Educação do campo



A EDUCAÇÃO DO CAMPO: avanços e perspectivas da pedagogia da alternância


Elgonzales M. Almeida


RESUMO

Esse artigo é produto dos questionamentos a respeito da Educação do Campo e da Pedagogia da Alternância enquanto método de formação adequado para essa modalidade de ensino, tendo em vista que é importante se pensar em uma alternativa que atenda as necessidades da educação no campo e para o campo. Objetiva-se, dessa forma, entender e tomar posse das perspectivas educacionais do campo enquanto prática pedagógica, justificando-se, desse modo, a importância de tornar claras as práticas e concepções que fundamentam o ensino rural, isso porque a pedagogia pode significar um caminho para viabilizar a relação entre trabalho produtivo e educação escolar na formação humana dos trabalhadores rurais. A metodologia empregada concentra-se na base teórica, através de um pequeno levantamento bibliográfico a respeito do tema, e na observação das práticas pedagógicas da Escola Família Agrícola de Capinzal. Evidencia assim, que a Pedagogia da Alternância é sem sombra de dúvidas, fundamental para o sucesso e pleno desenvolvimento do ser social do campo.

Palavras-chave: Educação do Campo. Pedagogia de Alternância. Práticas Pedagógicas.


ABSTRAT

This article is a product of questions about the Field of Education and the Pedagogy of Alternation as a training method suitable for this kind of teaching, considering that it is field. Objective is thus to understand and take possession of the educational prospects of the field while teaching practice, justifying thus the importance of clarifying the concepts and practices that support the rural education, pedagogy because it can mean a path to facilitate the relationship between productive work and schooling in human rural workers. The methodology focuses on the theoretical basis, through a small literature on the subject, and observation of teaching practices of the School of Agricultural Family Capinzal. Evident therefore that the Pedagogy of Alternation is undoubtedly crucial to the success and full development of the social field.

Keywords: Education Field. Pedagogy of Alternation. Pedagogical Practices.

1 INTRODUÇÃO
A educação do indivíduo é principalmente resultado da transmissão cultural, nesse sentido, enfatiza-se que a escola deve valorizar a tradição e a transmissão cultural. Esta deve ensinar aos alunos sobre aquilo que é permanente nas sociedades humanas preparando o individuo para ter ao mesmo tempo, conhecimento para viver em sociedade e visão crítica. (RAMAL e BEZERRA NETO. 2010)
Dessa forma, nota-se que no processo de educação, é necessário haver uma preocupação com a formação do homem, principalmente o do campo, sempre o preparando para as várias situações da vida.
O reconhecimento de que as pessoas que vivem no campo têm direito a uma educação diferenciada daquela oferecida a quem vive nas cidades é recente e inovador, e traz consigo a noção que compreende as necessidades culturais, os direitos sociais e a formação integral desses indivíduos, rompendo o paradigma de que apenas a localização geográfica seria a preocupação na formação das populações rurais. (BRASIL, 2007)
Assim, esse artigo é produto dos questionamentos a respeito da Educação do Campo e da Pedagogia de Alternância enquanto método de formação adequado para essa modalidade de ensino, tendo em vista que é necessário se pensar em uma alternativa que atenda as necessidades da educação no campo e para o campo, dessa forma objetiva-se entender e tomar posse das perspectivas da pedagogia de alternância enquanto prática pedagógica de Educação do Campo.
Justifica-se, desse modo, a importância de se fazer claras as práticas e as concepções de Pedagogia da Alternância que fundamentam a Educação do Campo. Isso porque essa Pedagogia pode significar um caminho para viabilizar a relação entre trabalho produtivo e educação escolar na formação humana dos trabalhadores rurais.
A metodologia empregada concentra-se na base teórica, através de um pequeno levantamento bibliográfico a respeito do tema, e na observação das práticas pedagógicas da Escola Família Agrícola de Capinzal.

2 EDUCAÇÃO DO CAMPO, CONCEITOS E PRINCÍPIOS ENVOLVIDOS.

Para se idealizar uma educação a partir do campo e para o campo, é preciso conhecer e entender algumas ideias e conceitos há muito estabelecidos pelo senso comum. Mais do que isso, é necessário desfazer padrões, preconceitos e injustiças estabelecidos, para assim, reverter às desigualdades e paradigmas educacionais, construídos entre a cidade e o campo. Somente dessa forma, pode-se chegar a um conceito sobre educação do campo, para tanto, tentaremos entender o que é a educação como fator de formação humana e como ela se insere no meio rural.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a partir de 1948, levou grande parte dos países a rediscutir seus projetos educacionais, demonstrando a tomada de consciência de que a igualdade perante a lei só se dará à medida que todos tiverem assegurados os direitos fundamentais, especialmente no que se refere à educação. (CHALITA, 2004).
Assim, tem-se a ideia da educação como processo capaz de formar pessoas aptas e adequadas a conviver em um mundo plural, com respeito à diversidade de credos e culturas. Dessa forma a uniformização de uma ideia pedagógica de formação é exigida no acesso a educação, onde o respeito à pessoa e suas necessidades faz-se necessário para o desenvolvimento de sua dignidade, lhe assegurando o atributo da vida, da liberdade, da inteligência.
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) em seu 1º artigo já quebra um paradigma, tratando da abrangência do termo educação. Em um conceito de cidadania, a educação não é um atributo apenas da escola, ela ocorre em todos os ambientes possíveis em que se estabelecem o processo de aprendizagem:

Artigo 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, em movimentos sócias e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (Lei Nº 9.394 ? de 20/12/1996 ? Dou de 23/12/1996)

De tal modo, na educação para o campo e no campo, se deve buscar o desenvolvimento pleno do ser envolvido no processo ensino-aprendizagem, tendo em vista, que mesmo morando em área não urbana, é assegurado a ele o direito a educação e todos os seus benefícios.
O Caderno Secad 2 (BRASIL, 2007), desenvolvido pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, define como escolas do campo, aquelas que têm sua sede no espaço geográfico classificado pelo IBGE como rural, assim como as identificadas com o campo, mesmo tendo sua sede em áreas consideradas urbanas. Essas últimas são assim consideradas porque atendem a populações de municípios cuja produção econômica, social e cultural está majoritariamente vinculada ao campo.
Nas escolas do campo, geralmente por estarem localizadas em comunidades com uma população de escolares em proporções menores, a quantidade de matrículas concretizadas diferencia-se significativamente das escolas localizadas e caracterizadas como pertencentes a espaços urbanos. (CALDART, 2003)
Dessa forma, pode-se perceber que a educação do campo diferencia-se da modalidade de ensino em área urbana, tendo em vista suas peculiaridades e necessidades pedagógicas, já que se tem a visão do camponês sem nenhuma preparação, nem mesmo a alfabetização necessária para se comportar corretamente frente aos impasses que se apresentam no campo.
No âmbito das políticas públicas, a educação do campo era vista - e muitos ainda veem assim - como um problema a ser resolvido, e que esse problema decorria apenas da localização geográfica das escolas e da baixa densidade populacional nas regiões rurais, em áreas onde as populações vivem fora das cidades. (BRASIL, 2007)
De tal modo, pensando nesses princípios, a educação do campo ganhou a atenção necessária para o seu desenvolvimento pleno e expansão, já que é direito de todos receber a educação necessária para se adquirir preparação para a vida, através do seu crescimento intelectual, integral e cultural.
Surge então, como prerrogativa, a concepção de uma pedagogia-didática que se adéque e garanta aos estudantes rurais a formação básica e necessária, considerando as reais necessidades das populações identificadas com o campo.
Nesse contexto, como meio de promoção da educação do campo, surgiu a Pedagogia de Alternância, possibilitando uma maior compreensão e entendimento do processo ensino-aprendizagem, principalmente na área rural.



3 A PEDAGOGIA DE ALTERNÂNCIA: formando os sujeitos sociais do campo.

Já conhecedores da educação do campo e de suas características enquanto processo formativo de cidadãos aptos para o exercício pleno das atividades necessárias ao bem estar social e cultural da sua realidade, buscaremos entender a concepção da pedagogia de alternância e suas contribuições para a formação do homem do campo.
O artigo 2º da LDB, situado no Titulo V- Dos níveis e das modalidades de educação e ensino, Capítulo III- Da educação básica, Seção I ? Das disposições gerais, diz:

Artigo 28º - Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região [...]. (Lei Nº 9.394 ? de 20/12/1996 ? Dou de 23/12/1996)

