CRIATIVIDADE E PRÁXIS PEDAGÓGICA NO ENSINO SUPERIOR



CRIATIVIDADE E PRÁXIS PEDAGÓGICA NO ENSINO SUPERIOR

Geovane Oliari
Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade de Santo Amaro
[email protected]

Resumo: O presente trabalho objetiva atentar para a importância do uso da criatividade e a práxis pedagógica no ensino superior. Temos observado que a universidade tem sido criticada por seus métodos e alertados de que deve despertar o acadêmico para o pensamento crítico e independente. Sendo assim, este trabalho visa analisar se o incentivo à criatividade influência no desenvolvimento e contribui para o exercício da função após a conclusão do curso e, como o aluno reage a uma didática diferenciada que o estimule ao uso da criatividade. Para alcançar os objetivos propostos realizaremos uma pesquisa bibliográfica procurando nos inteirar quanto às atitudes que favorecem o desenvolvimento e a expressão da criatividade do aluno. A proposta metodológica do trabalho se orientou na perspectiva qualitativa, a qual nos permitirá perceber as relações do fenômeno investigado. Para a fundamentação teórica nos utilizaremos de autores variados, dentre eles: Eunice Soriano de Alencar; Maria Lúcia de Arruda Aranha; Jaqueline Grennon Brooks; José Carlos Libâneo; Selma Garrido Pimenta; Renato Requixa; entre outros.

Palavras-chave: Professor; práticas docentes; acadêmico; criatividade.

Abstract: This research has a purpose of attending to the importance of using creativity and pedagogical praxis at the college. We?ve noticed that the universities has been criticized for its methods and advised that they should have the students? attention to think critically and independently. Thus, this study intends to analyze if the incentive to creativity has some type of influence in the development and contributes to the function exercise after the graduation, and how the student reacts to a differentiated didactic which stimulates him to use the creativity. In order to achieve the proposed objectives we?ll do a bibliographic research, trying to know about the attitudes that favor the development and creativity expression of the students. The methodological propose of the research was coordinated in a qualitative perspective, which will admit to notice some relations about the investigated phenomenon. We?ll mention several authors to the theoretical subject like: Eunice Soriano de Alencar; Maria Lúcia de Arruda Aranha; Jaqueline Grennon Brooks; José Carlos Libâneo; Selma Garrido Pimenta; Renato Requixa; etc.

Key words: Teacher; teaching practices; academic; creativity.

Introdução

Percebemos que um dos entraves na educação brasileira é a ausência de uma relação entre teoria e a prática. Os autores Castro, Castilho, Calzavara, Rosa e Malheiros (2002), acrescentam que apesar de muitas tentativas de se romper com a pedagogia baseada na memorização de conteúdos e essencialmente teórica, ainda permanece uma visão tradicional do ensino, onde o professor ministra suas aulas sem levar em conta a criatividade do aluno, utilizando-se de métodos que exigem pouco esforço ou que nem sempre conseguem levar o aluno a aprender o conteúdo. Neste sentido, apresentamos um estudo que investigou, por meio de leituras, possibilidades de inovação pedagógica, onde a educação esteja baseada na prática cotidiana do acadêmico com métodos que incentive a criatividade do indivíduo.
Principalmente, no que concerne aos cursos de licenciatura, existe muita reclamação, pois quando o acadêmico se encontra com o diploma na mão, não sabe como se portar ante as dificuldades encontradas em sala de aula, e percebe que não lhe faltou teoria, mas para a prática pouco foi preparado. Notamos que se o professor for estimulado a usar da criatividade própria nos anos de universidade, terá menos dificuldades em se arranjar diante das dificuldades posteriores que encontrará em sala.
Zabalza (2004, p.169) in Barreto (2007, p.02) nos diz que:

Os professores devem ter uma 'dupla competência': a competência científica, como conhecedores fidedignos do âmbito científico ensinado, e a competência pedagógica, como pessoas comprometidas com a formação e com a aprendizagem dos estudantes.

