Tempo,Trabalho,Capitalismo Industrial e o Fazer-se da Classe Operária



Data: 05/04/2011 - Disciplina: TRABALHO, MÍDIA E LINGUAGENS SOCIAIS
Profº: RICARDO MULLER - Equipe: RICARDO FELIX e ÁLI IMPALÉA
RESENHA - 1º SEMINÁRIO ? Textos:
1) Tempo, Disciplina de Trabalho e Capitalismo Industrial (E.P. Thompson).
2) O Fazer-se da Classe Operária (Hobsbawn).

Roteiro do SEMINÁRIO:
a) Apresentação de ÁUDIOVISUAL com compilações de imagens e áudio baseadas nas análises da equipe sobre estes textos ? esta etapa foi TRANSFERIDA e será realizada na próxima aula devido à falhas técnicas.

b) Eixo temático praxiológico: "TANGO, A DANÇA DO SÉCULO (XX)".
- Introdução e contextualização teóricas sobre o sincretismo cultural das populações européias, africanas e asiáticas nos portos Americanos na passagem do Séc. XIX ao Séc. XX, em plena era Industrial e expansão da demanda dos modos de produção, o que provoca uma transformação artística e cultural impactante e fundamental às gerações futuras.
- Condução prática de uma aula de TANGO com a turma: breves observações sobre condutas, ações e movimentos característicos desta expressão corporal lúdica.


RESENHA - TEXTO 1 - THOMPSON, E. P.

Este capítulo do livro Costumes em Comum faz uma investigação primorosa, identificando e documentando de modo historiográfico os tipos de relações sociais desde o cotidiano nuclear das famílias campesinas e agrícolas, passando pelas famílias e agrupamentos suburbanos e operários e evoluindo para as elites dirigentes, supervisores e guardas das fábricas e industrias, documentando com um vasto estilo de registros encontrados as conseqüências deste tipo de vida que então está se modificando neste período histórico (pré-industrial e industrial): o tempo e este novo condicionamento de vida presente nas cantigas populares, preces, falas, poemas e provérbios, registros de diários e memorandos destas pessoas nesta época.
A partir daqui, este texto trata principalmente da transformação da experiência pessoal com o tempo, sua percepção e formas de fazer-se presente e relacionar-se com as atividades diárias, na época em que fortes mudanças sócio-econômicas passam a resignificar o seu valor e uso, refletindo-se numa mudança cultural de como antes o tempo, orientado pelas tarefas rotineiras num contexto rural ou artesanal, passa a se consubstanciar em moeda de troca ("tempo é dinheiro"), calculável e racionalizado ao extremo, com a mudança nas relações de trabalho e o advento das formas assalariadas e dependentes de desenvolvimento do trabalho - nas indústrias e fábricas.
Passa-se a vislumbrar arqueologicamente quais possíveis mudanças estruturais possibilitaram a centralização da categoria tempo em termos de produção; segundo o autor, foi com Newton e sua mecânica que a imagem do mecanismo do relógio se expande até tomar conta do universo (p.269); e quais as implicações desta revalorização do tempo nos hábitos dos trabalhadores e seus empregadores? Quais as repercussões no tipo de disciplina que se poderia esperar de trabalhadores conscientes do valor do tempo para a sua otimização e eficiência produtiva? De que modo puderam internalizar tais mentalidades ou resistir à mecanização do trabalho?
Existem distinções entre o tempo "primitivo", supostamente cíclico, das culturais arcaicas e rurais, que se orientam ao suprimento das necessidades e tarefas que integram o cotidiano, contraposto ao tempo "industrial", "linear", enfaticamente centrado na impossibilidade de sua sub-utilização por se tratar de desperdício imoral e reprimível.
No primeiro caso, que não quer dizer necessariamente inferior (ao dizer-se primitivo, espera-se que, num grau de evolução, preceda aquilo que será melhor aperfeiçoado e superior), a "estrutura de mercado e administração é mínima" (p.271), e variam de acordo com as "diferentes situações de trabalho - e sua relação com os ritmos naturais."(idem) Daí uma indissociabilidade entre "trabalho" e "vida", perdida com o processo de artificialização e separação provocada pelo controle abstrato do tempo na era do capital industrial.
Neste sentido, no fenômeno industrial surgido através da necessidade e interesse na produção em larga escala, emprega-se mão-de-obra e sistematiza as etapas de produção através da divisão do trabalho e a necessidade de sua sincronização e controle.
