Resenhando A Ordem do Discurso



Resenha do livro A ordem do Discurso de Michael Foucault
FOUCAULT, M. A ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996. ? Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio.

No livro em que Michael Foucault pronunciou ao assumir a cátedra vacante no Collège de France, em 1996, com atualização em 2010, devido ao grande sucesso e as profundas relações e correlações entre as práticas discursivas e os poderes que as permeiam e controlam os discursos na sociedade, sejam por formas de poder e de repressão, como o autor reforça quando descreve "... suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que tem por função conjurar seus poderes, dominar seu conhecimento aleatório [...]" (p.8-9).
No decorrer do discurso, Foucault esclarece que todo discurso é controlado pela interdição, ou seja, existem tabus para o discurso, e que, não se tem o direto de dizer tudo a qualquer pessoa, em qualquer lugar ou circunstância. Segundo Foucault, na sociedade existem tipos de tabus que ainda deixam o discurso, longe de ser um elemento transparente ou neutro, que seriam: a política e a sexualidade, onde a sexualidade se desarma e a política se pacifica, revelando a ligação entre desejo e poder (p. 10).
O autor ainda aborda outro princípio, o de exclusão, pensando na oposição entre razão e loucura, onde, o louco é aquele cujo discurso não pode circular igualmente ao dos outros, pois pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, ou ainda, a sociedade não o compreende, e o discurso tornava-se um ruído, só sendo visto com verdade mascarada no teatro, e assim mesmo simbolicamente. E, portanto sem validade.
Com isso, o autor, arrisca-se, como ele mesmo descreve, a considerar a oposição do verdadeiro e do falso também como um sistema de exclusão (p. 13), e com isso, promove uma discussão, na qual descreve que o discurso verdadeiro não é mais o discurso precioso e desejável, visto que estaria ligado ao poder. Fica a questão: os oprimidos, seriam os falsos? Mas Foucault declara que "o discurso mascara a verdade" e antes de poder ser declarada verdadeira ou falsa, deve encontrar-se, como diria M. Canguilherm, "no verdadeiro". E ainda, que cada sociedade define seu discurso, ou política, onde, os discursos políticos, educacionais, religiosos, terapêuticos não podem ser dissociados dessa prática que determina para os sujeitos que falam, ao mesmo tempo, propriedades singulares e papéis preestabelecidos (p. 39).
Foucault faz menção também às "sociedades do discurso", difusas, mas certamente coercitivas, onde mesmo num jogo ambíguo e "verdadeiro" deveriam circular em ambientes sigilosos e de não permutabilidade.
O autor ainda salienta, que, de acordo com a filosofia, o discurso nada mais é do que um jogo, de escritura, de leitura e de troca, com isso colocando em jogo os signos, anulando-se em sua realidade, declarando que, "a analise do discurso, assim entendida, não desvenda a universalidade de um sentido; ela mostra à luz do dia o jogo da rarefação imposta [...]" (p. 70).
Ao final, assume-se como seguidor de Hegel e infinitamente devedor a sua obra, e, sabedor do que causava a dificuldade de falar e de começar. À evocação.

Autor: Edi Sartori


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