UMA NOVA CONSTRUÇÃO PEDAGÓGICA NA DISCIPLINA DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA ? "EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS PELOS DISCENTES DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DA UEMG / CAMPUS DE FRUTAL-MG"



UMA NOVA CONSTRUÇÃO PEDAGÓGICA NA DISCIPLINA DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA ? "EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS PELOS DISCENTES DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DA UEMG / CAMPUS DE FRUTAL-MG"

Josiele Gonçalves Ferreira*
Letícia Ferreira Martins*
Nilce das Graças Emerenciano*
Bethânia Alves de Menezes**
[email protected]
Universidade do Estado de Minas Gerais ? UEMG
Campus de Frutal/MG



RESUMO: Este artigo tem como finalidade apresentar as reflexões e observações dos discentes do curso de geografia da UEMG de Frutal/MG, em torno da realização de socialização dos trabalhos da disciplina de Prática de Ensino II, ministrada no 1º semestre de 2010. O objetivo das atividades da disciplina de Prática de Ensino de Geografia consiste em desenvolver as competências e habilidades dos licenciados em articular com a vivência escolar os conteúdos de preparação para a prática docente. Os conteúdos são desenvolvidos em disciplinas pedagógicas do curso como Didática e Orientação de Estágio e vivenciadas nas escolas de Ensino Fundamental e Médio nos Estágios Supervisionados e Práticas de Ensino. Analisando as experiências experimentadas durante os seminários de socialização das pesquisas em Prática de Ensino desenvolvidos pelos discentes do 3º período (no momento da realização, agora eles cursam o 4º período e desenvolvem outras atividades de prática de ensino dentro do estágio nas escolas), observa-se as necessidades de se pensar na preparação e na prática do discente do curso de licenciatura e na preparação do mesmo para as experiências em escolas de ensino fundamental e médio.


PALAVRAS CHAVE: Ensino de Geografia, Formação de Professores; Prática de Ensino; teoria x prática.
Introdução

O presente artigo consiste em uma reflexão em torno da temática da importância das disciplinas de Práticas de ensino para a Formação do Professor de Geografia. Durante o primeiro semestre de 2010, os alunos do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado de Minas Gerais ? UEMG estiveram junto com a professora de Prática de Ensino nos seminários interdisciplinares. Associaram-se a esta disciplina, os professores e as disciplinas de Educação Ambiental e Geografia Urbana.
Os seminários temáticos tinham como objetivo fundamental as simulações de atividades pedagógicas para a formação dos alunos. Os conteúdos interdisciplinares possibilitam uma relação entre teoria x prática do ensino de Geografia na Universidade, sendo trabalhados de uma forma diferenciada para os níveis de ensino básico. Segundo Callai (2006),

Na formação de um professor de Geografia (como de resto, de qualquer outro) hão de ser discutidos os fundamentos teóricos, a história da formação da ciência, as formas possíveis de investigação, os instrumentos adequados e a forma de considerar e organizar as informações. Quer dizer que é de importância inequívoca que o professor conheça tanto de sua ciência, como os fundamentos que lhe deram origem, assim como do pedagógico, do que significa aprender, no sentido de construir um conhecimento próprio. (CALLAI, 2006, p. 255).

A importância de transformar o conhecimento adquirido nas aulas teóricas das disciplinas acima citadas (Educação Ambiental e Geografia Urbana) em conteúdos das aulas ministradas durante o seminário de simulação de práticas pedagógicas, bem como posteriormente, durante as regências nos estágios supervisionados, faz com que o discente procure pesquisar mais e se preparar para a realização de um trabalho comprometido com o processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Ou seja, as atividades além do caráter de simulações de aulas que promove uma familiarização do discente com as atividades escolares, possuem outro viés, que está pautado na sua qualificação e dedicação enquanto futuro professor, formador de opiniões.
A realização dos trabalhos do semestre resultou nesse ensaio teórico-prático que relata as reflexões de um grupo de alunas em torno da temática que envolve a ciência geográfica e as suas formas de ensino.
Procurou-se traçar um paralelo entre as práticas vivenciadas e os estudos de referencias bibliográficas que abordam o tema da formação do professor e sua atuação enquanto profissional do ensino fundamental e médio.

