Engenho Castelo



ENGENHO CASTELO


Rafaela de Assis Donato
Rosemeire dos Reis Santos


RESUMO: Este Artigo relatará sobre o Engenho Castelo entre o ano de 1882 até os dias atuais, onde mostrará o quadro econômico e cultural do engenho, quando foi implantado na cidade de Santa Luzia do Itanhi, na qual se encontra rodeada por marés e rios favorecendo assim o escoamento do açúcar.
Fica evidente que a cana-de-açúcar que deu origem aos engenhos, aonde logo depois veio a surgir várias usinas criando uma divisão senhoril. O casarão do Castelo vem resistindo até hoje o tempo, e podendo servir exemplo para vários outros engenhos, pois o continua de pé e é bem conservado pelos seus atuais donos, com isso podemos vislumbrar a arquitetura colonial daquela época. A cidade de Santa Luzia possui um grande patrimônio cultural de engenhos continha 7 em todo o seu território dentre eles está o Engenho Castelo, o Engenho cedro e o Engenho Priapú.

PALAVRAS- CHAVE: Açúcar, agricultura, economia engenho, patrimônio.


ABSTRACT: This Article shall report on the ingenuity Castle between the year 1882 to the present days, which will show the framework of economic and cultural ingenuity, when it was implanted in the city of Santa Luzia of Itanhi, which is surrounded by tides and rivers thus encouraging the disposal of sugar. It is evident that the reed-of-sugar which gave rise to devices, where soon after came to emerge several mills creating a division senhoril. THE marry the Castle is resisting until today the time, and may serve example for various other devices, because the remains and is well conserved by its current owners, wherewith we can perceive the architecture colonist at that time. The city of Santa Luzia has a great cultural patrimony devices contained 7 throughout their territory among them is the ingenuity Castle, Wit cedar and ingenuity Priapú.

KEY WORDS: Sugar, agriculture, economy, engeni, heritage.

