ENFERMEIRO E SUA EQUIPE LIGADA POR SUA RELAÇÃO COM O ESTRESSE



INTRODUÇÃO
O estresse afeta um número crescente de indivíduos em todo o mundo. Trata-se de uma síndrome que tem como causa diversos fatores, que podem estar associados à vida moderna, ao sedentarismo, a sobrecarga de trabalho e ao estilo de vida (CORREA et al, 2002). Conforme o Ministério da Saúde (2001) o estresse também pode estar relacionado a fatores predisponentes tais como: traços de personalidade, áreas de trabalho que envolva responsabilidade com vidas humanas ou até mesmo com risco de acidentes. Correa et al (2002) e Paschoal et al (2005) relatam que o diagnóstico e tratamento do estresse são difíceis, mas são apresentadas diferentes formas de prevenção, cujo embasamento é feito através da intervenção direta no agente estressor. Os agentes estressores são considerados os desencadeadores de um conjunto de reações físicas e psicológicas atribuídas ao estresse. São vários os agentes estressores, sendo dividido em estressores organizacionais, de natureza física e em estressores psicossociais. Também são destacados os estressores referentes ao relacionamento interpessoal que ocorre quando as interações entre pessoas resultam em conflito e se tornam uma fonte de estresse (CHISTOPHORO et al, 2002). A presença constante de agentes estressores no cotidiano de vida do ser humano resulta inicialmente em aumento da atenção, inquietação, distúrbios do sono e, conseqüentemente, ao cansaço, a fadiga, insônia, perda do apetite e depressão, podendo ainda apresentar como fator complicador o uso abusivo de álcool e outras drogas conforme relato de Joca, (2003). Caso o agente estressor persista por mais tempo, o quadro evolui para o esgotamento das energias do indivíduo, tornando-o propenso a adoecer (CHISTOPHORO et al, 2002 e BUCÁSIO et al, 2005). Segundo Carlotto (2006) nos últimos anos os estudiosos do assunto têm demonstrado que o estresse e seus efeitos acarretam danos tanto ao organismo e a mente humana quanto à qualidade e a longevidade da vida. Os profissionais da saúde enfrentam níveis elevados de estresse ocupacional, que não se encontram em muitas outras profissões, uma vez que lidam freqüentemente com situações de sofrimento e de morte. A alteração ou estímulos que gera esse estado é o estressor, definido como um evento ou situação interna ou externa que cria o potencial para alterações fisiológicas, emocionais, cognitivas ou comportamentais. No entanto, tendo em conta as condições do trabalho e o bem estar do profissional, torna-se necessário identificar elementos do contexto em cuja presença pode-se desenvolver experiência de estresse e vivenciar as conseqüências. As situações indutoras de estresse no trabalho dos profissionais de saúde, embora sejam, por muitos, reconhecidas, têm sido pouco descuradas nos estudos de investigação realizados. Berlim et al, (2003) expõe o desgaste físico e emocional ao qual estão expostos e submetidos nas relações com ambientes de trabalho sendo como um fator muito significativo na determinação de transtornos de saúde relacionados ao estresse, como é o caso das depressões, ansiedades, transtorno do pânico, fobias e doenças psicogênicas. Geralmente, em ambientes de trabalho os estímulos estressantes são muito variados e em grande quantidade. Muitos fatores emocionais relacionados ao próprio emprego na atualidade contribuem para que o profissional mantenha-se excessivamente estressado: instabilidade no emprego, a sensação de insuficiência profissional, a pressão para a comprovação da eficiência, a impressão continuada de estar cometendo erros profissionais, entre outros. O estresse provoca um desequilíbrio entre o corpo e a mente, afetando os mecanismos de defesa. Os sintomas manifestam-se com a combinação de vários fatores dependendo de pessoa para pessoa, podendo originar reações excessivas como: perda de peso, padrão do sono irregular, problemas de má respiração, erupções de pele, alterações do padrão digestivo, perturbações menstruais, impotência, desinteresse pela atividade sexual, angústia mental causando depressão e extroversão. Passam a negligenciar a família, não rendem o trabalho ou tem oscilações de humor e comportamento. Coleman (1992) afirma que o estresse é um mal que atinge a população em geral sendo altamente incapacitante e interferindo de modo decisivo e intenso na vida pessoal, social, econômica e profissional do individuo, prejudicando a produtividade e qualidade do serviço. Sendo também uma das maiores causas de afastamento do trabalho, acarretando às empresas e serviços públicos altos custos.
