PÉROLAS DA HISTÓRIA




PÉROLAS DA HISTÓRIA

Entre os anos de 1580 e 1640 Brasil, Portugal e suas demais colônias estiveram sob o domínio espanhol. Neste período, surgiram no Brasil muitas vilas, construídas mediante concepções que seguiam o estilo urbanístico determinado pelo rei de Espanha. Era tudo muito simples. As "cidades" deviam ser erguidas junto a um rio, sempre do lado que o Sol bate logo ao nascer para influenciar beneficamente a saúde dos seus habitantes. Construía-se uma praça circular onde ficaria a igreja; em volta as lojas de comércio e nas quatro direções saíam ruas formando os quarteirões residenciais.
Naquele tempo os fiéis católicos eram chamados de fregueses. Como os comerciantes iam à missa matinal todos os dias, ficavam na porta para serem os primeiros a sair e assim poderem ir correndo abrir suas lojas para atender aos fregueses. Com o tempo a palavra passou a ser usada apenas no comércio.
Quantas lembranças ficaram registradas dos hábitos e costumes citadinos! Em Minas surgiram as expressões "gente de cima" e "gente de baixo", referências mordazes aos ricos que habitavam os altos dos morros e aos pobres que se esparramavam pelas baixadas.
No Rio de Janeiro dizia-se com orgulho "ser carioca da gema", numa alusão aos primeiros habitantes, que residiam bem no centro.
Na Bahia grafou-se a expressão "pedreiro de meia pataca", pois, para reconstruir Lisboa após o terremoto de l755, o Governo português emitiu Letras do Tesouro que foram vendidas também em Salvador; e todos compravam as tais letras para resgate futuro. Os bons profissionais como sapateiros, carpinteiros e barbeiros, compravam valores mais altos, pois tinham melhores rendimentos. Os mais pobres, conhecidos pela pouca habilidade em suas funções e, entre estes, muitos pedreiros, compraram apenas meia pataca cada um, daí o deboche. (A pataca era uma moeda de prata com o valor de 320 réis).
Os habitantes de Recife explicavam com orgulho o local exato onde a cidade estava situada: "ali onde os rios Capibaribe e Beberibe se juntam para formar o Oceano Atlântico". E seria constrangedor perguntar a uma pessoa se ela era de Campinas: se fosse, você ficaria humilhado; se não fosse, a humilhação seria dela. E quando Antonio Carlos Gomes, o Tonico, cortou os cabelos, alguém aproveitou e, na farmácia, onde havia uma propaganda de "Tônico para os cabelos" a frase apareceu mudada para "Tonico apara os cabelos".
No Brasil inteiro, particularmente em Minas, a contribuição popular, sempre abundante e espontânea enriqueceu a nossa cultura.
Há os provérbios como: Quando Deus tira os dentes, alarga a goela; quem conversa muito dá bom-dia a cavalo.
Nas expressões populares: Roer a corda (Negar trato) e Maria-vai-com-as-outras (pessoa sem opinião própria).
Ou nas brincadeiras: "Em João Baptista o p não soa, mas em Epitácio Pessoa"; "toco piano de ouvido e meu irmão piano de cauda".
Inteligentes e variadas eram as brincadeiras das crianças, os trava-línguas, as estórias para fazer criança dormir, as lendas folclóricas, assombrações, rezas para defuntos, penitências para chover... Tudo com o toque característico da alma mineira, sempre mergulhada nas etéreas plagas do insondável Absoluto, de onde a Natureza irradiou sua terna e inefável exuberância e Minas despertou como uma criança que, ao acordar, senta-se no berço e esfrega o nariz com os punhos fechados para espantar um restinho de sonolência. Foi então que Fernão Dias e sua bandeira cruzaram estas montanhas, abrindo caminhos, mapeando os sertões...

João Cândido da Silva Neto

Autor: João Cândido Da Silva Neto


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