INTRODUÇÃO


O objetivo desta pesquisa será Compreender como a econômia açucareira ajudava no desenvolvimento econômico e cultural na cidade de Santa Luzia do Itanhi no século XIX, com o Engenho Castelo, e identificar como as ações realizadas por esse engenho beneficiaram a cidade de Santa Luzia, bem como analisar a contribuição da mão-de-obra escrava, à época da ascensão do açúcar desse mesmo século, verificando se hoje, século XXI ainda existe em conservação desse engenho neste município.
Sergipe é um dos Estados onde concentra-se muitos fatos e artefatos históricos bastante antigos , alguns deles ainda existem vencendo o desgaste do tempo.Os engenhos são de grande importância para ser pesquisado deixando qualquer historiador vislumbrado com os casarões construídos.Dentre as cidades de Sergipe uma em destaque é a de Santa Luzia do Itanhi onde se apresentam três engenhos importantes para o Estado, o engenho Castelo é um dos mais preservados da memória açucareira sergipana e o engenho Priapú que foi a penúltima usina a ser fechada na região sul de Sergipe e também o Engenho Cedro que além de ter sido um dos mais produtores de açúcar na época sendo homenageado com uma fotografia do engenho em cartões telefônicos. Além disso, achamos importante ter escolhido o tema Engenho Castelo por perceber que tem poucos livros falando sobre engenhos de Sergipe, então gerou-se uma necessidade de elaborarmos nosso projeto de pesquisa falando sobre um engenho que no entanto é infelizmente pouco explorado. Contribuindo assim para que futuros historiadores possam explorar cada vez mais esse vasto campo de conhecimento para a história de Sergipe.
Segundo LOREIRO, no Engenho Castelo em Santa Luzia do Itanhi os seus mais antigos proprietários foram José Bittencourt Calazans e Antônio de Vera Cruz Braque, João herdeiro de Bittencourt era um homem inteligente e empreendedor ele fez muito pelo Castelo e pelas técnicas de produção açucareira de Sergipe, viajou a Cuba, ao Haiti e aos Estados Unidos, com finalidade de estudar processos agrícolas da produção de cana-de-açúcar. Reunindo os seus conhecimentos no livro "O Agricultor Sergipano da cana-de-açúcar" publicado em 1869, na Bahia. João faleceu no ano seguinte, Foi sob a administração de seu filho, Alípio Calazans, que o engenho passou á condição de usina a vapor. A família Calazans deteve a propriedade até 1882, depois vendida a Antônio José Vieira. Cantidiano Vieira, filho de Antônio Vieira, tornou-se o dono do Castelo em 1916, com a morte do pai. Em 1908, instalam-se as turbinas, e na década de 40, o equipamento para a decantação do açúcar. Cinco anos após a morte de Cantidiano, em 1964, a usina Castelo encerra sua produção. Ela relata também que em 1989, é vendida para o Empresário Raimundo Juliano Souto, que atualmente a explora com pecuária. A autora destaca que o conjunto arquitetônico é um dos mais preservados da memória açucareira Sergipana. A planta original do Castelo era retangular, coberto por um telhado em quatro águas, de beiral curto forrado. Há frisos na cornija e no capitel dos pilares, tem nove janelas frontais, no andar térreo, o partido arquitetônico definia quatro compartimentos, sendo salões e hall de entrada, Paredes decoradas com exuberantes murais do pintor Oresto Galli, baluartes do passado, remanescem duas chaminés da usina, uma delas, já ruída em dois terços de sua altura. Salienta ainda que em 1942, a casa-grande foi reformada, que lhe acrescentou a portentosa na varanda frontal superior, nos movimentos de terra planejem á frente da casa, aplicando com aterro modificando assim um pouco formato que era bem colônia.
Com relação ao livro citado acima de Bittencourt Calazans "O Agricultor Sergipano da cana-de-açúcar" ele fala que estava despreparado para administrar o engenho Castelo e que corria o risco de levar o empreendimento a falência. E por isso, o motivou a estudar os clássicos da Agronomia onde viajou para o exterior em busca de conhecimentos para tentar entender como era feito o plantio de cana de açúcar e sua fabricação. Ao voltar de viagem conseguiu aprender varias técnicas e transformou o modo de produção fazendo com que seu empreendimento desse certo. Em seu livro também dar uma importante informação de onde surgiu os primeiros cultivos de cana, e qual foi a primeira cana a ser usada no Brasil no Estado do Rio de Janeiro que foi a cana caiana.
Segundo o autor Freire (1977), ele afirma que a Sede do Município de Santa Luzia do Itanhi constitui-se uma das povoações mais antigas de Sergipe, e que ela foi fundada através das primeiras tentativas de colonização das terras sergipanas pelos portugueses no final do século XVI.
