A PALESTINA NO 1º SÉCULO EC



A PALESTINA do início do 1º século da Era Cristã, região do Oriente Médio, formada por um estreito corredor separando a Mesopotâmia (Ásia) do Egito (África), localizada entre entorno do rio Jordão (desemboca no Mar Morto) e o mar Mediterrâneo. De área pouco extensa (34.000 km²), politicamente muito instável, constituída de pequenos territórios: Ituréia ao norte; Judéia, Samaria e Galiléia à oeste; Traconitide, Gualanitide, Bataneia, Auranitide, Decápole, Peréia à leste; e Iduméia ao sul. Com população de aproximadamente 650.000 habitantes, a grande parte pobre e sofredora, condenados a má alimentação, moradias precárias, condições sanitárias inadequadas e assistência médica inexistente. A taxa de mortalidade infantil era imensa, desnutrição e doenças infecciosas eram altamente difundidas, a expectativa de vida da população era curta, cerca de 30 anos (levando-se em consideração indivíduos nascidos em Roma, estudiosos verificaram que, dos recém-nascidos que conseguia ultrapassar o primeiro ano de vida 1/3 morriam até os 6 anos, dos sobreviventes só restava 40% aos 16. Assim, aos 26 anos [da população pesquisada] restava 25%, aos 46 anos apenas 10%, e aos 60 anos havia menos de 3%).
Naquela época era consentido às Nações dominadas por Roma manter governo próprio (reinos clientes) com todos os poderes militares, civis e judiciários, seguindo seus costumes, tradição e religiões (Roma raramente intercedia), porém, submetidas à sua aprovação e, pagavam impostos ao poderoso Império dominador. No caso de consideradas Províncias romanas tais nações eram governadas diretamente por Roma, assim, administradas por governadores ou funcionários nomeados diretamente pelo Imperador. Nesse caso, os tributos taxados por Roma consistiam num Imposto Pessoal sobre as terras, uma Contribuição Anual para garantir os sustentos de seus soldados na região, e um Imposto de Compra e Venda abrangente a todos os produtos. Os Publicanos, nem tanto queridos pela população, eram profissionais gabaritados, no caso, romanos ou palestinos, funcionários responsáveis pela coleta dos impostos. O sistema fiscal brutal e impiedoso afligia a todos, principalmente os mais pobres.
O Rei Herodes Magno (ou o Grande), governou de 37aEC a 4aEC toda a Região Palestina; após sua morte, herdada por três dos seus filhos, sob aprovação de Roma, Herodes Arquelau ficou com a Judéia, Samaria e Iduméia, governando de 4aEC a 6EC, quando foi destituído; Herodes Antipas governou de 4aEC a 39EC a Galiléia e a Peréia; a Filipe coube a Traconitide, Gualanitide, Bataneia, Auranitide e Ituréia que governou de 4aEC a 34EC.
Péssimo governante, Arquelau foi deposto e exilado, passando o seu território a ser administrado diretamente por Roma de 6 a 41EC, através de seus Procuradores (embora, detivessem todos os poderes militares, civis e judiciários eram subordinados ao governo da Síria). De 41 a 44EC o neto de Herodes, Agripa I, reina em todo território palestino; em seguida retornando à administração dos Procuradores romanos.
-Concentraremos apenas na principal área de efetiva prática do judaísmo, "a terra prometida dos antepassados hebreus," Três territórios do oeste palestino, de extrema importância histórico-religiosa, governados pela Dinastia Herodiana: ? GALILÉIA (a norte) constituída por colinas cobertas de vegetação; ? SAMARIA (central) entrecortada por muitos vales, menos fértil do que a Galiléia; ? e JUDÉIA (ao sul) árida e montanhosa. Área de litoral com a maior parte banhada pelo mar Mediterrâneo apresentando grande facilidade de comunicação, transporte de pessoal e material, daí ser considerada local de excelente posição estratégica, seus portos e vias urbanas bastantes movimentados, propiciavam o estabelecimento de centros comerciais e culturais. Algumas cidades sofriam predominantemente a influência da cultura grega, outras da Síria. A Judéia abrigava "a cidade santa," metrópole regional, "a Capital Jerusalém," à cerca de 70km do Mar Mediterrâneo, cercada por muralhas, habitada por mais ou menos 100.000 pessoas; o Palácio do rei localizava-se no extremo ocidental.
Os JUDEUS, uma comunidade religiosa reunida em torno do famoso Templo de Jerusalém, "o povo eleito de JAVÉ," deus único, criador do universo, justo, pune o pecado, jamais retrocede a palavra, e acima de tudo ama o seu povo. O vocábulo "Judeu" (de Judá, filho de Israel, o mais proeminente das doze tribos), não se trata de um adjetivo apenas empregado para os nascidos na Judéia, e sim um cognato como "Israelita," utilizados para designarem todos os "descendentes de Hebreus." Comunidade agitada essencialmente composta de quatro camadas sociais: ? "camada social alta," ? (ricos) grandes proprietários de terras, elite dos comerciantes e, poderosos do alto clero; ? "camada social média" ? sacerdotes, médios ou pequenos proprietários de terras e comerciantes; ? "camada social pobres" ? trabalhadores como pescadores, artesãos, pedreiros, carpinteiros, padeiros, barbeiros, camponeses, vendedores e etc.; e os ? "socialmente Excluídos" ? miseráveis, mendigos e escravos. Considerava-se ainda, independentemente da pobreza ou riqueza, fatores sociais de status, função religiosa, etnia, sexo, e