Programas e políticas públicas para uma educação do campo contextualizada



Programas e políticas públicas
para uma educação do campo contextualizada


Resumo


Educação do campo ou Educação da zona rural?
Até a nomenclatura desvia a atenção de que a educação do campo não é mais oferecida para as pessoas da "roça"; isso mostra que a educação do campo está mudando e está oferecendo para sua clientela uma melhor qualidade de ensino-aprendizagem, baseado na realidade dos alunos e principalmente estão levando em consideração que a vida da comunidade deve fazer parte do processo de aprendizagem das crianças. A importância da colaboração da comunidade na qual a escola está inserida é fundamental para uma educação contextualizada, isso possibilita aos educandos perceberam que o seu aprendizado adquirido na escola tem ligação com a sua vida diária. Sendo assim, uma educação de qualidade não deve ser resultado de Programas principalmente se esses programas forem de outra realidade, mas sim, deve ser estruturada e aplicada tendo como base Políticas públicas.

Palavras-chave: Educação do campo. Comunidade rural. Programas e Políticas Públicas.

Introdução

Ao realizar o estudo sobre a Educação do campo para a elaboração desse Artigo Científico tive oportunidade enriquecer o meu aprendizado porque mesmo não estando diretamente ligado com a realidade da escola do campo eu comecei a lecionar na Zona Rural para alunos de uma sala multisseriada, o que facilitou a elaboração do artigo que tem como tema: Programas e políticas públicas para uma educação do campo contextualizada.
A Educação do Campo, assim como qualquer outra modalidade de ensino deve ser baseada na realidade dos educandos levando em consideração a necessidade dos alunos na qual a escola está inserida; esse artigo apresenta alguns Programas e Políticas Públicas que o poder público tem investido na Educação do campo, só que muitos desses programas vieram de outros países o que não sortiu muito efeito porque era de uma realidade diferente da qual seria aplicado o projeto, entre os projetos ressalto o "Escola Família-Agrícola" que foi desenvolvido na Europa.
Além dos investimentos que o governo está realizado na Educação do campo o Artigo relata também a importância da adequação do currículo para uma Educação do campo, levando em consideração a localidade e a realidade dos alunos para que o aprendizado seja verdadeiro e contextualizado; para isso os professores devem utilizar de procedimentos metodológicos que tenham como base a vida de cada aluno permitindo que ele faça comparação o seu aprendizado escolar com a sua vida cotidiana.
A leitura desse artigo é recomendada entre outros para educadores, coordenadores pedagógicos e gestores de escola; por que ele contém subsídios que contribuirá para o processo de ensino-aprendizagem e fornecerá meios que ajudaram na preparação das aulas tendo com referencia a realidade dos alunos das comunidades rurais, dos assentamentos, dos ribeirinhos e facilitará o entendimento dos conteúdos regulares e possibilitará que as vidas das pessoas região façam parte das atividades de rotinas das escolas.

Programas e políticas públicas para uma educação do campo contextualizada

Com o término da Primeira Guerra Mundial (1914 ? 1914) a utopia de alfabetizar os jovens e os adultos começa a se fundir; essa modalidade de ensino não era só privilégio das pessoas das cidades, mas também para oferecida para as famílias do campo. Só que enquanto para a área urbana a intenção era possibilitar que os jovens e os adultos aprendessem a ler e escrever; no campo a única finalidade era diminuir o número de pessoas que estavam saindo das "roças" para viveram na cidade, para tentar realizar seus sonhos e buscar uma vida melhor e com maiores condições para viver.
A grande saída das pessoas da zona rural para a zona urbana deu espaço para o êxodo rural que se proliferou após a Segunda Guerra Mundial que era liderada principalmente por Hitler (1939 ? 1945). O ensino elementar direcionado para os jovens e adultos do país pobres tiveram um processo de mudança, contando com o apoio da UNESCO, OEA e CEPAL para colaborar coma escolarização da população mais carente.
Durante muito tempo se pensou que os alunos do campo só precisavam aprender técnicas que envolvessem o manuseio com a terra, com os animais e com as plantas. Só que as crianças e jovens do campo querem aprender técnicas agrícolas inovadoras ao mesmo tempo em que discutem a globalização e acessam a internet.
Segundo Bencini (2005, p. 46)

Até pouco tempo atrás, prevalecia a idéia de que gente da roça não carece de estudos. Para muitos especialistas, a afirmação servia para justificar os baixos investimentos educacionais e econômicos na zona rural. Assim, o ensino ficou restrito à alfabetização ou à qualificação profissional para atender à necessidade de mão-de-obra. Hoje, os alunos do campo querem ter acesso a mais informação e conhecimento.

