CAMINHADA PELA VIDA ALHEIA



CAMINHADA PELA VIDA ALHEIA

Que tanto dói a minha cabeça!
Quanto comprometimento com o paralelo da minha íntima convicção do que eu preciso.
As ruas vazias refletem o que seria de todos os presentes nessa tarde quente, em que eu existo. Reclusos voluntários em seus mundos particulares. É domingo, metaforicamente concebendo-se um dia.
Caminho, desgarrado, tropeçando em pedregulhos e praguejando contra os pisos irregulares de uma urbe, que só eu sei que resiste, cá dentro em meu instinto.
Na economia de paisagens sóbrias dessa tarde silenciosa, forjada em meu espírito, temo pelos meus dias futuros, que porventura viriam.
Logo mais chegará a noitinha, agonia da hipotética treva. Muito pouco para todos despertarem de seu torpor vespertino. Longos suspiros entrecortados por sussurros lânguidos, por acaso ressentidos.
Quando o dia esmaecer, quando a noite se firmar, tenho certeza que lembranças ancestrais irão povoar meu sentir. Irei sofrer em devaneios, rodopios mortais no avesso de mim mesmo. É certo, pois é comum esse estado de coisas em mim.
Irei flanar pelas ruas povoadas, agora. Espíritos noturnos vagando em formas femininas irão me assombrar. Uma sensação própria de tragédias gregas conspirará para minha ruína.
Minha alma se cobrirá de um véu negro, e se tornará incolor, breve. Furtada, dia a dia, de toda essência que poderia vir a ter.
E demais a mais, continuarei a caminhar.
Nunca estancarei em uma esquina qualquer, de uma cidade que existe em minha memória, em sua comum repetição de asfalto, lixo e concreto.
Mais e mais, passo ante passo, peripatético. Prosseguirei nessa caminhada, pois tenho claro que se parar tudo estará perdido e não valerá mais a pena continuar a se movimentar, porque já não serei capaz de movimento algum.
Por tal razão prossigo. Ou seja, por medo mais que por coragem ou vontade própria dos que são gigantes em seus propósitos. Não ouso parar. Temo recusar o que poderá ser perdido.
Portanto, sigo. Eu continuo a subir e descer as ruas que se projetam em minha frente, com um sorriso ou um esgar, arfando ou cantando, por imposição do terreno que piso.
Sei nada da psicologia do sentir. Sinto por instinto. Sinto pela dor que eu prossigo. Eu caminho contra o vento, amigo ou inimigo, pouco me importa. Não tenho por nada disso. Eu prossigo.
Continuo a caminhada pela vida alheia. Que de tão próxima é distante sua chegada, projetando no horizonte próximo a um ponto eqüidistante de minha espinha nasal, o paralelo da minha íntima convicção do que eu preciso.

Alexandre Gazetta Simões


Autor: Alexandre Gazetta Simões


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