O rei está nu



Por demais conhecida a história em que todos vêem o rei sem roupas, porém apenas um menino em sua inocência e desprovido de qualquer sentimento de bajulação, grita para todos que o rei está nu. O que mais falta aguardar para dizer aos quatro cantos que com relação ao carnaval da Bahia, o rei está nu?
Propalado em prosas e versos como o maior espetáculo da terra, como o carnaval da democracia, a maior concentração de artistas em um único evento, a maior arena lançadora de novos e promissores artistas a cada ano, e o melhor local para um ser vivo se divertir em segurança, e desfrutando de um visual deslumbrante tendo o céu e o mar como testemunhas. Mas a realidade é bem diferente do que se propaga. A começar pelo povo da terra. Em recente pesquisa se constatou que entre quatro habitantes de Salvador, principalmente os que residem próximos dos circuitos carnavalescos, três fogem da cidade na semana de carnaval. Quem agüenta uma mesmice por tanto tempo? O que se vê a cada ano nos circuitos tradicionais é a violência tomando conta do carnaval e a polícia cada vez mais impotente para conte-la. Não por incompetência, mas por aumento de demanda. E a maioria dos fatos violentos não é mostrada pela imprensa, pois é conivente com os governantes e donos de trios. Quem quer ficar fora das verbas de propaganda do governo? A orientação dada aos que nos visitam nesse período é para não saírem com isso, não saírem com aquilo, não levem dinheiro, não usem tênis de marca, evitem os trios independentes, e por aí vai. Melhor seria mandarem os turistas e demais visitantes, brincarem o carnaval por correspondência. Ou melhor: chegarem, hospedarem-se, gastarem, mas não pisarem os pés fora dos hotéis. Comprar "abadás" dos blocos e carregá-los numa sacola à vista é o mesmo que sair carregando dinheiro e avisar aos assaltantes que está com os bolsos cheios de grana.
E a Barra? Bairro outrora pacato e residencial tornou-se o principal palco dessa bagunça sem que sequer tenha sido dado ao seu morador o direito de se manifestar. Todos os envolvidos nessa festa ganham. Ao pobre morador resta-lhe apenas a insegurança, o direito de não se locomover pelo bairro durante o evento, a barulheira infernal dos trios elétricos, os constantes engarrafamentos no trânsito e os transtornos causados pela montagem e desmontagem dos camarotes. Sem falar do mau cheiro causado pelos foliões, que utilizam as vias públicas para satisfazerem suas necessidades. Aliás, fato comum em Salvador. E ainda vem o Ministério Público, propalando que reduzira apenas a quatro o número de eventos a serem permitidos no bairro da Barra: Carnaval, Réveillon, aniversário de Salvador e Dois de julho. Morador da Barra desde 1950, nunca vi comemoração de Dois de julho na Barra. Sempre foi no centro histórico, Lapinha, e Campo Grande. Aniversário de Salvador, só de alguns anos para cá, coisa recente e que em nada atrapalha a vida de ninguém. Réveillon também nunca atrapalhou a vida dos moradores. Agora o carnaval com uma enfieira de trios atazanando os ouvidos de quem paga e caro o IPTU daquele bairro, esse sim, é o nosso inferno de Dante. Portanto essa medida do Ministério Público, na verdade não trás benefícios aos moradores da Barra. É apenas uma maneira encontrada de "sair de baixo" de um problema até agora sem solução. Enquanto uma minoria junto com os órgãos públicos de gerência da cidade enche os bolsos, a nós moradores, principais afetados pelo carnaval em nosso bairro, só nos resta a possibilidade de "cair fora" ou ficar e se sujeitar a essa coisa insana que é o carnaval na Barra e gritar uníssono que "o rei está nu."
Beyler



Autor: James Leite Pinto Seixas


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