Tanto a forma diária, quanto a "empreitada", caracterizariam maneiras menos produtivas do que aquela forma de trabalho em que os horários estão claros e as horas trabalhadas podem ser aferidas - quando os homens já não controlam a sua atividade e vida produtiva, porque estão submetidos a uma lógica (a lógica do patrão) externa e alheia a eles.
A diretiva se materializa no controle do uso do tempo, no seu gasto - necessariamente deveria ser bem empregado. Para tanto, e simultaneamente, os mecanismos de aferição do tempo são aperfeiçoados, através do desenvolvimento da tecnologia usada nos relógios (portáteis e não-portáteis), que começam a significar prestígio social e status. Uma nova moral toma a frente, aliada com o puritanismo burguês descrito e explicato por Weber n'A ética protestante e o espírito do capitalismo, em que, para além do luxo, torna-se um artefato conveniente e útil para a sincronização do trabalho. (p.279)
Isto fará com que se popularize a "moda" do relógio de bolso, possibilitador do cálculo, da regularidade e do ritmo artificial do trabalho, bem como a especialização e disciplina que acompanham o processo de produção na acumulação capitalista.
A maneira "antiga" de concepção do tempo não tem vez num mundo cada vez mais dominado por moralistas e mercantilistas, preocupados com seus negócios e a comercialização de seus produtos.
Vão se transformando os costumes, as máquinas auxiliam neste processo: reforçam a disciplina da produção, sua constância e regularidade - os homens "aprendem", assim, com as máquinas. Os operários são infantilizados; a fábrica é como uma escola, que ensinará a previsão calculada de seu trabalho e do seu resultado. O trabalho torna-se primordial, em sua primazia necessária para o desenvolvimento econômico e social; o desperdício, o ócio e o lazer serão vistos como desintegradores/desarmonizadores anti-sistêmicos, tanto na cidade quanto no campo. Aliás, no campo, o discurso de rejeição das terras comunais, em favor dos cercamentos, estará centrado na capacidade de produção num e noutro; daí a industrialização entendida como "modernização", através do desenvolvimento agrícola e da administração eficiente do tempo (p.286).
Os costumes populares tradicionais foram encarados como marcas de um passado degenerado, indolente e ineficiente; a dureza com que a fiscalização do trabalho foi imposta era justificada por uma moral que recriminava o ócio e os hábitos da população em geral. Os avanços técnicos/tecnológicos sentidos nas modernizações dos relógios possibilitaram o controle do trabalho através de relógios de ponto, que confirmariam ou não o uso econômico do tempo, e seu respectivo sancionamento.
Entra em cena a escola como instância crucial para o disciplinamento dos filhos das massas, que seriam introjetados nessa cultura e moral dominante, fazendo-os internalizar valores e práticas socialmente reconhecidas como dignas de nota - socializando o que se queria e excluindo o que era inútil.
Chega-se ao ponto de se utilizarem artimanhas para burlar esse controle excessivo do tempo de forma a beneficiar os próprios empregadores e diretores de fábrica: a manipulação dos relógios para aumentar o tempo de trabalho (atrasando-se ao final do expediente e adiantando-se em seu começo). Mas as estratégias de resistência à exploração nunca deixaram de ocorrer, principalmente quando se torna consciente a classe trabalhadora e se apropria dos elementos e instrumentos utilizados para exercerem o seu controle, a despeito de sua culpabilização em relação às condições em que se encontram submetidos ("eles são culpados por isso; por sua inferioridade natural, indolência e preguiça..."; "uma força inerte de trabalho" - p. 302).
Os hábitos do trabalho e a disciplina do tempo moldam através de suas ferramentas convencionais (alarmes, sinos, relógios, multas, supervisão, ensino, supressão do lazer e as "cartilhas disciplinares" das fábricas) as subjetividades, fazendo-as internalizarem tais práticas e valores, mas criando também descontinuidades e elos de resistência que perpetuaram ritmos de trabalho irregulares e "casados com a vida". Consolidou-se uma identidade de classe, geralmente relacionada a um estado de espírito anômalo por não se limitar à lógica do tempo nos termos de negociação, utilização e consumo.
Ao mesmo tempo, expandiu-se tais estruturas de controle e dominação, de inferiorização/subalternização na organização colonial do mundo. Pelo discurso de legitimação da exploração econômica se beneficiaram os senhores de engenho, os mercadores e industriais metropolitanos, culpando-nos pelo atraso e justificando suas bárbaras invasões. (méritos do homem moderno?!).
