Matemática, que droga!



Matemática, que droga!

A disciplina mais estranha para a mente dos educandos é a matemática. Normalmente eles têm aversão a essa disciplina. Calcular x, y, z é a morte! Zero é a nota máxima da grande maioria, o que salva os alunos são os trabalhos para recuperar a nota. Decepção para os professores.
Por esse caminho tem sido a vida de diversos professores de matemática, a maioria não consegue chegar ao final do ano letivo, sem ter afastado alguns meses para se recuperar, por estar desmotivados com a falta de avanço dos alunos, ou pelas indisciplinas. O que fazer?
Antes de fazer uma tentativa em sinalizar um caminho, vou contar a minha história.
Eu era um péssimo aluno de matemática, não simplesmente péssimo, era terrivelmente retardado. Nunca conseguia fazer um exercício com resultado certo. Nunca entendia, não era falta de prestar atenção, mas era incapacidade mental. Eu era travado. Achava que nunca iria aprender nada, pois era filho de pai e mãe semianalfabetos. E nenhum dos dois se interessava pela minha vida escolar. Minha mãe um dia disse: "Você já não sabe ler e escrever pra que ir à escola?". Eu estava na 5ª série.
Por essas e outras, você percebe que eu jamais seria educador, muito menos professor de matemática (depois que terminei o curso de História , dei durante 5 anos, aulas de matemática).
Mas foi um olhar de uma professora que mudou a minha história. Seu nome: dona Ercília, a professora de matemática. Durante quase todo o Fundamental ela foi minha professora e durante todo o Fundamental jamais tirei notas azuis nas provas! Ela dava certo para mim, nas contas erradas. Não sei o que ela pensava, mas ela fazia isso. Se o resultado era -3, e eu colocasse + 3, ela consertava. Nem nos trabalhos eu dava conta de acertar! Mas no final do bimestre, lá estava a nota seis! Eu era um aluno maltrapilho, bastante pobre, porém não a aborrecia nas aulas. Talvez fosse isso, não sei. A disciplina conta muito na decisão do professor.
Só sei que na matemática dela, em sua conta, ela calculou que eu poderia dar resultado positivo no futuro, ela apostou no zero ao quadrado, apostou no conjunto vazio que eu era. E através daquele olhar surgiu um educador.
Fui professor de matemática. Durante meu período nesse cargo, procurei acender as lâmpadas apagadas de diversos alunos travados. Um desses, era Edlene, aluna da 5ª série. Ela nunca conseguia entender a matéria, então, tentei todas as maneiras para ela superar. Eu a ajudava nos trabalhos, isso facilitava, porém ela também travava em outras disciplinas. Resultado: reprovou.
No ano seguinte eu não queria dar aula para ela, pensei: "espero que a Edlene não seja minha aluna". Ela era muito comportada, não faltava, mas me decepcionava. Começou o ano letivo, e lá estava a Edlene sentada a minha frente, meu desafio, quando ela me viu disse: "de novo o senhor? Eu odeio matemática!".
Esse era o ponto que de repente me iluminou. Ela não gostava de matemática, dizia isso o tempo todo. "eu não gosto, eu odeio, detesto, pra que isso, pra que saber isso...". Essas eram as suas indagações. Comecei a ministrar na mente dela todos os dias, dizendo que ela teria que mudar sua linguagem em relação à matemática. "Você tem que dizer eu gosto de matemática, eu adoro, eu sei...". Ela ria.
Foi muito difícil mudar sua linguagem, porém ela iniciou na metade do 1º bimestre a falar melhor da disciplina. Contudo, suas notas até o 2º bimestre eram horríveis. Eu continuava a incentivando a destravar a mente, usando o código da linguagem positiva.
Para minha alegria e surpresa, no 3º e 4º bimestres ela tirou nota dez! Sabe o que mais aconteceu? No final do ano ela me pediu para ajudar os alunos no Exame Final! Ela foi a melhor aluna de matemática que tive. Funcionou! Ela destravou, usando uma nova linguagem sobre si mesma!
Talvez você pense, então tenho que distribuir notas para todos? Não! Existem alunos que são travados, envergonhados, incapazes de realizar uma única conta, mas estão todos os dias a nossa frente, impossível ignorá-los. Tem os faltosos, indisciplinados, vândalos, com esse lidamos de outra maneira.
Percebi, quando dei aulas na UNEI (Unidade Educacional de Internação), que a disciplina que os adolescentes mais gostavam era exatamente a matemática. Para eles eu nem precisava dar outras matérias, só a matemática. Por quê?
Entendi, não só nessa Casa, mas na escola, que os alunos indisciplinados entendem a matemática bem mais rápido do que os outros "normais". Fazem rapidamente cálculos e estão prontos para bagunçar! Eles são destravados nessa disciplina, porque não a teme, olham de frente para ela. A matemática não representa um monstro para eles, mas um desafio para ser detonado, derrubado, superado. É assim que defini o interesse dos alunos indisciplinados com essa matéria. Eles se propõem a vencê-la.
Esses alunos são ousados, não só compreendem a matéria tão complexa para a grande maioria, como desafiam o professor, tentando também derrubá-lo. E aí que o professor precisa de estratégias para vencê-los. Sabe como consegui conduzi-los para mim?
Vou lhes contar. Primeiro não me colocava acima deles, mas perto, junto. Não me sentia o máximo professor de matemática, o magnata, impossível de alguém decifrar. Não, eu me aproximava deles e olhava da mesma maneira que olharam para mim -(Deus, dona Ercilia, e diversas pessoas)- com o olhar de amor.
Então, os cercava de minha amizade. Aprendia suas gírias e contava sempre histórias que eles gostavam de ouvir: bandidos, drogas, sexo. Claro, sempre com fundo proveitoso, porém, sutilmente, eu propagava o amor de Deus para cada um. Resultado: amizade eterna. Numa escola, por exemplo, em Campo Grande, eu era escoltado até a minha casa pelos "bandidos da escola". Eu nunca me achei melhor, mas mostrava o melhor de Deus para eles. Vocês nem imaginam quantas histórias eu vivi...
Graças a dona Ercília, minha amada professora de matemática, que olhou para mim com o mesmo olhar de Deus - olhar de amor- consegui superar a incompreensão das coisas. É assim que agora olho... Ela transferiu seu olhar para mim, hoje, transfiro o mesmo olhar para meus alunos. Faço tudo o que está em minhas mão, o possível, pois o impossível é reservado para Deus. Assim caminho nessa longa jornada... Isso não é agradar a todos, nem Jesus conseguiu fazê-lo, é só amar.
Então, não tenho mais palavras para dizer aos professores de matemática, só uma coisa a mais: ame seu aluno, exalte suas qualidades, aproxime-se dele. Tenha prazer em ser professor! Fique bem.

Autor: Oswaldo Dourado


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