Com tudo isso, tentaremos identificar a importância que esse engenho teve para todos os moradores da vila de Santa Luzia. A cana de açúcar começa a ser um dos produtos em destaque a partir do século XVII favorecendo assim a economia daquela população. O Castelo foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento daquela vila, pois o maior empregador da época era o Engenho contratando 600 funcionários para inúmeras atividades que envolviam a fabricação do açúcar. Sendo esses trabalhadores que iram aquecer o comercio, pois todos eles passavam a comprar no comercio local fazendo assim a economia girar em torno dos comerciantes e conseqüência disso estava visivelmente aos olhos da população,pois, as bodegas passam a ampliar mais os seus espaços.
Na cidade de Santa Luzia do Itanhi em Sergipe localiza-se um dos mais conservados engenhos da região de Sergipe ele serviu de exemplo para todos, pois dentro da fazenda tinha de tudo um pouco. Existia uma escola de 1° grau que ensinava aos funcionários e filhos dos que lá trabalhavam também alguns familiares como Paulo César neto de Cantidiano (era o proprietário do Castelo), quem pagava o salário desses professores era o próprio proprietário da fazenda. Havia uma enfermaria com médicos e enfermeiros prontos para consultar algum trabalhador que viesse a precisar dos serviços. Muitos funcionários por trabalharem no corte da cana, várias vezes cortavam-se e precisavam de serviços de primeiros socorros e como na própria usina tinha médicos a disposição eles não precisavam sair do local de trabalho a procura de ajuda medica, porque os profissionais já se encontravam ali para atendê-los. Tinha uma oficina na usina sendo uma das melhores da região sul de Sergipe, sendo ela usada para consertar as carroças quebradas, trocar pneus, consertar algumas maquinas que quebravam tudo isso, para não perder muito tempo e não prejudicar a sua produção, porque se tivesse que contratar pessoas que trabalhavam em regiões vizinhas poderia demorar alguns dias para vim a concertar os objetos e como já tinham pessoas a disposição do Engenho Castelo , quando algo precisava de concerto imediatamente os funcionários qualificados para isso estavam a disposição . Além da atividade açucareira existia a plantação de coco da Bahia e a criação de gado que conduzia as carroças tendo mais de 1.000 cabeças de gado, possuía também um alambique que também aproveitava o caldo da cana de açúcar para fazer cachaça e esse produto era vendido tanto para os botecos da própria vila , como também para cidades vizinhas. A casa do Castelo era uma mini fabrica onde diariamente as empregadas faziam requeijão, dose de calda, leite desnatado e produzia manteiga, no jardim as flores plantadas eram vendidas para arrumação de festas para cidades vizinhas, Estância era uma das cidades que mais comprava flores do Castelo para fazer enfeites e arranjos de casamento. Tinha uma olaria para produção de blocos e telhas, uma carpintaria para a fabricação de carroças e concertos delas e existia também uma casa de farinha. Todos os produtos produzidos no Castelo eram consumidos e também vendidos para ajudar no pagamento dos funcionários. Nada se esperdisava, os restos de comida davam aos porcos que criavam para sua engorda e depois o abate. Todos os sábados tinham uma feira de alimentos onde comerciantes vendiam dentro da fazenda para seus funcionários, todos trabalhadores tinham conta no armazém do Castelo e quando recebiam já deixavam a metade do salário na feitoria. A feira era maior que a da própria vila naquela época. A casa serviu de hospedaria para os representantes que vendiam maquinários para o Engenho. Os sacos de açúcar eram transportados para o Porto da Ribeira em Santa Luzia do Itanhi, decia para Ilhéus, Itabuna e Rio de Janeiro era levado até o porto em carroças de boi, a partir da década de 50 começou a transportar o açúcar em caminhões passando a ser distribuído para todo o oeste da Bahia. O modo de produção do engenho era: os homens cortavam a cana e as mulheres juntavam os olhos da cana para dar ao gado que servia de ração e também plantavam alguns olhos novamente na terra. E dentro da usina somente homens trabalhavam e o açúcar produzido era o mascavo.
No Brasil a exploração da atividade canavieira iniciou-se no século XVI, objetivando o atendimento do mercado exterior e a ocupação efetiva de grandes áreas no espaço brasileiro, como também promover surgimento de centros urbanos. A cultura da cana se prestava economicamente a grandes plantações. Quando iniciou o crescimento da produção canavieira em Sergipe, nos meados do século XVIII e início do século XIX, a cana de açúcar passa a ser à base da economia de Santa Luzia do Itanhi que procurou aproveitar esse novo ciclo da cana do comércio nacional, aumentando sua produção, objetivando a comercialização no mercado interno e externo.