1. O papel do docente de geografia na construção social: uma breve reflexão

A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes. Khalil Gibran

Embora seja tenha pouco reconhecimento o papel do docente de Geografia é fundamental na formação social do discente, uma vez que os conteúdos da Geografia estão estreitamente ligados a outras disciplinas, sendo necessários, para o desenvolvimento de seus saberes, um conhecimento prévio da área geográfica. Segundo Vesentini (2008),

[...] sabemos que a preocupação com a formação do docente de geografia, em especial com relação à escola fundamental e média, é quase inexistente nos nossos cursos de geografia, mesmo nas melhores universidades do país (p. 20).

Com o crescimento econômico, na década de 60, a preocupação social e das instituições de ensino erra formar profissionais capacitados para atuar no crescente mercado de trabalho. Com o início da Ditadura Militar, houve uma reformulação total no sistema escolar brasileiro, onde as ciências humanas foram deixadas de lado, uma vez que não era interessante para o regime que as pessoas pensassem, pesquisassem, descobrissem o novo, e assim, o contexto disciplinar voltou-se para as ciências exatas.
Na Geografia priorizou-se, então, especialmente, a geomorfologia, a cartografia dentre outras. Já as disciplinas voltadas para o desenvolvimento humano e a construção do saber foram esquecidas.
Há uma grande desvalorização do Curso de Licenciatura em Geografia, pois entende-se que o bacharelado é mais importante. Essa desigualdade fica evidente quando, falando da geografia, citam-se apenas algumas disciplinas voltadas ao curso de bacharelado e que não estão presentes na Licenciatura. Esquece-se, porém, da importância das disciplinas didático-pedagógicas para o curso das licenciaturas, e de que, o docente é o grande mentor da formação do social do cidadão.

[...] instituição dedicada a promover o avanço do saber e do saber fazer; ela deve ser o espaço da invenção, da descoberta, da teoria, de novos processos; deve ser o lugar da pesquisa, buscando novos conhecimentos, sem a preocupação obrigatória com sua aplicação imediata; deve ser o lugar da inovação, onde se persegue o emprego de tecnologias e soluções; finalmente, deve ser o âmbito da socialização do saber, na medida em que divulga conhecimentos. (FÁVERO, 1992, p.54).

O perfil do docente de geografia se baseia na pesquisa, na busca constante por novas respostas. Quando todos aceitam que já tenham sido encontradas todas as respostas, o geógrafo surge com uma nova explicação para aquela realidade. O docente geógrafo vê o horizonte com um olhar diferenciado, olha para a natureza e contempla o relevo, percebe a paisagem, observa a formação do solo a partir de uma rocha ainda bruta, e em sua concepção ainda parece ouvir o docente de geomorfologia discorrendo em sua aula sobre a formação da paisagem ao longo do tempo. Segundo André (2008),

A proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de Professores de Educação Básica em Cursos de Nível Superior (2001), elaborada pelo Conselho Nacional de Educação inclui a pesquisa como elemento essencial na formação profissional do professor.
Destaca a importância de uma atitude reflexiva no trabalho docente; domínio, pelo professor, de procedimentos de investigação científica como o registro, a sistematização de informações, a análise e comparação de dados, o levantamento de hipóteses e verificação, por meio dos quais poderá produzir e socializar conhecimento pedagógico. (ANDRÈ, 2008, p. 66).

A formação do docente de geografia deve abranger uma pluralidade de conhecimentos formando assim um profissional conhecedor da capacidade de aprender a aprender, se fazendo valer das mais diferenciadas formas de pesquisas. Os docentes de geografia precisam deixar de ser rotulados como socialistas, anarquistas, ou seja, serem vistos como constantes pesquisadores na busca por novas informações que vão além dos pré-estabelecidos A disciplina de geografia na maioria das vezes não é levada a sério pelos discentes e nem pela sociedade. É comum se ouvir "Nossa se o discente tal atingiu médias em todas as demais disciplinas, não pode ficar retido apenas em geografia!". Como explicar essa afirmação, como valorizar o docente de geografia que sede a pressão nesses casos, e acaba não retendo o discente, evidenciando que concordam que a disciplina de geografia não tem mesmo a importância das demais. De acordo com Garrero (2007) a ciência geográfica enquanto saber escolar era reconhecida como algo fora da realidade social.

