DIVERSIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA



DIVERSIDADE E FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
A formação do professor de Educação Física vem ao longo dos últimos 30 anos enfrentando inúmeros desafios com fins de dar conta as transformações que ocorreram na escola neste período. Da visão higienista, competitivista e militarista identificada por Ghiraldelli Jr. (1988) dominante até a década de 1980, atualmente suas concepções decorrem do reconhecimento da diversidade cultural dos alunos, dos demais sujeitos e da escola.
Nesse sentido teorias e práticas das diferentes perspectivas de reconhecimento da diversidade cultural podem ser percebidas nesse campo de formação.
Em uma perspectiva folclórica ou celebratória a diversidade pode ser reconhecida pelas orientações às manifestações culturais em torno de ritos, festas comemorativas, apresentação de jogos de determinada etnia ou grupo social, mostra e outros eventos que reforçam as características e padrões corporais e culturais dos povos (CANEN, 2008).
Em uma perspectiva crítica, emancipatória, diferencialista a diversidade pode ser orientada ao reconhecimento das lutas de grupos sociais e étnicos em torno de sua liberdade de expressão e direitos sociais como educação, respeito às práticas religiosas, escolhas sexuais, inclusão de conhecimentos específicos das etnias como os povos indígenas e quilombolas e alunos deficientes, e busca por espaços políticos e de superação da discriminação daqueles considerados marginalizados na sociedade (CANEN, 2008; CANDAU; 2008; MOREIRA, 2001).
Nessas perspectivas a diversidade vem ampliando o seu espaço de reconhecimento principalmente no campo de políticas educacionais (PNE, 2010; CONAE, 2010). Porém, pode ser valorizado numa concepção congelada e reducionista (Canen, 2008), asimilacionista e essencialista (Candau, 2008) o que reforça estereótipos, padrões identitários, a universalismo, hierarquização e dominação de culturas, e os relativismos exagerados que impedem a formação de identidades coletivas ou formam guetos em torno de grupos étnicos e culturais.
Ao reforçar características em torno de concepções históricas que valorizam "heróis" em detrimento dos chamados "sujeitos comuns", contribuições específicas para determinada área como comida e esporte, fomenta, por exemplo, discursos em torno de ações que dicotomizam o corpo da mente e subalterniza discussões em torno da igualdade de condições sociais e econômicas. Por exemplo, "a feijoada foi criada pelos negros nas senzalas...", "os negros são melhores correndo do que nadando" reforçam argumentações que dificultam uma concepção mais ampliada e crítica do reconhecimento da diversidade.
Sendo assim, buscamos em uma perspectiva "pós" onde os autores e autoras pautam suas reflexões acerca da diversidade a partir da concepção de uma sociedade pós-moderna e pós-colonial. Nessa perspectiva a diversidade é reconhecida no uso da linguagem como fruto dos Estudos Culturais e da "Virada lingüística" da década de 1960 apontado por HALL (1997).
Nessa perspectiva o reconhecimento da diversidade busca identificar os diferentes discursos que circulam entre os sujeitos na escola, a superação de falas discriminatórias, como, por exemplo, "futebol é ?prá? homem", "queimado é coisa de menina", "olha a ?bola? correndo trás da bola" e as múltiplas identidades construídas pelos alunos em relação à escola e o contexto das aulas de Educação Física.
É na aula de Educação Física que muitos alunos revelam identidades raramente percebidas nas outras aulas. O isolamento em relação ao grupo, a resistência em participar de algumas atividades, o enfrentamento ao professor quando este resolve não realizar uma prática. Estas situações de conflito cultural e disputa entre sujeitos são objetos de estudo do campo de formação docente que servem para os professores de Educação Física analisar indícios de processos discriminatórios e de reflexão sobre suas práticas com os alunos e discursos entre eles e elas, que, por vezes, são naturalizadas como "coisa de criança"," coisa deles", "entre eles é assim mesmo", "eles brincam assim".
Nesse sentido o campo de formação continuada dos professores de Educação Física precisa superar desafios que apontem novas orientações aos docentes em relação ao atual contexto cultural da escola e da sociedade. Ampliando a conscientização dos professores em relação aos seus discursos junto aos alunos; apresentando práticas que dialoguem com os conflitos culturais e sociais vividos nas aulas e desvelando realidades marcadas por relações de poder e tensão entre sujeitos, podemos tornar possível uma formação docente atenta à diversidade de sujeitos e culturas na escola.

Autor: Joe Gomes


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