CAUSAS E AGENTES DA VIOLÊNCIA ESCOLAR



CAUSAS E AGENTES DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

Maria Nilce Souza Monteiro
Waldemarina Vieira de Melo

Resumo: O presente artigo teve como objetivo identificar, através da pesquisa junto aos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Marcelo Cândia, as causas que provocam a violência bem como seus agentes causadores, discutindo o tema no espaço escolar envolvendo a família, a escola e o aluno. Para posteriormente realizar um trabalho preventivo a fim de evitar danos materiais e emocionais que possam prejudicar o aluno por toda sua vida social, emocional e profissional. Na pesquisa de campo utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário que foi aplicado junto a professores, pais e alunos da série mencionada. Como resultado observou-se que naquela escola tanto os professores quanto os pais são esclarecidos sobre o assunto, que a escola trabalha no sentido de inibir a violência no espaço escolar.

Palavras-chave: Violência; Causas; Efeitos; Família; Escola; Professor.


Abstract: This article aims to identify, through research with the students of the 5th year of elementary school, School Marcelo Candia, the causes and effects that lead to violence and their causative agents, discussing the subject at school involving the family, the school and student. To further carry out preventive work to avoid physical and emotional damage that may affect the student throughout their social, emotional and professional. In the field research was used as a tool for data collection a questionnaire was used with teachers, parents and students of the series mentioned. The result obtained is that both the teachers in that school as parents are informed about the matter, the school works to inhibit the school violence.

Key words: Violence, Causes, Effects, Family, School, Teacher.


INTRODUÇÃO

As crianças estão entrando na escola cada vez mais cedo por diversos motivos e o principal deles é a mudança social que o mundo globalizado nos impõem. Esse ingresso faz com que as crianças desenvolvam a fase do egocentrismo já no espaço escolar e os educadores precisam estar preparados para lidar com este tipo de comportamento precoce.
A violência surge em contextos e em situações bem conhecidos, como por exemplo, na sala de aula em disputa por algum objeto. Torna-se imperiosa uma intervenção educativa, não só dirigida aos jovens, mas a todos os cidadãos, pois todos, enquanto sociedade global somos responsáveis e deveremos ser chamados a intervir para contribuirmos na formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
A sociedade mundial tem sido um pouco indiferente no que diz respeito aos seres que são socialmente frágeis e que muitas vezes se adaptam a condutas violentas como forma de proteção e/ou imitação.
A violência no ambiente escolar não é um fenômeno novo. Todavia, vem se agravando em proporções tais que as escolas não sabem que medidas tomarem para lidar e prevenir-se contra este problema. Pretende-se com este artigo fazer uma breve abordagem sobre os fenômenos da violência exercida por crianças no espaço escolar, suas causas e conseqüências. Busca-se compreender se o meio onde estão inseridas, que é a comunidade escolar, proporciona, ou não, condições para o desencadeamento de tais atitudes.
Ao longo deste trabalho serão alvo de análise, a família e a escola. Nesta última, pretende-se investigar, qual o papel da educação na sociedade numa perspectiva histórica para verificar o fenômeno da violência nos dias atuais. Serão também apontadas as causas da violência, sua prevenção e como o educador social, enquanto profissional qualificado, poderá agir na prevenção do fenômeno em questão.
Como local de desenvolvimento da pesquisa escolheu-se a Escola Marcelo Cândia ? Subsede I, localizada na Rua Petrolina nº 10804, no bairro Marcos Freire no município de Porto Velho. A escolha deu-se pelo fato de a referida escola proporcionar condições favoráveis à pesquisa, como por exemplo, ter acessibilidade aos pais e contar com um Orientador Escolar atualmente que é preocupado com o tema em questão.
Foram sujeitos da pesquisa seis alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, seus pais e três de seus professores. Os dados foram coletados através de observação em campo e aplicação de questionários aos referidos sujeitos.
Em suma, procurou-se aprofundar os conhecimentos em torno desta temática, com um intuito ávido de conhecer como a escola, a família e, em sentido, amplo a sociedade se organiza na gestão desta problemática tão grave nos dias de hoje. A agressividade tem um caráter histórico e, por conseguinte, é impossível entendê-la fora do contexto social. O que significa que é impossível analisá-la sem considerar os interesses e os valores concretos que caracterizam a sociedade ou cada grupo social em determinado momento histórico.
O presente estudo justifica-se ainda por considerar um tema de suma importância para o bem estar físico, emocional e social do futuro cidadão, uma vez que a situação é real e está cada vez mais presente no ambiente escolar. Outra razão pela escolha do tema refere-se à escassez de trabalhos sobre esse assunto tão importante, nos últimos anos. As pesquisas mais comuns nos cursos de Pedagogia giram quase sempre em torno dos processos de alfabetização e dificuldades de aprendizagem quanto à leitura e escrita.
Acredita-se também que as contribuições oferecidas com esse tipo de pesquisa serão enormes para a sociedade em razão do crescente número de queixas por parte dos educadores quanto à mudança brusca do comportamento violento da clientela estudantil atualmente.


