EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS REGISTRADOS NA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE RIO VERDE - GOIÁS



FESURV ? UNIVERSIDADE DE RIO VERDE
FACULDADE DE BIOLOGIA E QUÍMICA
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS LICENCIATURA E BACHARELADO










EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS REGISTRADOS NA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE RIO VERDE - GOIÁS










Antônio Carlos Pereira de Menezes Filho
Orientadora: Prof. Ms. Silvia Rosana Pagliarini Cabral









RIO VERDE ? GO
2010

EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS REGISTRADOS NA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE RIO VERDE ? GOIÁS

Antônio Carlos Pereira de Menezes Filho¹
Silvia Rosana Pagliarini Cabral²

RESUMO


O presente trabalho apresenta um estudo epidemiológico de acidentes ofídicos ocorridos no município de Rio Verde-GO, entre janeiro de 2007 a novembro de 2010. Foram analisados dados coletados pelo SINAN-MS (Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Ministério da Saúde) na Vigilância Epidemiológica do município. Os resultados obtidos foram organizados com base no número de acidentes, gênero da serpente, circunstância do acidente, distribuição mensal e anual, distribuição por estação do ano, faixa etária e sexo dos indivíduos, região anatômica atingida, tempo decorrido do acidente/atendimento, evolução ou quadro clínico e classificação quanto a gravidade. Os acidentes ofídicos foram causados pelos gêneros Bothrops, Crotalus, Micrurus e casos ignorados, totalizando 89 acidentes. Os maiores índice de acidentes foram com o gênero Bothrops (17) e 20 casos ignorados, onde não foi possível a identificação da espécie. Houve predomínio dos acidentes nos meses dezembro a março (estação quente e chuvosa) com 46 casos (64,05%). A maioria dos acidentes ocorreu na zona rural com 75 casos. Os casos predominaram em pessoas do sexo masculino (68 casos) e com idades entre 11 a 29 anos. A região anatômica mais atingida foram pernas e pés. O tempo decorrido entre o acidente e o atendimento prevaleceu entre 1 a 2 horas; 86,51% dos casos evoluíram para cura, não houve óbitos e 20,22% dos casos tiveram classificação de nível leve e 58,42% de nível moderado. Concluindo, os resultados obtidos neste estudo estão em conformidade com outros trabalhos apresentados. Os acidentes ofídicos ainda constituem um problema de saúde pública no Brasil.


Palavras-chave: Epidemiologia, Serpentes, Ofidísmo, Bothrops, Crotalus, Micrurus.