Conhecida como uma disciplina escolar enfadonha e estática, a Geografia vem sofrendo desde a sua institucionalização no currículo formal com a fragmentação do seu arcabouço teórico e pelas dicotomias a ela associadas (Geografia Física - Geografia Humana, Geografia Geral ? Geografia Regional, Geografia Tradicional ? Geografia Crítica). Além disso, a aprendizagem de seus conceitos remete à memorização de conteúdos estanques, divididos em subáreas que, em muitas instituições de ensino, ganham o status de disciplinas geralmente desvinculadas do cotidiano do aluno e imprecisas no que se refere ao conhecimento acadêmico. (GARRERO, 2007, p. 114).

Essa valorização deve ser concebida de modo em que todos compreendam a importância da disciplina de geografia, observando a fundamental importância do docente de geografia na construção do saber em todas as linhas sociais. Tal valorização também depende de outros fatores, tais como: motivação dos profissionais que estão na área, bem como, das pessoas que ainda nem entraram, mas que de alguma forma simpatizam com a carreira de docente e ainda com os discentes de cursos de licenciaturas.

2. A Prática de Ensino de Geografia: relatos de uma experiência vivenciada na licenciatura

É muito importante para a formação o docente o contato com o objeto pesquisado, ele deve desenvolver projetos que contemple socialmente o meio onde vive, possibilitando novas compreensões das problemáticas que se encontram nesse local. A pesquisa deve ter como intuito inicial a investigação e o conhecimento daquilo que se é pesquisado, devem inicialmente estar direcionadas a problemáticas locais, aberta a novas compreensões. A prática de ensino precisa ser ápice para construir a criticidade do docente de geografia.
A sociedade contemporânea tem-se mostrado um mundo moderno no qual se constatam novos problemas, exigindo soluções atribuindo novas práticas, necessitando assim, de uma reforma educacional contemporânea onde se relaciona a formação do docente à teoria e a prática.
A disciplina de Prática de Ensino vai além de um cumprimento da grade curricular nos cursos de licenciatura. É considerada como um instrumento fundamental no processo de formação profissional de docentes. A Prática de Ensino textualiza e se compromete com a transformação social através da união da formação profissional e pessoal, refletindo sobre a responsabilidade individual como também social. Através das discussões sobre as metodologias de ensinar e aprender Geografia articula-se a teoria com a prática no espaço escolar e extra-escolar, tais como a sociedade contemporânea, construindo assim, o conhecimento teórico e relacionando-o com a prática.
A disciplina em apreço tem como fator principal formar o profissional docente para atuar na prática de ensino do dia-a-dia escolar, compreendendo o processo educacional através de conhecimentos fundamentais adquiridos no espaço acadêmico.
A teoria é a base principal para que a Prática de Ensino seja aplicada de maneira conceituada atendendo os requisitos para um bom aprendizado, ampliando a capacidade dos discentes sobre o espaço geográfico e as práticas sociais relacionadas e integradas à espacialidade.
Sabe-se que para uma boa educação escolar é preciso que haja docentes capacitados, instigadores de novos conhecimentos, críticos, pesquisadores, onde estes instigam os seus discentes à busca pelo saber, através de pesquisas, levando-os a que sejam críticos. A Prática de Ensino é o instrumento que capacita os futuros docentes a se tornarem grandes educadores. É na vida acadêmica, através da teoria, que os futuros docentes já têm um conhecimento sobre os problemas escolares e com a prática de ensino se faz valer, ou seja, ela será o instrumento pelo qual o futuro docente aliará a teoria à prática.
Muitos ainda não reconhecem a importância dessa disciplina na área acadêmica. O que se percebe é que há um distanciamento entre a Universidade e a Educação Básica. É preciso que projetos sejam criados para que haja uma parceria entre os segmentos educacionais e com isso uma interação, relacionando a teoria que é adquirida na área acadêmica à prática que se desenvolve na área escolar.
Um dos grandes objetivos da Prática de Ensino é formar docentes pesquisadores, mostrando que por meio de estudos aprofundados sobre os assuntos de diferentes conteúdos, esses discentes consigam fazer a transposição didática dos mesmos, a fim de que o processo de ensino e aprendizagem sejam contemplados. Com isso, obtêm-se o conhecimento novo, aliando a teoria com a prática na sala de aula, exercendo assim, um papel ativo no seu processo profissional e conseqüentemente incentivando seus discentes à pesquisa, levando-os a uma análise tornando-os críticos. É preciso entender que sem os conhecimentos teóricos, é impossível se ter a prática, pois um está relacionado ao outro.
Em se tratando de pesquisa, deve-se ter em mente que ela produz conhecimentos através de conceitos e análises adquiridos em coletas e sendo assim, produz informações adquiridas de forma sistemática onde, a princípio, tem como base a teoria.
A pesquisa científica ou acadêmica oferece subsídios ao futuro docente para se tornar autônomo, pois é pesquisando que este descobre novas habilidades, adquire novas competências para que assim as exerça de forma prática no futuro próximo, ou seja, na escola.
Na escola, o docente deve assumir uma postura estimuladora, aplicando trabalhos que fomente os discentes a pesquisarem, fazendo com que estes, desde a educação básica, tenham a noção de quanto a pesquisa é importante não apenas no dia-a-dia escolar, como também no dia-a-dia social. Com isto, deixa-se claro que a pesquisa deve estar ativa na vida de cada um, pois é com ela que se adquirem conhecimentos essenciais para a vida no âmbito das complexidades sociais.
Ao se tratar das aplicabilidades dos conhecimentos fundamentais adquiridos durante a pesquisa, ou seja, da prática de ensino na sala de aula, se depara com o de que muitas vezes o docente não tem tempo para se dedicar na pesquisa, pois muitos têm que trabalhar em até três turnos para que assim consigam um salário suficiente para cobrir as suas necessidades.
A concepção de docente pesquisador nos remete a um paradigma: ensino e pesquisa. Quando o docente é dito como pesquisador, este é visto como um "solucionador de problemas" na área educacional, ou seja, são criadas grandes expectativas em relação a este docente. Com a finalização da pesquisa, se esta não gerar resultados positivos, muitas vezes o docente pesquisador é apontado como o responsável pela não resolução dos problemas escolares. Muitas vezes o mesmo não tem o apoio da escola para exercer a sua carreira de docente pesquisador, deixando-o assim, em alguns momentos, desmotivado.

