Crise de identidade: tornar-se jovem



Crise de identidade: tornar-se jovem

A adolescência é um período da vida do sujeito no qual acontecem diferentes transformações no campo físico, social e psicológico. É também neste período que o indivíduo procura uma aceitação por parte da sociedade, procurando assim identificar-se com alguém ou grupos de pessoas que possuem afinidades, como a mesma opinião sobre determinada do assunto, o mesmo gosto musical, o lazer, profissão etc. Neste período geralmente ocorre o que chamamos de crise de identidade, que é para Bock (2008. p. 207) "um momento importante da vida de uma pessoa em que ela procura, com maior ou menor grau de consciência desta crise, redefinir ou ratificar seu modo de ser e estar no mundo, sua identidade: para si e para os outros".

O que seria então identidade? No campo da psicologia temos diversas compreensões a respeito de identidade. Temos também contribuições de outras áreas do conhecimento como por exemplo o antropólogo e educador Carlos Rodrigues Brandão (1986. p. 38 Apud Bock 2008. p. 203), diz que:

"a identidade explica o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu , de uma realidade individual que torna cada um de nós um sujeito único diante de outros eus; e é, ao mesmo tempo, o reconhecimento individual dessa exclusividade: a consciência de minha continuidade em mim mesmo".

Já para o psicanalista André Green o conceito de identidade agrupa várias idéias, como a noção de permanência, de manutenção de pontos de referência que não mudam com o passar do tempo, como o nome de uma pessoa e suas relações de parentesco.

Vimos que para se conceituar identidade é tão complexo quanto à própria fase vivida pelo sujeito. Para entendermos então esta crise de identidade faz-se necessário compreendermos outros fatores que permeiam esta fase como por exemplo o que a psicologia chama de estigma social.
Segundo o site infoescola, o termo "estigma" já era usado na Grécia Antiga para designar sinais corporais que desqualificavam o cidadão marcado com tal sinal. Na Grécia antiga, escravos, criminosos e traidores traziam marcas nos corpos como forma de serem discriminados em locais públicos.

O estigma também surge nas relações de afirmação de identidade e nível social entre os indivíduos de uma sociedade. Na formação de identidade quando a pessoa busca identificar-se com o outro de uma maneira virtual, quando não conhecemos a pessoa e a identificamo-nos como esperamos e, depois se completa de forma real, quando conhecemos os atributos que a pessoa possui.

Espera-se que uma pessoa formada na faculdade e bem empregada possui um estigma social positivo, porém se a mesma estiver mal empregada expressará um estigma negativo. O estigma social resulta da relação de atributos e identidades que uma pessoa possui e os estereótipos sociais cobrados e interpretados no meio em que ela vive.
O estigma social possui três níveis distintos: deformidades corporais; fraqueza de caráter; e abominações de atos. Em muitas situações , os estigmatizados não seriam considerados humanos ou incluídos em sociedade.

Para Bock (2008), "o estigma revela que a sociedade tem dificuldade de lidar com o ?diferente?. E esta dificuldade é perpetuada passando pelas gerações através de várias instituições como família, escola e principalmente pelos meios de comunicação.
Segundo Erikson (1972. p. 21),

"Em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele".

Portanto, a construção da identidade é pessoal e social, acontecendo de forma interativa, através de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido. Esse autor enfatiza, ainda, que a identidade não deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento.
Desta forma, o grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada crise de identidade e essa fase só estará terminada quando a identidade tiver encontrado uma forma que determinará, decisivamente, a vida ulterior.

É importante entender que o termo crise, adotado por Erikson, não é sinônimo de catástrofe ou desajustamento, mas de mudança; de um momento crucial no desenvolvimento onde há a necessidade de se optar por uma ou outra direção, mobilizando recursos que levam ao crescimento.
É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim, o jovem assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade precisa rever suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos que se apresentam a ele. A crise de identidade é marcada, também, por uma confusão de identidade, que desencadeará um processo de identificações com pessoas, grupos e ideologias que se tornarão uma espécie de identidade provisória ou coletiva, no caso dos grupos, até que a crise em questão seja resolvida e uma identidade autônoma seja construída.
Com o tempo, algumas atitudes são internalizadas, outras não, algumas são construídas e o adolescente, paulatinamente, percebe-se portador de uma identidade que, sem dúvida, foi social e pessoalmente construída.










Referências

BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia.13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

ERIKSON, E. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

REBOUÇAS, Fernando. Estigma e identidade social. Disponível em: Acesso em: 02 fev. 2011.

OLIVEIRA, Jorge Leite de. Texto acadêmico: Técnicas de redação e de pesquisa científica. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Autor: Vallace Chriciano Souza Herran


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