DIAGNÓSTICO DE UM PROGRAMA DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: Viver com Saúde da Unidade Mista de Saúde do Pajuçara



No presente trabalho estudou-se o projeto Viver com Saúde da Unidade Mista de Saúde, do bairro Pajuçara localizada na Zona Norte de Natal/RN. Foi realizado um diagnóstico do programa, investigando as atividades realizadas, bem como as influências do programa para a qualidade de vida no ambiente organizacional da unidade. A pesquisa foi desenvolvida na perspectiva qualitativa e para coleta de dados utilizou como instrumento entrevistas estruturadas com seis participantes do projeto e entrevista semi-estruturada com a gestora. Constatou-se que os atendidos pelo programa da unidade sentem os benefícios positivos das ações promovidas em seu local de trabalho e que o projeto Viver com Saúde oferece atividades que proporcionam a qualidade de vida aos funcionários através de práticas relacionadas à saúde e ao bem-estar.
Palavras-chave: Qualidade de vida. Qualidade de vida no trabalho. Projeto Viver com Saúde.

INTRODUÇÃO
A qualidade de vida no trabalho hoje pode ser definida como uma forma de pensamento envolvendo pessoas, trabalho e organizações, onde se destacam dois aspectos importantes: a preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a eficácia organizacional (RODRIGUES, 1994).
A qualidade de vida no trabalho é a capacidade de administrar o conjunto das ações, incluindo diagnóstico, implantação de melhoria e inovação gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho alinhada e construída na cultura organizacional com prioridade absoluta para o bem-estar das pessoas da organização (idem).
A partir desse pressuposto estudou-se através desta pesquisa o "Projeto Viver com Saúde" realizada pela Instituição de saúde pública nomeada Unidade Mista de Saúde do Pajuçara localizada na zona norte de Natal/RN. Esta unidade é denomina "mista" por oferecer serviços de pronto-atendimento e ambulatoriais. No posto de saúde atuam funcionários nas áreas de enfermagem, psicologia, nutrição, médico (clínico geral), auxiliar de serviços gerais, dentre outros cargos.
No presente artigo realizou-se uma verificação destas atividades e um diagnóstico do programa. O Viver com Saúde, criado em 2007, apresenta diversos aspectos que podemos ter como referência de um programa de qualidade de vida, bem como algumas dificuldades para implementar as ações do programa no ambiente de trabalho. O programa é coordenado pela nutricionista da unidade, Rosângela Sandra Ferreira. E são desenvolvidas atividades de exercício físico (caminhada e alongamento), oficinas de alimentação saudável, palestras sobre qualidade de vida, datas comemorativas e aniversariantes do mês, passeios com os funcionários da unidade de saúde, além de campanhas de vacinação. Tais atividades são ministradas por profissionais da área que são geralmente estagiários ou contratados pela gestão do projeto.
Através da pesquisa, estaremos contribuindo com o diagnóstico do programa para futuras mudanças e melhorias em seu decorrer de prática que promovam a qualidade de vida no trabalho. Os programas de qualidade vida no trabalho vêm de encontro à rotina desgastante e massacrante da atualidade existente nos ambientes laborais. Segundo Handy (1995), isso começou quando passamos a transformar nosso tempo em mercadoria, pois quanto mais tempo se vende, mais dinheiro se faz.
Este estudo mostra-se relevante para compreendermos de que forma podemos implantar um programa tão indispensável ao ambiente de trabalho e como este pode refletir na qualidade de vida dos funcionários, até o melhor desempenho da instituição, seja ela pública ou privada. A seguir, discutiremos os conceitos de qualidade de vida no trabalho e a sua relação com os programas de qualidade de vida que são implantados nas empresas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Muitos empresários estão percebendo que melhorar a qualidade de vida de seus funcionários e de suas famílias traz benefícios para a empresa e a faz mais saudável, competitiva e produtiva. Essa é das principais funções da QVT, que se baseia principalmente na melhora da qualidade de vida do funcionário e no melhor funcionamento e relações do ambiente de trabalho.
Segundo Chiavenato (2002, p. 391),

A QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) tem o objetivo de assimilar duas posições antagônicas: de um lado, a reivindicação dos empregados quanto ao bem-estar e satisfação no trabalho, do outro, o interesse das organizações quanto a seus efeitos sobre a produção e a produtividade.