O presente artigo foi elaborado com o objetivo de se perceber como tem sido tratado o tema da criatividade em sala de aula. Dentro deste assunto, sem a pretensão de apresentar soluções prontas para os problemas pedagógicos e acadêmicos, mas apenas, reunir contribuições para a práxis pedagógica, sobre o processo de ensino-aprendizagem vinculado, diretamente, à criatividade dos professores nas atividades da docência e ressaltar as contribuições do sistema didático com foco o favorecer, não só as potencialidades do comportamento criativo, mas, também, o envolvimento dos professores, alunos e instituição com um processo de educação realmente comprometido com o desenvolvimento da criatividade.

Breve concepção de Ensino Superior

O Ensino superior é uma instituição social, com o papel fundamental de formar o cidadão a partir de normas e valores da sociedade a que serve. Assim, pode-se identificar uma instituição social pela estabilidade e durabilidade de sua missão defende um ideal, uma doutrina, sendo estável e duradoura. Defende o ideal a que se destina, enquanto integrador de um sistema, à qualificação profissional e promoção do desenvolvimento político, econômico, social e cultural.
De acordo com Colossi, Consentino e Queiroz (2001), a educação superior no Brasil, é parte integrante da história da sociedade brasileira. A literatura afirma que a chegada da Família Real Portuguesa no ano de 1808, fugindo das forças napoleônicas, foi a razão inicial para a criação das primeiras escolas superiores brasileiras.
Outras datas ilustram, também, o trajeto da educação superior no Brasil. Em 1827 foram criados os Cursos de Ciências Jurídicas em São Paulo e em Olinda. Em 1889, a República se desenvolve com a criação de 14 Escolas Superiores. A Universidade de Manaus, criada em 1909, mostrou a força do ciclo da borracha e, em 1912, a universidade do Paraná, no contexto do ciclo do café. Posteriormente foram criadas a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, de Minas Gerais, em 1927, de São Paulo, em 1937, e, em 1961, a Universidade de Brasília.
A formação superior tem por objetivo formar sujeitos autônomos, capazes de intervir nas complexas relações sociais da vida contemporânea, a formação requer não somente o domínio das tecnologias de informação e comunicação, mas também a capacidade de produzir e aplicar os conhecimentos técnicos e científicos. As autoras Bahls e Carli (2006), argumentam que a LDB da Educação Nacional, no Artigo 43, Lei nº 9394/96, trata relativamente à estrutura, organização e finalidades da Educação Superior, ressaltando que a educação superior deve propiciar "o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo" (Art. 43, inciso I), como também estimular a criação cultural. Portanto a graduação, nas diferentes áreas de conhecimento, precisa articular o ensino ao trabalho de pesquisa e extensão, promovendo a construção dos conhecimentos culturais, científicos e técnicos.
O inciso IV do mesmo Artigo (43) e Lei (9394/96) salienta a finalidade da Educação Superior quanto à promoção da divulgação de "conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber por meio do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação".
Sendo assim, fica claro que a Educação Superior, como uma instância de estímulo ao desenvolvimento de potencialidades dos acadêmicos e professores, se torna responsável pelo desenvolvimento das habilidades que promovam a autonomia, a responsabilidade, a curiosidade epistemológica, a cientificidade e o espírito crítico.
O inciso VI do Artigo 43, já citado, refere-se ao "conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais", como também a prestação de serviços especializados à comunidade, estabelecendo com esta uma relação de reciprocidade.