3. A Universidade e as Escolas do Ensino Fundamental e Médio: uma relação importante na Formação do Docente de Geografia

As relações entre a Universidade e as Escolas de Ensino Fundamental e Médio, cujo objetivo fundamental está pautado na formação docente, deveriam ser amplas e harmoniosas. A amplitude das mesmas estaria nas possibilidades de atuação dos discentes estagiários na prática desenvolvida dentro das salas de aula, já a harmonia, estaria relacionada à aceitação dos estagiários no ambiente escolar por toda a equipe gestora da escola.
Esse contato entre a Universidade e as Escolas acontece somente no período do estágio. Espaço este, no qual, o discente do Curso de Licenciatura em Geografia participa como observador e ouvinte de algumas aulas, observando a regência do docente que ministra a disciplina.
Ao refletir esse contato, notamos que o discente não está desempenhando o seu papel de pesquisador, pois não tem nada a oferecer de novo ao docente que está na sala de aula.
Malysz (2007), no artigo "Estágio em parceria universidade-educação básica", coloca um ponto de vista pessoal diante da realidade por ela analisada, na qual a interação entre discentes estagiários é vista como uma alternativa de interação com os professores do ensino regular.

A nossa responsabilidade com o ensino adquire outra dimensão quando trabalhamos com estagiários que observam nossas aulas e depois nos auxiliam para aprender conosco. Não temos receitas a passar a esses licenciados em busca de respostas para seus anseios de profissionais em formação inicial. Não sabemos como das aulas maravilhosas como eles esperam. Estamos construindo nosso cotidiano profissional também com dúvidas, pesquisas e, principalmente, com a observação de nossos alunos para entender como eles pensam e constroem o conhecimento.
Acreditamos que um projeto de estágio em parceria entre a escola básica e a universidade contribuiria para que nossas inquietações e questionamentos tivessem respostas. (PASSINI, 2007, p.17 apud MALYZ, 2007).

O exemplo citado acima não é comum num relacionamento entre estagiário e professor da escola regular. Geralmente, o contato é superficial e omite possibilidades inovadoras de trocas de experiências, onde o docente de geografia deveria buscar no contato com as Universidades, ampliar o leque de informações para serem disseminadas dentro da sala de aula.
A autora, Malysz (2007) ainda acrescenta o que algumas escolas, com os seus professores procuram:

Estamos em busca de uma parceria para que haja colaboração mútua entre as duas instituições [universidade e escola ? colocação nossa], no sentido de que nas pesquisas em ensino tomemos a realidade da escola básica como objeto de investigação, possamos analisá-la à luz de teorias da ciência geográfica e da didática para, lado a lado, discutirmos possibilidades de mudanças. (PASSINI, 2007, p.19 apud MALYZ, 2007).

