem sabe para eles se sentirem de volta incluídos na sociedade.

1 OBJETIVOS
Este projeto tem como objetivo geral iniciar os estudantes no campo das investigações qualitativas em Psicologia Social. Trata-se de aprender a elaborar um projeto piloto sobre o tema "A memória da infância" e aprender a realizar e discutir entrevistas com roteiro.
Com o objetivo específico de contribuir para compreensão do tema "A memória da infância", este projeto buscará trazer para o presente as lembranças que marcaram a infância do depoente.

2 JUSTIFICATIVA
Escolhemos o tema "A memória da infância" porque sabemos o quanto é precária a relação do idoso com a sociedade. Com todo o preconceito vivido por eles acabam por se sentirem destituídos de seu lugar na sociedade.
A pesquisa irá resgatar as experiências vividas na infância, o que vem a ser uma oportunidade para o idoso dar outro sentido para as experiências passadas e sentir-se incluído novamente.
3 METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa social que desenvolvemos envolveu a escolha de dados qualitativos visando ampliar a compreensão do fenômeno velhice. A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. Aprofunda-se no mundo dos significados das ações e das relações humanas.
Investigamos a memória da infância do idoso através de questões que elaboramos com base no texto "Os espaços da memória", de Ecléa Bosi, e em nossa própria experiência de vida.
A pesquisa de campo foi realizada em um asilo da cidade de São José do Rio Preto. Primeiramente realizamos uma visita preliminar no local escolhido com o intuito de adquirir conhecimentos tanto sobre o campo de pesquisa como sobre o idoso que entrevistamos. Posteriormente conduzimos a entrevista através de um roteiro de questões com ênfase na infância, investigando as experiências passadas do idoso. Contamos com a ajuda de um aparelho de gravação para não perder nenhum detalhe importante. A entrevista teve como temas principais a família, amigos e escola. Mais precisamente tentamos resgatar a memória em uma faixa etária dos 02 aos 12 anos. Finalmente transcrevemos a entrevista e voltamos a instituição para a devolutiva do material e aprovação da pesquisa pelo idoso.

4 CRONOGRAMA
Tabela referente as etapas da pesquisa "A memória da infância" de Psicologia Social. Realizada entre fevereiro e maio de 2008.
Montagem do Projeto Fev. Março Abril Maio
Levantamento Bibliográfico X X
Construção do Roteiro X X
Trabalho de Campo X
Análise do Material (Interpretações) X X


5 RESULTADOS
5.1 Diário de Campo
Nosso grupo foi designado a fazer a pesquisa no Hospital do Lago na cidade de São José do Rio Preto. Primeiramente fizemos contato por telefone para pedir informações sobre o procedimento a ser feito. Informaram-nos que poderíamos ir até o Hospital e procurar a enfermeira chefe para nos encaminhar para a realização da entrevista. Tivemos uma grande frustração ao conversar com a profissional, que informou que não seria possível realizar a entrevista sem antes conseguirmos uma autorização da coordenação do Hospital que fica na cidade de Jaci. A autorização demoraria de 10 á 15 dias para chegar em São José do Rio Preto.
Diante disso resolvemos procurar outra instituição, o Lar São Vicente de Paula onde também não obtivemos sucesso. Não conseguimos obter contato com a assistente social responsável por esse tipo de atividade.
Decidimos então procurar alguém que não morasse em uma instituição e chegamos a Dona Candinha (nome fictício). Dona Candinha é uma senhora de 73 anos, mãe de uma colega da Kátia (uma das participantes do grupo). Inicialmente fomos a casa dela para perguntar se ela concordaria em conversar conosco sobre a sua infância e mais do que imediato ela aceitou. Marcamos então o dia da entrevista.
Algo que nos encantou foi a felicidade e a satisfação de Dona Candinha ao nos receber no dia da entrevista. Ela estava completamente produzida e disse estar muito ansiosa com a nossa chegada. A filha dela nos contou que ela tinha ensaiado o dia inteiro o que iria nos contar. Podemos até dizer que quem conduziu a entrevista foi ela própria. Ela falou de sua infância com muita alegria recordando as coisas boas de sua vida. A impressão que tivemos foi que ela não queria entrar em contato com as dificuldades sofridas na infância. Foi uma conversa muito gratificante e compensou a frustração que tivemos no inicio de nosso trabalho.