Um pouco da História da Vila de Santa Luzia

Quando o Engenho Castelo começou a funcionar na vila de Santa Luzia, a maioria das casas eram feitas de taipa e o telhado era todo de palha. Aquelas que tinham as casas construídas de tijolos eram pessoas detentoras de poder aquisitivo ou eram trabalhadores da usina que moravam em casas cedidas pelo dono do Castelo. O morador que podia construir sua casa de tijolo comprava do engenho, pois, além de ser produtor de cana-de-açúcar também tinha olaria e alvenaria que somente produziam para a venda e construção de casas para seus trabalhadores e moradores locais da vila de Santa Luzia.
As pessoas que trabalhavam na Usina eram tanto cidadãos da vila como também outras que vinham de cidades diferentes para trabalharem, com isso a economia da época passou a melhorar um pouco. O grande empregador da vila era o Castelo, pois nesse período entre 1882, além dele a prefeitura municipal empregava, porém eram pouquíssimos empregados constatando um total de 20 funcionários, sendo somente três garis para a limpeza das ruas que até o momento só existiam três ruas.
Após o fechamento da usina o Proprietário indeniza seus funcionários dando a maioria deles as casas construídas dentro da vila que pertenciam ao Castelo.
Segundo LOUREIRO (1999), na cidade de Santa Luzia do Itanhi existiu sete engenhos onde serão citados alguns deles:
O único engenho que se localiza na saída da cidade que é vizinho a Estância é o Castelo. Ela afirma que na propriedade do engenho havia escola, banda de música e até um jornal, "O Pirilampo", um importante ponto de referência cultural para a época. E acrescenta que em 1964, a usina Castelo encerra a sua produção. Sendo vendida a propriedade em 1989, na qual é atualmente explorada com pecuária. Afirma ainda que "o conjunto arquitetônico do Castelo é um dos mais preservados da memória açucareira sergipana". p. 91.
Logo em seguida cita o Engenho Cedro que possui uma das mais antigas tradições patrimoniais de Sergipe, ela constatou que a propriedade permaneceu restrita a apenas duas famílias. Sendo que, a primeira escritura do Engenho Cedro foi feita em 1815, em nome de José de Bittencourt Calazans e Dona Antonia de Vera - Cruz Braque tornando-se os proprietários daquelas terras. E complementa dizendo que a propriedade foi repassada para seu filho, o Tenente-coronel Joaquim José de Bittencourt Calazans, por herança, na primeira metade do século XIX. P.44.
Comenta também sobre o Engenho Priapú que se transformou em usina a vapor desde a segunda metade do século XIX e integrava, junto com o Engenho Félix Independente, um complexo industrial açucareiro. Ela ressalta dizendo que o Engenho Priapú foi à penúltima usina a fechar na região sul de Sergipe, e, constatou também que nos últimos dez anos, sob a propriedade da família, as terras destinaram-se à criação de gado. Loureiro termina dizendo que após a desapropriação do Priapú, a casa grande ficou abandonada e foi aos poucos sendo destruída por pessoas sem-terra que estavam reaproveitando de seu material para o assentamento rural vizinho, destruindo com ela, a memória de um lugar que, no passado, abrigou a atividade açucareira.
A explicação para tantos engenhos em uma única cidade nos revela que as terras eram propicias para o plantio da cana. Percebesse que a cidade de Santa Luzia foi um local onde abrigou vários engenhos e que a economia da época girava em torno da cana de açúcar. E que a riqueza gerada por eles contribuiu para formar vários intelectuais e pessoas renomadas na sociedade sergipana.
FREIRE (1995) ao analisar o século XIX, ele constata que com a decadência da indústria açucareira em Sergipe, o Estado passa por uma face ruim, com condições desfavoráveis no mercado externo. Com isso, diz que, alguns produtores de cana começam a desenvolver outras atividades agrícolas como, por exemplo, a plantação de algodão e também dando destaque à pecuária que passam a serem as novas fontes de lucros em Sergipe.
Foi isso que aconteceu em Santa Luzia, as usinas açucareiras entraram em decadência por não conseguirem competir ao mesmo nível mecanizado de indústrias que começaram a fabricar o açúcar cristal melhor qualidade, já que, a maioria dos engenhos produziam o açúcar mascavo que era mais escuro. Com e os donos de engenhos passaram a investir na pecuária que dava menos trabalho e teria menos com funcionários.
No século XIX, Sergipe passa por uma crise açucareira, pois além do seu concorrente ter inovado mais as máquinas que era a Bahia, surgiu outros que passaram a produzir o açúcar e não precisar mais ter que comprar do Estado de Sergipe e nem da Bahia que foi São Paulo. Sergipe passou por essa crise por não ter comprado maquinários novos elétricos e não mais a vapor ou manual, onde esses que foram citados demoravam muito no processo até chegar à fabricação do açúcar e exigia muita mão de obra, com isso, perdia-se muito tempo, porém gerariam mais lucro para os donos de engenho, no entanto eles teriam que fazer um investimento pesado para poder modernizar e obter devidos lucros. Foi nesse impasse que os senhores de engenho de Sergipe acabaram muitos tendo que fechar as usinas e despedir seus funcionários. O Engenho Castelo entra nesse contesto e também sente a crise de perto, pois já estava ficando difícil exportar seu produto para a Bahia e não vendia mais para o Rio de Janeiro. A produção passa a cair e começa a refletir nas demissões dos funcionários.