Trajetória do Ensino Superior no Brasil

O percurso que as universidades brasileiras percorreram até o presente momento é bastante interessante. Iniciando no período de colonização do Brasil, período em que existiam no país apenas cursos superiores de Filosofia e Teologia, oferecida pelos Jesuítas, pois Portugal impedia o desenvolvimento do ensino superior em suas colônias, temendo que os estudos pudessem contribuir com os movimentos de independência.
A partir de 1808, com a chegada da família Real Portuguesa à cidade do Rio de Janeiro, o ensino superior passou a existir em instituições formais, a princípio oferecendo cursos de engenharia (academia militar), medicina (cátedras de cirurgia e anatomia) e belas artes, estes cursos eram gratuitos, financiados com o imposto "Quinto da Coroa", que era um imposto cobrado sobre os produtos exportados do reino e das colônias. Neste período, a expansão do ensino superior ocorre de maneira muito lenta.
De acordo com Figueiredo (2005), as discussões sobre a educação, especificamente sobre as universidades, surgem com mais força depois da proclamação da República, com os constituintes que queriam criar essas instituições em estados como: Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, mas esbarraram, desde então, com problemas de ordem financeira, devido a maior parte de a receita ser destinada ao pagamento de dívidas com o exterior.
Em decorrência da industrialização e urbanização, na Era Vargas, surge pela primeira vez no país uma ação planejada, com visão voltada à organização nacional da educação. Segundo Aranha (1996, p. 201) "os decretos de Francisco Campos imprimem uma nova orientação, voltada para maior autonomia didática e administrativa, interesse pela pesquisa, difusão da cultura, visando ainda ao benefício da comunidade". No ano de 1930, com a criação do Conselho Federal de Educação, foi criada de forma mais organizadas, somente ai é que passa a destinar-se uma percentagem da arrecadação de impostos para financiar a educação de ensino superior.
Somente em no ano de 1935 foi criada a Universidade do Distrito Federal, por Anísio Teixeira, que segundo Cunha (2000), esta universidade sobreviveu um período curto, pois foi dissolvida durante o Estado Novo, em 1939, e incorporada pela Universidade do Brasil, antiga Universidade do Rio de Janeiro. Este autor relata que em 1940, surgem as primeiras universidades privadas do país, Faculdades Católicas no Rio de Janeiro, que só foram reconhecidas pelo Estado no ano de 1946.
O Estado Novo caiu e com retomada do novo poder surge a constituição de 1946, que reflete o processo de redemocratização do Brasil, visando garantir os direitos individuais de expressão e pensamento, apesar de, segundo Cunha (2000, p.107):

A organização educacional permanecer a mesma. Onde a estrutura do ensino médio se dividida entre o ensino propedêutico e o ensino profissional, sendo que o ensino propedêutico destinava-se às elites e o profissional à classe trabalhadora, demarcando claramente a forma discriminatória que de ante mão já definia quem seria conduzido ao ensino superior.

Entre 1950 e 1954, com a volta de Getulio Vargas, foram tomadas algumas medidas para equivalência dos cursos profissionais a secundário, levando assim a progressão no sistema educacional, e as medidas de ampliação foram ampliadas e asseguradas na LDB (Lei de Diretrizes e Bases) de 1961. Tais medidas foram adotadas devido ao número de trabalhadores que aumentava rapidamente enquanto que a mão de obra qualificada era ainda muito escassa. Com essas decisões ocorreu a expansão do ensino médio o que, consequentemente contribuiu para o aumento da busca por cursos de graduação.
Para Cunha (2000, p.171) a expansão das universidades se deu de três maneiras:

a) A criação de novas faculdades onde não as havia ou onde só existiam instituições privadas; b) A gratuidade de fato dos cursos das instituições federais de ensino superior, mesmo a legislação prevendo a cobrança de taxas; c) A "federalização" das faculdades estaduais e privadas, reunindo-as, posteriormente, em universidades custeadas e controladas pelo MEC.