5.2 Entrevista
E: Se a senhora quiser pode começar a contar. [risos]
C: E se eu errar heim?
E: Não, mas não tem problema errar.
C: Ai meu Deus do céu.
E: Pode fica tranqüila.
C: Eu sempre morei na roça.
E: Sempre morou na roça.
C: E sempre fazia arti nas árvi. [risos] A brincadeira nossa é essa, né? Na roça ia pra arvi dia de domingo balança, aproveita a vida, era tudo bom pra gente, né. Mas agora o resto, será possível relembrar tudo. [risos] Tantos anos né. Morava no sítio, levantava cedo pra tirá leite, fazer queijo.
E: Delícia heim.
C: É secá povi, fazer biscoito. Era isso que a gente fazia. Mas a gente não tinha infância. Porque era, era sítio, mato. Só de domingo que ia assiti jogo no campo. [risos]
E: Tinha campo lá perto?
C: Tinha, tinha. Ai fazia doce e ia vende lá no campo. Ia brincá um pouco, ficá com as amiga, tinha muita amiga.
E: Tinha bastante amiga?
C: Tinha, muita amiga.
E: O que vocês faziam, quando estavam as amigas juntas?
C: Nóis? Nóis ia balançá. Amarra cipó nas arvi, balança.
E: Balança na corda? Fazer tipo um balanço?
C: É, é igual ao Tarzan. [risos] Nóis imitava o Tarzan.
E: É? [risos]
C: E depois ia joga peteca, bater corda, brincar de amarelinha.
E: Uhum.
C: Era o divertimento nosso.
E: A hora que vocês brincavam?
C: É, aí depois que cresci, fiquei moça, ai nóis ia pra cidade.
E: A senhora tinha muitos amigos?
C: Tinha, tinha muito amigo.
E: A senhora lembra de alguma dela?
C: Ah eu não lembro, nome delas assim eu não lembro não, era muita. Nome é difícil, né? [risos] Mas lembro da Marita que nóis chamava, a Lurdinha, Maria, Tereza, ai meu Deus do céu, daí eu acho que não lembro mais. Era muito, muito, eu brincava muito né, mas trabalhava muito.
E: É. Trabalhava muito na roça?
C: A não, não. Não, é ficava assim em casa, mas fazendo serviço que...
E: Ajudava a cuida dos irmãos?
C: Dos irmãos não, embora nóis tinha muito irmão pequeno.
E: Então a senhora ajudava nos afazeres de casa?
C: Fazia serviço de casa, lavava ropa, ajudava a passa, oiava os pequenininhos, saia um pouquinho com eles, né?
E: Quantos irmãos a senhora tinha?
C: Eu tenho 12, era 12, depois foi morrendo, morrendo. [risos]
E: São quantos agora?
C: Agora eu perdi contato, você sabe que eu nem sei dos outros meus irmão que ainda estão vivos, perdi contato. Eu não tenho notícias de 1, 2, de 2 irmãs, não tenho notícia de 2 irmão e os outro faleceu tudo.
E: E como era a relação da senhora com os seus irmãos. Era boa?
C: Era tudo, era boa, nóis era amigo. A mais véia Marita, um anjo, ela era mãe nossa.
E: E com os pais da senhora?
C: Também, tudo bem. Graças a Deus não tinha esse negócio aí, não. Ele chegava falava vai dormir, todo mundo ia [risos] vai cume, vai toma banho todo mundo ia, vai cume todo mundo ia né.
E: A ordem dos pais era sempre atendida?
C: Era, era, nunca, nunca um pai relo a mão em nóis. Pai nenhum.
E: Então na casa da senhora ninguém apanhava?
C: Não, não. Era muito boa a nossa vida.
E: E assim o que vocês costumavam fazer juntos, além de você e seus irmãos, você e seus pais, além de brincar com os seus irmãos o que mais vocês costumavam fazer juntos?
C: Mais?
E: É. Tinha mais alguma coisa que vocês gostavam de fazer junto?
C: Fazia muita coisa juntos. Joga bola, a gente passava a vida assim.
E: E do que a senhora gostava mais de brincar?
C: Brincar de pique, brincar de esconde-esconde.
E: A senhora gostava de correr então?
C: Só correr. Corria muito.
E: Brincadeira de correr?
C: É. [risos]
E: E a senhora freqüentava a escola?
C: Não, não deu. 12 filhos, nóis vivia na roça, no sítio.
E: A senhora não freqüentou a escola?
C: Daí não, não, fala a verdade não. Daí na cidade era um trabaio danado. Tinha que pegar o ônibus 6h da manhã e voltar 17h da tarde.
E: Onde a senhora morava?
C: Lá em Minas. Em Campira. Perto de Campira. Labari, Campira. [risos] Mas era feliz. [risos]
E: É isso que importa né?
C: É. [risos]
E: Que você era feliz. [risos]
C: Tava tudo junto né. E aí o resto, meu Deus do céu, não lembro mais. Não sei mais. Nóis quando ia pra cidade, nóis ia sábado e voltava segunda-feira. Lá nóis ia pro parque, ia na missa e depois ia sei lá né. [risos]
E: O que é sei lá? [risos]
C: Namora. [risos] É nóis fazia, mas nóis não fazia farra, bagunça, não fazia nada disso não.
E: Não fazia nada errado? [risos]
C: Errado não fazia nada. [risos] Naquela época não fazia nada [risos]
E: O que fazia? O que a senhora fazia pra paquerar então?
C: A nóis ia pra paquerá, não tinha muito que fazer. [risos]
E: Como era paquerar? Paquerar da senhora? Quando a senhora era jovem? Quando a senhora ia paquerar como que paquerava?
C: Ficava olhando um no outro de longe, aí dipois chegava perto.
E: Não é que nem hoje que já chega perto e...? [risos]
C: Chegava perto, mas não chegava tão perto. Mais ou menos, né, não era agarra agarra.
E: Mas o moço chegava pra falar com a senhora?
C: Chegava.
E: Ou ele mandava alguém?
C: Não. Ai ia pros bailes, ai nos baile era melhor. [risos] Que ai dançava né. [risos]
E: Porque não tinha pai e mãe não é?
C: Não tinha pai e mãe, pai uma hora dessa já tinha ido embora. Meu pai chego a falar pra mim, que eu tava namorando um cara, ele falo assim: "ó é melhor tu bota água pra lava o pé, esta na hora de dormi." O cara deu no pé. Foi embora. [risos]
E: [risos] Por quê? Lavar os pés significa o quê?