A crise afetou Santa Luzia do Itanhi nesse novo período aos poucos, e passando essa crise da cana de açúcar que ocorreu no ano de 1960, após ter passado esse tempo comercial ruim os produtores da cana começam a substituir essa atividade por outras que estavam dando bons lucros que era a pecuária e a cocoicultura. Constatou-se que no ano de 1980 quando o coco estava em alta, passou-se a dar espaço e produzir a citricultura, amenizando assim a queda na produção da cana de açúcar.
Como foi observado, são vários concorrentes naturais que surgem para competir e tomar o espaço da cana. A conseqüência disso foi que os donos de engenho que ainda não tinham fechado as usinas começam a ver que o açúcar não é mais viável para eles e passam a abandonar esse negocio e trocam o engenho pela pecuária, pela citricultura e pela plantação de cocos visualizando mais lucros e menos trabalho que plantar cortar, fabricar e vender o açúcar. Além disso, com esse novo empreendimento diminuiria o número de funcionários. O Engenho Castelo não foi diferente, também se adequou aos novos negócios desse período e seu novo proprietário passou a usar as terras para a pecuária.
E no final do século XIX a economia da cana de açúcar passa a cair e ficar sem valor cada vez mais, e era esse produto que fazia a cidade evoluir economicamente na cidade de Santa Luzia. Com a decadência deste produto no mercado Estância a cidade vizinha começa a crescer industrialmente e também passa a entrar com seus produtos em Santa Luzia.
No começo do século XIX observa-se que em Sergipe cresce a população escrava, pois nessa época existiam muitos engenhos e para isso precisava de braços fortes para a plantação e a fabricação da cana de açúcar e os senhores começaram a comprar escravos africanos para trabalharem em suas terras. Há relatos que no Castelo e em outros engenhos que estavam espalhados dentre a cidade muitos escravos trabalharam nas propriedades. O Engenho Cedro é um deles que até hoje residem descendentes de escravos naquela região.
Foram feitas algumas entrevistas para moradores da cidade que já trabalharam no Engenho Castelo com o objetivo de resgatar da memória de pessoas que vivenciaram de perto o funcionamento dele, enriquecendo assim a historia desse engenho. E um dos entrevistados foi o Senhor Julio Conrado, morador há mais de 70 anos na cidade de Santa Luzia, foi vereador suplente três vezes, estando atualmente aposentado.
Senhor Julio começa dizendo que seu pai trabalhava no Castelo quando ele ainda era pequeno, depois ele passou também a trabalhar no engenho sendo chamador de boi, sendo os animais que puxavam as carroças feitas de madeira até mesmo os pneus eram de madeira, que transportava os fechos de cana levando quatro carradas de cana de açúcar por dia indo buscar pela manhã nos lugares mais pertos e a tarde nos lugares longes e a cada dia eram trocados os bois que conduziam a carroça e eram substituídos por outros para que aqueles pudessem descansar. As canas eram levadas para dentro da fazenda onde existia uma balança para pesá-las. Afirma ter trabalhado 20 anos no Castelo passando por varias funções até chegar ao cargo de gerente. Trabalhou por muitos anos como feitor que era a pessoa encarregada de fiscalizar o trabalho dos funcionários e que ele dava ordem a noventa pessoas dando um facão para cada um deles para cortarem a cana. Senhor Julio cita alguns feitores que trabalharam lá também: Zé da Cruz, Domingos Rosa, Seu Dezinho, João de Ana, João Laudino, Francisco Agrião e Pedro Cardoso. Diz também ter existido dois tipos de açúcar produzido no engenho, o cristal e o mascavo. Ele comenta que a fazenda Castelo era uma fabrica porque empregava muita gente e o plantio da cana era feito de seis e seis meses, sendo seis para a plantação e seis para a colheita. Como a fazenda era muito grande plantava os olhos de cana em meses diferente, com isso, teria uma colheita todos os anos.
Julio Conrado lembra que quando a usina começou a funcionar vieram muitas pessoas do sertão de Sergipe trabalhar no Castelo e a vila de Santa Luzia mal tinha ruas e as que tinham a estrada era de terra e não existia calçamento e o restante da vila era tomada pela plantação da cana. O comercio da vila cresce um pouco, pois, o dinheiro que se pagava era pouco mais dava para pagar as dividas e existiam algumas casas comerciais naquela época e quando era dia de sábado ficava difícil a circulação de pessoas dentro das bodegas porque estavam sempre cheias. A feira no domingo ia até as seis da noite e hoje em dia é uma tristeza ver que a feira começa cinco da manhã e termina nove da manhã e mal tem barracas, sendo que antes era uma feira enorme e tinha de tudo para vender, Seu Julio atribui um dos motivos para a feira antigamente ter muita gente foi por causa do Engenho Castelo que empregava muitas pessoas da cidade e que eles passavam a ter um dinheirinho para fazer compras. Ele recorda que presenciou um acidente que aconteceu quando trabalhava como gerente no engenho, diz que quando o caminhão chegou ao povoado Rua da Palha, onde boa parte das terras pertencia ao engenho Castelo que estava com uma grande plantação de cana, parou para carregar o caminhão tendo ele um ajudante e após está carregado de canas cortadas o motorista deu uma ré e não viu que o ajudante estava atrás e acabou atropelando o homem que infelizmente não resistiu e acabou morrendo.