E segundo Figueiredo (2005), com alguns movimentos que lutavam por uma universidade de qualidade, nos anos 60 ocorreram varias e rápidas mudanças no Ensino Superior, chegando-se a alterar até mesmo a localização geográfica das instituições, onde as faculdades públicas estavam situadas, dos pontos centrais das cidades foram transferidas para o subúrbio, pois, consideravam adequado para atenuar e apaziguar a militância política dos estudantes. Aproveitando-se dessa fase as universidades particulares, se instalavam em pontos estratégicos. Apesar das mudanças, e lutas no ensino superior brasileiro, na década de 60, persiste a seletividade, em decorrência da dualidade do ensino, onde a elite bem preparada ocupa as vagas nas melhores universidades, restando às faculdades privadas de baixo nível para os mais pobres.
Os anos 80 e 90 foi marcado pela crescente abertura de Universidades particulares, bem como a oportunidade em se obter a isenção fiscal para empresário da educação, inclusive o "Projeto Universidade para Todos" (ProUNI) aprovado pelo atual presidente Lula, segue a mesma lógica.
No ano de 1996, o Ministro da Educação do Governo de FHC, Paulo Renato de Souza, estabeleceu três pilares de sua política para reforma Universitária, que traziam em si as recomendações do Banco Mundial. Esses pilares apontavam para a consolidação do projeto neoliberal, que tem a sua maior expressão nas propostas apresentadas para "autonomia universitária". Os pilares são: Avaliação Institucional e Exame Nacional de Cursos (Provão); autonomia Universitária e melhoria do Ensino, através do Programa de Gratificação e estímulo à Docência/GED). Percebemos que, atualmente, a reforma universitária, nos moldes propostos pelos organismos internacionais e pelo Governo Federal, ainda não foi implementada na sua totalidade.

O educador e o desenvolvimento da práxis pedagógica

Ao longo das leituras confirmamos que educador e educando são seres individuais e sociais, que fazem parte da trama contraditória crítica e alienativa que permeia o processo educativo. Eles são os sujeitos da história que se constroem ao lado dos demais seres humanos e, ao mesmo tempo são objetos da história que sofrem a sua influência. Em termos educativos o educador é um sujeito visto como o responsável, aquele que dá direção ao ensino e o que participa do processo de formação e transformação do educando. O educador ensina e aprende na formação de novos sujeitos ativos da história. Neste sentido educador e educando se relacionam realizando juntos, em consonância o processo educativo.
É possível realizar uma importante reflexão sobre o educador e seu papel enquanto construtor de si mesmo, envolvido na sociedade que o cerca, pois o educador pode ser criador e criatura ao mesmo tempo, pois ele sofre as influências do meio em que vive e se relaciona, é condicionador e condicionado por meio do exercício da docência. Desta forma, entende-se que o educador estará assumindo realmente seu papel, conforme afirma Franco, "quando estiver com o coletivo dos participantes da prática educativa, orientando, esclarecendo, conscientizando e produzindo elementos (teorias e ações) para transformação dos sujeitos, das práxis e das instituições" (FRANCO apud PIMENTA, 2002, p.17). Para tanto, quem enseja assumir a docência, precisa desenvolver competências e atitudes, tais como espírito crítico, preparo para desenvolver nos educandos aprendizagens autônomas, perseverança no estudo, responsabilidade pela sua aprendizagem, competências para a aquisição de novos conhecimentos, diversidade metodológica e capacidade de iniciativa.
O educador, na práxis pedagógica, necessita adquirir um nível de cultura que direciona ao ensino e à aprendizagem, pois se torna o mediador entre a cultura acumulada em processo de construção e o conhecimento pré-adquirido do educando. Enfatiza Santos (2004) que o professor é muito mais do que um facilitador ou assistente. O autor atribui ao docente grande responsabilidade, assegurando que a qualidade do processo educativo está essencialmente relacionada à qualidade de formação do profissional e à competência deste professor estará firmada em sua relação com o conhecimento de que professa ser detentor. Fica difícil, por exemplo, um professor que somente exerça o ensino, embora isto possa acontecer, sem que transmita seu conhecimento pré-adquirido. Da mesma forma, é quase que impossível acreditar que alguém realize pesquisas sem socializar os resultados de sua busca, mas mesmo assim ouvimos freqüentemente comentários ou críticas sobre o isolamento ou distanciamento de pesquisadores da realidade.
O professor, que contribui com o educando na aquisição de novos conhecimentos e o respeita como ser individual, exerce o papel de um dos mediadores sociais entre a sociedade e o educando. O educando, recebe a influência do educador, que por meio de determinadas representações simbólicas o enriquece de saberes acumulados da sociedade, levando-o a um universo que pode ser desconhecido para ele e, neste trajeto o educador deve possuir compreensão da realidade e do meio em que se dispõe a envolver o educando. Trata-se realmente de um comprometimento, de uma competência profissional para se dispor a transformar a realidade de ambos envolvidos.
Caso o educador não tenha uma compreensão da realidade, ele terá dificuldades em desempenhar seu papel na práxis pedagógica e findará caindo na tentação sistemática de vivenciar suas experiências docentes pautadas numa lógica de reprodução da mesmice. Pimenta (2002, p.188) nos alerta para a emergente necessidade de "ensinar de um modo diferente de como foram ensinados por seus mestres,... [desenvolver] a capacidade de mudar, arriscar e pesquisar, [e construir] nas escolas, organizações de aprendizagem".
Portanto, é adequado destacar que os novos desafios do ensino, apontam para a existência de fatores que envolvem não apenas a formação de pesquisadores, e sim a formação de educadores, numa dimensão que vai além da construção de conhecimentos, mas que inclui a dimensão da subjetividade, da criatividade e da inovação.