Muito se pregava que para a formação dos educandos do campo era preciso qualquer coisa, mesmo porque muitos pais não estavam preocupados com a educação dos seus filhos.
A educação rural não foi mencionada na Constituição de 1891 nem na de 1988, o que não permitiu que ela tivesse uma organização política pedagógica adequada a sua localidade e a sua clientela que era totalmente diferente das outras crianças que conviviam no "meio social organizado". A LDB ? Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 de 20 de dezembro de 1996 não trás nenhum artigo ou não é colocado de forma clara e explicita em seus títulos, artigos e incisos que ressalte a obrigatoriedade da educação rural.
Isso mostra que infelizmente a educação rural não tem tanta importância ou nenhuma importância para os governantes e mesmo aqueles municípios que oferecem a educação para os alunos da zona rural, não garante uma qualidade de ensino; as escolas do campo na sua maioria são formadas sem nenhuma infra-estrutura apropriada para um aprendizado de qualidade, sendo suprida por materiais que sobram das escolas urbanas.

Adequação do currículo para a educação do campo

As escolas do campo não têm uma proposta pedagógica adequada à realidade dos educandos, o currículo não é feito tendo como referencia a necessidade e a localidade de cada região, como se os mesmos anseios dos alunos do campo fossem iguais aos dos alunos da cidade; isso não quer dizer que a educação do campo deve ter um currículo diferente do currículo da cidade por que os alunos são inferiores aos das áreas urbanas, mas sim que ele seja elaborado tendo como base a realidade dos alunos, mesmo porque todos têm capacidade de aprender, o que se faz necessário é que a sua formação do currículo seja contextualizado com a vida dos alunos que foram uso desse currículo escolar.
Pensar os currículos de uma escola pressupõe viver seu cotidiano, que inclui toda uma dinâmica das relações estabelecidas (FERRAÇO 2006, p.10)
A realidade das famílias que moram nas fazendas, nos assentamentos, nas comunidades ribeirinhas, ou em qualquer outra localidade deve ser levada em consideração na confecção de um currículo escolar adequado para a educação do campo. As mesmas dificuldades que um aluno ribeirinho enfrenta para se deslocar até a escola é a mesma que outros alunos de um assentamento têm? Por isso, é de suma importância que o currículo seja adequado e apropriado para cada localidade.
O Projeto Escola Família-Agrícola experiência pedagógica desenvolvida na Europa e que está sendo aplicado no Brasil tem o seu currículo baseado na cultura local e o potencial produtivo das novas técnicas agrícolas, na aplicação do projeto os alunos aprendem conteúdos regulares e as disciplinas específicas para o meio em que o ele vive, como por exemplo, zootecnia e agropecuária (BENCINI 2005, p.47)
O calendário escolar do projeto Escola Família-Agrícola é flexivo levando em consideração a época da safra, permitindo que os educandos fiquem de férias no período da colheita possibilitando que as crianças participem juntamente com seus pais da colheita da ceifa (BENCINI 2005 p.42)
Bencini aponta que

O cotidiano de populações ribeirinhas, extrativista, caiçaras e agropecuárias começa a entrar na sala de, estimulando alunos e professores a conectar o currículo à cultura local. Essa conquista, somada à aliança de toda a sociedade e a novas formas de gestão, tem apontado o caminho para o sucesso da escola rural (BENCINI 2005, p. 42)


Programas e políticas para a educação no campo
Na I Conferência Nacional Por uma Educação Básica do Campo realizada em 1998 deu-se o primeiro passo em favor de uma educação voltada para os habitantes da zona rural, e logo foi modificada a nomenclatura o que antes era denominado de Educação Rural passa então para Educação do Campo ou Educação para o meio rural (CALDART 2006)
Não podemos omitir que mesmo ainda com pouca intensidade o poder público está investindo na ampliação e qualificação das escolas do campo e um dos primeiros passos foi à conquista da aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (parecer no 36/2001 e resolução 1/2002 do Conselho Nacional de Educação) (CALDART 2006).
Com isso, os trabalhadores do campo têm a possibilidade de ver a questão da Educação do Campo sendo discutidos por movimentos sociais, sindicatos, poder público municipal, estadual e federal.
È necessário que a educação do campo seja ampliada, mas com muita preocupação para que não seja simplesmente só para aumentar o número de escolas rurais e sim oferecer qualidade respeitando a particularidades de cada região.
Para tentar melhorar a educação do campo o governo investe em projetos, só que muitos desses projetos que são aplicados no Brasil são trazidos de outros países baseado em uma realidade totalmente diferente da nossa, o que muitas vezes não colabora para um bom desenvolvimento da educação do campo. Os projetos que deram certo foram estudados e adaptados a realidade da clientela como, por exemplo, o Projeto Escola - Família Agrícola que foi requerido da Europa.
Além do projeto EFA - Escola-Família Agrícola existem outros programas como a Escola Ativa, o Projeto Chapada, o Programa Crer Para Ver, PROJOVEM CAMPO ? saberes da terra, cursos de licenciatura em educação do campo; todos esses Programas e Políticos públicos têm como critério diminuir o número de evasão, repetência e principalmente permitir que os alunos do campo tenham acesso a uma educação de qualidade e baseada em sua realidade.
Para que todos esses projetos dêem certos basta que o poder público assuma o compromisso de possibilitar uma educação de qualidade para todos.
Segundo a autora Roseli Salete Caldart.
A educação somente se universaliza quando se torna um sistema, necessariamente público. Não pode ser apenas soma de projetos e programas. Por isso nossa luta é no campo das políticas publicas, porque esta é a única maneira de universalizar o acesso de todo o povo do campo à educação (CALDART, 2006)