C: Tira os sapatos e lava os pé pra poder dormi.
E: Ah. Pra ele se tocar e ir embora?
C: É pra ele se tocar e ir embora, aí ele dava no pé, ele ia embora. [risos]
E: Na sua infância o que marcou mais na sua lembrança? Alguma coisa que você nunca vai esquecer, de algum acontecimento, algo que marcou bastante?
C: Eu não sei, porque a vida nossa foi muito boa, qual não sei qual é, foi tudo bom.
E: Tudo bom?
C: Tudo, tudo, tudo.
E: Uma infância boa?
C: O dia que tinha missa na igreja lá bem longe, nóis ia de a pé e ia na missa. Lá tinha leilão e tinha tudo, era uma aventura era o que tinha de melhor, depois vinha pra cá dia de semana.
E: Então a senhora gostava das festas?
C: Das festas, adorava as festas, festa era bom.
E: É?
C: Agora festa na igreja, ai é difícil né. [risos]
E: Antigamente era mais fácil isso?
C: É. Eu até, acho que se eu for falar, eu gostei de tudo na minha vida de solteira, eu e as minhas irmãs, nóis tudo.
E: Vocês aproveitaram bastante essa fase de criança?
C: Aproveitei. Nóis e as colegas chegava dia de domingo juntava e ia passia, passeava na beira do campo de futebol de jogo de bola.
E: Quem jogava bola?
C: Era time né que tinha. Time igual esses que tem hoje.
E: Ah.
C: Então nóis ia assisti, de uma cidade ia na outra. Então nóis ia. Era aquela turma de gente, não ia sozinha duas só. Mas era gostoso. Gostava de tirar leite da vaca, tira leite [risos] andá a cavalo [suspiro], mas era gostoso também andá a cavalo, nóis andava muito a cavalo também. Era bom a vida da gente nosso pai era bom com nóis.
E: Não é que nem hoje né?
C: Não, não nóis nos dava muito bem.
E: Se a senhora se lembrar de mais alguma coisa pode contar.
C: [silêncio] Está meio difícil agora, acho que já lembrei, lá era pouco divertimento.
E: Era mais isso né? Brincar?
C: Na Semana Santa a gente ia pra cidade ficava a semana inteirinha porque tinha os avós, tios que morava na cidade, né. Ai voltava a trabalha, né. Mas eu nunca trabaiei na roça só ficava em casa ajudando a fazer serviços das muié.
E: Ah ta. Só serviço de casa mesmo?
C: É serviço de casa de ajuda mãe né.
E: Quem ia pra roça era os meninos?
C: É. Tinha empregada lá em casa.
E: Ai você só ia pra roça pra brincar?
C: Ia só pra brincar nas árvi. [risos]
E: Brincar de Tarzan? [risos]
C: Eu tenho um sinar que eu furei na, na, na perna, aqui ó, aqui. Nóis tava sigurado na arvi e o gancho furo aqui e veio para cá em cima. Foi preciso ir embora para casa e meu pai chego lá e pego o canivete e corto assim e puxo um pedaço de pau desse tamanho [mostrou com as mãos aproximadamente uns 20 cm] também eu cai lá de cima da árvore [risos].
E: [risos] Mas nunca deixou de subir na árvore né?
C: Chegava domingo ó...
E: Ia pra árvore? [risos] Ia brincar de Tarzan?
C: E sabe o que ele chegava a falar? Que os fi não precisava estuda, e os serviços lá da roça era pra nóis os fi, todos fazendeiros fazia isso lá. Então eu não tenho o que reclamar. Daí faz muita farta né? Muita farta. Agora também nessa idade que já tô nem tô ligando mais. [risos] Mas foi boa a nossa vida, muito boa.
E: Ah. Mas na igreja quando a senhora ia na igreja você ia na igreja só pra rezar?
C: Só pra rezar, ajudava a limpar a igreja e tinha catecismo todo dia, todos os domingo. Tinha catecismo nóis ia assisti, não é igual o catecismo de agora né. A gente ia chegava lá ficava um pouco lá.
E: E todos da família da senhora são católicos?
C: Todos, todos, todos os que morreram, os que estão vivos, a família inteira. Eu não aprendi a lê, mas era feliz. Nóis fazia café, ia pra roça, nóis não ficava em casa.
E: A senhora fazia bastante doce então?
C: A nóis fazia. Eu e minha irmã mais véia.
E: É?
C: É. Ela que gostava de doce de abóbora, doce de leite, doce de mamão.
E: Ah.
C: Hum.. [risos] Eu não faço mais porque não posso mais come, mais nóis fazia porque tinha leilão então levava na bandeja pro leilão. A mais véia fazia porque tinha muito leite né. E era barato também né. Abóbora catava no mato né. Minha vida foi boa, muito boa. [risos]. Estuda 12 filhos, né? Minha vida foi essa. Minha vida só foi essa. E num me arrependo não. Até hoje não me arrependo de nada. Fala ó o meu pai não deixo nóis sai do sítio. E nóis fala o pai fica preocupado, a mãe fica preocupada. Que que a gente vai fazer? Que naquele tempo não dava pra ir na cidade. Era português, era italiano, aqueles ricão lá.
E: Mas e os netos?
C: Os netos morava na roça. Minha mãe gostava, eles gostava.
E: E quando a senhora foi pra cidade?
C: Eu fui pra cidade depois que casei.
E: A senhora casou com quantos anos?
C: Eu casei com 18. Ai nóis foi, nóis foi pra cidade. Ai não tinha esse negócio de roça, cidadinha separada né, não era aquela cidade, ai depois fui mudando pra lá, pra cá, depois minha mãe morreu, cabo tudo, cabo tudo em nada. Mas não faz muito anos. Nossa! Você já penso? Eu to com 73, casei com 18, não existe mais nada, mais ninguém. A arte da mãe era trabaiá no engenho fazê rapadura, da parte da minha mãe né. Agora o meu pai já era sítio, criá gado, cavalo. Mas a vida foi boa. Foi muito boa pra nóis, a gente só não tem nada hoje porque acabo tudo. Tudo acabo né. [risos]
E: E a senhora teve quantos filhos?
C: 5. Eu tenho 3 mulheres e 2 homens. Um faleceu vai faze 1 ano agora em agosto. [emoção] Tudo se acaba né. Eu acho que agora tá bom né. Senão vou repetir tudo de novo.