Infelizmente, o Brasil ainda é um país que investe pouco financeiramente em trabalhos de pesquisas, sendo concentrados em outras áreas da ciência os maiores investimentos. Com todas as dificuldades os discentes do curso de geografia, devem se unir às escolas do Ensino Fundamental e Médio, com a finalidade de desenvolver e ampliar o universo das pesquisas, ou seja, desenvolvendo mais estudos na área do ensino de geografia, realizando bem os estágios, desenvolvendo atividades práticas que possibilitem a interação entre o saber da escola e o saber da academia. Outro problema também identificado entre os discentes do curso de licenciatura em geografia é o descaso, ou falta de vontade por parte dos na investigação das temáticas que envolvem o ensino da disciplina e nas relações entre professor-aluno-escola na prática pedagógica.
As escolas do Ensino Fundamental e Médio devem buscar apoio nos discentes do curso de geografia para desenvolver projetos relacionados ao meio ambiente, fazendo cumprir o que está definido nos Parâmetros Curriculares Nacionais; quanto ao desenvolvimento interdisciplinar de Educação Ambiental nas escolas, o desenvolvimento desses projetos seria uma oportunidade de promover uma ligação mais ampla entre a escola e a Universidade, que no momento parecem separadas por um abismo, sendo que ambas estão voltadas para a mesma finalidade: promover a formação social e ampliar o conhecimento do cidadão.
No curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado de Minas Gerais ? UEMG, campus de Frutal, associa-se desde o princípio a pesquisa ao ensino, focando na formação de docentes relativamente críticos, mostrando que estes poderão se tornar transformadores de conhecimentos se articularem além da abordagem crítica, a abordagem reflexiva e analítica, levantando deste modo, os temas importantes às devidas discussões precisas para se obter mudanças necessárias.
Nota-se que ainda há docentes extremamente vinculados ao sistema educacional tradicional, o qual advém do senso comum, ou seja, na educação baseada na teoria técnica da Geografia através da qual o estudo é realizado pela transmissão de fenômenos, entre eles os mais abrangentes são os físicos e os paisagísticos. Porém, a Geografia é uma ciência, pois nos leva a conhecimentos muito além dos ditos técnicos, nos leva a conhecimentos de âmbito social.
Na Prática de Ensino da UEMG desenvolvem-se conhecimentos inicialmente teóricos, porém abrangentes, pois incentiva-se os futuros docentes a sempre estarem pesquisando e assim buscando novos conhecimentos, e com isto, aliando a prática dentro da área escolar, conhecendo assim a realidade do dia-a-dia da sala de aula.
Em se tratando da Prática de Ensino é preciso que se tenha em mente que o papel do docente não é simplesmente de transmitir conhecimentos, combatendo deste modo a racionalidade técnica e deixando explícita a racionalidade reflexiva, ou seja, o docente que analisa contextos reconstrói seus saberes e com isto articula o ensino à pesquisa auxiliando na formação de futuros cidadãos autônomos, com habilidades e competências para a reflexão de problemas sociais.
Nesta disciplina são desenvolvidos pelos futuros docentes conteúdos que são trabalhados na prática escolar. Estes conteúdos são apresentados destacando a metodologia, e com isto formulando questões e hipóteses a serem usadas em sala de aula que ajudem a encontrar caminhos para a prática docente vista por muitos de maneira complexa.
Falar de complexidade, significa tratar da dificuldade que o docente encontra no momento de aplicar o conteúdo na sala de aula, o qual foi adquirido em sua pesquisa, ou seja, em seus estudos. A indiferença dos discentes mostrando na maioria das vezes pouco interesse pela aula é um dos problemas ou obstáculos que o docente enfrenta para desempenhar seu devido papel, isto é, a passagem do conhecimento obtido. Com isto, nota-se que ensinar é mais complexo do que pesquisar. Ensinar significa passar o conhecimento adquirido diante do desafio encontrado na sala de aula e a pesquisa é a forma de produzir um novo conhecimento por meio de estudos aprofundados.
Essa experiência de conhecer na prática os componentes básicos do processo de ensino-aprendizagem mostra a ineficácia de se ensinar o verdadeiro conceito de Geografia, pois ainda se depara com docentes alienados a métodos de ensino técnico, não propiciando a devida oportunidade de um crescimento intelectual criativo e crítico, pois este está dentro do método reflexivo, o qual deveria ser usado como conceito metodológico da Geografia que é vista como uma ciência social. No ensino de Geografia o docente deve relacionar a geografia física e a geografia humana, mostrando as transformações gerais do espaço geográfico e da sociedade.
Os futuros docentes de Geografia devem estar inseridos na reformulação da Geografia, ou seja, a Geografia social. O docente deve levantar questões, indagar sobre os temas, passando assim uma postura crítica e analítica para os seus discentes, incentivando-os a buscar por novos conhecimentos relacionados aos contextos apresentados mostrando assim, que eles são os construtores do mundo, e por isso devem ser reflexivos e críticos, aproximando-os sempre da realidade com o intuito de melhorar seu modo de vida.
Os futuros docentes de Geografia devem colocar em prática o ensino adquirido na Universidade, não deixando de lado o olhar crítico, não mascarando a realidade, e sim abrindo novos horizontes para que se tenha sua verdadeira autonomia.

