Minha Profissão? Ah...



Um dos publicitários mais premiados no mundo, o francês Jacques Séguéla, vice-presidente do Grupo Havas Advertising/Euro RSCG, escreveu um livro famoso entre os publicitários “Não conte para minha mãe que trabalho em publicidade... Ela pensa que sou pianista num bordel.”

Sem ser muito criativo e pensando em minha carreira profissional atual, adaptei a frase para “Não conte para minha mãe que trabalho como consultor...ela pensa que sou pianista num bordel.”

Mas por que esta questão? O mesmo preconceito que levou Séguéla a chamar atenção sobre os publicitários em décadas passadas, vejo hoje acontecer com consultores.

Venho conversando com muitos colegas e percebo que às vezes, alguns preferem utilizar palavras como “assessores, conselheiros, mentores, coachs, counsellors”, qualquer uma, para não falar a palavra “consultor”.

Ou seja, nove letras, para não serem pronunciadas em um encontro social ou reunião com profissionais de profissões variadas.

Quais as razões para isso?

Através de pesquisa no site da ANPAD cheguei a um artigo científico recente, que transcrevo o resumo e a referência bibliográfica para os interessados, além de estudantes que possam pensar em desenvolver estudos futuros.

A RAC-Eletrônica, revista científica da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD, (RAC-Eletrônica, Curitiba, v. 2, n. 2, art. 1, p. 171-188, Maio/Ago. 2008), publicou um artigo denominado “Dilemas e Ambigüidades da ‘Indústria do Conselho’: um Estudo Múltiplo de Casos sobre Empresas de Consultoria no Brasil”, escrito por Ana Paula Paes de Paula, Doutora em Ciências Sociais pela IFCH-UNICAMP, Professora Adjunta na FACE/CEPEAD/UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil e Thomaz Wood Jr, Doutor em Administração de Empresas pela FGV-EAESP, Professor na EAESP-FGV, São Paulo/SP, Brasil.

No resumo, os autores comentam “a atividade de consultoria em gestão surgiu no século XIX, acompanhou a evolução da prática e da ideologia do management, e sofreu forte impacto do processo de globalização.

Neste artigo, apresentamos um estudo múltiplo de casos, envolvendo quatro empresas de consultoria que atuam no Brasil. Procuramos examinar o posicionamento dessas empresas em relação à elaboração ou adaptação de expertise gerencial e sua posição diante de críticas relacionadas à sua atuação como agentes de mudança.

As entrevistas realizadas levam a crer que há dificuldades em tratar de forma aberta e direta com as críticas. A partir da pesquisa realizada, descrevemos um modelo ‘híbrido’ de atuação para as consultorias de gestão.

Tal modelo compreende dois componentes: primeiro, a padronização, que é predominantemente exogênica e utiliza ‘pacotes gerenciais’, em geral importados, para responder às demandas de seus clientes; e segundo, a customização, que é predominantemente endogênica e busca desenvolver soluções de acordo com as necessidades específicas de seus clientes.

Advogamos que a crise de legitimidade que afeta empresas de consultoria e consultores, embora não constitua vetor de crise ou de impacto relevante sobre os negócios, vem abrindo espaço para uma nova perspectiva de atuação dos consultores.

Tal perspectiva interpreta a gestão como um fenômeno de construção social, procura contemplar a sua complexidade e ampliar a participação dos diversos grupos de interesse nos processos de mudança.”

O questionamento segundo os autores advém da seguinte situação "por meio das análises realizadas concluiu-se que as críticas estão relacionadas com uma crise de credibilidade das consultorias no Brasil e no mundo, devido aos resultados negativos obtidos por empresas que investiram grande montante de recursos em projetos elaborados e desenvolvidos por consultores."
Uma boa leitura para consultores.

Autor: Alfredo Passos


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