Educação nas sociedades antigas: tribais, orientais e grega



A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES TRIBAIS
As chamadas comunidades primitivas (antecedentes à invenção da escrita) utilizavam, quase que exclusivamente, a agricultura, o pastoreio, a caça e a pesca para sua sobrevivência. Além disso, não possuíam divisões de classes sociais, logo não existia a relação mando-obediência, e os padrões de comportamentos desenvolviam-se na base do consenso.
Diante desses aspectos, a educação nessas civilizações torna-se interessante, ainda mais pelo fato de não haver a escrita. Por esse motivo, não existia a figura da escola e o processo educativo visava "preparar o indivíduo para a vida e ao mesmo tempo prepará-lo para poder participar da vida do grupo, realidade indispensável, sob vários aspetos, para a sobrevivência" (GILES, Thomas Ransom, 1987, História da Educação, p. 4).
Vale ressaltar que os mitos tinham forte presença na cultura desses povos e, portanto, a obediência aos ensinamentos míticos era algo de extremo valor, haja vista o medo de ser prejudicado física e mentalmente pela desobediência ao totem(geralmente um animal e às vezes um vegetal, o totem é o antepassado mítico de uma tribo que concede proteção a cada um de seus membros). Vemos então a presença de um sistema educacional baseado na imitação, que não forma críticos, mas apenas repetidores de informações.
No processo de transmissão de conhecimentos, as tribos realizavam as chamadas cerimônias de iniciação, nas quais os jovens eram submetidos a testes de resistências físicas e psicológicas. Esses testes eram aplicados pelos mais experientes das tribos, principalmente pelos chamados feiticeiros e xamãs. É importante salientar que estes últimos, embora tivessem muito respeito e admiração dentro das tribos, não eram vistos como chefes ou seres superiores. A cada uma dessas resistências, todos os jovens tinham acesso de forma igual aos mesmos conhecimentos e adquiriam valores como "obediência, reverência, resistência à fome, confecção de enfeites, tratamento digno à esposa e aos colegas, dentre outros" (MELATTI, Júlio Cezar, 1980).
Embora as civilizações tribais tenham algumas características negativas para o atual modelo de educação, como por exemplo, o conformismo do aprendiz, podemos destacar algumas contribuições importantes, quais sejam: conhecimento universal e ensino de princípios éticos.
A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ORIENTAIS
As civilizações orientais tiveram início a partir do momento em que novas técnicas foram descobertas e ou aperfeiçoadas:
"[...] aprenderam a conhecer os regimes das chuvas e das estiagens, a drenar os pântanos para ampliar as áreas de cultivo, a construir diques para conter as enchentes e a abrir canais de irrigação. Desenvolveram-se novas técnicas de plantio com o aparecimento do arado-semeador. A agricultura irrigada e os demais avanços tecnológicos e nos métodos de trabalho possibilitaram um aumento considerável na produção de alimentos, gerando excedentes em maior escala."(MOTA, Myriam Becho, História: das cavernas ao terceiro milênio, 2005, p.30)
Como podemos perceber, essas inovações acarretaram na produção de alimentos em abundância, que, por conseguinte trouxe melhores condições de vida que, por sua vez, implicou num acentuado crescimento populacional. Além disso, passou a existir a troca de excedentes, dando-se início ao comércio. Paralelamente a isso, surgiram outras profissões seguidas da divisão do trabalho. Assim, devido às necessidades surgidas com a diversificação das atividades econômicas e coordenação de obras de interesse coletivo, surge o Estado, o qual entendemos por "conjunto organizado das instituições políticas, jurídicas, administrativas, econômicas, etc. sob um governo autônomo e ocupando um território próprio e independente"(MARCONDES, Danilo, Dicionário básico de filosofia, 1996, p.90). Com o advento do Estado, surgem a escrita - indispensável ao registro das funções administrativas - a figura dos governantes, e uma elite que passa a ter privilégios, como por exemplo, apropriar-se de terras e de parte das colheitas feitas para todos. Como conseqüência intensifica-se as desigualdades sociais.