INTRODUÇÃO


O ofidísmo é uma forma de acidente por serpente peçonhenta que possui toxina capaz de causar danos em seres humanos e animais. Nos países tropicais, onde a herpetofauna ofídica é numerosa, constituí um dos problemas de saúde pública, devido ao número elevado de ocorrências.
O Brasil apresenta uma fauna ofídica rica com aproximadamente 300 espécies, sendo que a maioria é considerada não perigosa aos seres humanos. Destas, aproximadamente 70 espécies são consideradas de interesse médico (LEMOS, 2009; PINHO et al., 2001).
As serpentes peçonhentas encontradas em território brasileiro, estão atualmente agrupadas em 6 gêneros: Bothrops, Lachesis, Botriopsis, Porthidium, Crotalus (Família Viperidae) e Micrurus (Família Elapidae). No estado de Goiás foram registradas a ocorrência dos gêneros Bothropos (jararacas), Crotalus (cascavel) e Micrurus (corais verdadeiras), não havendo registro para Lachesis, Porthidium e Botriopsis.
Acidentes envolvendo serpentes não-peçonhentas são notificados ocasionalmente. Algumas espécies são incluídas na medicina, contudo os acidentes são raros, podendo ocorrer sintomas locais ou sistêmicos, e raramente óbito, causado por infecção ou por intoxicação pela peçonha da serpente.
Segundo Lima (2009) os seguintes gêneros de serpentes não - peçonhentas são incluídos, Phallotris, Philodryas, Xenodon e Tachimenis. Estas serpentes possuem dentição opistóglifa diferente das serpentes consideradas peçonhentas de dentição solenóglifas e proteróglifas.
Os primeiros dados epidemiológicos dos acidentes ofídicos foram realizados por Vital Brazil em 1901(SILVA et al., 2004; BRAZIL, 1911).
Os dados sobre ofidísmo são bastante fragmentados, e em virtude da carência de informações, a partir de 1986 o Ministério da Saúde tornou obrigatória a notificação dos acidentes por serpentes peçonhentas. O registro dos dados ocorre por meio de sistemas de notificação compulsória, utilizando-se fichas específicas.
No município de Rio Verde, os dados são registrados na Vigilância Epidemiológica, de onde são posteriormente encaminhados para os núcleos regionais e em seguida para o Ministério da Saúde.
No Brasil os maiores índices de acidentes ofídicos estão registrados nas regiões Norte e Centro-oeste (LIMA, 2009). Os gêneros de maior agravo epidemiológico envolvendo serpentes são os gêneros Bothrops e Crotalus, podendo haver óbitos notificados na vigilância epidemiológica em alguns estados brasileiros (PINHO et al., 2004; RIBEIRO, 1998). O maior número de casos são devidos ao gênero Bothrops (aproximadamente 80%), seguido de Crotalus (8,5%), Lachesis (6,9%) e Micrurus (1,0%). (LIMA, 2009; NASCIMENTO, 2000; BARRAVIERA, 1999; FEITOSA, 1997; RIBEIRO e JORGE, 1990). Segundo os dados epidemiológicos do Ministério da Saúde (MS), ocorrem entre 19.000 a 22.000 acidentes ofídicos por ano, com óbito de 0,45% (BRASIL, 2001; PINHO et al., 2001).
A obrigatoriedade de registrar os dados sobre os acidentes ofídicos permite que cada região trace um perfil sobre as vítimas e a situação dos acidentes. No presente trabalho serão relatados os dados obtidos no município de Rio Verde-GO, onde a principal atividade econômica é a agropecuária. Considerando que no Brasil a maioria dos acidentes ocorre na zona rural, o estudo faz uma comparação com as informações publicadas para as outras regiões.
O objetivo do trabalho é avaliar os aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos por serpentes peçonhentas ocorridos no município de Rio Verde ? GO, nos últimos 3 anos. Especificamente quantificar o número e o tipo de acidente, verificar a distribuição temporal e relacionar com a sazonalidade, analisando os perfis das vítimas, como sexo, faixa etária e local da picada, classificação dos acidentes, verificação da evolução e relacionar as circunstâncias dos acidentes.
Os dados obtidos poderão contribuir para a adoção de medidas de prevenção contra acidentes ofídicos e também minimizar seqüelas e a morte desnecessária de qualquer tipo de serpente.

MATERIAL E MÉTODOS


Foram analisados de maneira retrospectiva os dados sobre acidentes ofídicos ocorridos e atendidos no município de Rio Verde ? GO, no período compreendido entre janeiro de 2007 a novembro de 2010. Os dados foram obtidos na Vigilância Epidemiológica de Rio Verde, utilizando-se as fichas eletrônicas de freqüência de notificação compulsória, do programa SINAN ? Sistema de Informação de Agravos de Notificação, por animais peçonhentos. A partir destes dados foram calculadas as porcentagens das seguintes variáveis: número de acidentes, circunstância e local do acidente, distribuição mensal e anual, faixa etária e sexo do indivíduo, região anatômica atingida, grupo de serpente, tempo decorrido do acidente/atendimento, evolução ou quadro clínico e classificação quanto à gravidade.
Os dados foram tabulados e analisados por meio de estatística descritiva, utilizando o programa Microsoft Excel.

RESULTADOS



Foram notificados à Vigilância Epidemiológica do município de Rio Verde ? GO, nos anos de 2007 a 2010, 89 casos de acidentes ofídicos sendo notificados 51 acidentes envolvendo o gênero Bothrops, 17 Crotalus, 1 Micrurus e 20 casos ignorados. Figura 1.





