Redução de Custos:Uma Realidade na Internação Domicilçiar



REDUÇÃO DE CUSTOS: UMA REALIDADE NA INTERNAÇÃO DOMICILIAR
Cláudia Luisa Teixeira Guilloux1
Vivian Fernanda dos Santos2

RESUMO
A Internação Domiciliar é um novo conceito de atenção em saúde, em plena expansão, atendendo as necessidades dos usuários em diversas modalidades. Nos EUA e na Suíça, este método já é uma prática aceitável como alternativa à saúde. Também conhecido como home care, este tipo de internação implica em desospitalização, redução de riscos de infecção e o favorecimento do convívio do usuário com o núcleo familiar. Além disso, a Internação Domiciliar do ponto de vista da Instituição, representa redução de custos quando comparado com os tratamentos convencionais aplicados. Através do estudo e análise de um modelo instituído em Novo Hamburgo/RS foi possível concretizar a redução de custos onde o home care apresenta uma economia significativa desde a implantação do serviço.
Palavras-chave: Internação Domiciliar. Saúde. Redução de custos.

ABSTRACT
The home care is a new concept in health care, in full expansion given the needs of users in different ways. In USA and Switzerland, this method is already a practice acceptable as an alternative to health. This kind of hospital involves dishospitalisation, reducing risks of infection and the favoring of coexistence with the
user's family. Moreover the home care under the point of view of the institution, represent reducing costs when compared with conventional treatments applied. Through the study and analysis of a model established in Novo Hamburgo/RS was possible to achieve the reduction of costs, where the home care presents a significant saving since the deployment of the service.
Keywords: Home care. Health. Reduce costs.

INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos observa-se um crescente número de empresas na área da saúde que estão voltadas a prestar o Serviço de Assistência Domiciliar ou Internação Domiciliar para determinados tipos de pacientes.
A busca por conhecer esta nova realidade, partiu da experiência adquirida em uma empresa privada que acredita e adota esta nova alternativa de cuidar. O artigo em questão tem como objetivo oferecer subsídios para a discussão sobre a redução dos custos para a empresa e com manutenção da qualidade do serviço oferecido.

O Serviço de Internação Domiciliar teve seu inicio no século XIX, através da caridade prestada por religiosos. Com o passar nos anos, devido ao grande número de assistências houve a necessidade que esta atividade adquirisse um caráter técnico e regulamentado.

O modelo home care surgiu em Genebra (Suíça) em 1920, por iniciativa da Cruz Vermelha. Na década de 70 surgiu nos Estados Unidos, a fim de atender pacientes crônicos. E se intensificou no inicio dos anos 80, devido à epidemia da AIDS e pela falta de leitos em hospitais. A partir daí, houve um grande crescimento no setor. Outros países como Inglaterra, França e África do Sul também possuem programas de Internação Domiciliar em várias esferas de situação clínica e doenças crônicas.

No Brasil, o conceito surgiu em 1968, ficando restrita a vigilância epidemiológica e materno-infantil. Em 19 de setembro de 1990 é aprovada a Lei nº 8.080 que regulamenta a Internação Domiciliar no SUS (Sistema Único de Saúde). Em abril de 2002 foi sancionada pelo Ministério da Saúde, a Lei nº 10.424, que estabelece o atendimento e Internação Domiciliar. Incluindo principalmente, procedimentos médicos e de enfermagem, psicológicos e fisioterapeuticos, assim como de assistência social. Somente em 26 de janeiro de 2006 ocorreu a regulamentação técnica de funcionamento de serviços que prestam Internação Domiciliar. Em 19 de outubro de 2006 através da portaria nº 2.529 foi instituída a Internação Domiciliar no âmbito do SUS.

No caso do SUS, a responsabilidade de implantar o serviço é do município conforme sua disponibilidade e necessidade. Os recursos materiais e incentivos financeiros são fornecidos pelo Estado e União, ficando a cargo do município os recursos humanos e a capacitação dos mesmos, neste caso há uma parceria com o Estado.
No serviço privado, existem cerca de 250 empresas cadastradas investindo nos programas que tem como proposta a Internação Domiciliar. Isto se deve a este processo estar em franca ascensão nas práticas de saúde, com resultados positivos sob todos os aspectos, entre eles, a redução de custos.

INTERNAÇÃO DOMICILIAR: JUSTIFICATIVAS e PREMISSAS
Para Duarte e Diogo (2000), a Internação Domiciliar representa uma estratégia da atenção à saúde. É um método aplicado ao cliente com o objetivo de enfatizar sua autonomia e realçar suas habilidades em seu próprio domicilio.

