Juventude Perdida




O que a juventude tem que a meia-idade não tem? Pelo jeito... tudo. Não nos enganemos, é muito bom ser jovem. Mas também é tolice acreditar que é algo que pode ser eterno, ou que se compra ali na esquina.
Entre nascer e morrer existe um espaço que precisa ser preenchido. De preferência com vida, e bem vivida. As fases são bem distintas e não por acaso estão atreladas a tal da faixa etária. Como todas as histórias, a nossa vida também tem um começo, um meio e um fim. Acho que é isto que está assustando a mulherada e promovendo um desatino coletivo.
A impressão que se tem é que não há mais controle. As mulheres não admitem a passagem do tempo e as marcas produzidas por ele. Como se coubesse a elas a tarefa de parar o tempo, ao menos na aparência.
Pronto. Esta disseminado o terror da passagem do tempo e das marcas produzidas por ele. Da possibilidade de aparentar a própria idade, e o que vemos é o extremo: - mães com a pretensão de serem mais novas que as filhas. São mulheres reféns da juventude. Dispostas a tudo, literalmente, pra manter, a aparência ? de jovem.
No começo, era apenas malhação, muita malhação, a justificativa era a manutenção da saúde. Tudo bem, afinal quem não quer uma vida saudável? Mas elas descobriram que a manutenção do corpo "malhado" ia criando um descompasso em relação aos lugares onde a pele não poderia mudar com apenas músculos ? o rosto. Daí pra mutilação foi um caminho muito curto.
Talvez soe um pouco pesado demais falar em mutilação, mas eu não encontro outra palavra pra descrever o que eu ando vendo por aí. São rostos lisos e brilhantes, sem feições. São bocas destroçadas que nem de longe lembram um lábio sensual. São peitos que parecem balões inflados prestes a explodir.
Que raio de estética estão buscando? Que mulheres são estas que estão sendo criadas nas pontas dos bisturis? A s capas de revistas estão cheias delas. Sorridentes com suas testas lisas, suas bochechas inchadas e suas bocas deformadas.
Aonde foram parar todos os espelhos? Aqueles em frente aos quais, nos contos de fadas, se perguntava quem é mais bela do que eu...
Isto sim é pandemia, um circo de horrores. Mas acho que ainda tem um lado mais inacreditável. O dos médicos. Esses mesmos, os que estão a serviço da loucura alheia. Porque é correto pensar que as mulheres são vítimas duas vezes, primeiro do apelo social subliminar e eficientíssimo do padrão de beleza inatingível, e, segundo dos médicos, aqueles cirurgiões que cobraram fortunas pra realizar esses procedimentos. Não é concebível pensar que um profissional não avalie os resultados do seu trabalho.
Com este pano de fundo, vamos desenhando uma realidade de imperfeições que foi criada exatamente pra alcançar a beleza. E este é o paradoxo que os novos tempos reservam para o feminino. Mulheres sem as marcas do tempo e sem o viço da vida.
E pensar que historicamente as mulheres lutaram e sofreram tanto, na busca de direitos fundamentais para o seu desenvolvimento humano, pela liberdade, para poderem, inclusive serem as donas dos seus corpos. No final das contas, elas se encontram reféns da perspectiva da juventude eterna.
Não estou levantando aqui nenhuma bandeira contra a evolução da medicina, das alternativas cirúrgicas e cosméticas que existem para atenuar as marcas do tempo e, em última análise devolver uma auto-estima que, por motivos outros, ou não, também está se distanciando da vida das mulheres. Muito pelo contrário, já fiz uso de alguns recursos e estou bem feliz.
Falo apenas de projetos de vida. De momentos. De memórias. E em última análise, de equilíbrio.
O tempo realmente é inexorável, mas o que fazemos dele e com ele é o que conta de verdade.


Autor: Lucia Jovelho


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