Ele diz também que a policia não ultrapassava a cerca da fazenda Castelo, porque tinham respeito, pois, se alguém brigasse e corresse para lá quando atravessava a cerva o policia não podia entrar porque era um local privado. Recorda-se ainda que em natal o dono do Castelo Senhor Cantidiano mandava matar um boi para seus funcionários comerem e também dava roupas a cada um deles. Complementa dizendo que na fazenda foram construídas varias casas que acabou se tornando uma rua chamada de Rua Estância, as casas eram feitas de taipa e o telhado coberto por palha e só moravam nessas casas os funcionários do engenho. Existia medico de plantão todos os dias para atender algum trabalhador que se ferisse, era o Dr. Jessé o médico ele tinha um enfermeiro que o acompanhava ele atendia também nas casas dos funcionários.
Outra pessoa que também foi entrevistada foi dona Elizabete Silva Leite moradora da cidade de Santa Luzia á 57 anos. Ela era empregada domestica e gomava roupas para dona Josefa filha de Cantidiano o dono do Castelo,sendo que cada filho dele tinha uma lavadeira, ela trabalhou 10 anos lá, porém sendo 5 anos como diarista e os outro cinco como emprega, recebia três mil reis na época. Com isso, ela presenciou muitos acontecimentos de perto no casarão e um deles foi que o senhor Cantidiano morreu com as duas pernas amputadas por causa de uma doença que ele tinha. Menciona também que vieram muitas pessoas de fora trabalhar no corte da cana, pois segundo ela, os homens que moravam na vila não eram suficientes e por isso era preciso contratar pessoas de outros lugares como, por exemplo, pessoas de Pirambú, da Fazenda Proveito em Aracajú e do sertão. Na época de corte da cana a vila ficava muito movimentada e o comercio lucrava com isso, a feira da cidade era muito grande que acontecia todos os domingos vindo pessoas do povoado Priapú, São José, Antas, Povoado Rua da palha para venderem frutas como o mamão, abacaxi, goiaba, maracujá e entre outras. Eles não somente vendiam como também compravam alimentos na feira.
Dona Eliza relata também que quando era a colheita da cana de açúcar os trabalhadores do engenho ateavam fogo no plantio, com isso, diminuiria o tempo e o trabalho de cortar as palhas que cresciam sobre o caule da cana coçava, e ela sendo queimada acabava com esses problemas. Diz também que atual Rua Jackson de Figueiredo conhecido antigamente por Rua da palha era chamada assim porque as casas dessa rua os telhados eram feitos de palha e muitas delas pertenciam ao Engenho Castelo.
Existiam muitas casas que pertenciam ao Castelo e dentro delas a divisão era uma sala, dois quartos e uma cozinha. O banheiro era feito fora das casas, não existia descarga e as pessoas jogavam baldes de água no buraco de dejeções.
Dona Eliza comenta que dentro da casa as cozinheiras faziam vários tipos de doces de banana, de leite, de manga, de caju, também bolos de macaxeira e essas guloseimas eram vendidas na feira que existia dentro do Castelo. Ela diz que as próprias cozinheiras armavam uma mesa e forravam com um pano branco e colocava os doces que eram armazenados em potes de vidro e vendiam, e o dinheiro arrecadado era repassado ao dono do Engenho. Ela lembra também que tinha um médico dentro do Castelo que consultava os funcionários, além disso, realizava partos de mulheres esposos dos trabalhadores de lá.
Portanto, fica visível a importância que este engenho teve para a população luziense, e que através dos relatos de pessoas que vivenciaram o funcionamento do Engenho Castelo, podemos ver a riqueza de detalhes, experiências vividas que ficam guardadas nas memórias das pessoas e como a economia desse lugar cresceu. Fica visível que essa cidade é rica em histórias que ainda precisam ser exploradas não somente para escrever a História dessa cidade como também complementar a história sergipana que infelizmente ainda existem muitos acontecimentos espalhados que muitos estudiosos não tiveram acesso ou não se interessaram em resgatar das memórias das pessoas e documentos deixados.
Com tudo isso, é perceptível entender que a cidade de Santa Luzia abriga um vasto campo de história açucareira, onde se faz necessário que não somente historiadores comecem a estudar a economia, cultura e população onde estavam localizados esses engenhos, mas também que autoridades locais se interessem a divulgar a rica e abundante historia do município ainda inexplorada.