etc.. Viviam sob padrões éticos e morais bastante rígidos; aceitavam a poligamia; as mulheres ocupavam um "2° plano" (quase sem direitos), detinham a virgindade como reafirmação de ideal da pureza feminina, exclusivamente preparadas para o casamento, tinha como função primordial cuidar da criação dos filhos; evitavam o enlace sexual entre os mais jovens (embora, reconhecessem a maturidade legal nos meninos aos 13 anos, e nas meninas aos 12); e condenavam veementemente a prática homossexual. O analfabetismo era regra e não exceção; atribuído, principalmente, as constantes dominações estrangeiras, a língua original foi sendo substituída ("o hebraico" só era falado pelos mais cultos como Sacerdotes, Escribas ou Rabis), falavam comumente o aramaico, língua nativa corrente da Palestina Antiga, de origem semita, mas, natural dos arameus.
Religião judaica ou JUDAÍSMO, principal característica o monoteísmo, a crença num deus absolutamente único, o criador do universo ("oriunda da antiga religião hebraica, fundada pelo Patriarca Moisés ao receber no Monte Sinai ?Os Dez Mandamentos,? após consagração da ?Aliança? com ?Javé.? Assim, instituindo o 1º conjunto de leis com a finalidade de regular o comportamento do seu povo"), organizado em SEITAS que funcionavam mais ou menos como partidos políticos; embora marcadas por convicções divergentes, causa de muitas discordâncias, no entanto, mantinham vivo o "espírito nacionalista judaico," através da manutenção de aspectos religiosos comuns, conservando os antigos preceitos de adoração contidos na TORÁ, os mais abrangentes, e ainda, as práticas de obediência a rígidos códigos morais, de higiene, de hábitos alimentares e de outros ritos da tradição judaica, por exemplo, preservavam a prática da circuncisão; a guarda do sábado (dia sagrado de descanso); a prática de oração pela manhã, a tarde e ao anoitecer; não se alimentar com a carne de porco, peixe só com escamas e nadadeiras; de qualquer outro animal para alimentação, retirar todo sangue; prática do estudo da próprio Torá (conjunto das Leis mosaica, conhecido como "Pentateuco," os cinco livros da 1ª parte da bíblia judaica); e etc..
O TEMPLO DE JERUSALÉM, a mais importante instituição fundamental do judaísmo, principal local do culto religioso, onde, até mesmo os judeus que viviam espalhados fora da Palestina, se reuniam por ocasião das celebrações das grandes festas anuais; ré-erguido a 5 séculos aEC, majestosamente reconstruído por Herodes Magno, pois, até o ano 16aEC encontrava-se bastante deteriorado, boa parte destruída pelo tempo, pode-se dizer em ruínas. O Templo não só constituía Centro Religioso, mas também, Político, Econômico e Judiciário, local onde eram geridas todas as questões internas do povo judeu, tinha como autoridade suprema "o Sumo-sacerdote" (Seita dos Saduceus) sua influência estendia-se sobre todo território palestino, presidente do "Sinédrio," uma espécie de Tribunal, constituído pelas figuras mais proeminentes da sociedade, reunia-se no Templo. Era consentido ao Sinédrio poder para julgar e condenar suspeitos de crimes religiosos, no entanto, não lhe cabia a execução de "sentenças capitais," tais sentenças eram de competência exclusiva do agente do poder governamental vigente local. "Os Sacerdotes do Templo" eram homens preparados, considerados "ungidos e sem pecados," oficialmente cabiam-lhes determinar a condição de quem estava puro ou impuro, isto é, mais próximo ou mais distante de Deus, o que certamente concorreria ao alcance da cura dos necessitados. Os três principais eventos celebrados anualmente, em torno do Templo, que mais movimentava Jerusalém, ficaram conhecidos como festas de peregrinação: - "A festa da Páscoa" - comemorava a libertação da escravidão no Egito; - "A festa Pentecostes" - celebrada 50 dias após a Páscoa, simbolizava a renovação da "Aliança" feita no Monte Sinai entre o povo e Javé; - "A festa das Tendas" - cada família construía uma cabana de folhagens, na qual se abrigava durante a semana, relembrando como fizeram os antepassados após a fuga do Egito. O Templo de Jerusalém foi brutalmente destruído pelo fogo na Guerra Judaica (66-70EC), após a tomada da Cidade de Jerusalém pelo general romano Titi.
Outra importante instituição fundamental do judaísmo, as SINAGOGAS (espécies de Igrejas), Centros Religiosos espalhados pela Palestina, funcionavam como núcleos de educação e formação cultural do povo judeu. Criadas e controladas pelos "mestres Escribas" (profissionais especializados na interpretação das Escrituras, os Doutores da Lei, advogados, professores e juristas [aos poucos substituídos pelos "professores Rabis"]) da Seita dos Fariseus, principais opositores dos Saduceus.
Com a destruição do Templo no fim da Guerra Judaica em 70EC, os Sacerdotes se espalharam, perderam suas funções, extinguindo-se, e junto com eles a Seita dos Saduceus, assim como outras tantas, a exceção dos FARISEUS e suas sinagogas, permaneceram ativos, difundindo o messianismo pelo Oriente Médio, fizeram oposição aos Cristãos romanos no 2º século EC, e são os precursores do Judaísmo atual.
Por Marbrasil

Autor: Marcos Brasiliano


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