Resenha do livro O trote na Universidade: Passagens de um rito de iniciação.



ZUIN, A.A A. O trote na Universidade: Passagens de um rito de iniciação. São Paulo: Cortez, 2002
O livro de Zuin está dividido em três capítulos, o autor primeiramente faz um histórico de quando teria começado a prática do trote em universidades, trazendo alguns teóricos que tratam da questão do uso da violência, da barbárie entre os seres humanos, entre eles podemos citar Adorno, Nietzsche muito bem colocado no texto. No livro podemos encontrar uma pesquisa feita na UFSCar, na qual o autor descreve como ocorre a entrada dos calouros na universidade, os trotes que são feios por alunos veteranos, tendo como foco o curso de Física e de Pedagogia, no ano de 2000. No terceiro capitulo ele faz uma analise critica em relação ao comportamento tanto dos calouros como também dos veteranos que participam da semana dos calouros e da aula trote.
Para a leitura do livro farei o destaque de alguns pontos que achei importante que colocam a posição do autor em relação ao tema.
Primeiro capítulo- O trote universitário e a educação para a disciplina por meio da dureza.
"Na esfera da educação, verifica-se, historicamente, de dar e receber cotoveladas, que necessitada debilitação do ego não só nas classes escolares, mas também no rito de passagem (o chamado trote.) dos calouros universitários durante o processo de integração com os veteranos". (p. 26)
"A presença do rito é, portanto, a repetição de um comportamento estereotipado". (p. 27)
Neste trecho percebemos que a ação dos alunos em relação a seus colegas, pode ser considerada reflexo daquilo que eles também receberam, portanto estão apenas continuando com o rito que aprenderam.
"No que se refere o trote como rito que marca a passagem para a integração na vida universitária e, por que não dizer, como um dos ritos que simboliza a transição para a vida adulta na nossa sociedade" (p. 28)
"Essa tradição que se perpetua no transcorrer dos séculos, parece ter sido iniciada no século XI, durante a Idade Média". (PP. 28-29)
A presença do rito, nas universidades como forma de violência e barbárie teve início na Idade Média e continua até os dias de hoje, como se o homem não tivesse "evoluído", pessoas já perderam suas vidas, seus sonhos, devido esta prática. E isso segundo o autor, pode ser simbolizado como se a pessoa entrasse na vida adulta, ou seja, você precisa aprender que deve se dobrar e aceitar tudo o que o mestre fala e quer.
O autor usa alguns exemplos de universidades que praticavam o trote como a de Heidelberg, na qual os novatos eram obrigados até mesmo de urina dos veteranos. Cita a desavença entre calouros e veteranos na faculdade de direito de Olinda, na qual terminou com a morte de um aluno entre outros fatos que impressionam que nos fazem acreditar que esse tipo de prática não deveria nem ter iniciado, a qual mostra que a educação se dará por um processo disciplinar rigoroso e assim, o aluno deve se preparar desde o momento inicial que entra na universidade.
Este tipo de trote que utilizava agressão física e psicológica acabou sendo substituído pelo trote solidário que para o autor se trata de uma violência simbólica, que não estimulam alunos a serem críticos e conscientes e sim ajudam a conservar as diferenças sociais existente entre as pessoas e melhorar a imagem da universidade diante da comunidade, chamado por Guy Debord sociedade do espetáculo.
Segundo capítulo-O trote nos cursos de Física e de Pedagogia da UFSCar
Neste capítulo o autor descreve a pesquisa feita na universidade de São Carlos, relatando detalhes da humilhação psicológica e física que alunos calouros recebem no curso de física e pedagogia no dia da matrícula.
"Durante a realização dos calouros, foram observadas características comuns presentes nos trotes dos cursos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Em praticamente todos eles os calouros tiveram as faces e, algumas vezes, os cabelos e ouvidos pintados". (p.41)
Isto ocorre devido a soberba intelectual dos veteranos que pensam que os calouros precisam ser domesticados para entrar neste novo mundo que é a universidade.
Várias ações comandadas pelos estudantes veteranos de Física foram realizadas pelos calouros que eram obrigados a fazer tudo que os veteranos mandavam. Como xingar os alunos de química, cantar músicas que demonstravam a posição entre Jesus e Satanás entre os fatos.
O mesmo acorreu no curso de Pedagogia, um fator que Zuin chama a atenção foi em relação à aula-trote neste curso. Na qual um aluno fingia-se de professor caracterizado por um professor autoritário que ameaçava os alunos e amedrontava-os, deixando os calouros com medo de como seria aquela aula com este professor. O que ele chamou atenção neste fato, é de que talvez o aluno veterano estivesse internalizando o que realmente achavam dos professores que atuavam na universidade, é como se eles estivessem avisando o que estava aguardando aqueles alunos calouros.
"Porém, os trotes aplicados no curso de pedagogia não ficaram restritos às atividades anteriores descritas, pois houve também a realização da chamada aula-trote, ou seja, uma aula na qual um aluno finge ser um dos professores do curso e se comporta de forma autoritária com os novatos". (p. 59)
Uma questão que o autor colocou foi o fato, de que uma das calouras ao saber que aquela aula era apenas uma aula trote, disse que o aluno que se fingia ser um professor deveria ser mais natural, que se fosse ela, procuraria ser mais convincente, ou seja, dissimulada. Aqui entra a questão que muitas vezes o professor usa desta tática para se passar como professor exemplar e acaba enganando ao aluno que quando descobre a verdadeira face do professor fica frustrado. Esta questão foi bem colocada no livro anterior Adoro odiar meu professor.