Quanto à distribuição sazonal dos acidentes, os meses com maiores incidências foram dezembro a março, totalizando 46 casos (51,68%). Nos demais meses (abril a outubro foram registrados 43 casos (48,32%) do total, figura 2. Quando agrupados entre estação quente e chuvosa (Outubro a março) e seca e fria (Abril a setembro) observou-se uma maior incidência (64,05%) na estação chuvosa, e menores índices (36,9%) na estação seca. Figura 3.








Os acidentes ofídicos tiveram maior número na zona rural com 75 casos (84,27%) notificados, seguido pela zona urbana com 8 casos (8,98%), zona não informada 4 casos (4,49%) e zona periurbana com 2 casos (2,24%), durante o período de janeiro 2007 a novembro 2010. Figura 4.



Quanto ao gênero (sexo) dos acidentados, os maiores números ocorreram com o sexo masculino (76,40%) e feminino (23,59%). Figura 5.





A faixa etária com maior número de casos registrados foi entre de 11 a 29 anos, com 32 casos (35,95%), seguidos de: 40 a 49 anos, 16 casos (17,97%); 30 a 39 anos, 13 casos (14,60%); 50 a 59 anos, 11 casos (12,36%); 2 a 10 anos, 6 casos (6,74%); 60 a 69 anos 6 casos (6,74%); < 1 ano 3 casos (3,37%) e 70 a 79 anos 2 casos (2,24%). Figura 6.



Quanto ao local da picada, foram registrados os seguintes resultados: o maior índice dos acidentes acometeu os membros inferiores principalmente as pernas e os pés com (64,04%), dedo do pé (5,61%) e coxa (2,24%). Nos membros superiores: mãos e dedos (23,59%); cabeça (2,24%) e tronco (1,12%). Para os casos ignorados, onde não foi notificada a região anatômica do acidente, houve um registro de (1,12%). Tabela 1.






Tabela 1. Distribuição dos acidentes ofídicos ocorridos no município de Rio Verde - GO de 2007-2010, de acordo com a região anatômica atingida.

Região Anatômica atingida Número de ocorrências
Freq. Absoluta (n) Freq. Relativa (%)
Membros inferiores
Coxa
Perna

Dedo do pé
Membros superiores
Braço
Ante-Braço
Mão
Dedo da mão
Cabeça
Tronco
Ignorado
2
29
28
5

0
0
11
10
2
1
1
2,24%
32,58%
31,46%
5,61%

0,00%
0,00%
12,36%
11,23%
2,24%
1,12%
1,12%
Fonte: SINAN

O tempo de atendimento das vítimas desde o momento da picada até socorro médico teve um intervalo de tempo (1h - 4h) (48,31%) menor que 1 hora sendo que mais de 83 (93,25%) dos acidentes teve atendimento inferior a 3 horas, 2 casos com 4 horas (2,24%) e 4 casos (4,49%) não foram especificados. Tabela 2.


Tabela 2. Tempo decorrido da picada/atendimento médico para ofidísmo com serpentes no município de Rio Verde ? GO, 2007 a 2010

Tempo Quantidade de acidentes (n) %
1 h
2 h
3 h
4 h
Não especificado 43
35
5
2
4 48,31%
39,32%
5,61%
2,24%
4,49%
Fonte: SINAN


Quanto à evolução clínica dos acidentes ofídicos observaram-se os seguintes resultados: cura dos pacientes 77 (86,51%), casos ignorados 1 (1,12%) e 11 casos (12,36%) que não foram notificados nas fichas de atendimento hospitalar. Figura 7.




Nos 89 casos de acidentes ofídicos, o diagnóstico clínico quanto à gravidade do acidente, 52 casos (58,42%) diagnosticados por moderado, 18 casos (20,22%) leve, 10 casos (11,23%) grave, 5 casos (5,61%) ignorado e 4 casos (4,49%) não informado. Figura 8.