Lacerda (2000) entende que a Internação domiciliar é a prestação de cuidados, sistematizados de forma integral e contínua no domicílio com supervisão e ação da equipe de saúde específica, personalizada, centrada na realidade do cliente, envolvendo a família e podendo ou não, utilizar materiais e equipamentos.

Segundo Ribeiro (2004), a Internação Domiciliar deve ser contínua, ofertando tecnologia e recursos humanos, assim como equipamentos, materiais e medicamentos, para pacientes em estado complexo que necessitem de assistência semelhante à que é oferecida em ambiente hospitalar.

O Ministério da Saúde (2006) define a Internação Domiciliar, no âmbito do SUS, o conjunto de atividades prestadas no domicilio a pessoas clinicamente estáveis, que exijam intensidade de cuidados acima das modalidades ambulatoriais, mas que possam ser mantidas em casa com equipe exclusiva para este fim.

O serviço de Internação Domiciliar está voltado para usuários das mais variadas patologias, mas destina-se principalmente, ao paciente de patologias crônicas, independentes de sua complexidade. Quando no âmbito do SUS que segue o que preconiza o Ministério da Saúde.

Nas ultimas décadas a busca por redução de custos esteve presente em todas as áreas e setores. E isso, não seria diferente na área da Saúde. A redução de custos com a Internação Hospitalar buscando manter a qualidade faz com que empresas privadas encontrem alternativas viáveis que atendam seus públicos. Em tempos onde há uma grande população doente devido a vários fatores, acontece um "despertar" para a necessidade de reduzir os custos e oferecer mais. A Internação Domiciliar tem se mostrado uma opção satisfatória preenchendo estas necessidades.

Este modelo de assistência requer profissional centrado na doença, para construir um pensar e um fazer, criando estratégias possíveis de realizar. Para tanto, se faz necessário um profissional qualificado e uma equipe multiprofissioal (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas) para que este tipo de assistência seja eficiente.

Foram coletados dados em uma empresa privada de plano de saúde, localizada na região do Vale dos Sinos, no município de Novo Hamburgo/RS. A empresa conta com uma equipe multidisciplinar, que são: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionista, secretária, auxiliar administrativo, além de um Serviço de Psicologia e Fisioterapia.

A empresa em estudo tem como objetivos: ser um diferencial proporcionando melhor qualidade de vida aos pacientes; reduzir custos, mantendo a qualidade do atendimento; reduzir os riscos de infecção hospitalar; evitar a perda do vínculo familiar; evitar internações e reinternações e; promover reabilitação, favorecendo a autonomia.

Através de uma entrevista realizada com os gestores do programa na Instituição em estudo, a admissão nos serviços de home care segue alguns critérios para admissão. Dentre eles estão, ser: usuário do plano de saúde; portador de patologias crônicas, degenerativas, seqüelares terminais e que necessite de cuidados especiais; portador de patologias agudas com estabilidade clínica; paciente com reinternações freqüentes ou prolongadas; paciente pós-operatório, que necessite de cuidados especiais.

A existência de um cuidador, a adequação da residência para correto atendimento, o preenchimento de relatório de encaminhamento ao serviço realizado por médico, a prescrição médica, bem como, o termo de aceitação e responsabilidade pelo familiar responsável também devem existir e estar de acordo.

Os casos para alta ou desligamento do paciente que utilize os serviços home care segundo regras estipuladas pela Instituição em estudo são para pacientes que, deixar de ser usuário do plano; não necessitem de cuidados específicos; onde os recursos de serviços passam a ser inadequado, ou seja, as características físicas do ambiente domiciliar tornam-se inapropriadas; há necessidade de Internação hospitalar; há falta de cuidador; há recusa por parte do paciente ou familiar de continuar tratamento e óbito.

INTERNAÇÃO DOMICILIAR: REDUÇÃO DE CUSTOS
São varias as vantagens da Internação Domiciliar, entre elas está o conceito de humanização ao qual confere o respeito pelos hábitos de vida do paciente, acompanhamento da família de forma integral, dispensando horários pré-estabelecidos para visitas, maior interação entre equipe, paciente e familiar, criando um elo de afetividade e confiança, adesão da família no tratamento por estar envolvida e ciente das necessidades do usuário, melhor resposta terapêutica.

O programa de Internação Domiciliar constrói uma nova lógica de atenção em saúde, focando a promoção e prevenção à saúde e na humanização da atenção. Além disso, representa uma reversão na atenção centrada em hospitais.

Em relação às desvantagens pontuam a falta de disponibilidade de equipe atuante nas 24 horas, a necessidade de alta qualificação do corpo funcional, a necessidade de um cuidador para prestar atendimento ao paciente, o controle em relação à alimentação e o fornecimento de equipamentos e medicações que ainda pode ser considerado um pouco limitado. Existe ainda a resistência de alguns médicos quanto à eficiência do home care.

