Minha auto-biografia





O meu nome é Ana Maria de Souza Silva. Eu nasci a 14 de Maio de 1967 na Maternidade Tsylla Balbino,em Salvador.Meus pais são de Maragojipe, é um município do estado da Bahia localizada a cerca de 133 km de Salvador. Meu pai era um filho inocógnito( é quando a mãe não sabe quem é o pai de seu filho ou quando ela
quer esconder a identidade do verdadeiro pai),sem profissão e sem estudos,eu cresci ouvindo que meu pai era um menino de rua,na verdade,eu nunca quis saber se era verdade,o que sei é que nos documentos dele consta somente o nome de minha avó e pai ignorado.Já a minha mãe teve pai e mãe reconhecidos nos seus documen- tos,mas a minha avó materna faleceu deixando minha mãe,filha única do casal,aos 9 anos,meu avô casou novamente,e a madrasta da minha mãe não era boa ,minha mãe foi morar com amigas aos 18 anos,pois era não queria ser a empregada da madrasta e nem babá dos filhos,que meu avô acabou tendo com a sua nova esposa,nesse meio tempo conheceu meu pai com quem namorou,foram morar juntos,tiveram 7 filhos antes de mim,e depois de mim,tiveram mais dois filhos,totalizando assim nove filhos "uma escadinha"de seis meninas,e três meninos.pois a diferença de idade de um para o outro é de um ano.Quando estava grávida de mim que meus pais casaram,minha mãe diz que a partir daí que a vida dela "desandou".Depois de casados,se separaram antes de um ano,e aí começou todo o nosso sofrimento.Eles separavam e voltavam,ficavam nesse vai e volta.Completei cinco anos e meu pai já não vinha mais aqui no barraco que morávamos,em palafitas,balançava no menor movimento,eu tinha pavor,quando chovia era pior ainda,no inverno era horrível,parecia um balanço,molhava tudo,as madeiras estalavam, não tinhámos camas,cobertas,dormiamos no papalão,no inverno não dormíamos,minha mãe tinha medo da "casa" cair,e não desse tempo da gente sair,ficávamos todos acordados,víamos o dia amanhecer,então pegávamos a canoa do vizinho emprestada,já que estava chovendo o vizinho não iria usar,então ele emprestava para minha mãe,e íamos mariscar,pois não tinhámos nada,e era da maré que tirávamos o nosso sustento,e mais alguma coisas que encontrávamos boiando,tipos: frutas,que lavavamos e consumiamos e partes de brinquedos,que íamos juntando até completar um brinquedo inteiro,isso demorava,quando conseguiamos completar uma boneca,vinha o dilema eu minhas cinco irmãs queriam dormir com a boneca,porque brincar não tinhámos tempo,então minha mãe determinou ,que seria uma noite de cada uma de nós,começando pela a mais nova até chegar na minha mais velha,quando conseguia montar um brinquedo de menino,o procedimento era o mesmo.Chegávamos em casa,íamos pedir água para os vizinhos,pois não tinhámos água encanada e nem vasilhame para armazenar água,ás vezes os vizinhos não davam,então íamos tomar banho no chafariz,que era um pouco distante de casa,tomávamos banho com roupas e trazíamos água para lavar os mariscos e as coisas que catávamos na maré.Cozinhar os mariscos,era outra maratona que enfrentavamos,o fogão a lenha foi minha mãe que fez,com uma lata de gás,procuravamos madeiras na rua que servia de lenha,e ainda teríamos de abanar para o fogo "pegar".Ferventavamos os mariscos,tiravámos das conchas, tentávamos vender a metade para comprar farinha,café e açúcar,pois minha mãe não conseguia e não consegue até hoje ficar sem o café,e farinha era para colocar no caldo dos mariscos ferventados para comermos,isso foi nossa refeição por muitos anos.As vezes nem esse mariscos não tinhamos,pois o vizinho precisava da canoa.Um dia minha mãe teve a idéia de emprestar uma das seis filhas para fazer uma faxina,em troca de uma imagem de Santo emprestada,que ela usava para pedir esmolas dizendo que era para o Santo,mas era para nós,pois não tinhamos o que comer, um dia minha mãe veio para casa sem nada,entregou a imagem de santo e pegou minha irmã,então vizinha que já estava acostumada com a faxina que minha irmã fazia na casa dela em troca da imagem do santo emprestada,pediu a minha mãe que minha irmã continuasse fazendo a faxina em troca de um prato de comida,minha mãe aceitou na hora,minha irmã também gostou,porque ela tinha agora cama e coberta para dormir,casa que não balançava,refeições todos o dias e ainda minha mãe ia ganhar um prato de comida,que era dividido com os oito filhos e minha mãe.,e assim os outros vizinhos também fizeram esse acordo com minha mãe e mais três irmãs foram fazer faxina para ganhar um prato de comida.Um dia esses vizinhos disseram para minha mãe que não podia mais dar um prato de comida pra ela,pois já sustentavam minhas irmãs.Minha mãe foi