DISCUSSÃO


A maioria dos acidentes registrados durante o período de estudo, devem-se ao gênero Bothrops (57,3%). Dados da Organização Mundial de Saúde, WHO para a América do Sul, reportam que os acidentes botrópicos representam 90% dos acidentes ofídicos (SOERENSEN, 1990 ). Estudos sobre epidemiologia realizados em outras regiões do país indicam uma porcentagem de aproximadamente 80% para o gênero Bothrops, seguido de Crotalus (8,5%), Lachesis (6,9%) e Micrurus (1,0%). (LIMA, 2009; NASCIMENTO, 2000; BARRAVIERA, 1999; FEITOSA, 1997; RIBEIRO e JORGE, 1990). A elevada quantidade de acidente botrópico pode ser atribuída à maior agresividade das serpentes desse grupo e também pela capacidade de adaptação aos ambientes variados na natureza (MORENO et al., 2005; GOVERNO DO ESTADO DO ACRE, 2000; CAMPBELL e LAMAR, 1989).
Os gêneros de interesse médico, onde acontecem os maiores números de acidentes para o Estado de Goiás e conseqüente para o município de Rio Verde é: Bothrops (jararacas), Crotalus (cascavéis) e Micrurus (corais-verdadeiras). Em Goiás é descrita atualmente a ocorrência de 3 espécies de jararacas: Botrops moojeni, B. alternatus e B. newidii. No Brasil ocorre apenas uma espécie de cascavel- Crotalus durissus, com várias subespécies (SILVA, 2000). O baixo índice de acidentes envolvendo corais verdadeiras deve-se ao hábito fossoreal das serpentes deste grupo, o que diminui a possibilidade de encontros com seres humanos. Deve-se ressaltar o alto índice de acidentes em que o gênero causador foi ignorado, o que pode ser um reflexo da falta de conhecimento da população em identificar a serpente com base na morfologia externa.
Segundo Pinho et al. (2004), as cidades do interior de Goiás que mais tiveram casos de acidentes por serpentes peçonhentas foram Rio Verde, Jataí, Piracanjuba, Orizona e Formosa.
Os meses de maior número de acidentes são de dezembro a março, quando predomina período chuvoso e quente na região. Outros estudos relatam que a maioria dos acidentes ocorrem nos meses quentes e chuvosos, que corresponde ao verão da região estudada. (BARRAVIERA, 1991; SOERENSEN, 1990). Os acidentes ofídicos tiveram ocorrência durante todos os meses, mas com taxa maior nos meses de dezembro a março. Este período corresponde a época de maior atividade nas lavouras, onde os acidentes são bastante significativos, e também é quando as serpentes estão em estado mais ativo, a procura de alimentos, próximos as sedes, barracões e hortas. De acordo com um estudo realizado em Rio Verde sobre captura de serpentes na zona urbana (MENEZES e CABRAL, 2009), os meses com maior número de registros de capturas correspondem ao período chuvoso (dados não publicados).
Poucos trabalhos em epidemiologia relacionam os acidentes com a atividade das serpentes, estando estas atividades relacionadas à alimentação, sazonalidade, e principalmente reprodução (LIMA, 2009; NASCIMENTO e OLIVEIRA, 2007).
Há vários fatores ambientais que são favoráveis ao acidentes ofídicos (umidade, temperatura, clima, pluviosidade), e com a ação do homem no campo na época de plantio e colheita (LIMA, 2009; ARAUJO et al., 2003).
Segundo Pinho et al. (2004), no estudo sobre ofidísmo em Goiás realizado entre 1998 ? 2000, mostra que nos meses de outubro a abril o número de acidentes foi de grande proporção. Estes dados estão concordantes com os dados obtidos, pois Rio Verde foi um dos municípios pesquisados na ocasião. Quanto ao turno do dia, não foi especificado em nenhuma das fichas analisadas, não sendo possível a verificação do horário de maior ataque ofídico. Ponto crucial para que se possam eliminar possíveis casos de subnotificação sobre a evolução dos acidentes. De acordo com os trabalhos que dão enfoque ao horário do acidente, o maior número de casos ocorre no período diurno e vespertino (RIBEIRO e JORGE, 1997, 1990). Segundo Nascimento (2000), há casos em que o período do acidente foi noturno.
Na avaliação da faixa etária e do sexo dos acidentados, observou-se uma alta taxa no grupo etário de 11 a 29 anos e no sexo masculino. Os acidentes ofídicos seguem um padrão onde o sexo masculino possui sempre o maior número de acidentes maior em zona rural, seguido pelo sexo feminino que nos últimos anos vem contribuído mais com a ajuda no meio rural. A freqüência dos acidentes na faixa etária analisada coincide com o apresentado na literatura (PINHO et al., 2004; SILVA et al., 2004).
Informações sobre a ocupação das vítimas foram ignoradas, não havendo como afirmar se as pessoas estavam no trabalho ou a lazer. Porém, como a grande maioria dos acidentes ocorreu na zona rural, pode-se inferir que a maioria das vítimas são trabalhadores rurais, podendo constituir assim, um tipo de acidente de trabalho. Este padrão também foi observado para outras partes do Brasil (PINHO et al., 2004; SILVA et al., 2004; BARRAVIERA, 1991). A falta de preenchimento nas fichas sobre a ocupação das vítimas representa uma falha, pois tais informações são importantes para a tomada de medidas preventivas sobre ofidísmo.