Desta forma, impõe-se o questionamento de como lidaremos com o tempo hodierno - com as promessas de fim do trabalho, através de sua automatização, ou com formas menos compulsivas do emprego do tempo utilitariamente-, e como desconstruir hábitos, práticas, valores para além do puritanismo burguês e seu eficientismo/produtivismo utilitarista - assumir novos/antigos valores que derrubem as barreiras entre vida e trabalho, para além também das meras necessidades humanas e da grande relojoaria acadêmica.

RESENHA - TEXTO II - HOBSBAWN

O capítulo O Fazer-se da Classe Operária irá concentrar-se na forma mais conceitual ao abordar essencialmente a construção de uma consciência da classe operária. Aqui, Hobsbawn está preocupado em situar a emergência de uma classe operária por excelência, o que implica a clareza de sua consciência e identidade coletivas, no processo de transformações econômicas ocorridas durante o séc. XVIII na Grã-Bretanha.
Para tanto, antes do que mapear ideologias institucionais, busca dentro de personagens históricos representativos da militância operária e na decadência de formas de produção independentes substituídos pela escala industrial os indícios da coesão e consciência de particularidades experimentadas e vivenciadas em comum pelos trabalhadores (o que os distinguiria de classes trabalhadoras de outros tempos históricos).
Destaca certos movimentos espasmódicos/esporádicos precedentes e sua falta de continuidade em relação ao ressurgimento socialista a partir de 1880 e aponta as diferenças entre tais fenômenos.
Parece que um marco decisivo seria a consolidação de uma rede ferroviária - e a economia específica a ela subjacente (carvoaria, ferroviários e setor de comércio/transporte), como grande empregadora de mão-de-obra na época de ouro da economia vitoriana. Desta forma, a importância estaria em identificar em que medida o desenvolvimento e a expansão da nova economia industrial afetou e de que maneiras afetou a classe operária (p. 276).
Tais mudanças observadas puderam se expressar no aumento do tamanho absoluto e em concentração geoespacial; na mudança funcional/ocupacional dos trabalhadores (cada vez mais ferroviários e mulheres nas fábricas têxteis) - seria importante destacar aí que a crescente mecanização anulou parte da diferença desempenhada pela técnica e conhecimentos específicos manuais dos tradicionais artesãos; qualquer um poderia facilmente desempenhar o trabalho de operar uma máquina, bastando sua iniciação.
Por outro lado, as políticas econômicas do governo se desenrolaram no sentido de uma "concentração cada vez maior da economia nacional e de seus setores", fundamental para a integração nacional e articulação da classe trabalhadora em âmbito nacional, fazendo advir uma maior expressão das mobilizações massivas e das greves gerais.
Igualmente, em termos políticos, o interesse e aposta na participação política da classe trabalhadora passou a desempenhar uma forte corrente de luta por hegemonia e democratização dos espaços eminentemente políticos (movimento do "Trabalhismo" e dos sindicatos nacionais), pondo em pauta as aspitações políticas, demandas sociais e necessidades específicas sentidas pela classe, conforme foi se estabelecendo esta identidade coletiva e consciência de classe), ao par que ia se fortalecendo um protótipo "tradicional" de classe operária, "com seus padrões de vida e visões de mundo específicos" (p. 280) que, segundo o autor, não chegou a emergir muito antes da década de 1880 e adquiriu suas feições no par de décadas seguinte - bem como o surgimento da "classe média" tal qual a conhecemos, seu figurino e hábitos particulares (pólo, jogos de golfe, etc), muito mais homogeneizada do que a força que as raízes locais e regionais ainda possuíam no modo de ser da classe operária - preservação dos costumes, do folclore, etc.além do mais, resistiam a tal tendência de padronização/uniformização..
Hobsbawn fala de uma itensificação e 'norteamento social e institucional da classe operária", antes invisível, exprimindo-se inclusive na indústria cultural direcionada ao popular; a proliferação da imprensa especializada em música popular, por exemplo.
Simultaneamente, um suposto incremento do padrão de vida dos trabalhadores à época, decorrente do baixo custo de vida, dos programas sociais do estado em respeito à moradia, além da intensificação do consumo interno, características que corroboram as alterações estruturais em curso...(mudanças no sistema de produção; nos hábitos de consumo; nos modos de oferta das mercadorias; nas estratégias de associação e cooperação entre os trabalhadores).
Algo bem demarcado é a ocupação do território urbano, cada vez mais indicador da classe que nele habita; uma segregação urbana decorrente da suburbanização e afastamento das moradias operárias em relação aos postos de trabalho - uma forte mudança existencial de percepção do ambiente.
Neste ponto a seguir, Hobsbawn pinta um quadro mais otimista das práticas relacionadas com os operários (em comparação com Thompson); demonstra que o lazer (esporte, festividades) passa a ter uma relevância muito forte na coesão social e não coloca a questão em termos recrimináveis ou repressores, por um recurso discursivo institucional que oprimia ou lhes negava tal possibilidade..