A grande vantagem para o investidor é que com a utilização do domicilio como espaço de atenção, pode-se racionalizar a utilização dos leitos hospitalares, além de construir uma nova lógica de atenção centrada na vigilância a saúde e humanização da atenção.
No Brasil, as empresas privadas estão amplamente engajadas na prestação desse serviço. Os custos altos com hospitalizações levam este setor a acreditar que se pode gastar menos com a desospitalização, descentralizando o serviço e oferecer qualidade.

O serviço privado parte do principio, de oferecer mais por menos, ou seja, o custo é menor para a empresa, com maior beneficio para o cliente, satisfazendo todas as suas necessidades e dos seus familiares que neste tipo de atenção, participam ativamente de todos os processos envolvidos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Através de uma entrevista com os gestores diretamente ligados com o serviço de Internação Domiciliar, onde é referida, a importância do serviço e a economia gerada para a empresa devida uma real e importante redução de custos, assim como a satisfação do cliente com o serviço oferecido.

Conforme relato dos gestores, são três os motivos principais que levaram a Instituição a iniciar o serviço de Internação Domiciliar: a redução de custos obtida, ou seja, economia para empresa; os aspectos sociais, ou seja, limitação de vagas nas instituições, reinternações e; os aspectos psicológicos, maior acolhimento e tratamento individualizado.

Além da redução de custos ser bastante significativa, os gestores vêem o projeto de forma positiva uma vez que permite o trabalho de uma equipe multidisciplinar atuando de forma interativa, com atendimento humanizado, possibilitando uma recuperação mais rápida, deixando que os hospitais para sua função maior, o atendimento de emergências.

Através de pesquisas de satisfação realizadas entre pacientes atendidos pela Internação Domiciliar, tem-se que 98% dos entrevistados estão satisfeitos com o serviço desenvolvido pela Instituição em estudo.

A fim de preservar os valores absolutos praticados pela Instituição, os custos serão apresentados apenas na ordem de grandeza. Chamamos de custo interno (CI) um valor representativo dos custos efetivos.

No ano de 2007, a Instituição em estudo realizou atendimento em 706 pacientes com profilaxia de internação, ou seja, com pacientes crônicos. No mesmo período, foram realizados 129 atendimentos com pacientes com alta precoce, ou seja, pacientes retirados do hospital para a Internação Domiciliar.

A Figura 1 apresenta um comparativo entre os custos praticados em 2007 com a Internação Domiciliar e a Internação Hospitalar para pacientes com profilaxia de internação. Observa-se que o custo com a internação convencional, ou seja, Hospitalar é em média 2,6 vezes maior que o custo praticado com a Internação Domiciliar.

Figura 1: Custo comparativo entre Internação Domiciliar e Internação Hospitalar para pacientes com profilaxia de internação (2007)


A Figura 2 apresenta o mesmo comparativo entre os custos praticados em 2007, porém para pacientes com alta precoce. Em média o custo com a Internação Hospitalar é 2,1 vezes maior que o custo praticado com a Internação Domiciliar.





Figura 2: Custo comparativo entre Internação Domiciliar e Internação Hospitalar para pacientes com alta precoce (2007)

Além da redução de custos observada na Figura 1, houve ainda um aumento de 60% na receita obtida com serviços de fisioterapia e 40% em equipamentos para pacientes com profilaxia de internação. O mesmo procede com pacientes com alta precoce, incremento na receita de 88,40% com serviços de fisioterapia e 11,60% em equipamentos. Esta receita se deve devido ao fato de serem ofertados pelo serviço nos primeiros 30 dias e após caso seja necessário à continuidade dos mesmos fica á encargo do usuário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Internação Domiciliar aparece como uma estratégia de redução de custos e economia considerável para a empresa, com a manutenção da qualidade na atenção a saúde. A redução de internações e reinternações são fatores importantes neste processo, devido os altos custos com este tipo de serviço.

Com base nas informações coletadas, pode-se dizer que os gestores entendem a importância do serviço de Internação Domiciliar e a economia gerada para a Instituição, além do tratamento diferenciado que o paciente recebe. Houve uma redução de 60,3% nos custos de pacientes com profilaxia de internação quando tratados no regime de Internação Domiciliar quando comparado com a Internação Hospitalar. Da mesma forma, uma redução de 48,8% foi alcançada em pacientes com alta precoce.

Pode-se dizer que a Internação Domiciliar é uma tendência atual de mercado, em amplo crescimento e desenvolvimento. Ainda que o custo com saúde tende a aumentar, o avanço beneficia a todos. Porém exige suporte financeiro para fazer frente a estes avanços.

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Autor: Claudia Oliveira Teixeira


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