O atual ambiente organizacional caracteriza-se por uma turbulência crescente, com as mudanças sucedendo-se a uma velocidade sem precedentes. A partir do crescimento da economia, intensificou-se a necessidade de reorganização das estruturas, da adoção de novas técnicas de gestão administrativa e de um inovador processo produtivo a fim de compatibilizar a organização com as condições necessárias à sua sobrevivência em um ambiente altamente competitivo.

De acordo com Rodrigues (1994, p.76),

A qualidade de vida no trabalho tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência com outros títulos em outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem estar ao trabalhador na execução de sua tarefa.

A qualidade total teve bastante influência para o desenvolvimento da qualidade de vida no trabalho, pois das práticas anunciadas pelo sistema de controle da qualidade total, têm-se algumas que devem ser destacadas para melhor análise da influência, tais como: maior participação dos funcionários nos processos de trabalho, ou seja, uma tentativa de eliminação da separação entre planejamento execução; descentralização das decisões; redução de níveis hierárquicos; supervisão democrática; ambiente físico seguro e confortável; além de condições de trabalho capazes de gerar satisfação, oportunidade de crescimento e desenvolvimento pessoal. Estas práticas representam um esforço para a melhoria das condições de trabalho, ou seja, existe um movimento pela melhoria da qualidade de vida no trabalho na filosofia do controle da qualidade total.
Mauro (2006) defende que as empresas devem criar ações ou programas de Qualidade de Vida no Trabalho alinhadas com sete pilares. São eles: Saúde e esporte, que são os cuidados com a saúde do próprios funcionários ; Família/afetividade, que são as atividades que promovam a harmonia com os entes dos funcionários; Carreira e vocação, que é a dedicação a atitudes empreendedoras no trabalho; Cultura e lazer, que é o aproveitamento do tempo livre com leituras, cursos, cinema etc.; Sociedade e comunidade, que é a prática voltada para condutas socialmente responsáveis; Bens e possessão, que é o valor dado aos bens que o executivo já possui; e Mente e espírito, que é o cuidado com a espiritualidade.
Com isso, percebemos que os programas de qualidade de vida devem conter princípios básicos que norteiam a vida do funcionário não apenas na empresa, mas em todo o contexto biopsicossocial. As atividades realizadas por um programa de QVT devem propor verdadeiros processos adaptativos de estilos de vida e rotina de trabalho, pois nem sempre os funcionários de uma determinada instituição apresentam aspectos positivos em suas vidas que promovam para si uma melhor qualidade de vida.
De modo geral, os programas de qualidade de vida no trabalho:
São um conjunto de ações de uma organização que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais,tecnológicas e estruturais dentro e fora do ambiente de trabalho,visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho (ALBUQUERQUE 1998, p.41)

Os programas de qualidade de vida no trabalho devem estar submetidos a uma crescente sofisticação, através dos resultados que obtiver com relação aos funcionários de uma empresa, o programa deve procurar se adequar sempre aos anseios e necessidades dos funcionários e da instituição. Entretanto, ao mesmo tempo os programas de QVT devem centrar-se nas mudanças do estilo de vida, para o beneficio da qualidade de vida dos funcionários. Dessa forma, o programa estabelece uma intima relação com os determinantes sociais presentes no ambiente de trabalho.

Assim, um programa de Qualidade de Vida no Trabalho deve atingir todos os níveis, direcionando esforços para a canalização da energia disponível para o comprometimento humano. A necessidade de tornar nossas empresas competitivas colocou-nos de frente com a busca pela qualidade, que deixou de ser um diferencial competitivo, para se tornar condição de sobrevivência. Para tanto, é necessário canalizar esforços para alcançar qualidade, mas sem esquecer o comprometimento humano e que elas são a peça mais importante da organização. Com isso haverá qualidade e qualidade de vida no trabalho.
De acordo com Vilarta e Gonçalves (2004):
Os empregados devem sentir que o programa serve a seus interesses e que podem usufruir de todos os benefícios que o compõem. Esse sentido de propriedade pode ser fortalecido com o sigilo sobre os dados de saúde do empregado e envolvendo os trabalhadores no gerenciamento e na execução do programa, bem como no pagamento de uma parte dos custos (p. 135).
Por isso, é necessário muitas vezes mudar a estrutura física, a política da em presa e própria cultura no local de trabalho. Para a implantação de programas dinâmicos e que apresentem resultados satisfatórios é necessário estimular o funcionário a assumir a responsabilidade pelo programa.
As organizações devem ter o hábito constante de acompanhar seu funcionário, e procurar identificar se o mesmo encontra-se satisfeito com sua função e com seus benefícios, para que possa a partir desse acompanhamento desenvolver melhorias para melhorar o desempenho de seus funcionários.