A segregação/estratificação residencial era seguida por uma segregação em razão das expectativas; neste caso, o principal fator se devia ao incremento de importância e centralidade da educação formal na formação individual, e sua desigual efetividade de acordo com a origem de classe de uma pessoa (educação formal como "critério de classe" - qualificação). Assim, os operários seriam sempre vistos como sem-instrução, sem cultura, indiferentes à educação por a perceberem como inútil ou insignificante para o que faziam, para sua vida fadada a determinado trabalho. Não poderiam auferir nenhuma diferença ou vantagem nos estudos, decaindo assim o número de trabalhadores com especialização, de forma que se tornaram por excelência os trabalhadores manuais, localizados na base da hierarquia laboral.
Outra segregação seria feita através da divergência de estilos de vida, ligados aos costumes e gostos populares pelo futebol, por exemplo, pelas viagens a certos locais por eles frequentados etc; além disso, a queda real dos salários e a alienação inerente ao processo de produção gerava maior ressentimento e mobilizações operárias - agitações que puderam desenvolver uma aglutinação entre os vários setores produtivos, unificando os trabalhadores numa classe social reconhecida, e não com mero fim classificatório em relação à função/tipo de trabalho. As formas concorrentes de coesão seriam atribuídas à religião e ao movimento nacionalista, de maneira não exclusiva.
As ações levadas a cabo pelos sindicatos tiveram uma tendência à convergência e mitigação das diferenças, propiciando uma maior unidade de consciência de classe não-conformista, paralelamente à certas inflexões e refluxos pela fragmentação da ação política institucional da classe (podiam tanto estar no partido conservador, no liberal ou no do trabalhismo; serem ideologicamente socialistas ou não-socialistas). Impõe-se a necessidade de terem seus porta-vozes no parlamento, de poderem participar ativamente e propor suas aspirações almejadas, fazendo com que cada operário que se via representado estabelecer a escolha de apenas votar por trabalhadores para sua representação - a representação da classe.
Consciência de classe e vanguardismo: quadros para a instrução política; hibridismo entre tradicionalismo popular e espírito revolucionário; sintomas expressos na sindicalização em massa e na pressão exercida pelo poder trabalhista, já não visto como apolítico, apático; mas sim antagonista e antípoda da classe média (do embate ricosXpobres para o conflito classe médiaXclasse operária), posto à prova de maneira concreta. HOBSBAWN
Aqui, Hobsbawn está preocupado em situar a emergência de uma classe operária por excelência, o que implica a clareza de sua consciência e identidade coletivas, no processo de transformações econômicas ocorridas durante o séc. XVIII na Grã-Bretanha.
Para tanto, antes do que mapear ideologias institucionais, busca dentro de personagens históricos representativos da militância operária e na decadência de formas de produção independentes substituídos pela escala industrial os indícios da coesão e consciência de particularidades experimentadas e vivenciadas em comum pelos trabalhadores (o que os distinguiria de classes trabalhadoras de outros tempos históricos).
Destaca certos movimentos espasmódicos/esporádicos precedentes e sua falta de continuidade em relação ao ressurgimento socialista a partir de 1880 e aponta as diferenças entre tais fenômenos.
Parece que um marco decisivo seria a consolidação de uma rede ferroviária - e a economia específica a ela subjacente (carvoaria, ferroviários e setor de comércio/transporte), como grande empregadora de mão-de-obra na época de ouro da economia vitoriana. Desta forma, a importância estaria em identificar em que medida o desenvolvimento e a expansão da nova economia industrial afetou e de que maneiras afetou a classe operária (p. 276).
Tais mudanças observadas puderam se expressar no aumento do tamanho absoluto e em concentração geoespacial; na mudança funcional/ocupacional dos trabalhadores (cada vez mais ferroviários e mulheres nas fábricas têxteis) - seria importante destacar aí que a crescente mecanização anulou parte da diferença desempenhada pela técnica e conhecimentos específicos manuais dos tradicionais artesãos; qualquer um poderia facilmente desempenhar o trabalho de operar uma máquina, bastando sua iniciação.
Por outro lado, as políticas econômicas do governo se desenrolaram no sentido de uma "concentração cada vez maior da economia nacional e de seus setores", fundamental para a integração nacional e articulação da classe trabalhadora em âmbito nacional, fazendo advir uma maior expressão das mobilizações massivas e das greves gerais.
