História de família - 12 história



Adorava a tia Rosa, falecida em 2007 logo após o meu pai, era uma baixinha simpatissíssima, mas as vezes meio sem juízo quando nova. Ela era irmã da minha mãe e, quando solteira, namorou e ficou noiva do irmão do meu pai, tio Arlindo, os dois sem juízo. Já eram noivos à algum tempo e, juntamente com outras pessoas da família, estavam numa casa de oração numa tardezinha de domingo. Diz a minha mãe que estavam de namorinho nas últimas cadeiras, quando o orador solicitou que quietassem ou se retirassem pois estavam desrespeitando e atrapalhando as palestras. Pois, descidiram por se retirarem. Mas se retiraram mesmo. Já ouviram falar que dois sem juízo valem menos que um?!  Saíram da casa de oração e o resto da família ficou dentro e quando terminou já não os encontraram mais. Tinham fugido. Ora, noivos quase pra se casar e aprontaram uma coisa dessas, que naquele tempo era totalmente reprovável. Meu tio a levou para um casebre velho e lá se instalaram sem nada mais do que a roupa do corpo.
Minha avó ficou muito chateada e revoltada, não aceitava e não entrava na sua cabeça o porquê de sua filha ter agido assim. Chegou em casa juntou todas as roupas, móveis e o enxoval que já estava até pronto. Pegou tudo e pôs numa carroça pra dar pra quem quisesse levar. Minha mãe que já era casada, não permitiu que ela fizesse isso, pois sabia que a irmã passava dificuldades. Juntou tudo e levou até o casebre onde minha tia se encontrava, isso já passado dias, e a encontrou dormindo sobre uma cama mal feita coberta de palha com a mesma roupa que saíra da casa de oração, já meio puída, sem lençol ou coberta ou panelas para preparar alimentos. Teve compaixão pela minha tia que não sabia onde estava se metendo, às vezes a gente também dá cabeçadas assim. Entregou a ela todos os seus pertences e um pouco de alimentos para que passasse alguns dias. E assim foi por muito tempo, sem perdão da minha avó e com ajuda da minha mãe e meu pai, que dividiam os mantimentos com ela e meu tio, que conseguiram continuar a viver, agora com filhos. Depois de muito tempo minha avó a perdoou e voltaram a ser bem vindos à família, mas até chegar a isso e se estabelecerem passaram muitas necessidades. Eles também se mudaram para Campo Grande e depois de muitos anos se separaram, ele faleceu primeiro e ela continuou a vida cuidando dos filhos e netos, e morou muito tempo numa vila de casas que era sua, com uma das netas que amava muito. Mas ela também já se foi e acredito que faz parte da nossa família que nos espera do outro lado para nos dar as boas vindas qualquer dia desses.


Autor: Márcia Ferreira Marques


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