A Valorização humana na empresa importa na consideração da plenitude de realização do homem, cujos referenciais para nós são os quatros pólos existenciais: fé, amor, trabalho e lazer. Esses são os fundamentos de uma política de valorização do ser humano no trabalho, que compreende, em uma visão integrada, as funções clássicas de recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvimento gerencial, benefícios, cargos e salários, avaliação de desempenho, promoção sucessão e comunicação interna (MATOS, 1997, p.17).

Qualidade de vida é ter plena consciência dos benefícios à saúde, é ter consciência do que essa escolha trará para as pessoas e um meio para que a empresa possa aproveitar melhor o potencial dos seus colaboradores. Qualidade de vida no trabalho é entender e procurar atender as pessoas em suas necessidades integrais relacionadas às dimensões mental, física, social, emocional e espiritual e necessidades integrais.

METODOLOGIA, RESULTADOS, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

A pesquisa se constituiu em um estudo para realizar o diagnóstico do programa de qualidade de vida Viver com Saúde. Para isso foi empregado como instrumento de coleta de dados entrevistas estruturadas com seis participantes do programa e entrevista semi-estruturada com a coordenadora do projeto.

Os entrevistados possuíam as seguintes profissões: Psicólogo, Técnica de enfermagem, auxiliar de serviços gerais, Enfermeiro, médico (clínico geral), fisioterapeuta. As idades estavam correspondidas entre 26 e 46 anos.

Observações participantes das atividades também foram feitas para a melhor compreensão do projeto. O presente trabalho possui um caráter qualitativo e é redigido de modo exploratório, mostrando os principais pontos do programa e do diagnóstico final.

Durante as entrevistas com os funcionários fizemos perguntas relacionadas aos benefícios do projeto, de que forma ele contribui para o ambiente de trabalho. Todos os entrevistados relataram que houve melhora no modo do agir dos funcionários, de modo a estarem mais dispostos para a rotina da instituição. Além de trazer melhoras significativas à qualidade de vida dos participantes do projeto. Conhecimentos como a alimentação diária saudável e a prática de exercícios físicos regulares foram sendo implantadas de forma a conscientizar os envolvidos nas atividades.

Com relação a implantação do projeto, os entrevistados relataram que houve dificuldades para a iniciação das atividades na instituição devido a pouca importância que viam na implantação de um projeto deste tipo. Todavia, relatos dos entrevistados afirmam que o número de participantes aumentou depois da implantação do projeto. Pois, com a realização das atividades e conscientização das pessoas, os funcionários passaram a perceber que o projeto traz grandes contribuições para a qualidade de vida.

Segundo a gestora do projeto, a nutricionista Rosangela Sandra, o Viver com Saúde surgiu com a proposta de um grupo de caminhada e que posteriormente foi se consolidando como um projeto maior que engloba desde oficinas de alimentação saudável à palestras sobre qualidade de vida.

DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se tratando do condicionamento físico, as ações desenvolvidas estimulam a prática de esportes por meio de programas de incentivo a equipes de corredores, passeios ecológicos, caminhadas e torneios esportivos, entre outras atividades desenvolvidas. Deste modo, o projeto contribui no equilíbrio entre a saúde física, emocional, social, espiritual e intelectual dos funcionários.
O sucesso da implementação de programas de qualidade de vida depende, por um lado, do comprometimento dos colaboradores em fazer boas escolhas quanto aos hábitos saudáveis e às atitudes de enfrentamento à adversidade e, por outro lado, da empresa em poder fornecer condições necessárias para que essas escolhas aconteçam. Para Fernandes (2000) muitas corporações estão tentando construir este setor com a implantação de programas aleatórios, que não trazem os resultados necessários e desejados, pois um programa de qualidade de vida deve ter um direcionamento e um acompanhamento, o que requer tempo e dedicação.

