Reflexões Sobre a Morte



Não existe dor mais cruel, profunda, que perder alguem que gostamos, alguem próximo a nos. É como se dilacerassem nosso coração sem anestesia, como se uma bomba explodisse no cérebro, paralisando-o, pulverizando o nexo de tudo. Primeiro vem o choque, depois o não querer acreditar, por fim a aceitação, sempre acompanhada de muita revolta, incompreensão.
A morte definitivamente não é um assunto do qual as pessoas se sintam confortáveis em debatê-la, muito menos menciona-la, o desconforto é notório, mesmo quando tentamos, fica-se a sensação de que ela, "a Morte", é definitivamente nossa maior icognita; porque não, inimigo a ser vencido, decifrado.
Mesmo sendo a coisa mais certa da vida, ninguém ainda conseguiu uma explicação logica, ou satisfatória. Mas o morrer é inevitável! Já viste, numa tarde de Outono, cair as folhas mortas? Assim caem todos os dias as almas na eternidade. Um dia, a folha caída, serás tu.
O grande paradoxo porem, é que segundo os teólogos, deus a criou justamente para dar descaço a nos seres viventes...
Sem dúvida, a morte não fazia parte da natureza, mas tornou-se natural; porque deus não instituiu a morte ao princípio, mas deu-a como remédio. Condenada pelo pecado a um trabalho contínuo e a lamentações insuportáveis, a vida dos homens começou a ser miserável. Deus teve de pôr fim a estes males, para que a morte restituísse o que a vida tinha perdido. Com efeito, a imortalidade seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça. (Santo Ambrósio).
Nossa educação, cultura pouco aberta a temas mais complexos, também acabam contribuindo para aumentar o mistério, o medo. Pais, escolas, a tem como um assunto mítico, que não pode ser abordado, ou quando são, sempre de forma superficial, rápida, assim sendo, somos educados desde nossa tenra infância a não navegar, transitar por este tema.
A morte é um grande tabu, por mais que nos esforcemos, nunca será algo agradável de ser debatido, de se interagir. Além de nosso apego pela "vida", o grande barato é, para onde vamos afinal? Existe algo mesmo depois da nossa partida? E nesta subversão, avançamos cada dia mais para nosso fim, cada dia mais para nossa decadência física, já que mesmo que lutemos pela vida, ela a vida, não nos quer pelo resto da vida. Então o que fazer? Penso que não a nada, a não ser viver, viver como se tudo fosse terminar a qualquer momento.
Receitas de viver? São tão tolas, como o tentar decifrar a própria morte, não existem respostas que nos satisfaça, que nos dê alguma tranqüilidade. Então a conclusão que chego é, que vida é sinonimo de morte, morte é sinonimo de vida, uma só existe em função da outra, nada mais que isso.
So quero portanto poder viver em paz. Para morrer vivendo.

Autor: Saulo Godinho


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