Igualmente, em termos políticos, o interesse e aposta na participação política da classe trabalhadora passou a desempenhar uma forte corrente de luta por hegemonia e democratização dos espaços eminentemente políticos (movimento do "Trabalhismo" e dos sindicatos nacionais), pondo em pauta as aspitações políticas, demandas sociais e necessidades específicas sentidas pela classe, conforme foi se estabelecendo esta identidade coletiva e consciência de classe), ao par que ia se fortalecendo um protótipo "tradicional" de classe operária, "com seus padrões de vida e visões de mundo específicos" (p. 280) que, segundo o autor, não chegou a emergir muito antes da década de 1880 e adquiriu suas feições no par de décadas seguinte - bem como o surgimento da "classe média" tal qual a conhecemos, seu figurino e hábitos particulares (pólo, jogos de golfe, etc), muito mais homogeneizada do que a força que as raízes locais e regionais ainda possuíam no modo de ser da classe operária - preservação dos costumes, do folclore, etc.além do mais, resistiam a tal tendência de padronização/uniformização..
Hobsbawn fala de uma itensificação e 'norteamento social e institucional da classe operária", antes invisível, exprimindo-se inclusive na indústria cultural direcionada ao popular; a proliferação da imprensa especializada em música popular, por exemplo.
Simultaneamente, um suposto incremento do padrão de vida dos trabalhadores à época, decorrente do baixo custo de vida, dos programas sociais do estado em respeito à moradia, além da intensificação do consumo interno, características que corroboram as alterações estruturais em curso...(mudanças no sistema de produção; nos hábitos de consumo; nos modos de oferta das mercadorias; nas estratégias de associação e cooperação entre os trabalhadores).
Algo bem demarcado é a ocupação do território urbano, cada vez mais indicador da classe que nele habita; uma segregação urbana decorrente da suburbanização e afastamento das moradias operárias em relação aos postos de trabalho - uma forte mudança existencial de percepção do ambiente.
Neste ponto a seguir, Hobsbawn pinta um quadro mais otimista das práticas relacionadas com os operários (em comparação com Thompson); demonstra que o lazer (esporte, festividades) passa a ter uma relevância muito forte na coesão social e não coloca a questão em termos recrimináveis ou repressores, por um recurso discursivo institucional que oprimia ou lhes negava tal possibilidade..
A segregação/estratificação residencial era seguida por uma segregação em razão das expectativas; neste caso, o principal fator se devia ao incremento de importância e centralidade da educação formal na formação individual, e sua desigual efetividade de acordo com a origem de classe de uma pessoa (educação formal como "critério de classe" - qualificação). Assim, os operários seriam sempre vistos como sem-instrução, sem cultura, indiferentes à educação por a perceberem como inútil ou insignificante para o que faziam, para sua vida fadada a determinado trabalho. Não poderiam auferir nenhuma diferença ou vantagem nos estudos, decaindo assim o número de trabalhadores com especialização, de forma que se tornaram por excelência os trabalhadores manuais, localizados na base da hierarquia laboral.
Outra segregação seria feita através da divergência de estilos de vida, ligados aos costumes e gostos populares pelo futebol, por exemplo, pelas viagens a certos locais por eles frequentados etc; além disso, a queda real dos salários e a alienação inerente ao processo de produção gerava maior ressentimento e mobilizações operárias - agitações que puderam desenvolver uma aglutinação entre os vários setores produtivos, unificando os trabalhadores numa classe social reconhecida, e não com mero fim classificatório em relação à função/tipo de trabalho. As formas concorrentes de coesão seriam atribuídas à religião e ao movimento nacionalista, de maneira não exclusiva.
As ações levadas a cabo pelos sindicatos tiveram uma tendência à convergência e mitigação das diferenças, propiciando uma maior unidade de consciência de classe não-conformista, paralelamente à certas inflexões e refluxos pela fragmentação da ação política institucional da classe (podiam tanto estar no partido conservador, no liberal ou no do trabalhismo; serem ideologicamente socialistas ou não-socialistas). Impõe-se a necessidade de terem seus porta-vozes no parlamento, de poderem participar ativamente e propor suas aspirações almejadas, fazendo com que cada operário que se via representado estabelecer a escolha de apenas votar por trabalhadores para sua representação - a representação da classe.
Consciência de classe e vanguardismo: quadros para a instrução política; hibridismo entre tradicionalismo popular e espírito revolucionário; sintomas expressos na sindicalização em massa e na pressão exercida pelo poder trabalhista, já não visto como apolítico, apático; mas sim antagonista e antípoda da classe média (do embate ricos X pobres para o conflito classe média X classe operária), posto à prova de maneira concreta.

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