Um programa de qualidade de vida em empresas deve promover ações que se revertam em benefícios à saúde dos funcionários e deve criar mecanismos para lidar com as dificuldades que as pessoas e a empresa têm para aderirem à prática contínua de atividades de qualidade de vida, considerando que qualidade de vida no trabalho é muito mais do que escolher praticar atividades físicas, ter uma alimentação adequada, aproveitar melhor o tempo livre, aprimorar seus relacionamentos, enfim, escolhas que fazem com que as pessoas tenham uma vida saudável.
Os entrevistados nos relataram os principais benefícios que obtiveram nas atividades desenvolvidas, estes benefícios envolveram o bem estar físico, o desestresse, mais disposição para as atividades do dia-a-dia. As práticas desenvolvidas estimulam o cuidado de si, promovendo uma melhor qualidade de vida, segundos os entrevistados, e mais disposição para a rotina de trabalho.
Apontou-se que a rotina do trabalho tornava-se mais prazerosa depois da adoção do programa pela Unidade de Saúde, contribuiu para autoestima, o ambiente de trabalho tornou-se mais alegre e flexível para aqueles que participam do programa desenvolvido. No dia-a-dia os funcionários sentem-se mais alegres após as atividades desenvolvidas, o que possibilita melhor atender os pacientes que procuram esta Unidade de Saúde.
Houve algumas resistências da parte dos funcionários ao aderirem o programa "Viver com Saúde" uma vez que era uma proposta nova e alguns não a consideravam importante para o ambiente organizacional. Entretanto, existiu uma crescente adereça por parte dos funcionários, que passaram a ver o programa de forma positiva. No entanto, a assimilação do programa ainda não é total por parte de todos os funcionários.

Questionados se o programa desenvolvido refletia no ambiente de trabalho, revelou-se que o "Viver com Saúde" promove um melhor ambiente organizacional, pois como revelam as falas dos entrevistados, depois da implementação do programa sentem-se mais felizes e descontraídos no ambiente organizacional, tornando-se mais dispostos para a execução das tarefas diárias. Além da adoção de hábitos saudáveis, estimulados através das campanhas e palestras educativas promovidas.

É necessário criar um ambiente onde às pessoas possam se sentir bem com a gerência, com elas mesmas e entre seus colegas de trabalho, e estar confiantes na satisfação das próprias necessidades, ao mesmo tempo em que cooperam com o grupo.
ANEXOS
Imagens


Ilustração 1: Grupo da Unidade Mista do Pajuçara participando de práticas corporais no Programa Viver com Saúde.


Ilustração 2: Grupo da Unidade Mista do Pajuçara participando de Palestra sobre Qualidade de Vida no Programa Viver com Saúde.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

ALBUQUERQUE, L.G, Estratégia de Recursos Humanos e Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho: O stress a expansão do conceito de qualidade total. Revista de Administração, São Paulo, Abril/Junho, 1998.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983.

FERNANDES, E. Qualidade de vida no trabalho ? Como medir para melhorar. São Paulo: Pioneira, 2000.

GONÇALVES, A.; VILARTA, R., Qualidade de Vida e Atividade Física ? Explorando Teoria e Prática. Campinas: Ed. Manole, 2004.

HANDY, Charles. A era do paradoxo: dando um sentido para o futuro. São Paulo: Makron Books, 1995.

MAURO, Mário César de. Os sete pilares que levam à QVT. Jornal Conversa Pessoal (OnLine), Ano VI - Número 68 - julho ? 2006. Disponível em: . Acesso em: 8 de maio de 2010.

MATOS, F. G. Ciclo de felicidade no trabalho. São Paulo: Makron Books, 1997.

OLIVEIRA, Patrícia Morilha de; LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina. Avaliação da gestão de programas de qualidade de vida no trabalho. Revista RAE-eletrônica, v. 4, n. 1. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2005.

RODRIGUES, M. V. C. Qualidade de vida no trabalho ? Evolução e Análise no nível gerencial. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.



Autor: Daniella Camila Araújo Dias


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