Os locais anatômicos mais atingidos foram os membros inferiores, seguido dos membros superiores. Este padrão também é observado em outros trabalhos, sendo estes locais mais vulneráveis devido à falta de cuidados ao remexer folhagens, hortaliças, maquinários agrícolas e limpeza de lotes baldios (FEITOSA, 1997; RIBEIRO e JORGE, 1995). Estas observações justificam a recomendação, na zorra rural, do incremento de uso E.P.Is. (Equipamentos de Proteção Individuais) como perneiras, luvas de couro, botas de couro, calça de tecido firme e grosso e camisas de manga cumprida. Estes incrementos ajudam a minimizar o número de acidentes, visto que são as partes do corpo mais atingidas são os membros inferiores e superiores, Esta recomendação também é válida para as pessoas à passeio, que freqüentam áreas de matas, como um atrativo de descanso pessoal. A predominância dos acidentes ofídicos que acometeram nos membros inferiores demonstra o hábito terrícola da maioria das serpentes envolvidas nos acidentes, que desvencilham o bote para a sua defesa a uma distância de até um terço do comprimento do seu corpo. Observa-se que as serpentes de tamanho adulto picam mais as pernas, e que os filhotes atingem locais como os pés e os dedos dos pés (PINHO et al., 2004; RIBEIRO e JORGE, 1997, 1990; FONSECA, 1949).
A precocidade no atendimento às vítimas de ofidísmo é de extrema importância para a cura e diminuição de seqüelas e letalidade. Nos acidentes registrados, 93% dos casos foram atendidos com menos de 3 horas. Este fato pode ser atribuído a boa informação da população sobre a necessidade de atendimento rápido.
O Estado de Goiás usufrui de grande material de divulgação quanto aos acidentes com animais peçonhentos, a presença constante dos soros antiofídicos nas unidades de saúde dos municípios, demonstra que a saúde no sudoeste goiano se equipara aos dados dos demais municípios desenvolvidos do país. Segundo Pinho et al. (2004), o Estado de Goiás possui 22 pontos estratégicos para atendimento as vítimas de ofidísmos. No município de Rio Verde as estradas vicinais na sua grande maioria, estão em bom estado de conservação, ponto crucial para a redução no tempo de atendimento, que é de grande ajuda, para a neutralização do envenenamento e eliminação de possíveis manifestações sistêmicas como seqüelas nos membros atingidos e na ação disseminada, que podem agravar a situação do acidentado.
Os dados fornecidos pela Secretaria de Saúde do município de Rio Verde mostram que não houve casos letais e que evoluíram para cura, havendo alguns casos em que foi ignorada a sua evolução. De acordo com Soerensen, (1990), os índices de letalidade variam de acordo com o período de estudo e tem decrescido para uma taxa menor que 1%.
Os prognósticos clínicos dos pacientes tratados com classificação leve, moderado e grave, que procuraram atendimento inferior a 6 horas do acidente, obtiveram evolução para cura, sendo um bom sinal da precocidade do atendimento, não havendo notificação de seqüelas no membro atingido (PINHO et al., 2004; BRASIL, 2001).
Na classificação dos acidentados atendidos, os casos moderados foram à maioria, seguidos de leves e graves. O maior percentual dos casos considerados moderados foram devido ao acidente com o gênero Bothrops seguido pelo gênero Crotalus e Micrurus, que é concordante com a literatura analisada (PINHO et al., 2004; FEITOSA, 1997).
Apesar de não ter sido objetivo do trabalho analisar as fichas de notificação e seu preenchimento correto, observou-se que existem pontos falhos: dados não preenchidos e a falta de local adequado para o preenchimento de informações que seriam relevantes para os estudos epidemiológicos em geral.
Alguns pontos devem ser ressaltados: o tempo de internação é um fator importante, para o diagnóstico do grau de evolução dos acidentes e suas complicações, mas nas fichas não há notificação do tempo decorrido de permanência do paciente na unidade hospitalar. Não foram notificadas nas fichas sobre práticas da medicina popular, devido à falta de um local para o registro, principalmente sobre a utilização de torniquetes e mesmo tratamentos da medicina popular. Informação sobre a ocupação das vítimas foram todas ignoradas, não havendo como afirmar se a grande maioria dos casos estava no trabalho ou a lazer. Não é especificado nas fichas o horário do acidente. Na ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação ? SINAN ? há um espaço para anotações complementares e observações, onde devem ser descritas informações consideradas importantes e que não estão nas fichas (ex: outros dados clínicos, dados laboratoriais, laudos de outros exames e necropsia, tempo de internação).
Ressalta-se ainda, a importância da capacitação constante dos profissionais da saúde para o atendimento correto, fazendo sempre cursos de reciclagem, para que haja melhora na caracterização epidemiológica e tratamento clínico dos pacientes. Devido à intensa carga de serviço dos funcionários das unidades de saúde, pode haver a chamada "falta de tempo" no preenchimento das fichas, tornando os dados incompletos. Tem que se considerar também a importância de pessoas adequadamente qualificadas para trabalhar nos centros de vigilância epidemiológica dos municípios, visando assim minimizar possíveis falhas.

