Resenha do livro "Adoro odiar meu professor"



ZUIN, A.A Adoro odiar meu professor: O aluno entre a ironia e o sarcasmo pedagógico. Campinas/ São Paulo: Autores Associados, 2008

O livro está dividido em três capítulos, no primeiro o autor coloca a questão da Ironia, e para tratar sobre a questão traz para o seu texto vários autores como, Nietzsche, Adorno entre outros. Um fator super interessante que ele trouxe para o seu livro foi a dialética socrática, para explicar a relação do mestre com seu discípulo. Usou a maneira como Sócrates em sua maiêutica utilizava-se da Ironia para incentivar seus discípulos na busca da verdade. Sendo que a palavra ironia depois adquirindo o significado de zombaria tornou-se perigosa ao ser utilizada em sala de aula por muito professores, pois estes utilizam a Ironia com tom de sarcasmo. Destacarei alguns pontos em forma de fichamento do primeiro capítulo, fazendo algumas colocações.
"A ironia socrática revela seu potencial formativo quando demole as certezas sobre determinados conceitos, pois as essências destes não se restringem ao modo que eles aparecem" (p. 10)
"Os estudiosos dos diálogos socráticos, tais como Reale e Antiseri(1990, p. 99) destacaram o papel do educador Sócrates como condutor do processo educacional/formativo, de tal modo que sua função se assemelharia a uma espécie de parteiro espiritual que estimularia o interlocutor a parir o conhecimento que lhe é inerente"(p. 16)
Com essas informações percebemos que muita vez fazemos isso com nossos alunos, como Sócrates tentamos instigá-los a buscar respostas as suas perguntas, mas muitas destas vezes fazemos isto, utilizando-se da ironia num tom de sarcasmo, pois sabemos as vezes que eles não sabem, e decidimos em sala de aula que queremos ouvi-los, por isso são obrigados a dar suas opiniões.
"O processo educacional dialético é aquele que pode e deve contribuir para que a ciência das medidas prevaleça sobre o desejo desmesurado, cotidianamente presente nas ações humanas" (p. 26)
"Há uma superação da autoridade que não significa sua eliminação, uma vez que a intervenção do educador conserva-se modificada no raciocínio elaborado pelo aluno, que se sente respeitado como participe do processo de ensino-aprendizagem" (p. 37)
È interessante quando o autor nos coloca desta forma a posição que o professor deve ter utilizando o processo dialógico, no entanto não como forma irônica, mas fazendo com que o aluno o veja como um se humano que está ali para ensinar e também para aprender. Que o aluno participe de forma ativa no seu processo de ensino/aprendizagem e na construção de seu conhecimento e na sua formação
No segundo capítulo o autor trás a figura do professor, as formas de punições existente nas escolas, e a identificação do aluno com este professor. Zuin nos coloca o fato da origem da profissão de professor, mostrando que não é de hoje que ocorre está desvalorização, já na Grécia antiga o professor era um escravo vencido no campo de batalha que era mantido nessa condição pelo emprego da coesão física. Quando este professor foi para sala de aula, no primeiro momento houve muitas vezes a utilização da punição física por parte do professor ao aluno em muitas salas de aulas o professor se posicionava como dono do saber que pode usar métodos de coesão para fazer seus alunos aprender os conteúdos por ele passado. No entanto mudanças ocorreram nas escolas, porém:
"a eliminação dos castigos físicos não ocorreu por inteiro, embora tenha sido drasticamente mitigada, são as punições psicológicas que ocupam lugar de destaque nas salas de aulas" (p.43)
Aqui o autor destacou as mudanças ocorridas, em relações as punições, é certo que hoje se usa muito a punição psicológica em sala de aula, estas punições ocorrem muitas por palavras de sarcasmos que envergonham o aluno, que é ridicularizado pelo professor na frente dos amigos, este aluno não podendo reagir, internaliza seu rancor, sua raiva que será utilizada em outro momento de sua vida.
"É o desejo do elogio e, principalmente o medo de ser insultado e humilhado diante de todos os colegas, que faz com que o aluno se concentre no conteúdo transmitido, a fim de que não cometa erros que o transforme num alvo de escárnio do professor" (p. 44)
O professor é visto pelo aluno como uma pessoa que não pode ser contrariada, e atende seu comando não pelo fato de querer aprender, mas apenas porque teme ser punido pela sua "falha" que usa de ameaça para amedrontar seus alunos, dificultando a relação professor e aluno em sala de aula.