A metodologia adequada para a educação do campo

A adequação da metodologia para os alunos do campo é um dos primeiros passos para se conseguir um bom resultado; para um aprendizado significativo é necessário que o currículo, o PPP - Projeto Político Pedagógico e a metodologia estejam contextualizados com a realidade dos alunos.
A metodologia de uma escola do campo deve ter como principio as características da vida dos educandos, para que eles percebam que a sua realidade está inserida na vida escolar, assim como o aprendizado escolar também está presente na sua convivência familiar, com os amigos e na comunidade onde ele mora.
O autor Roberto Bencini (2005, p.45) enfatiza que "tomar o saber da comunidade como ponto de partida é o primeiro passo". E è isso que o Projeto Chapada desenvolvido pela professora Cybele Amado Oliveira permite, trazer pessoas que moram na região onde a escola está situada para um bate-papo com os alunos contribuindo para desenvolvimento da leitura , escrita e da oralidade.
Esse projeto também capacita os professores com técnicas para trabalhar com as salas multisseriadas, uma realidade da maioria das escolas do campo, os educadores são informados que ao dividir a turma em grupo facilita a comunicação e o acesso do professor facilitando para atender as dúvidas de cada aluno.
O projeto Escola Família-Agrícola utiliza de métodos também baseado na realidade dos alunos, eles aprendem receitas caseiras para o cultivo da terra e o tratamento de animais. Como por exemplo, o chá de picão e carqueja é preparado na escola pelos alunos e aplicado nas tetas das vacas para combater a inflamação e aumentar a produção de leite (BENCINI, 2005, p.47)
Essa estratégia metodológica consente que as escola faça parte da vida cotidiana dos alunos sem deixar que eles aprendam os conteúdos exigido pelas disciplinas da grade curricular.

Conclusão

Diante de tantas mudanças na Educação brasileira, o poder público não pode privar as pessoas da área rural simplesmente porque essas comunidades não têm nenhum acesso à chamada sociedade moderna; o simples gesto de não terem a vida igual a das cidades não quer dizer que elas não têm anseios de realizar seus sonhos, de colocar seus filhos em uma faculdade para que eles tenham uma qualidade de vida melhor e diferente da sua. E quando os governantes não assumem esse compromisso de oferecer uma educação de qualidade para todos, ela fica a mercê das organizações não-governamentais.
Os educandos dos assentamentos, das comunidades ribeirinhas e das áreas rurais são excluídos do acesso a escola, é negada um direito que todo cidadão tem de freqüentar a escola.
A educação deve ter como principal critério a valorização das experiências dos alunos, a realidade social e familiar e a situação econômica de cada educando que irá formar uma classe escolar; se uma instituição escolar tiver como base esses critérios ela oferecerá uma educação de qualidade e um aprendizado verdadeiro alicerçado acima de tudo com a parceria comunitária e tendo a consciência que a educação deve ser contextualizada com a vida de cada aluno.
Por isso, a qualidade da educação do campo não está na quantidade de programas que o governo oferece, mas sim na adequação dos projetos para que a sua aplicação seja adequada a realidade doa alunos.

Referências

BENCINI, Roberto. Escola rural o orgulho de estudar no campo. Revista Nova Escola. São Paulo: Abril, ano XX, nº 185, setembro, 2005.


BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.


BRASIL, Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Diário Oficial da União: 23 de dezembro de 1996.


CALDART, Roseli Salete. Por uma educação do campo. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2006.


FERRAÇO, Carlos Eduardo. Possibilidades para entender o currículo escolar. Revista Pátio. Porto alegre: Artmed, ano x, nº 37, fev/abr, 2006.

Autor: Luiz Carlos Marinho De Araujo


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