6 INTERPRETAÇÃO
A memória dos idosos pode ser trabalhada como um mediador entre a nossa geração e os relatos que temos do passado. O idoso é o intermediário informal da cultura conforme o texto "O tempo vivo da memória ? ensaios de psicologia social" de Ecléa Bosi.
Nossa entrevistada se recorda muito através de sentimentos, de momentos que lhe trouxeram alegrias e tristezas. Como diz Ecléa Bosi em seu livro "O tempo vivo da memória ? ensaios de psicologia social", a memória se alimenta de imagens, sentimentos, idéias e valores. "... Era muito, muito, eu brincava muito né, mas trabalhava muito." Desde muito nova ela já ajudava a sua mãe nos serviços domésticos como, por exemplo, a lavar e passar roupa, a cuidar dos irmãos mais novos e a fazer biscoitos. Desde muito cedo Dona Candinha já aprendeu a agir como um adulto. Seu pai sempre lhe dizia que tudo o que eles tinham, no futuro iria ser deles, seus filhos. Por isso todos precisavam ajudar nos serviços necessários. Apesar de muito trabalho, Dona Candinha também brincava bastante nos finais de semana. Sentimos que quando ela nos contava de suas brincadeira da infância e das travessuras da adolescência ela recordava de lembranças boas e satisfatórias. Contou-nos várias vezes sobre as brincadeiras que elas gostavam de brincar, sobre ás vezes que se machucava brincando, contou também que a brincadeira que mais gostava era de correr e sempre com muita empolgação. Foram as partes da entrevista em que ela deu mais ênfase.
Dona Candinha tentou ao máximo, em toda a entrevista, não demonstrar nenhuma decepção de ter tido que ajudar seus pais desde muito pequena. Procurou sempre evidenciar muita felicidade em relação a sua infância. Repetiu várias vezes que a vida dela foi muito boa. Foi apenas em 01 momento da entrevista que conseguimos perceber que ela guardava algum ressentimento de sua infância "... Mas a gente não tinha infância. Porque era, era sítio, mato...". O fato de o trabalho ter atrapalhado os seus estudos ficou marcado em sua memória. Infelizmente naquela época a maioria das pessoas moravam em sítio. Então não só o fato de ter que trabalhar, mas também à distância até a cidade não era favorável. Ainda mais para quem tinha 12 filhos. Este foi o único ressentimento que Dona Candinha deixou transparecer, em todas as outras partes da entrevista ela pareceu realmente ter tido uma infância boa, saudável e alegre.
Para nós, como já foi dito Dona Candinha não queria relembrar fatos ruins da infância dela. Na entrevista inteira, várias vezes ela repetiu que tudo na vida dela foi muito bom. Ela só queria nos passar as coisas que lhe trouxeram alegria. Muito risonha durante quase todo o tempo, o único momento que Dona Candinha emocionou-se foi ao lembrar a morte de seu filho "E a senhora teve quantos filhos?" "05. Eu tenho 3 mulheres e 2 homens. Um faleceu vai faze 1 ano agora em agosto. [emoção] Tudo se acaba né. Eu acho que agora tá bom né. Senão vou repetir tudo de novo." Depois de muita conversa, após esse tema ser abordado, Dona Candinha preferiu encerrar a entrevista, emocionada e com lágrimas nos olhos.