1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA


Desde os primórdios da humanidade o Homem exerceu e foi alvo de violência. Violência vem do latim, e significa força violenta; ou, ainda, recurso à força, para submeter alguém (contra sua vontade); exercício da força, praticado contra o direito (RUSS, 1994 p.85). Essa força é definida como violência quando perturba acordos e regras que pautam as relações, o que lhe confere uma carga negativa (ZALUAR, 2000, p 47).
Recorde-se a Bíblia que retrata uma série de crueldades das quais até Jesus Cristo foi vítima. O enforcamento em praça pública; homens que lutavam até a morte nos coliseus para deleite da nobreza; a Santa Inquisição que vitimou inúmeras pessoas, o nazismo e as excessivas guerras que povoam a história da humanidade.
Vários autores têm tentado explicar as causas deste fenômeno. FREUD (1937, p. 162) é da opinião que o Homem tem por natureza uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce num ambiente violento, porque também a sociedade é violenta.
A violência pode ser revestida de diversas formas, mas num sentido restrito, pode ser definida como uma ruptura brusca da harmonia num determinado contexto, podendo ser sob a forma de utilização da força física, psíquica, moral, ameaçando ou atemorizando os outros.
Todavia, a violência pode ser igualmente considerada de âmbito público ou de âmbito privado. A primeira é mais visível, influi e distorce a imagem da sociedade. É a que mais preocupa o Estado, pois é geradora de polêmica. A segunda é mais oculta como é o caso da violência familiar, com o cônjuge ou com os descendentes.
Em nossa sociedade o que temos hoje é uma grande parcela da população indiferente e com medo e até mesmo conivente com práticas violentas com o intuito de apaziguar, justificando uma ação violenta com outra ação violenta. Discutir a questão da violência neste artigo implica em escrevê-la como algo que existe, causa revolta e não merece complacência, ou seja, como um sintoma social e subjetivo, com o qual não se pretende travar pactos de silêncio. A delinqüência e a violência são, pois, sintomas sociais de grande amplitude, onde vários fatores se entrelaçam, não podendo ser arbitrariamente atribuídos ao fator econômico como determinante da pobreza e responsáveis por todas as mazelas sociais.


2. Manifestações agressivas e a violência


A agressividade tem sido uma constante na escola e uma problemática para os educadores e para os familiares. Antes de fazer-se pré-julgamento são necessário que se compreenda o que vem a ser agressividade e suas manifestações.
Sendo assim, abordam-se inicialmente o conceito de agressividade segundo alguns autores. Em seguida trata-se do tema "as brigas e a agressividade da criança", aonde VINHA (2000. p 399) explica como os educadores devem lidar com a situação. Em seguida, fala-se sobre "as normas e a civilidade" como uma forma de engessar o aluno na sociedade, causando-lhe angústia e sofrimento.
Várias são as possibilidades de análise ou reflexão que se descortinam quando alguém se depara, quer empírica quer teoricamente, com indigesta justaposição sobre escola e violência, principalmente a partir de seus efeitos concretos: a indisciplina nossa de cada dia, a turbulência ou apatia nas relações, os confrontos velados, as ameaças de diferentes tipos, os muros, as grades, a depredação, a exclusão enfim. O quadro nos é razoavelmente conhecido, e certamente não precisamente de outros dados para melhor configurá-lo. Não se pode falar de violência sem se pensar em agressividade, pois esse sentimento é indispensável para desencadear a ação da violência. LA TAILLE considera:

A agressividade como um sentimento natural, que faz parte dos sentimentos primários, como a alegria, a dor, a raiva, a curiosidade, o medo. Outros sentimentos requerem um nível de elaboração maior, como vergonha, a culpa, o remorso ou o ciúme. A agressividade em si não é boa nem ruim, é natural. A educação e a cultura devem ajudar a criança a dosá-la e canalizá-la para as coisas produtivas (apud VINHA, 2000, p. 400).

