Espada de um gume só



Espada de um gume só

Navegando pelas páginas das escrituras, vemos que o ministério profético era muito perseguido pelos os inimigos da verdade; isso porque os profetas denunciavam o pecado crasso dos seus contemporâneos. Basta ler algumas referências para constatar o que estou dizendo. No livro do profeta Jeremias no capítulo 37.16 está escrito que ele ficou preso por muitos dias só porque ele havia pregado a verdade; também no capítulo 20.2 diz que ele foi colocado num cepo por anunciar a iminência do juízo Divino. No capítulo 38.6 diz que ele foi jogado numa cisterna cheia de lama. Temos também o exemplo de Micaías que diante dos "profetas" de Acabe, foi ferido na face só porque falou aquilo que Deus o havia ordenado (1Rs22.24).

O profeta Amós que também denunciou a arrogância dos seus patrícios foi instigado a deixar a cidade porque a sua mensagem estava incomodando (Am 7.10-13). E que mais direi? Certamente me faltará o tempo para falar dos três jovens que foram lançados na fornalha ardente por não dobrarem-se ante o culto pagão de Nabucodonosor (Dn 3.19-21), e João Batista que perdeu a cabeça por condenar o adultério de Herodes? (Mt 14.10). E Jesus? Esse é que sofreu as piores consequências, não só por falar a verdade, mas por ser Ele a própria verdade.

Deus ainda chama pessoas para o ministério profético, e embora os que são chamados para tal função recebam Dele através do Espírito Santo a responsabilidade de anunciar a verdade independente de quem goste ou não, muitos ao contrário deixaram de ouvir a voz do Espírito Santo para dar ouvido a outros espíritos; daqueles mesmos que atuaram nos dias de Acabe que usou os seus "profetas" com uma mensagem agradável aos ouvidos. muitos querem ouvir pregadores que use uma espada de um gume só (1Rs 22.6). O que podemos perceber é que há pregadores que parece mais homem do homem do que homem de Deus, e há os que acreditam que a mensagem do evangelho precisa sofrer uma reciclagem para tornar mais receptível aos ouvintes exigentes que buscam uma prédica mais "otimista"; a verdade é que as pessoas estão buscando preencher apenas um vazio sentimental, emocional e muitas vezes financeiro mais sem desejar um profundo relacionamento com Deus. E nessa busca tresloucada por interesses próprios surgem no cenário "profético" pregadores que atendem muito bem essa demanda.

A mensagem que ora hoje está sendo transmitida por alguns, parece mais uma terapia psicológica do que uma cirurgia espiritual que arranca o câncer chamado pecado que está de forma impregnada na alma das pessoas e que lhes impedem de ver seu estado mórbido. Deus haverá de cobrar dos pregadores que omitem a verdade sob o prêmio de não perderem os primeiros lugares nos grandes eventos gospel, seus nomes saírem nos noticiários das congregações, nos rádios, televisão e internet. hoje a idéia é: "prega o que o povo gosta e você terá sucesso". O autor desse artigo certa vez foi convidado para pregar numa determinada congregação, quando o irmão que o havia convidado logo avisou que o pastor daquela igreja não gostava de pregação exortativa. Só não fiz o que ele me pediu, preguei o que Deus havia colocado em meu coração. Certa vez assistindo a um programa evangélico, uma cantora apresentava uma música com uma letra bem sugestiva, ela dizia: "você não precisa mais enfrentar a multidão para tocar na orla do manto de Jesus pra receber a cura, não precisa caminhar no deserto por quarenta anos para receber a sua vitória... basta determinar..." a pregação evangélica de uns anos para cá tem sofrido mudanças assustadora, o que antes era pregado de forma objetiva, tem dado lugar a um sensacionalismo sem precedentes. Os pregadores preocupavam-se mais em agradar a Deus do que aos homens, por essa razão suas mensagens eram movidas pela a autoridade do Espírito Santo.

"Persuado eu agora a homens ou a Deus? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo" (Gl 1.10). Disse C.S Lewis que "o poder do homem de fazer para si o que lhe agrada, significa o poder de fazer para outros homens o que lhes agrada". Muitos pregadores procuram transmitir uma mensagem mais suave que não confronte o pecado, que não interfira na subjetividade dos ouvintes, senão ele não será promovido. Disse um escritor que a "nossa preocupação tem que ser com a promoção do evangelho e não com a promoção dos evangélicos". Alguns tempos atrás os jovens sonhavam por ser um pregador como os do seu tempo, aqueles que pregavam na unção do Espírito, que levava o povo a espiritualidade, que estimulava os jovens a serem mais fiéis a Deus, que incentivava a considerarem as coisas importantes da vida cristã como uma consagração no domingo pela manhã, o evangelismo no domingo à tarde, os cultos de oração na congregação local, as orações na madrugada a sós com Deus e o desejo profundo de serem usados por Deus neste mundo.