4. A Vivência dos discentes na Prática de Ensino de Geografia ? um olhar sobre as experiências na UEMG Campus de Frutal/MG

Durante o mês de junho de 2010, os alunos do 3º período, juntamente com os alunos do 5º período promoveram as apresentações dos seminários de Práticas de Ensino II e IV. Embora todos os alunos dos dois períodos estiveram envolvidos nas apresentações, esse artigo relata a vivência e a análise realizada somente durante as apresentações dos trabalhos dos alunos do 3º Período cuja disciplina tratava-se de Prática de Ensino II.
No curso de Licenciatura em Geografia da UEMG ? Campus de Frutal/MG, a Prática de Ensino é um instrumento que auxilia os discentes na construção pedagógica deste curso.
Na sala de aula, estamos sempre em discussões sobre o ensino. Discutimos sobre as metodologias corretas de se usar em uma sala de aula; sempre estamos discutindo a relação da teoria na prática; qual deve ser a relação do docente com o discente. Discutimos muito a questão do ensino-aprendizagem, como se ensinar, como aprender.
Sabe-se que a teoria será o princípio para uma construção pedagógica dos futuros docentes. É através de teorias de grandes sábios da área educacional, como, por exemplo, Freire (1996), que ampliamos os nossos olhares, aprende-se novas teorias, novos saberes. O autor fala que "a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria." (FREIRE, 1996, p. 142).
Aos olhos do educador, ensinar é isso. O ato estimula (instiga) na busca, na pesquisa, reflexão e análise. Proporciona um sentimento de felicidade, e é isso que se sente no desenvolvimento das atividades em Práticas de Ensino, pois se trata de uma disciplina que busca novos conhecimentos, novas pesquisas, novos horizontes entre a teoria e a prática das vivências escolares.
Durante a disciplina ministrada no primeiro semestre de 2010, foram desenvolvidos pelos discentes seminários de vários temas. Os seminários foram apresentados aos sábados. Os futuros docentes apresentaram o seminário para os seus colegas de classe, como também para as outras turmas de Geografia, para que assim pudessem compreender as simulações do processo de ensino-aprendizagem que devem ser analisadas e desenvolvidas durante os estágios supervisionados nas escolas. Essas apresentações têm como objetivo colocar em prática a metodologia que se deve usar na escola. Os discentes apresentam o tema destacando a metodologia que deve ser trabalhada na escola de acordo com as séries.
Trata-se de um trabalho muito importante para todos os discentes, pois instiga na busca de novos conhecimentos na área educacional, novas pesquisas relacionadas com os problemas escolares e também a pensar novas formas de desenvolver as práticas escolares a fim de que ensinar torne-se mais prazeroso, tanto para os discentes quanto para os docentes. Cada tema que se ensina precisa de uma metodologia que possa fazer com que o aprendizado ocorra de forma simples e que todos os discentes entendam o que lhe foi apresentado.
A partir da teoria, a qual ensina como atuar em sala de aula, os discentes diante desta atividade desafiadora seguiram uma triagem na busca de conhecimentos e informações atualizadas sobre os temas, os quais trataram de assuntos interdisciplinares, entre eles na área da saúde pública, plano diretor, os agentes que produzem e consomem o espaço urbano, os impactos da migração regional: destacando a cana-de-açúcar, entre outros, todos envolvendo o espaço urbano da cidade de Frutal/MG.
Assim, obtendo dados atuais e transformando-os em informações que foram passadas de forma crítica e dinâmica através de slides contendo o conteúdo escrito e também imagens, as quais na maioria dos trabalhos foram adquiridas de forma prática e participativa, em detrimento das atividades de pesquisa a campo, assim aprofundando os conhecimentos e adquirindo saberes atuais de forma empírica na cidade de Frutal/MG.
No decorrer das apresentações houve participações dos discentes havendo assim, uma troca de informações mútuas, pois os temas tratavam de assuntos que despertam o interesse dos discentes permitindo um debate entre eles, ou seja, entre os que apresentaram os seminários oralmente com os discentes ouvintes, enriquecendo o conhecimento de cada um através da compreensão das abordagens detalhadas do espaço urbano da sociedade de Frutal/MG, conhecendo suas especificidades facilitando o aprendizado.
Portanto, a disciplina Práticas de Ensino é mais que uma simples disciplina. Trata-se de uma construção pedagógica, que oferece novos horizontes, que desperta a vontade de ser um docente; é uma disciplina que busca novas experiências para que possa proporcionar uma brilhante carreira do "Futuro Docente". É por meio desta construção pedagógica que se construirá brilhantes mestres, brilhantes pessoas que auxiliarão na construção de saberes, de conhecimentos, de novos olhares na vida de cada discente.

