Pensamento Humano



Pensamento Humano

Em 2003, o mundo foi vítima de mais um ato bestial protagonizado pelo homem. A ocupação do Iraque pelos Estados Unidos, mesmo sem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e apesar dos apelos de chefes de estado, intelectuais, artistas e personalidades de vários países, inclusive norte-americanos, não demoveram George W. Bush da idéia de invasão. Tropas militares, tanques e aviões de guerra incursionaram território iraquiano adentro em busca de armas químicas e em nome do combate ao terrorismo.
Examinando essa experiência, concluímos que o real objetivo do governo norte-americano era o petróleo e a reconstrução da infra-estrutura do país agredido por empresas dos Estados Unidos.
No cerne dessa ação está o pensamento humano hegemônico atualmente. O sistema capitalista orienta-se pelo princípio da acumulação e do individualismo. O bem material está acima das pessoas e das relações sociais. Dessa forma, o relevante é o ter e a competição, mesmo que para isso abram mão de qualquer escrúpulo. Essa forma de pensar o mundo contamina a produção cultural, ou seja, cinema, teatro, música. Os filmes de Hollwood expressam precisamente o comportamento aceitável para o tempo atual, o qual é norteado pelo individualismo, desapego ao outro e valorização do consumo.
A violência e o materialismo exacerbado são expoentes ao pensamento humano, no entanto, não é possível reduzirmo-lo apenas a isso. Existem movimentos de resistência cultural, política e econômica que se reivindicam de outro paradigma, o humanista. Darcy Ribeiro, no livro o Dilema da América Latina, destacou que o desenvolvimento latino-americano passa pela ruptura da estrutura social e cultural da região. Para isso, é imprescindível o desenvolvimento de um sistema que inclua todos os cidadãos e seja capaz de efetivar a autonomia tecnológica e política. De outra parte, José Carlos Mariatégui, intelectual peruano, na década de 1930, alertava para a necessidade dos movimentos populares peruanos incorporarem ao projeto alternativo de construção da nação peruana a experiência histórica indígena do comunismo primitivo. Assim, as lideranças deveriam desprender-se de teorias estranhas a realidade do país, como, por exemplo, o marxismo-leninismo, para analisar a realidade e mudá-la com a participação efetiva dos índios.
O pensamento é constituído historicamente através dos conflitos sociais, culturais e políticos. A cristalização de uma sociedade justa, livre, igualitária é possível somente por uma razão: porque percebemos a ausência dessas categorias na dinâmica do nosso cotidiano. Nessa perspectiva, o homem e a mulher travam uma batalha pela dês alienação da sociedade, ou seja, para que todos sejam capazes de agirem de forma autônoma, para deixarem de perceber o mundo através dos olhos e mentes dos intelectuais do sistema hegemônico.
Na disputa cultural por um novo paradigma de organização societal, o ensino da História é um ótimo instrumento de intervenção social. Conforme a contribuição de Antonio Gramsci, a sociedade civil é a força de disputa contra-hegemônica e capaz de estabelecer outra ordem social. Assim, a discussão histórica, inter-religiosa e ecumênica, nas escolas, atua como mediação a difusão de valores como tolerância ao diferente, convivência em grupo, sensibilidade social e coletiva. Portanto, a substituição da cultura individualista e consumista pela cultura que valorize o ser humano carece da aproximação do pensamento histórico e religioso da realidade do ser humano. Dessa forma, se a cultura de paz, encarnada na mística da vida popular, estivesse consolidada no mundo, Bush não teria tido condições de violentar uma nação soberana para satisfazer os interesses do capitalismo.

Texto: Clarice Fátima Dal Médico ? Professora de História, Filosofia, sociologia e Ensino Religioso.
Autor: Clarice Fatima Dal Médico


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