Convite à Sociologia



MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006.


Carlos Benedito Martins, autor da obra "O que é Sociologia?", é sociólogo graduado e mestre em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo, além de doutor em sociologia pela Universidade de Paris. Hodiernamente, atua na prática docente e em pesquisas no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), mais especificamente nas áreas de Teoria Sociológica e Sociologia da Educação. É, ainda, pesquisador do CNPq.
Em síntese, a obra problematiza a questão sociológica buscando os fatores motivadores do surgimento e da afirmação da sociologia enquanto ciência. Martins faz uma abordagem histórica de modo a contextualizar e tornar visíveis elementos que não são clarividentes, mas que influenciaram fortemente e estão intimamente interligados ao aparecimento da nova ciência, da ciência das pessoas no âmbito coletivo propriamente dita.
O livro é dividido em: "Introdução; Capítulo primeiro: O surgimento; Capítulo segundo: A formação; Capítulo terceiro: O desenvolvimento; Indicações para leitura".
No primeiro item, "Introdução", o autor apresenta a obra e esclarece as suas pretensões com esta. Faz uma breve explanação acerca do que configura a sociologia na sua essência, de quais os seus objetivos enquanto ciência, de sua relação com a sociedade nascente capitalista, de sua experiência inicial nas universidades e posteriormente a proibição do ensino da mesma. Além do mais, o autor trata do equívoco, que talvez seja até mesmo proposital, de igualar ou tomar a sociologia como causadora do marxismo e Teoria da Revolução, pois para o capitalismo não é nada interessante que o proletariado organize-se e mobilize-se em favor de seus direitos e a sociologia estava despertando a capacidade de criticidade da massa. A classe dominante, burguesia, desejava aniquilar a sociologia e tentava convencer os demais que isso era o melhor. Segundo Martins, "este livro parte do princípio de que a sociologia é o resultado de uma tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas, criadas pela então nascente sociedade capitalista". O objetivo desta nova ciência é entender as mudanças que a sociedade vem sofrendo nas diversas fases do sistema capitalista.
No segundo item, denominado "Capítulo primeiro: O surgimento", o autor se dedica a explicar a origem da sociologia, considerando o contexto histórico e os diversos fatores que possibilitaram a sua formação. A sociologia surge na modernidade, no entanto não é um movimento puramente moderno. Para entendê-la, faz-se necessário analisar uma série de fatores. Ela surge no fim da Idade Média e início da Idade Moderna, num período de transição do Sistema Feudal para o Sistema Capitalista e a sua criação não é atrelada a somente um filósofo ou cientista, sendo, na verdade, a representação de um conjunto de pensamentos de vários intelectuais que se prestaram a tentar compreender esta nova sociedade que apresenta características inéditas na historia da humanidade, tais quais a conscientização por parte das classes oprimidas de sua fundamental importância no processo de produção econômica, o reconhecimento de alguns dos direitos básicos do proletariado por meio de greves, debates e ate mesmo revoluções, entre outras.
A palavra sociologia, afirma o autor, surge apenas em 1830. Entretanto, foram os acontecimentos provocados pela dupla revolução (industrial e francesa) que a impulsionaram e a fizeram necessária. A Revolução Industrial significou muito mais que o surgimento de máquinas e a surpreendente capacidade de produção em grande escala destas. Ela representa, também, a substituição do homem pela máquina, a evasão rural, condições de trabalho precárias, além do trabalho infantil, entre inúmeros outros malefícios. A Revolução Francesa, por sua vez, instala a burguesia no poder. Ao fim da revolução, até mesmo os burgueses se surpreendem com a dimensão da desordem social que restou.
Para Durkheim, portanto, a sociologia surge, sobretudo, por interesses práticos e não "por encanto". Ela seria a ciência responsável por "reorganizar" a sociedade e surgira como resposta à "crise social" vigente.
É na corrente socialista que os trabalhadores, operários, intelectuais e cidadãos afins encontraram subsídios teóricos para avançar no combate à sociedade de classes. É dessa forma que a sociologia se relaciona ao socialismo e ela sempre foi mais que uma simples reflexão acerca da sociedade moderna. Suas pretensões sempre visaram uma finalidade prática, no sentido de intervir nos rumos da sociedade para que esta siga o melhor caminho.
Já no item "Capítulo segundo: A formação", Martins contrapõe a ideia de Henri Poicaré ao referir-se à sociologia como ciência de muitos métodos e poucos resultados. Para evidenciar sua tese contrária a Poicaré, Martins afirma: "As inúmeras pesquisas realizadas pelos sociólogos, a presença da sociologia nas universidades, nas empresas, nos organismos estatais, atestam a sua realidade". De fato, as ciências sociais, e as ciências humanas de um modo geral, ainda não têm seu verdadeiro valor reconhecido pela sociedade como um todo. Isso se deve ao pragmatismo cada vez mais acentuado desde a modernidade ate a contemporaneidade, onde o que importa é apenas o valor prático em detrimento dos valores de dimensão reflexiva.
Martins aborda "o caráter antagônico da sociedade capitalista", caracterizado pela grande concentração de riquezas por parte de uma minoria, enquanto que a grande massa sobrevive em condições demasiadamente humanas. Essas discrepâncias inviabilizam o consenso no que se refere ao entendimento do objeto e dos métodos de investigação desta disciplina. Isso ocasionou o surgimento de diferentes correntes sociológicas, as quais o autor cita e faz uma breve explanação ainda nesse referido item de algumas destas.
Partindo agora para o item "Capítulo terceiro: O desenvolvimento", o autor aborda a questão da sociologia como ciência que tem foco no distanciamento da burguesia de seu projeto inicial de igualdade e fraternidade pregado na Revolução Francesa e que cada vez mais atuava de forma conservadora e menos liberal, utilizando frequentemente recursos repressivos e ideológicos para garantir o poder de dominação. As ciências sociais passaram, então, a serem utilizadas na construção do conhecimento condizente as necessidades dos dominantes. A sociologia também, em grande parte, passou a ter um caráter de ferramenta de manutenção das relações de dominação. Logicamente, determinados seguimentos críticos da sociologia, sobretudo os influenciados pelo pensamento socialista, permaneceram orientando os objetos e as pesquisas de vários sociólogos. Todavia, essa sociologia de intuito crítico, em boa parte, foi ignorada no meio acadêmico e deixada às margens pelos institutos de pesquisa. De forma mais abrangente, as ciências, ou os ramos de cada ciência, que recebiam apoio e incentivo institucional nessa época eram aqueles capazes de reproduzir interesses dos dominantes.
O ultimo item da obra "O que é sociologia?", de Martins, é o item "Indicações para leitura", que demonstra a preocupação do autor com os leitores interessados em dar continuidade aos estudos de sociologia, indicando-lhes alguns autores e livros que abordam tal temática.
A obra de Carlos Benedito Martins configura-se num patamar de iniciação/introdução à sociologia. Com uma linguagem simples e objetiva, sem excessivos termos técnicos, sua leitura flui naturalmente e não há grandes problemas de compreensão. É uma espécie de "convite à sociologia", pois as informações são repassadas tão suavemente que acabam despertando a curiosidade de saber mais do assunto. Uma possível falha, apenas, está no aprofundamento e no grande espaço que o autor dedica a alguns sociólogos e filósofos, detendo-se demais em seus pensamentos, em suas ideologias, quando bastava que fossem citados.

Autor: Diôgo Costa


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