O autor levanta uma questão interessante sobre a posição do aluno mediante as ameaças do professor:
"Surgem as questões: será que eles se aquietam e aceitam passivamente os custos de seu processo de disciplinamento?". (p.50)
"É nesse momento que segundo Freud, essa agressão internalizada, é assumida por uma parte do ego, que se coloca contra o próprio ego, formando aquilo que o psicanalista denominou de superego". (p.53)
"A internalizarão da agressividade representa, para o filósofo (Nietzsche) não só a produção da má consciência como também a origem das mais sinistras doenças da humanidade". (57)
Aqui percebemos que agressão psicológica do professor para com os alunos, ocasionará graves problemas ao aluno, pois este internalizará o sentimento de frustração, sentindo até mesmo muitas vezes culpado por não ter reagido no momento que se sentiu agredido, ocasionando assim, representações aversivas dos alunos para com os professores.
O autor coloca um fato importante de se levar em consideração, quando diz que o educador deve sempre discutir com os alunos o fato de ser um ser humano, que falha, que não é perfeito, assim, o aluno não formará modelos idealizados e que pode até mesmo supera o professor, evitando ressentimentos dos alunos em relação aos professores.
"O ressentimento dos alunos em relação aos seus mestres que os ?educam? pelo sarcasmo não se reduz a um momento isolado". (p.73)
Os alunos muitas vezes guardam para si os ressentimentos, sendo que quando encontram oportunidades para extravasar, farão o que acaba ocasionando situações indesejadas pelo professor.
Para finalizar seu livro o autor traz um tema para fechar a discussão sobre o tema, no terceiro capítulo fala sobre a reação do aluno em relação ao professor, como eles aprenderam a lição e utilizam também o sarcasmo e como eles encontraram um meio de divulgação de depoimento sarcástico desses alunos em relação aos professores.
"O Orkut é, atualmente um dos principais ?espaços? utilizados pelos alunos para poder objetivar aquilo que verdadeiramente pensam em relação a seus mestres". (p. 76)
"Certamente o ressentimento do aluno, que se conserva modificado no ódio em relação ao professor, encontrará modos de expressar-se, ainda que estes sejam violentos". (p.83)
No capitulo três Zuin, mostra por meio de pesquisas que fez em vários sites de relacionamentos comunidades que com muito sarcasmo ridicularizam o professor.
Para continuar falando da relação entre o mestre e o discípulo o autor traz ao seu livro alguns mestres e seus discípulos, como Rousseau com seu discípulo Emilio, relação de respeito que deu certo.
"A postura humanística de Rousseau, ao Ives de distanciar ainda mais mestre e discípulo, contribuiu para o fortalecimento do respeito de Emílio em relação ao educador". (p.86)
O autor coloca o fato de que professores exercem seu domínio sobre seus alunos, por meio de fascínio, e dominação, tornado-se como herói
"É exatamente essa relação entre mestre e discípulo que fornece elementos interessantes para a reflexão do papel do denominado professor - herói e seus alunos" (p.88)
O aluno deseja agradar seu professor e atrair sua atenção, e muitas vezes é decepcionado pelo fato de até mesmo o seu professor não lembrar seu nome. Essa relação afetiva também pode se tornar um grande obstáculo na relação professor e aluno, pois muitas vezes o professor faz uso desse fascínio para dominar seu aluno. Tornando-se até mesmo soberbo e se orgulhar de si mesmo. Uma colocação que o autor usou foi:
"Talvez Adorno fosse bastante simpático a esse imperativo categórico de Galileu e o parodiasse da seguinte forma: ? infeliz é a escola que precisa do professor- herói". (p. 90)
É importante que o professor seja consciente de mostrar ao aluno que não é perfeito, e que precisa da ajuda do aluno em seu desenvolvimento, para que ocorra um bom relacionamento deles em sala de aula e fora dela.
O autor finaliza seu livro falando sobre o Orkut, e a participação de muitos jovens que aproveitam este espaço para ridicularizar e ofender seu professor. É importante que o próprio professor reveja sua prática em sala de aula, e ter uma visão humanística em relação ao aluno, que assim como ele, o aluno tem sentimentos que precisam ser cuidados para que não se tornem armas perigosas contra o professor e o próprio aluno.

CONCLUSÃO
O livro de Zuin, trás um tema bastante atual, e nos fornece informações importantíssimas. O fato de ele trazer autores como adorno, Nietzsche, e a dialética socrática foi muito bom para esclarecer melhor o texto, e nos dar uma visão crítica sobre o tema.
A linguagem utilizada é bastante compreensiva, tornando um texto bastante claro, mesmo para os que ainda não tinham contato com obras como de Platão, Sócrates. Foi uma leitura que deu prazer, e que trouxe conhecimentos importantíssimos para minha prática como educadora.

Autor: Roseli Gonçalves


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