Dessa forma surge a necessidade de um projeto pedagógico que englobe os conteúdos curriculares e metodologias apropriadas a reais necessidades e interesses dos discentes da zona rural, além de uma organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas. Então, para resolver esse problema, surge a Pedagogia da Alternância.
A proposta pedagógica, denominada Pedagogia da Alternância, é operacionalizada a partir da divisão sistemática do tempo e das atividades didáticas entre a escola e o ambiente familiar. Esse modelo tem sido estudado e elogiado por grandes educadores brasileiros e é apontado pelos movimentos sociais como uma das alternativas promissoras para uma Educação do Campo com qualidade. (BRASIL, 2007).
A Pedagogia da Alternância é uma expressão polissêmica que guarda elementos comuns, mas que se concretiza de diferentes formas: conforme os sujeitos que as assumem, as regiões onde acontecem as experiências, as condições que permitem ou limitam e até impedem a sua realização e as concepções teóricas que alicerçam suas práticas. (RIBEIRO, 2008)
Com esse cuidado e de modo amplo, pode-se dizer que a Pedagogia da Alternância tem o trabalho produtivo como princípio de uma formação humanista que articula dialeticamente ensino formal e trabalho produtivo, enfatizando o respeito à cultura do sujeito do campo.
No Brasil, a denominada Pedagogia da Alternância foi introduzida, em 1969, no Espírito Santo ? Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo / MEPES ? a partir de Anchieta, encontrando rápida expansão com a orientação dos Padres Jesuítas. Nesse estado e em mais quinze unidades da Federação brasileira, a alternância mais efetiva é a que associa meios de vida socioprofissional e escolar em uma unidade de tempos formativos. Tais são as Escolas Famílias Agrícolas (EFA). (BRASIL, 2007)
Para tanto, é fundamental, no desenvolvimento do saber do homem do campo, conhecer suas necessidades e auxiliá-lo para a adequação à natureza do trabalho na zona rural sem impedi-lo de adquirir os conhecimentos fundamentais para a construção de uma vida digna dentro da sua visão do mundo, e é apoiada nessa inferência que a Pedagogia da Alternância desenvolve suas praticas pedagógicas de ensino.

4 APLICANDO DE FORMA PRÁTICA A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: observando a alternância pedagógica exercitada.

A Escola Família Agrícola de Capinzal, localizada no Povoado Espírito Santo, município de Capinzal do Norte, Maranhão, é uma instituição de ensino rural, e que dentro do seu projeto pedagógico, trabalha com a Pedagogia de Alternância e segue os princípios da Educação do Campo.
No seu desenvolvimento metodológico, a instituição oferece um ensino em turno integral, onde no período matutino o aluno recebe aulas teóricas, e no período vespertino, aulas práticas no campo. O calendário escolar tem presente os aspectos: sociocultural, participativo, geográfico e legal. A carga horária anual ultrapassa os duzentos dias letivos e as oitocentas horas exigidas pela Lei de Diretrizes a Bases da Educação Nacional. Seu sistema curricular está dividido em ciclos de dois anos, até 8ª serie, onde o individuo conclui o Ensino Fundamental.
Através de pesquisa in loco, adquirindo uma postura apenas de observador sem intervir na área pesquisa, percebe-se que a Escola Família Agrícola de Capinzal está alicerçada em sólidas bases agrícolas e pedagógicas, atuando na formação do homem, lhe assegurando a capacidade de se adaptar a diversidade humana e as necessidades do meio rural, buscando sempre a formação dinâmica, crítica e criativa.
Com esta visão, a educação praticada é como um espaço de construção de conhecimentos de forma persistente em busca da fusão conceitual e demonstrativa entre teoria e prática para que se alcance a valorização profissional e pessoal.
Para a instituição a educação é considerada como um processo social intencional, sistemático, político e eminentemente humano que ocorre nas relações sociais em qualquer situação em que haja atividade humana, com o intuito de construir conhecimento, preservar e transmitir a cultura de uma sociedade, em consonância com a ética estabelecida.
Notou-se que é objetivo da Escola, desenvolver atividades didático-pedagógicas que promovam a construção de saberes compatíveis com a realidade vivenciada e suas potencialidades de mudança e inovação, promovendo atividades em que sejam empregados métodos ativos que contemplem a investigação, a análise, a reflexão e a solução de problemas inerentes à cidadania vivenciada no campo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do levantamento bibliográfico, e das observações da Escola Família Agrícola de Capinzal, nota-se que a Pedagogia de Alternância é sem sombra de duvidas fundamental para o sucesso da Educação do Campo, tendo em vista que sua didática-pedagogia oferece a melhor metodologia para a formação do individuo inserido em zona rural.
Pode-se perceber que a Pedagogia de Alternância é um processo de grande valor para a promoção da educação no campo, já que atende as peculiaridades das aéreas desprovidas dos benefícios concedidos as escolas urbanas, promovendo assim, a igualdade ao acesso a educação.
Nota-se que é de importante relevância para o sucesso educacional da Educação do Campo, a melhor compreensão das necessidades e da realidade onde o indivíduo educando está inserido por parte do agente educador, para que se obtenha o máximo de proveito dessa pedagogia.

REFERÊNCIAS

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 18ed. São Paulo: Editora Gente, 2004.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Educação do Campo: diferenças mudando paradigmas. Brasília, 2007.

RIBEIRO, Marlene. Pedagogia da alternância na educação rural/do campo: projetos em disputa. Universidade de São Paulo, 2008.

RAMAL, Camila Timpami. BEZERRA NETO, Luiz. Educação do campo: pressupostos que norteiam suas bases culturais e curriculares. Universidade Federal de São Carlos, 2010.

CALDART, Roseli Salete. A escola do campo em movimento. Currículo sem Fronteiras. Brasil. Vol. 3, n.1. 2003



Autor: Elgonzales Magalhães Almeida


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