Notemos que até aqui, as sociedades orientais já diferem muito das sociedades tribais: surgem a escrita, o comércio, o Estado e a divisão de classes sociais. Diante desses novos aspectos, a educação, que antes era para todos, passa a ser privilégio de uma minoria e tem "por alvo recapitular o passado, resumir no indivíduo a vida do passado, de modo que ele não a possa modificar nem avançar além dela" (MONROE, P. Op. cit., p.23-26). Vale lembrar que a essa altura da história, a educação já passa a ser transmitida através das escolas. O processo educativo, como notamos nas palavras de Monroe acima, ainda tem por base a memorização. Para que esta fosse realizada, usa-se a constante repetição até que o hábito seja fixado com toda a exatidão. Com isso a escola pretendia preservar as instituições existentes na sociedade, sem modificações ou alterações.
As sociedades orientais, assim como as tribais, trazem alguns aspectos negativos para o atual modelo de educação, como por exemplo, o fato de se evitar sobremaneira a criatividade e a originalidade. Mas por outro lado, essa civilização nos deu uma importante contribuição no que diz respeito aos primeiros questionamentos a respeito dos objetivos da educação.
A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA
Assim como nas civilizações já abordadas, a maioria das cidades gregas também utiliza a agricultura para a sua subsistência. Além da agricultura, outra importante forma de economia foi o comércio marítimo. Com este, os gregos alcançaram grandes desenvolvimentos, chegando até mesmo a cunhar moedas de metal. Os escravos, devedores ou prisioneiros de guerras, foram utilizados como mão-de-obra. Isso mostra que ainda existiam divisões de classes sociais. Como nos diz Moses Finley "ela (Grécia Antiga) mudou de uma sociedade na qual a categoria social seguia ao longo de uma série contínua para outra na qual as categorias sociais se agrupavam em dois extremos, o escravo e o livre".
Devido à necessidade de novas terras para a prática da agricultura, os gregos iniciaram um processo de expansão de seus territórios. Em meio a essa expansão, várias guerras ocorreram. Quanto à forma política, buscava-se um sistema baseado na democracia. Esse novo cenário socioeconômico e político acabou influenciando na educação. Como por exemplo, em Esparta, a educação era voltada tão-somente para a formação física dos indivíduos, a fim de formar guerreiros que pudessem contribuir com uma eventual guerra.
Paralelamente a isso, o conhecimento se expandiu de tal forma que os mitos já não davam conta de explicar tudo. Foi a partir desse momento que se deu início a uma classe de pensadores na Grécia, depois chamados de sofistas, que questionavam os mitos e a forma de governo adotados pelos gregos. As idéias desse novo grupo de intelectuais podem ser percebidas, por exemplo, na educação de Atenas, onde se dava ênfase à formação intelectual do indivíduo. Influenciados pelos sofistas, surgiram os primeiros filósofos, Sócrates, Isócrates, Platão e Aristóteles. Cada um destes contribuiu de forma expressiva para a educação. "Influenciados pela experiência política da democracia, esses sábios tentavam transmitir um novo tipo de sabedoria, onde o aluno teria a capacidade de persuadir e manipular as massas" (GILES, Thomas Ransom, 1987). O processo educativo usado é o não-conformismo, que visa buscar a constante transformação da realidade social à qual os indivíduos estavam inseridos. Para que isso fosse realizado, os jovens dedicavam-se a prática como dança(exercício físico e música), leitura, escrita, e literatura.
Diante do que foi apresentado, vemos que as comunidades gregas desenvolveram importantes teorias para a educação, as quais usamos até hoje: educação formal para as classes pobres, o cuidado com o corpo, formação de cidadãos críticos, estudos direcionados à própria educação, a pedagogia, entre outras contribuições.
CONCLUSÃO
Mediante os textos expostos ao longo deste trabalho, podemos inferir que as civilizações antigas, em especial as trabalhas aqui, contribuíram bastante para o atual modelo de educação. As sociedades tribais mostram-nos a importância de um conhecimento universal, as sociedades orientais nos levam, ainda que indiretamente, aos primeiros debates sobre os objetivos da educação, e por fim as sociedades gregas que nos tornam seres conscientes e ativos. Percebemos ainda que à medida que se alterava o quadro socioeconômico e político de cada uma dessas sociedades, alterava-se também o modelo de educação adotado, ou seja, cada modelo novo de educação, ao longo da história das civilizações antigas, surgiu em função das necessidades oriundas das deficiências do Estado. Sob essa perspectiva podemos afirmar que política, economia, realidade social e educação são vertentes que estão intimamente ligadas.

Autor: Fernando Costa Gomes


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