No entanto o que percebemos é uma busca voltada aos interesses próprios, incentivados pela mídia gospel que tem ditado até moda aos jovens. Hoje as pessoas querem se apresentar em programas de TV mais para serem aplaudidos pelos os homens do que aprovados por Deus; estão procurando subir nos melhores palanques de eventos sem se preocuparem se subirão no dia do arrebatamento. Querem receber glórias e honras mesmo que para isso o evangelho seja por eles desonrado. Buscam fama internacional sem ao menos possuir prestígio em sua pátria (Pv 22.1). Os promotores de grandes eventos gospel estão mais preocupados em si promoverem do que promover o evangelho "não buscamos a glória dos homens..." (1Ts 2.6) a pregação evangélica nunca tem sofrido tantas transformações como se vê hoje nos púlpitos de nossas igrejas; a mensagem cristã pregada por alguns deixou de ter sua base nas sagradas escrituras para se fundar em técnicas psicológicas (uma mensagem de auto- ajuda), o nome por si mesmo diz tudo é "auto- ajuda" prescindindo da ajuda Divina.

Ultimamente as aparições dos cantores evangélicos na mídia secular cresceram vertiginosamente nas últimas décadas. Não muito tempo atrás uma cantora de fama nacional se apresentou em um culto numa igreja evangélica em Fortaleza, alguns dias depois, mais precisamente uns vinte dias, já estava num programa de auditório cantando canções que lhe fez famosa quando ainda não era evangélica. Em outro caso uma cantora que primeiro precisou cantar músicas seculares em um desses programas para ter a oportunidade de gravar seu primeiro cd gospel (pode jorrar da mesma fonte água doce e água amargosa? Tg 3.11) se apresentou dizendo que uma de suas músicas seria tema de uma novela em uma determinada emissora de TV. Em um programa de rádio certo cantor ao ser interrogado pelo locutor sobre as composições de suas canções, logo ele respondeu que a relação com o compositor era apenas profissional , porque segundo o cantor ele "era luz e o poeta era trevas" e que comunhão tem a luz com as trevas? (2Co 6.14).

Será que a aceitação dos evangélicos por parte dessas emissoras, não seria porque ao invés de falarmos de Cristo de forma clara e objetiva, desafiando os homens a se voltarem para Deus, arrependendo-se de seus pecados e reconhecendo o Senhor Jesus como único mediador e colocando Ele como o personagem principal de nossas pregações e canções; não estamos é na verdade buscando a fama e a realização pessoal? Por que os cristãos no passado incomodaram tanto o mundo com uma mensagem genuinamente bíblica e agora o mundo os acomoda tanto com uma mensagem relativista? Hoje é cada um por si e Deus por "fora". A igreja precisa usar a "espada" que é a palavra, utilizando-se de seus dois gumes que é: a graça e o juízo; a graça que é os méritos de Cristo e o juízo que é a rejeição desses méritos. Não podemos tergiversar a mensagem da cruz, Jesus foi incisivo em sua pregação, ele disse: "quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Mc 16.16). Hoje músicas evangélicas disputam com cantores da MPB o primeiro lugar nas paradas musicais. Até parece que esses promotores de eventos e apresentadores estão interessados no Cristo dos evangélicos e no evangelho de Cristo...! Percebe-se, no entanto, que muitos dos que tem aderido ao "evangelho amigável" não aceitam passar por uma transformação que só o evangelho puro e sem mistura causa na vida dos que uma vez alcançados por ele, passam por uma metamorfose espiritual. Não basta ser apenas simpatizantes do evangelho; não existe essa de "amigo do evangelho" ou o aceita como um estilo de vida, ou torna-se inimigo dele. Ser amigo do evangelho é ser amigo de Jesus, porque Ele é a essência do evangelho. "O que é mais importante, deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo" (Fl 1.27). "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando" (Jo 15.14). O apóstolo Paulo procurava achar-se digno do evangelho, hoje as pessoas querem que o evangelho seja digno deles; já observaram os "astros e estrelas" que adentram nos templos evangélicos? São apresentados como o "ex", como se eles fossem mais importantes que o evangelho, e tê-los como membros, seriam como se fosse uma honra para a igreja.

É claro que alguém que venha de uma vida de orgias e pecados e tem um encontro com Cristo, ela necessariamente torna-se uma "ex" para o mundo; ex-traficante, ex- assaltante, ex- bandido e etc. O problema que paira na expressão "ex" é que ser um "ex" ex-cantor, ex-ator, ex-atriz soa uma condição de honra para a congregação, como se eles fossem diferentes ou melhores do que um simples plebeu. Ora, quem já se viu tamanho absurdo! "mas eu, quando for levantado da terra, atrairei TODOS a mim." (Jo 12.32). "se não vos arrependerdes, TODOS de igual modo perecereis" (Lc 13.3). Fomos chamados para um sacerdócio cuja aceitação não depende de nossos méritos ou de nossa posição, mas da eleição divina "ora, ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus" (Hb 5.4).

"Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi..." (Jo 15.16)

"Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus, e espada de dois gumes em

suas mãos" Sl 149.6.

Gilieudo Holanda


Autor: Gilieudo Holanda De Freitas


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