5. Considerações Finais

A valorização do docente de geografia deve acontecer inicialmente com ele próprio, não concordando com a afirmação que a disciplina de Geografia é menos importante que as demais: deve mediar o contato entre as escolas do Ensino Fundamental e Médio e a Universidade com a finalidade de buscar na prática soluções para muitos problemas que envolvem o ensino de geografia nessas series, incentivar com a disciplina de práticas de ensino o objeto de pesquisa, tornando assim a disciplina de geografia cada vez mais respeitada e valorizada diante da opinião pública.
Portanto, a disciplina Práticas de Ensino no curso de Licenciatura em Geografia da UEMG - Campus de Frutal / MG é um instrumento que auxiliará na formação dos futuros docentes de geografia. É uma construção pedagógica, onde o ensino-aprendizagem se dará na experiência desses discentes. É na realização do estágio que estes colocarão em prática as experiências vividas nesta disciplina na fase acadêmica.
É através desta disciplina que se formará docentes preparados para a área escolar, sabendo lidar com os problemas de âmbito social.
Em suma, os seminários levaram uma abordagem crítica da sociedade de Frutal por meio do estudo da complexidade dos espaços urbanos estimulados pela disciplina de Orientação e Prática de Ensino e orientados pela docente responsável que proporcionou o engajar da pesquisa através da teoria, enxergando esta como um impulso ou estímulo para o desenvolvimento, tendo de início a observação, a análise, a interpretação e por fim a aplicação dos conhecimentos adquiridos.


6. Referências Bibliográficas

ANDRÉ, Marli (org). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. Campinas/SP: Papirus, 2001.

CALLAI, Helena Copetti. Projetos interdisciplinares e a formação do professor em serviço. In: PONTUSCHKA, Nídia Nacib, OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia em Perspectiva: ensino e pesquisa, São Paulo: Contexto, 2006.

ÁVERO, Maria de Lourdes de A. Universidade e Estágio Curricular: subsídios para discussão. In: ALVES, Nilda (org.) FCAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GUERRERO, Ana Lúcia de Araújo. Contribuições da teoria da atividade para a formação continuada de professores de geografia. In: CASTELLAR, Sonia (org). Educação geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Contexto, 2007.

KIMURA, Shoko. Geografia no Ensino Básico: questões e propostas. São Paulo: Contexto, 2008.

MALYSZ, Sandra T. Estágio em parceria universidade-educação básica. In:PASSINI, Elza (org). Prática de Ensino de Geografia e Estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007.

PONTUSCHKA, Nídia Nacib. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez, 2007.

VESENTINI, José Willian, Para uma geografia critica na escola. São Paulo: Editora do Autor, 2008.



Autor: Josiele Gonçalves Ferreira


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