A criatividade e a prática docente

A criatividade é compreendida como um fenômeno complexo em que as características do indivíduo e do ambiente que ele freqüenta contribuem para a sua maior ou menor expressão e desenvolvimento. Este ambiente, onde o indivíduo se acha inserido, como a princípio a família e mais tarde a escola, além de muitos outros fatores sociais, exercem influência na expressão da criatividade. Ao nos referirmos a questões de aprendizagem sistematizada, nos deparamos diretamente com a escola e, nela o professor, que exerce o papel de mediador da aprendizagem sistematizada.

A escola é concebida como um espaço onde os alunos possam exercer seu papel na construção da democracia social, desenvolvendo a criatividade, sensibilidade e a imaginação, que visa preparar o aluno para o processo produtivo, habilitando um trabalhador ativo e efetivo no exercício da cidadania (LIBÂNEO, 2001, p.61).

O autor Robinson Santos (2004), nos apresenta alguns princípios que trazem influência na postura do aluno, como individuo que constrói o próprio saber. O autor inicia argumentando que o principal desses princípios é a exigência de produção de conhecimento pelo professor, enquanto alguém comprometido com a difusão do conhecimento, em todos os níveis do ensino. Continua afirmando que no âmbito acadêmico ou escolar, a atividade principal está orientada para a socialização ou difusão do conhecimento, entretanto, isto não esgota e nem retira da escola, ou dos profissionais que nela atuam, a responsabilidade sobre a produção do conhecimento.
Relativo ao assunto, a universidade não pode ser pensada como sistema passivo, como simples consumidora de algo que vem pré-estabelecido por outra instância ou pela comunidade científica. Também não é possível, ou pelo menos não deve ser aceito que se imponha uma hierarquia, na perspectiva do ensino superior, de produzir conhecimento e os demais patamares de ensino ser simples receptor e transmissor de um conhecimento pronto. Isso implica afirmar que quem trabalha com o conhecimento, deve respeitar cada segmento e dar condições de cada instancia do ensino, da educação infantil ao ensino superior, lutar por melhorias nos níveis de ensino, que cada profissional se torne um pesquisador e sonhe com mudanças. Santos (2004) nos enfatiza que o professor é muito mais do que um facilitador ou assistente.
Nesse contexto, o estudo científico da educação necessita de procedimentos que possibilitem ao pesquisador "adentrar na dinâmica e significado da práxis" (FRANCO, apud PIMENTA, 2002, p. 124), pois só assim poderá perceber as teorias que complementam as ações do coletivo. Castanho (2004) nos ressalta que atualmente as escolas precisam mudar, pois os tempos atuais exigem uma cultura ampla e criativa, que contribuam para que o educando seja estimulado a participar de forma efetiva em seu aprendizado.