Terceiro capítulo- Universidade e barbárie: o trote, o narcisismo das pequenas diferenças e a educação pela ironia

Neste capítulo o autor mostra como se comporta os que receberam o trote no ano de 2000 com os novos calouros no ano de 2001. Fazendo uma análise no comportamento do ser humano.
"os veteranos do curso de Física e de Pedagogia aplicaram, basicamente, os mesmos trotes que receberam na condição de calouros no ano 2000". (p. 74)
O autor faz um levantamento que enquanto no curso de Física observa-se como referência central, o chamado narcisismo das pequenas diferenças, já no curso de Pedagogia predomina a denominada educação pela ironia.
"é interessante observar que, do mesmo modo que no ano de 2000, as etapas do rito de integração dos calouros e veteranos do curso de Física foram reproduzidas praticamente na mesma ordem, ao menos quanto às atividades realizadas dentro da universidade". (p. 77)
A agressão aos alunos do curso de química que parecem rivais dos alunos de física, e outras diferenças que levam veteranos a instigar desde o primeiro dia os calouros a terem as mesmas atitudes em relação a essas diferenças.
"A associação entre trote violento e as cobranças feitas aos alunos por seus mestres compele ao aluno a reprimir tanta raiva (que depois se transforma em ressentimento) como possíveis frustrações de pequenez diante do seu superior". (p. 83)
O aluno que foi reprimido acaba descontando sua raiva no momento do trote, achando-se pai do calouro, por isto precisa ensiná-lo a se comportar dentro da universidade, mostrando seu papel e lugar que deve ocupar, ocasionando grandes violências físicas e/ou psicológicas no aluno que entra na universidade.
"Em relação ao curso de Pedagogia, cheios talvez de ressentimentos vivenciados no transcorrer do aprendizado, em relação ao sarcasmo expressado por seus mestres, encontra um ótimo escoadouro na chamada aula-trote". (p.91)
Os alunos veteranos usam justamente o que recebem em sala de aula, a ironia e o sarcasmo com seus colegas que estão entrando na universidade. Pois no ano de 2001, na aula trote, a aluna que representou a professora, usou totalmente do sarcasmo e da ironia e obteve mais "sucesso" do que o aluno do ano de 2000, pois todas as calouras acreditaram aquela era uma aula de verdade.
O autor traz para o seu texto a idéia de Adorno, que diz que em sala de aula deve existir discussões que levem o aluno a sentir em si mesmo a necessidade de ser ético, sem que tal reivindicação seja algo imposto de fora, aprioristicamente.
"A aula - trote pode ser retratada como símbolo maior da chamada educação irônica-sarcástica, herdeira da educação para disciplina por meio da dureza". (p.103)
CONCLUSÃO
É interessante refletir como educadora sobre o tema trazido pelo autor. No primeiro momento perguntei-me para que uma leitura sobre este tema. Mas, no decorrer da leitura percebi o quanto era importante, acredito que todo educador deveria fazer esta leituras, pois nos faz refletir o quanto nossa prática em sala de aula, influência demasiamente na vida de nossos alunos tanto dentro ou fora da escola. O interessante nesta leitura, que apresenta um tema atual que desperta um novo olhar sobre o assunto, começa-se a receber criticamente as noticias sobre esta questão. Um exemplo bem interessante aconteceu comigo. Tive a oportunidade de ler em um jornal local, sobre um trote que ocorreu na USP. No qual veteranos jogaram lama, pintaram e cortaram o cabelo dos calouros de um dos cursos desta universidade. O chamado "trote sem violência". Enquanto pais de alunos assistiam a tudo, no lado de fora do espaço onde tudo acontecia.
A pesquisa que foi realizada na universidade pelo autor, foi interessante, pois tornou os fatos reais e nos ajudou a entender a questão de uma forma que realmente acontece nas universidades.
A leitura além de trazer muitos conhecimentos importantes, me colocar em contato com autores importantes da teoria crítica, também me fez perceber que somos seres humanos que mantemos relações com seres humanos que são nossos alunos, e antes de tomarmos qualquer atitude devemos refletir sobre nossas ações e suas conseqüências.
A leitura do livro de Zuin: Adoro odiar meu professor, ajudou na leitura da obra O trote na universidade, pois o primeiro trouxe o tema ironia e sarcasmo, e a relação professor e aluno, o que me ajudou bastante na hora de refletir sobre o tema trote na universidade.

Autor: Roseli Gonçalves


Artigos Relacionados


Não Seja “bixo” No Trânsito, Substitui “trote” Por Ações Sociais

Resenha Do Livro "adoro Odiar Meu Professor"

Relação Professor-aluno Na Sala De Aula

Pseudo-intelectuais

Dilemas De Uma Professora

Metodologia Cientifica

Professores Mal Preparados