ajudar a matar galinhas numa granja em trocas das "tripas",que nos alimentou por muito tempo,minha mãe limpava e fritava.Mas até isso,nos foi tirados,pois os donos das granjas,começou a vender as tripas para os pescadores fazerem iscas.Minha mãe então esperava anoitecer e levava meu irmão mais velho para ajudar ela pescar peixes no Dique do Tororó,esses peixes nos alimentou também por muito meses,até que colocaram os guardas municipais,e minha mãe não pode mais pescar os acará.Então minha mãe passou a entregar as roupas limpas e passadas que a vizinha lavava em trocas de pães "dormidos".Nesse meio tempo,meu irmão mais velho foi convidado por um sorveteiro para vender picolé,em trocas de algumas moedas e dos caroços das jacas,Esses caroços minha mãe cozinhava para nos alimentar.
Completei seis anos,minha mãe pediu ao sorveteiro para vender picolé,minha mãe era quem mais vendia picolés,logo ela comprou a caixa e não precisava mais alugar a do sorveteiro e nem comprar os picolés fiados,e nunca mais passamos fome,minha mãe chegava em casa tão cansada,mas com a venda desses picolés,ela pode nos dar cobertas,pois dormíamos no papelão,ajudar a vizinha a pagar a água,que nos fornecia,comprou pratos e copos plástico,pois usavamos latas de goiabada encontradas no lixo e copos eram as latas de extrato de tomates encontradas no lixo,comprou carvão e um fogareiro,também um candeeiro e querosene,pois viviamos sem luz,comprou um purrão de barro,também conhecida como talha de água ,para armazenar água para beber e cozinhar,isso a cada mês.Nesse mesmo ano uma vizinha me matriculou na mesma escola que sua filha estudava,fui alfabetizada no método casinha feliz,pela professora Margarida,uma senhora muito bondosa,os cabelos brancos, a voz fraquinha e muito inteligente,Aos sete anos,fiz o primeiro ano fraco,mas logo fui transferida para o primeiro ano forte.Não tive infância,pois aos seis anos,eu já tinha a responsabilidades de tomar conta da minha irmã com três anos e do meu irmão com um ano,minha mãe deixava-os com a vizinha até eu chegar da escola.Não tive brinquedos,não tinha tempo para participar das brincadeiras de rodas,tinha que dormir cedo,pois o dia começava cedo para mim, mesmo que eu tivesse tempo,as meninas não me queriam por perto,pois eu era taxada de "pobre miserável","passafome","feridenta"(eu tinha feridas no corpo todo),"marisqueira","acará", "enxofre",porque tomavamos banho e bebiamos água com enxofre,para sarar as feridas que tinhamos por todo o corpo, eram tantos apelidos que me magoava e eu chorava muito.Na escola,não podia brincar pois lá não era" lugar de brincar e sim de estudar",esse era o lema da escola,a hora do lanche era sentado na cadeira,eu não tinha lanche,então a professora mandava eu baixar a cabeça e fechar os olhos.Nos meus onze anos,a mulher do sorveteiro onde minha mãe comprava os picolés,chamou minha mãe para ajudar a fazer comidas pois ela fornecia marmitas,desse dia em diante nossa vida mudou para melhor,a minha mãe levou todas nós para ajudar,lá finalmente seríamos remuneradas.Eu catava feijão,arroz ,limpava as panelas,passava óleo de peroba nos móveis da casa,esse era o meu primeiro trabalho e remunerado,e as nossas refeições não era cobradas,e ainda trazíamos o que sobrava.
Começamos a arrumar o nosso barraco,reforçamos com madeiras novas e fortes,fizemos a divisória de:quartos,sala,cozinha e banheiro.Compramos nossas camas,mesa com cadeiras,fogão,geladeira,rádio e até televisão,eram usados,mas conservados.E a mesma vizinha que nos fornecia água,passou a nos fornecer energia elétrica e ajudávamos no pagamento todos os meses.
Meu pai volta para casa nesse mesmo ano,volta com doenças venéreas e diabetes.Precisei sair do trabalho para cuidar dele,por pedido da minha mãe,pois meus irmãos não aceitavam a volta dele.Meu pai ficava mais tempo internado do que em casa ,e só eu e minha mãe lhe visitava,meus irmãos estavam muito magoados com meu pai ,após quatro anos da sua volta meu pai faleceu.Minha mãe,com 48 anos, quase enlouqueceu,pintou todas as roupas dela de preto.Dos nove filhos,eu fui a única que não desistiu de estudar,apesar das dificuldades,terminei o segundo grau aos dezenove anos,pois perdi um ano na sexta série.Meus irmãos desistiram de estudar,dois retomaram depois que passaram as dificuldades e conseguiram terminar o segundo grau os outros desistiram mesmo.Não tenho nada que comprove o que escrevi não sejam fatos verídicos,só lembranças muito triste de crianças sem infância:vividas por mim e meus irmãos.



26.Fevereiro.2011











Autor: Ana Silva


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