O ambiente escolar

Entre as características mais marcantes do século XXI destaca-se a quantidade de informações e a velocidade com que ela chega às pessoas. Isso contribui de forma diferenciada para o desenvolvimento do individuo, porém sabe-se que não é a quantidade de informação que se recebe, mas o que ele faz com essas informações é que fará a diferença na vida de cada um. Nesse sentido, a educação não pode se resumir a um processo de transmissão de informações, pois as informações que o sujeito não individualiza se conservam na esfera reprodutiva e não são significativas para o seu desenvolvimento. Essa constatação destaca a importância da expressão criativa na aprendizagem, no sentido de favorecer uma atitude transformadora no processo de apropriação das informações.
Mesmo reconhecendo a importância da criatividade no processo educativo, que chega a ser um dos principais objetivos da educação, normalmente, não contemplam aspectos relacionados com a formação de pessoas criativas.
Devido ao fato de se utilizar pouca criatividade desde as series iniciais, o meio acadêmico revela universitários que não conseguem visualizar respostas criativas ou propostas com soluções inusitadas, optando, quase que sempre pelo comum, o já conhecido.
O que se percebe é que a falta de criatividade, na aprendizagem, ocorre em todos os níveis de ensino. Essa ausência deságua no ensino superior, e é ai que deve ser revista a questão, destacando o ensino superior como centro de formação de profissionais da educação, se o problema for atacado e melhorado, indiretamente refletirá no ensino aprendizagem desde as séries iniciais, pois a atuação dos profissionais se efetivará com estes educandos.
Segundo a autora Brooks (1997) a criatividade deve ser vista, também como algo subjetivo. E subjetivo engloba as emoções e os processos simbólicos que emergem no próprio curso da aprendizagem e reflete em todo contexto que está inserido o individuo.
O sujeito ao aprender não tem como renunciar ao seu caráter ativo e subjetivo e, por isso, não pode se limitar a estratégias reprodutivas e passivas frente aos desafios que, na maioria das vezes, a instituição educativa lhe impõe. Ao se respeitar o subjetivismo do individuo o profissional estará promovendo uma aprendizagem motivadora com estratégias que contextualize o cotidiano do aluno na sociedade, com o cotidiano escolar.
Para Sakamoto, (2000), a tendência da atualidade tem sido a de considerar o conceito de criatividade dentro de uma visão multidimensional, que envolve a interação de vários elementos: processos cognitivos, características de personalidade, estilos de pensar e aprender, assim como componentes ambientais, estendendo-se neste sentido a influência da família, da escola e da sociedade.
Segundo Alencar (2002) e Martinez (2002), o ambiente escolar pouco favorece no processo de desenvolvimento da criatividade, pois oportuniza meios para que o educador utilize espaço e materiais disponíveis como recursos que agucem a criatividade do educando. Pesquisadores como Alencar e outros têm afirmado a importância de que esta criatividade seja desenvolvida por meio de estímulos no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, segundo estes pesquisadores, nos deparamos com a dificuldade na utilização do espaço escolar como local para o desenvolvimento da criatividade, se considerarmos que o sistema atual de ensino favorece a repetição de informações por parte dos estudantes e quase não investe na formação de pessoas criativas sujeitos de sua própria aprendizagem.
Alencar (1993) nos salienta que a escola não demonstra estar habilitada a desenvolver o pensamento criativo dos alunos, pois esse tipo de habilidade envolveria a aceitação e valorização de características nos alunos que são, muitas vezes, consideradas indesejáveis pelos professores, tais como questionar as informações dadas, sugerir novas idéias, irem além dos fatos conhecidos. Os professores tendem a preferir estudantes mais obedientes, conformistas e sociáveis do que aqueles que são questionadores, independentes e intuitivos, ou seja, comportamentos que caracterizam o indivíduo criativo dificilmente são valorizados na sala de aula, chegando muitas vezes a serem ignorados ou indesejados.
Ao nos referirmos a formação dos professores, percebemos que esta tende a ser direcionada a lidar com o aluno "padrão", "obediente" e "passivo", gerando nos professores uma grande dificuldade ao se depararem com alunos criativos, que lhes exigem a quebra dos moldes tradicionais de ensinar em sala de aula. Segundo Alencar, dentre as barreiras encontradas pelos professores estaria a falta de habilidade na relação com o aluno, que os impede de expressar-se criativamente, não se sentirem totalmente preparados para o controle da disciplina, caso o aluno reja de forma diferenciada e inabilidade para preparar aulas diversificadas, de forma a torná-las mais prazerosas, mas sem comprometer o conteúdo. Sendo assim, nota-se que embora os fatores favoráveis ao desenvolvimento do potencial criativo na escola sejam reconhecidos por grande parte dos professores, a existência de barreiras e limitações encontradas no dia-a-dia da profissão termina por dificultar o oferecimento deste ambiente criativo.