Não apenas o excesso de estímulos como também a sua falta, pode resultar em estresse negativo. Como exemplo, a incidência de ataques cardíacos e depressão, são significativamente maiores nos dois primeiros anos após a aposentadoria. Provavelmente a condição associada seja o tédio, a sensação de inutilidade e/ou solidão, por tanto falta ou escassez de solicitações também proporciona situações negativamente estressoras. A chamada SINDROME DE BURNOUT é uma das conseqüências mais marcantes de um estresse profissional. Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante como o trabalho. Os sintomas básicos dessa síndrome são inicialmente, uma exaustão emocional, onde a pessoa sente que não pode dar mais nada de si. Em seguida vem a despersonalização, onde o individuo desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas, como exemplo, certo cinismo na relação com as pessoas do seu trabalho e a aparente insensibilidade afetiva. O trabalhador manifesta também, sentimentos de falta de realização pessoal no trabalho, afetando drasticamente a eficiência e a habilidade para realização de tarefas e adequar-se a organização. A cura do estresse só começa quando se reconhece que as pessoas na vida individual atingiram um ponto tal que estão causando problemas. Por isso é extremamente importante identificar a fonte dessas depressões e compreender a diferença entre estresse construtivo e estresse destrutivo. França & Rodrigues (1999 p.124), oferecem uma lista de intervenções que podem ser implementadas com o objetivo de gerenciar os níveis de estresse pessoal e profissional, são elas: técnica de relaxamento, alimentação balanceada, exercício físico regular, repouso, laser e diversão, sono apropriados as necessidades individuais, administração do tempo livre para atividades ativas e prazerosas, administração de conflitos entre pares e grupos, educação para a saúde e equacionalização do planejamento econômico social e de saúde. Com este objetiva-se resgatar através de verificação bibliográfica os diversos causadores de estresse e a junção deste com a equipe de enfermagem e enfermeiros de diversas unidades.
REVISÃO DA LITERATURA
A organização hospitalar é um sistema composto por atividades humanas às mais diversas níveis, constituindo um conjunto complexo e multidimensional de personalidades, pequenos grupos, normas, valores e comportamentos, ou seja, um sistema de atividades conscientes e coordenadas de um grupo de pessoas para atingir objetivos comuns. (CHIAVENATO,1995).
Verifica-se, assim, que as organizações hospitalares são sistemas complexos compostos por diversos departamentos e profissões, tornando-as, sobretudo uma organização de pessoas confrontadas com situações emocionalmente intensas, tais como vida, doença e morte, as quais causam ansiedade e tensão física e mental. Com efeito, nos últimos anos, muito se tem falado de "humanização hospitalar", verificando-se que os estudos desenvolvidos sobre esta temática têm como objetivo primordial a qualidade de serviços prestados a quem procura e necessita de cuidados hospitalares, ou seja, os seus utentes. As condições de trabalho, a motivação e, em conseqüência o bem-estar dos profissionais de saúde tem sido relegado para segundo plano, ou mesmo completamente descurado. Sendo assim, o ser, o saber ser, o saber estar e, sobretudo o bem-estar do técnico de saúde, e neste caso específico o dos enfermeiros, são aspectos que não parecem ser fonte de preocupação para os investigadores e mesmo para o sistema político.
O CONCEITO DE ENFERMAGEM
A enfermagem, numa perspectiva recente, tem sido alvo de várias tentativas de definição, com o objetivo de poder articular, de forma clara, os papéis e funções do profissional de enfermagem. Apesar da evolução das definições de Enfermagem, não existe, no entanto, uma só definição universalmente aceite. Segundo Henderson (1966), que descreve a função da enfermagem como:
... "ajudar o indivíduo, saudável ou doente, na execução das actividades que contribuem para conservar a sua saúde ou a sua recuperação, de tal maneira, devendo desempenhar esta função no sentido de tornar o indivíduo o mais independente possível, ou seja, a alcançar a sua anterior independência".
Ainda segundo este autor, a enfermagem inclui as funções de cuidar na saúde e na doença, na sua máxima extensão, desde a concepção até a morte. Este modelo contempla, assim, a importância dos fatores psicossomáticos e psicossociais da vida, que afetam a saúde e a doença. Neste sentido, o objetivo da enfermagem será, pois, a promoção, conservação e restabelecimento da saúde, dando especial atenção aos fatores biológicos, psicológicos e sócio-culturais, e com absoluto respeito pelas necessidades e direitos da pessoa a quem se presta esse tipo de serviço (BRUNNER, 1983).