7 CONCLUSÃO
O resultado final do nosso trabalho revelou-se uma experiência satisfatória ao conseguirmos alcançar todos os objetivos estabelecidos. Através de um projeto piloto, com questões baseadas no texto "Os espaços da memória", de Ecléa Bosi e pesquisa qualitativa, obtivemos respostas coerentes com o tema "A memória da infância".
A pesquisa realizada conseguiu abordar os temas principais da infância, como: a relação familiar, o convívio com os amigos, o dia-a-dia e a escola. A entrevista conseguiu nos fornecer todos os dados necessários para a elaboração final.
A memória por ser alimentada de sentimentos, valores, idéias e imagens muitas vezes podem trazer também para o presente lembranças ruins. Porém as recordações boas são tão grandes que acobertam as feridas deixadas por fatos passados.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOSI, E. "A pesquisa em memória social", "O espaço da memória" e "Sugestões para um jovem pesquisador" In: O tempo vivo da memória - ensaios de psicologia social. 2ª ed.
S. Paulo: Ateliê Editorial, 2004.


GONÇALVES Filho, J. M. "Instrução 1 para o trabalho de campo." Texto elaborado para aulas (não publicado).


MINAYO, M.C.S. (org) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

ANEXO
ANEXO I - Roteiro
Tema Geral: A memória da infância.
Sub-tema: brincadeiras, obrigações, escola, amigos, casa e família.
Questões:
1. Você se lembra quais as brincadeiras que você brincava, qual você mais gostava? Conte-nos sobre isso.
2. Como era a sua vida de criança, o seu dia-a-dia? O que costumava fazer?
3. Como era a sua vida (relação) com a sua mãe, pai e irmão? O que costumava fazer juntos? Sobre o que conversavam? O que ficou mais marcante na lembrança?
4. E amigos, como era? Você pode nos contar o que vocês faziam?
5. Você freqüentava a escola? Como eram as suas aulas? O que você fazia? O que você mais gostava da sua escola?





Autor: Ana Claudia Cagnoni Gonçalves


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