Ao definir agressividade BEE (1986, p. 23), descreve dois tipos específicos: a instrumental e a hostil. "A instrumental é utilizada para conseguir algo, mas não resulta diretamente no sofrimento do outro. A agressão hostil tem como finalidade atingir diretamente uma segunda pessoa".
A autora explica que quando uma criança toma um brinquedo de outra, por exemplo, a intenção é conseguir o brinquedo e não agredir. Portanto é uma agressividade instrumental. No segundo caso, a criança provoca com intenção de atacar diretamente a outra criança.
JUSKA (1995, p. 44) define a agressividade como "um processo comportamental, no qual alguém ou grupo de indivíduos saem prejudicados, a partir de um ato praticado por outro alguém ou por outro grupo de indivíduos".
A agressividade pode ser entendida ainda apenas como um sentimento normal e até mesmo saudável. A raiva é um sentimento que não deve ser sufocado, pois a criança precisa aprender a controlá-la. VINHA explica que se uma criança for trabalhada de modo a não externar sua raiva, poderá tornar-se um centro de grandes frustrações que mais cedo ou mais tarde explodirá.
Por fim, torna-se ainda um conceito apresentado por TRAIN (1997, p. 25), onde o autor diz haver uma forma mais delicada de agressividade que costuma ser rara, que é a "agressividade movida à raiva". O autor explica que "é um estado de mobilização emocional intenso em que a criança é altamente agressiva".
TRAIN (1997) exemplifica descrevendo que em um caso de birra, a criança agride violentamente as pessoas que estão por perto ou destrói os objetos ao seu redor. O autor explica que essas reações não são esporádicas, mas sim freqüentes. O que deve ser observado é a intensidade e a freqüência, pois são esses fatores que indicam o problema.
Ao falar da agressividade movida à raiva, (VINHA, 2000, p. 85) afirma que essas crianças precisam muito da ajuda do professor e que este precisa estar preparado para lhe dar com esse tipo de manifestação, de modo a auxiliar o aluno evitando assim que este fique prejudicado. A autora diz ainda:

Que a criança agressiva é frágil, insegura e vulnerável, possuindo um baixo nível de autoconfiança e de auto-estima, e que se defende agredindo violentamente, não conseguindo controlar-se, evitando tais reações; e quando isso ocorre, sente-se péssima, frustrada, infeliz, culpada, ferida em seu amor-próprio (VINHA 2000, p. 339).

Para piorar a situação, após esse complemento essa criança costuma ser rejeitada, e isso é tudo que ela não precisa. VINHA explica que esses casos não são muito freqüentes e que são extremamente difíceis de manejar, são necessários estudos aprofundados sobre suas origens, prevenção e formas adequadas do educador (re) agir.
Muitos podem ser os motivos que despertam a agressividade nas crianças. Os professores costumam reclamar que os alunos não respeitam as regras e não conseguem comportar-se adequadamente diante de uma visita recebida em sala de aula. O primeiro passo é investigar as razões que as levam a tal comportamento.

Cada criança é única, e o ambiente em que interage também. Um aluno pode estar mais agressivo por um motivo, e então por causas completamente diferentes das do primeiro. É importante que o adulto procure se interessar em conhecer bem seu aluno, sua família, sua vida, para poder tomar decisões mais adequadas (VINHA, 2000, p. 393).