Vencendo desafios na educação

Com a missão de mediar à aprendizagem o professor desempenha uma das tarefas mais importantes que existe, a tarefa de preparar indivíduos para o mundo. Mas com um mundo em constante mudança as pessoas também mudaram. Para se manterem atualizadas, o sistema educacional, principalmente, as escolas têm que mudar e se adaptar muito rapidamente. Os profissionais e as organizações que querem assegurar sua participação serão aqueles que envolvem suas instituições em um processo contínuo de mudança, de aprendizagem. Essas são as exigências de um mundo globalizado, em constante e rápida transformação.
Atualmente, a emergência do momento é as de que o professor crie um perfil muito diferente daquele que predominou até agora. Frente a isto, alguns assumem os desafios que os novos tempos trazem. Outros ficam parados no tempo e em sua carreira profissional.
A atuação do professor tornou-se muito mais relevante a partir das novas exigências sociais e tecnológicas que demandam do aluno uma formação plena e abrangente. A ciência milenar deixou de ser obra terminada e dogmática para se abrir ao dinamismo de novos conhecimentos.
Quem não é capaz de aprender não está apto para ensinar. O professor deve estar em contínua formação e mudanças, uma vez que o aprimoramento é indispensável, principalmente, ao construtor de uma nova geração e sociedade.
Percebe-se que as responsabilidades do professor do novo século são muitas e que é necessário que ele esteja em sintonia com o mundo de informações cada vez mais veloz. Só se consegue ser atualizado sendo mestre e aprendiz.
Mesmo que se professe a extinção do giz e quadro-negro, a figura do professor continua sendo imprescindível no processo de ensino, seja ele a distância, seja da forma convencional dentro de sala de aula. A grande diferença está no papel que ele exerce em sua função de ensinar.
Alencar (1993) nos alerta que com respeito à influência do campo da criatividade, há quatro aspectos que contribuem de forma significativa para a produção criativa: treinamento, recursos, reconhecimento e recompensa. Uma sociedade que efetivamente promove oportunidades de desenvolvimento de habilidades estará contribuindo para o desenvolvimento de talentos criativos.
O autor assegura ainda que recursos são também indispensáveis para que a criatividade floresça. É importante ainda que o potencial e interesse do indivíduo sejam reconhecidos. Neste sentido, o papel do professor é o de encorajar o sujeito a continuar trabalhando em uma área do conhecimento ou domínio. O jovem aluno deve ter ainda motivação de empregar suas habilidades em uma carreira produtiva. Estudos conduzidos pelo autor indicaram que tanto no contexto universitário como no ensino médio, de acordo com a percepção dos alunos, a criatividade é pouco incentivada pelos professores. Os programas das disciplinas tampouco favorecem o desenvolvimento e expressão da criatividade do aluno.
Portanto, a criação de um ambiente harmonioso, estimulador e significativo pode contribuir para o desenvolvimento do potencial criativo. Alencar e Fleith (1993) ressaltam ainda como características de um clima criativo em sala de aula: (a) proteger o trabalho criativo do aluno da crítica destrutiva, (b) desenvolver nos alunos a habilidade de pensar em termos de possibilidade, de explorar conseqüências, de sugerir modificações e aperfeiçoamentos para as próprias idéias, (c) encorajar os alunos a refletir sobre o que eles gostariam de conhecer melhor, (d) não se deixar vencer pelas limitações do contexto em que se encontra, mas fazer uso dos próprios recursos criativos para contornar obstáculos, (e) envolver o aluno na solução de problemas do mundo real, (f) possibilitar ao aluno participar na escolha dos problemas a serem investigados, e (g) encorajar o aluno a elaborar produtos originais. Os estudos em criatividade sugerem que, para se obter uma visão abrangente do desenvolvimento da criatividade no contexto educacional, é essencial considerar o clima de sala de aula.