CONCLUSÃO

É importante conhecer a epidemiologia regional dos acidentes ofídicos, onde com os sistemas de saúde que contamos, possam ter uma avaliação dos dados e contarmos com estratégias para prevenir o ofidísmo e diminuir suas complicações nos casos ocorridos. A literatura faz importante referencias aos fatores de agravo nos ofidísmos, relacionando assim a serpente, a vítima e o serviço médico.
A população precisa estar bem esclarecida quanto aos animais peçonhentos que são encontrados na fauna do município de Rio Verde ? GO.
A inclusão dos acidentes ofídicos representaria um avanço na saúde pública, já que foi observado em outras literaturas como um dos problemas dentre tantos outros de saúde pública e principalmente em nosso município, devido à quantidade de acidentes notificados todos os anos.


AGRADECIMENTOS


O autor agradece ao Drº. Paulo Faria do Vale, Secretário Municipal de Saúde do município de Rio Verde ? GO, por ter disponibilizado a consulta às fichas de notificação compulsória dos atendimentos por ofidísmo e pela paciência dos agentes de saúde na Vigilância Epidemiológica.


REFERENCIAS


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WHO. World Health Organization. 2010. Disponível em http://www.who.int. Acesso em 05 de dezembro de 2010.












Autor: Antonio Carlos Pereira De Menezes Filho


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