CONCLUSÃO

Atualmente o Engenho Castelo não existe mais, e se transformou em uma fazenda pecuarista onde o proprietário Raimundo Juliano que comprou as terras desde 1989, passou a criar gados da raça Nelore. Utilizando as grandes terras para pastagem, no entanto ele está preservando as chaminés que pertenciam ao engenho e também conserva a casa com todos os traços colônias sendo que desde que foi construída houve pequenas mudanças, mas nada que descaracterizasse a construção arquitetônica. E os outros engenhos que existiam também na cidade de Santa Luzia, fecharam-se todos.
Em fim, a história açucareira de Sergipe juntamente com a ainda a existência de alguns engenhos que continuam de pé como, por exemplo, o Engenho Castelo, precisa ter um reconhecimento maior, pois a economia açucareira no Brasil foi uma das primeiras fontes de renda. Por isso, é preciso conservar aqueles monumentos que ainda resistem ao tempo e continuam de pé para que futuramente outras gerações possam conhecer como era a estrutura daqueles engenhos.

















REFERÊNCIAS


FREIRE, Felisberto. História Territorial de Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe/Secretaria de Estado da Cultura/FUNDEPAH, 1995.


LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Arquitetura Sergipana do Açúcar,Aracaju 2002,p.87 a 92.



PASSOS SUBRINHO, José Modesto dos. Reordenamento do Trabalho, Aracaju 2000, p.54 a 74.


SANTOS, Lenalda Andrade. OLIVA, Teresinha Alves. Para conhecer a história de Sergipe. Aracaju: Opção Gráfica, 1998.


SILVA, Maria Isabel Ladeira. História do Brasil:, Rio de Janeiro: UFS, 2000.



Site Café Historia Os estudos da cana de açúcar em Sergipe.
Acessado em 31/08/09 ás 15:40 horas. http://cafehistoria.ning.com/group/historiadesergipe/forum/topicos/os-estudos-sobreacana-de.



Site Web Artigos, http://www.webartigosos.com/articles/37228/1/Santa-Luzia-do-Itanhi-Conhecendo-nossa-historia/pagina1.html. Acessado em 08/08/2010 as 17:00 horas.


































APÊNDICES




















Entrevistado:
Assunto: História do Engenho Castelo
Data da Entrevista: 03/12/2010 Hora:




Questionário


1) Há quantos anos o senhor mora em Santa Luzia?

2) Já trabalhou no Engenho castelo? Qual sua função?

3) Há quantos anos trabalhou no Castelo?

4) Qual era o tipo de açúcar produzido?

5) Você sabe contar alguma historia que aconteceu quando trabalhava nesse engenho?

6) Os funcionários eram todos da cidade de Santa Luzia ou vinham pessoas de fora trabalhar no Engenho Castelo?

7) Para a colheita de cana tinha época ou eram todos os meses do ano?

8) Cantidiano o dono desse engenho era um patrão rígido com os empregados
ou tinha uma relação amigável ?

9) Quando o engenho funcionava, dentro da fazenda existia varias casas para seus funcionários morarem? De que eram construídas essas casas?

10) Mulheres trabalhavam no corte da cana?

11) Na preparação do açúcar alguém já se cortou, amputou algum dos seus membros?

12) É verdade que existiam médicos no engenho para atender os funcionários?

13) Nessa época tinha muitas casas comercias na cidade?

14) Com a instalação do Engenho Castelo o comercio cresceu?








Autor: Rafaela Assis Donato


Artigos Relacionados


Cidade De Viana Do Castelo

Santa Luzia Do Itanhi: Conhecendo Nossa História

Nota Prévia Sobre A Propriedade Canavieira Em Sergipe

Identidade E Valorização Do Engenho Camaragibe No Século Xvi

Cedro

Um Breve HistÓrico Do Desenvolvimento No Vale Do PindarÉ

Infância