SUPERVISÃO ESCOLAR, uma nova consciencia crítica dentro da escola.



SUPERVISOR ESCOLAR, uma nova consciência crítica dentro da escola.
Ângela Maria de Araujo Dutra Oliveira*

Em uma entrevista feita por um grupo de estudantes da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) foi perguntado a uma supervisora como ela definiria o papel da supervisão escolar e de que forma sua ação aconteceria dentro da escola. A mesma respondeu que o supervisor é um facilitador do processo ensino-aprendizagem acompanhando as atividades do professor, realizando formações, planejamentos e estudos. Percebe-se claramente a visão positivista que essa profissional tem sobre o papel que desempenha na escola e que não há uma consciência política de mudar a realidade a qual está inserida.

Pode-se perguntar o porquê de uma atitude tão conservadora e técnica por parte de alguém que deveria ser autora de atitudes emancipatórias e capaz de provocar transformações em seu ambiente de trabalho. Mas para compreender tal postura é preciso fazer um resgate da história educacional do país nos últimos tempos.

A escola vem se arrastando há vários anos de forma confusa sem saber ao certo que vertentes filosóficas ou concepções educacionais deve realmente adotar, numa sociedade marcada pelo capitalismo selvagem e dominada pela burguesia. Esta classe controla os meios de produção e compra a força de trabalho dos proletariados, que sem alternativa vendem por um preço que mal cobre suas necessidades básicas. Sabe-se, porém, que isto não acontece por acaso, na realidade a escola atende a interesses da classe que comanda o Estado (Burguesia) e por esta razão não interessa ter uma política educacional crítica ou tão pouco que provoque mudanças na sociedade. Para a classe dominante quanto mais a educação for inconsciente mais será "ineficiente".

De acordo com esse sistema capitalista os autores foram fazendo suas pesquisas e elaborando suas teorias. Althusser define a escola como Aparelho Ideológico de Estado, local de contradição entre as classes sociais e reprodução das ideologias de dominação da classe burguesa. Baudelot e Establet a classificam como aparelho necessário para a sustentação da divisão de classes (considerando ser impossível, no capitalismo, a existência de uma escola única) e do trabalho em manual e intelectual. Pois, de um lado forma um pequeno número de intelectuais aptos a se manterem no poder e de outro orienta a massa trabalhadora a vender sua força de trabalho por um salário irrisório. Nota-se que a instituição escolar preserva a existência dos valores e das crenças de ambas as partes, mas em permanente conflito.

É difícil acreditar que a escola que deveria formar pessoas críticas e conscientes de seu papel na sociedade tenha se transformando em local de reprodução das injustiças sociais. Marx, precursor da concepção Hitórico-Crítica, denomina a escola como capitalista que defende os interesses da superestrutura. No entanto este teórico aponta alternativas de superação das contradições, afirmando que o que realmente falta à escola é uma consciência crítica e dialética. Mas acredita que paralelamente deva ocorrer a revolução social para o desenvolvimento total do homem e mudanças nas relações de produção.

Sob esses fundamentos Gramsci defende a idéia que só pela ação dos intelectuais orgânicos (supervisores e professores) em provocar uma reação das classes subalternas é que poderia ocorrer uma transformação nas estruturas econômicas, assim a mudança educacional ocorreria em paralelo às das relações de produção. E dentro da ótica escolar classifica o supervisor como responsável em suscitar essa ação.

Infelizmente os supervisores que, hoje, atuam nas escolas trabalham sob a influência do Liberalismo com a idéia de que são controladores da ação docente. Se na rede pública, limitam-se a acompanhar planejamentos sem querer saber o porquê de tais metodologias terem ou não dado certo, professores fingindo que planejam, até por uma questão de prestar contas, pois vêem nos supervisores profissionais desacreditados que servem apenas para fiscalizar e estes por sua vez querem, apenas saber se o plano foi feito, se as cadernetas estão preenchidas, se as formações estão sendo assistidas, porque eles, também têm que prestar contas a seus superiores. Na rede privada, querem saber se as metodologias impostas estão sendo difundidas para a perpetuação de quem está no poder. De forma que a ideologia repassada nas duas redes é a mesma, ou seja, manter a classe dominante no comando e a classe dominada cada vez mais massacrada. E nessa "dança" hipócrita quem fica sem par é a educação que a cada dia é mais desacreditada.

Assim, o supervisor escolar, como intelectual orgânico da escola, não pode assumir a postura técnica e sim se colocar a disposição de uma ação dialética, tendo consciência política e da responsabilidade que deve ter dentro da instituição escolar. Essa instituição continuará a ter a característica de Aparelho Ideológico de Estado enquanto todos, que nela trabalham não perceberem a força que têm se juntos buscarem uma consciência emancipatória.

O supervisor pode dizer que isso não depende somente de suas ações, já que quem está em sala de aula é o professor, mas o detalhe que muda essa possível justificativa é o fato de eles serem os mediadores entre a ideologia da escola e os professores, por isso responsável em transformar a ação docente em uma ação crítica e revolucionária. É preciso que na escola existam líderes, supervisores que, inteligentemente, conquistem os professores, que sejam referência de conhecimento para eles, fazendo com que repensem suas metodologias e busquem teorizar suas práticas (práxis).

Para tal, é necessário muito estudo, a escolha de uma linha dialética de trabalho e que na prática coloquem tudo que foi aprendido na teoria. É preciso renascer nos supervisores, professores e demais profissionais da escola a confiança de que são protagonistas de uma história da qual só depende deles a direção que vai tomar e que só a consciência crítica garantirá um futuro menos desumano para seus filhos e netos.



REFERÊNCIAS

AGUIAR, Márcia Ângela da Silva. Supervisão Escolar e política educacional. -São Paulo: Cortez: Recife. PE: Secretaria de Educação, Cultura e Esportes do Estado de Pernambuco, 1991.

CUNHA, Luís Antônio. Uma leitura da teoria da escola capitalista. ? Rio de Janeiro: Achiané, 1980.

GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. - São Paulo: Ática, 8ª ed., 1999.

LENHARD, Rudolf. Fundamentos da Supervisão Escolar. ? São Paulo: Pioneira, 3ª ed., 1977.

PIMENTA, Selma garrido. Saberes pedagógicos e atividades docente/ textos de Édson Nascimento Campos... [et al.]. - São Paulo: Cortez, 1999. -(Saberes da docência).












Autor: Angela Maria De Araujo Dutra


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