Regresso



"Quanto tempo faz desde a ultima vez que eu a vi?" é o que se pergunta nossa amiga enquanto caminha a passos apressados para reencontrar sua amada. Não consegue se lembrar. E como ela devia estar? Estaria bem? Teria comido alguma coisa? E as roupas estariam limpas? Bobagem. Nada disso era importante e as verdadeiras perguntas eram teria dormido sozinha essa noite? Será que pensou em mim? Sente saudades? Mas essas perguntas ela não tinha coragem de fazer nem a si mesma com medo das possíveis respostas. Passou em frente a uma floricultura. Deveria levar flores? Não. A outra até gostava de flores, não demonstrava tanto quanto ela, mas gostava, mas se levasse flores agora ia parecer fraca, que estava implorando para voltar para casa. E a verdade é que ela queria implorar, mas o orgulho a impediria. Estava com um vestido branco com estampa de flores cor de rosa. O vestido descia justo até os quadris e então se soltava o que produzia um movimento leve e ritmado ao seu caminhar. Estava com um par de óculos escuros, grande e quadrado que escondia olheiras profundas, provocada por uma noite de lágrimas, mal disfarçadas com maquiagem. E sapatos peep toe com uma fivela prateada próxima aos dedos com unhas coloridas. Seus cabelos estavam presos formando um rabo de cavalo simples. Os lábios não estavam coloridos, ela se esquecera do batom num movimento involuntário, na adolescência costumava acreditar que se fosse a um primeiro encontro de batom ela não beijaria o rapaz, o caso agora apesar das diferenças era o mesmo, era um primeiro encontro com a mulher que amava desde que tinham se separado. E quanto tempo fazia mesmo? Um ano, talvez mais, uma eternidade e meia talvez fosse suficiente para explicar toda a dor que sentia por estar longe de sua amada.
A outra estava tranqüila, apesar de se lembrar de sua amada a cada instante tentou afastar esses pensamentos, ela voltaria, sentiu certeza disso no momento em que a outra saiu pela porta da frente. Mas e se ela não voltasse, o coração gritava, mas ela o sufocava. Tomou um banho demorado e pensou sem querer na vida que levaria se tivesse que ficar sem ela, nos beijos vazios, no sexo casual, nas pessoas loucas e ciumentas que falariam mal da sua amada já que esta agora era sua ex. Sentiu um gosto amargo na boca. Pensou novamente em outro, outra, tocando o corpo da sua amada. Mas isso não era o pior e ela sabia, o que ela não queria mesmo era que outro, outra, tocasse a alma da sua amada. Saiu do banho e se vestiu de maneira pretensamente prática: calça jeans, camiseta branca com as mangas em azul escuro e tênis preto. Mas a realidade dos atos involuntários era que essa era a roupa favorita da parceira dela. Arrumou os cabelos e se perfumou sem demasia. Procurou afastar os sentimentos de perda. Ela voltaria para casa hoje. Não entendia como era possível tanto sofrimento em menos de vinte e quatro horas.
Quando a viu pensou em beijá-la com violência e levá-la cativa de volta ao lar.
Quando a viu pensou em se atirar em seus braços e chorar até o tempo voltar.
Sentaram-se a mesa.
Pediram qualquer comida só para se livrar do garçom inconveniente.
Uma delas pensou eu devia ter trazido flores, ela adora flores, deve estar pensando que eu não a amo porque esqueci as malditas flores.
E a outra pensou eu devia ter marcado num lugar mais intimo.
Finalmente, depois de intermináveis segundos em silencio uma delas falou:
_Então é isso?
_Isso o que?
_Esse é o fim do nosso amor.
_Eu te amo.
_Eu também te amo.
_Então não é o fim do amor.
_Tá mais é o fim da nossa relação. Nós não podemos mais ficar juntas.
...
_Eu acho que se nós nos amamos devemos continuar juntas. Devemos tentar de novo.
_Vai acabar com a nossa amizade.
_Eu sei... E é por isso que não podemos mais ficar juntas. Isso é tão injusto.
Permaneceram assim caladas até o fim do jantar. Uma delas se levanta.
_Vem
_Pra onde?
_Pra casa.
_Mas...
_Mas nada, enquanto o seu coração me pertencer, você pertence e mim, a minha vida. Você não entende. Se você não me amasse mais eu permitiria que você fosse embora sem problemas, mas esse não é o caso. E se eu te amo e você me ama nós vamos ficar juntas até o fim. Eu prefiro que nosso amor se torne ódio do que ter que te esquecer sabendo que você ainda me ama e que nós talvez ainda tenhamos uma chance. Nós vamos ficar juntas até o fim. Nem que um dia eu te odeie tanto que deseje sua morte. Nós vamos viver cada segundo que resta do nosso amor como se fosse o ultimo, porque talvez seja. Eu sei que o amor está morrendo e você também sabe, então nós só vamos aproveitar e viver, e quando você ficar brava comigo e pensar em começar uma briga contra mim, você vai pensar: " que triste, é só mais um sinal de que o fim do nosso amor se aproxima", e então nós não vamos brigar, você vai sentir uma leve tristeza pelo fim iminente do amor, vai agradecer por ele estar vivo hoje, e vai viver esse dia com uma intensidade maior ainda, pois o amanhã talvez não exista.
E assim voltaram para casa. As duas amantes juntas. Às vezes duas almas gêmeas brigam. Às vezes o amor adoece.

Autor: Viviane De Sousa Furtado


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