Salienta-se ainda que, ser Profissional de Enfermagem implica, além do conhecimento de uma série de técnicas e habilidades, a apreensão das necessidades psicológicas da pessoa saudável ou doente. Para tal, o enfermeiro deve possuir uma elevada capacidade empática, no sentido de saber colocar-se no lugar do outro, estando, ao mesmo tempo, consciente de que a utilização de estratégias psicológicas, no ambiente hospitalar, resultam não só em benefício para a pessoa doente, mas também para si próprio (ZURRIAGA et al.,1995)
FATORES RELACIONADOS AO ESTRESSE
A realidade do trabalho do enfermeiro é bem diferente da dos restantes técnicos de saúde. O enfermeiro é um profissional de saúde que presta cuidados globais a um doente. Para além dos cuidados de higiene, de alimentação e outros, o enfermeiro dá apoio psicológico ao doente e família, administra medicação e monitoriza todos os sinais e sintomas inerentes à situação do doente, tendo ainda que ter em conta as suas carências sociais.
No desenvolvimento das suas atividades verificam-se, assim, uma polivalência que, no entanto, não é acompanhada de uma autonomia e diferenciação de funções bem definidas, o que leva a conflitos e ambigüidade de papel. Por outro lado, o trabalho de enfermagem é extremamente desgastante, não só pelos aspectos apontados, mas também devido às exigências relativas a pratica de horários rígidos e ao trabalho por turnos. Desta forma, torna-se fácil compreender a problemática da profissão de enfermagem, da qual se diz ser de uma submissão consentida, que se vê confrontada com situações difíceis e perante as quais não pode deter-se a pensar em relações de poder, de autonomia e de status, devendo, antes, agir. Por isso, o trabalho dos enfermeiros, em ambiente hospitalar, é um tipo de trabalho desenvolvido em circunstâncias altamente estressantes, as quais podem levar a problemas como: Desmotivação; Insatisfação profissional; Absentismo; Rotação e tendência a abandonar a profissão. Por motivo este leva a relação estresse de toda a equipe de enfermagem, mostrando um desgaste na produção profissional.
Segundo Mcintyre (1994), uma percentagem considerável dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) evidencia reações adversas ao stress, que afetam o seu bem-estar pessoal, a sua saúde mental e a sua capacidade de prestar cuidados adequados. Os estudos realizados nesses técnicos de saúde têm incidido sobre os sintomas subjetivos de stress, de ordem psicológica ou psicossomática. Os primeiros incluem ansiedade, nervosismo, tensão, depressão e tendência para o suicídio; os segundos incluem dores abdominais, dores no peito, alterações dos batimentos cardíacos, náuseas, dores de cabeça e fadiga crônica (Burnout). A síndrome de Burnout inclui elementos objetivos e subjetivos, psicológicos e psicossomáticos, como depressão, queixas físicas, absentismo e tendência para o isolamento (GREENBERG, 1987).
Kandolin (1993), num estudo realizado em profissionais de saúde que praticam trabalho por turnos, encontrou três aspectos de Burnout: Fadiga psicológica, Perda de satisfação no trabalho e endurecimento de atitudes. Segundo este autor, o stress do trabalho faz-se também sentir na esfera familiar e social, nas relações de amizade e de lazer. Os técnicos de saúde encontram-se, por isso, na posição insustentável de ter exigências emocionais elevadas no seu trabalho, na privação emocional e social fora da sua ocupação. Por outro lado, a exigência social de que o médico ou enfermeiro seja sempre médico ou enfermeiro fora da instituição hospitalar, contribui para esse isolamento emocional e para a fadiga ocupacional (MCINTYRE,1994). Com efeito, como já aqui referimos, ao nível do doente, a chamada humanização dos cuidados de saúde tem motivado uma atenção especial às dimensões sociais e humanas da doença e do doente. Porém, esta humanização não se tem estendido à pessoa dos profissionais de saúde, cuja saúde é presumida e não promovida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o estudo levantado, diversos fatores estão relacionados com o aparecimento do estresse em enfermeiros e sua equipe. Fatores desenvolvidos dentro da empresa podem contribuir para a diminuição deste fator entre os trabalhadores da área de saúde, tendo em vista o remanejamento de setores, melhoria das condições ambientais e físicas dos setores, introdução de dinâmicas e relaxamentos por profissionais habilitados, bem como demais anexos ao processo de trabalho para ajuda psicológica e mental do trabalhador. Visto que o estresse emocional externo também é considerado um colaborador para o desenvolvimento de síndromes relacionadas ao local de trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Autor: Francislaine Almeida


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