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico. Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

Considerações finais

Após as leituras realizadas, podemos afirmar que ao serem utilizados métodos diferenciados, com ênfase à criatividade, em sala de aula, os educandos terão mais desejo em aprender, visto que atividades diversificadas aguçam a curiosidade e a participação o que, indiretamente contribui para o aprendizado e à desenvoltura, estabelecendo suporte para que o acadêmico tenha maior facilidade quando se deparar com a realidade pedagógica.
Por meio desta pesquisa compreendemos melhor que ao utilizar-se de métodos com ênfase à criatividade tanto professor quanto aluno terá uma aprendizagem mais significativa. Percebemos que educador e educando são seres individuais e sociais, sujeitos da história que constroem e, também, são objetos da história e sofrem a sua influência. Sendo assim, o educador é sempre visto como o responsável pelo processo ensino-aprendizagem, é aquele que dá direção ao ensino e o que participa do processo de formação e transformação do educando, então, cabe a ele estar motivado a mudar métodos e trabalhar de forma diferenciada com a finalidade de mudar o quadro atual da educação no Brasil. Ao ser estimulado a usar aulas criativas, conduzindo o aluno a desenvolver seu potencial criativo, o resultado será mais compensador, destarte que quando se constrói de forma participativa o aprendizado será mais efetivo e prazeroso.
Na práxis pedagógica o educador adquire um patamar de cultura que deve ser usada para direcionar o ensino e a aprendizagem, dentro deste âmbito ele toma o papel de mediador entre a cultura acumulada em processo de construção daqueles que passam por suas mãos. Neste caminhar, o professor deve possuir algumas qualidades de compreensão da realidade e do meio em que o envolve. Trata-se realmente de um comprometimento profissional para melhorar a realidade na qual vive. Caso não haja uma compreensão da realidade, o educador não consegue desempenhar seu papel na práxis pedagógica e acabará caindo na tentação sistemática de vivenciar suas experiências docentes numa lógica de reprodução o que não oportuniza condições para que se desenvolva um aprendizado significativo.
Concordo com Alda Marin (2000) quando afirma que as novas práticas de participação se chocam com o conformismo, pois tanto professores quanto alunos preferem ser passivos que sair em buscas de novas ideias, é obvio que a reprodução automática é mais fácil do que pensar e apresentar formas diferenciadas de se chegar a resultados. Marin nos leva a repensar a questão da reprodução e nos desperta à lutar por um maior comprometimento com o aprender.
Por meio das pesquisas nos inteiramos que as maiores reclamações de professores são as de que os alunos não prestam atenção e ao dos alunos são de que a escola é enfadonha e só ensina coisas difíceis de aprender. Portanto, notamos que o indivíduo aprende quando tem objetivos de vida, e o conteúdo do ensino é significativo para ele no interior desses objetivos. Aprendemos quando nos envolvemos com emoção e razão no processo de produção do conhecimento. Portanto ao serem incluídas atividades de autoconhecimento, como uma forma de envolver alunos e professores numa ação pedagógica diferenciada, se prepara o aluno a perceber que pode usar daquilo que já possui e construir seu aprendizado.

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Autor: Geovane Oliari


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