Temos que entender que a reação é ocasionada por um conjunto de fatores, portanto não é atacando o agressor que resolveremos o problema. A autora responsabiliza também o professor, pois muitas de suas atitudes acabam por desencadear o sentimento de revolta dos alunos.
VINHA (2000, p. 395) explica que "A criança pequena ao entrar na escola esta aprendendo a socializar-se". Nessa fase de sua vida a criança vive um período de egocentricidade, ainda não sabe compartilhar, e por isso fica agressiva. Segundo a autora, as crianças pequenas são as que mais precisam da escola, elas não podem ser excluídas, por essa razão critica o conselho de alguns professores dado aos pais de crianças "problemas" para retirá-las da escola.
Todavia, os pais cedo colocam os filhos com amas, creches ou associações, pelo fato de que existe a necessidade de alguma forma conseguir o sustento de suas famílias. A violência abarca e é abarcada por diversas esferas: social, econômica, cultural, política etc..., daí não ser possível indicar uma única esfera como causadora da mesma.
De acordo com TIBA (1996, p. 166) "as crianças precisam de limites e têm de aprender a conviver. "Se não passarem por isso em casa e se a escola não ajudar, a lei vai se incumbir disso". A lei que o autor se refere é o Código Civil.
Não somente por motivo de necessidade, mas, por que muitas vezes poderão os pais ocupar um grande status social não tendo tempo suficiente para se dedicarem a seus filhos, bem como acompanhá-los em seu desenvolvimento escolar e social.
Do ponto de vista semiótico o conceito evoluiu da simples agressão física a compreensão de que palavras também são armas poderosas, assim como gestos, costumes sociais, omissões e até mesmo o silêncio podem ser entendidos ou utilizados como formas de agressão e incluídos sob a classe mais ampla denominada violência.
Para WEBER (2005 p. 75), as experiências que a criança vive na família como parte do seu cotidiano podem ser marcadas por fatores positivos ou negativos. Ao chegar á escola, existe a possibilidade de a criança manifestar-se, de diferentes formas, aquilo que foi vivido, seja pela manifestação explicita da violência domestica, ou por meio de atitudes e comportamentos.
A violência domestica e a social estão interligadas, de modo que crianças submetidas a maus tratos têm maior possibilidade de estender a violência da casa para a rua.
A violência e a falta de disciplina estão relacionados, muito de perto, com uma sociedade em que o pai esta ausente e /ou não tem autoridade. Nossas crianças e jovens, quer tenham poder aquisitivo ou não, vivem o que querem e da forma que querem, denunciando que seus adultos são frágeis e impotentes.
Tempos estranhos esses cujos pais ficam desesperados ao saber que seus filhos entrarão de férias, ou quando têm de dar uma regra para eles, deixando a convivência em família inadministrável. Tempos em que uma das maiores queixas nas escolas é a dificuldade de conseguir disciplina e o professor de ter um ambiente adequado às aprendizagens. Tempos difíceis esses em que os adultos se tornam reféns de seus jovens e crianças e necessitam ser protegidos pela autoridade da justiça, já que o exercício da autoridade dos adultos está descomprometido, despotencializado e desacreditado.
São muitos os fatos de violência que, periodicamente, invadem nossas casas pelos noticiários, e inúmeras queixas de indisciplina vêm, não só de professores da rede pública, mas também da rede particular de ensino. Assim, observa-se em nosso cotidiano, seja em meio a grupos de famílias ou professores, uma visível falta de limites nas fronteiras relacionais que as pessoas têm estabelecido.
Vive-se um momento sócio-histórico de banalização da vida, do ser humano e do outro. As pessoas de hoje viveram e se desgastaram, numa outra realidade com o surgimento de grandes mudanças na área da tecnologia e do conhecimento, que repercutiu fortemente, de forma negativa, nos costumes e no comportamento de uma maneira decisiva. Se, por um lado, tem-se uma sociedade mais elaborada, mais rápida e complexa, tem-se, por outro lado, pessoas que acabam não sabendo viver de forma adequada como partícipes na construção dessa história coletiva.
Essas mudanças, nem sempre processadas equilibradamente, acabam desestabilizando a pessoa enquanto ser e como sujeito do mundo e no mundo. Como resultado desse encontro, nasce às pessoas, como quer o "desbussoladas", ou seja, sem norte, nem objetivos de vida. Pessoas perdidas. Adultos perdidos em seu modo de viver e de educar e, como decorrência, crianças e jovens perdidos, sem saber as regras do bem viver.
Essa sociedade ficou tão sofisticada e múltipla que acabou excluindo inúmeras pessoas por pertencerem a diferentes níveis culturais e também sofisticados mecanismos que, às vezes, são invisíveis aos olhos dos mais apressados ou desatentos. A violência poderá ser a reação a essa sociedade que não contempla o sujeito em seus direitos de cidadão, ou seja, na igualdade social.


3. ESCOLA E PROFESSORES


Há momentos em que os professores adotam técnicas nada convencionais (castigos) justificando que determinado aluno só ouve ou aprende pela força. Para FABER & MAZLISH (1995) o castigo não é a melhor saída, eles explicam que a melhor forma de contornar a situação é fazer com que a criança descubra as conseqüências de suas atitudes, eles entendem que ao castigarmos as crianças além de queimar uma importante etapa, que é o processo reflexivo sobre suas ações, deixam marcas negativas. Os autores acreditam que:

Nós as desviamos da tarefa de encarar-se a si mesmas. Há pessoas que dizem "Mas se agente não as castigar, estaremos deixando-as escaparem impunes". A verdade é justamente o contrário. Quando castigamos uma criança estaremos tornando as coisas demasiadamente fáceis para ela. Ela sente que recebeu a paga pelo "crime", e cumpriu a sentença. Agora, está em liberdade para repetir seu comportamento indesejável (FABER & MAZLISH, 1995, P. 199).

Apresentar às conseqüências de seus atos as fará com que reflitam que suas atitudes atingem a outras pessoas que não estão envolvidas com seus objetivos, evitando assim a geração de mais agressividade.
Quanto mais agressivos formos com as crianças, mais agressividade elas externarão. A escola além de preocupar-se com o cognitivo tem ainda a função de trabalhar as regras e os valores. Isso porque do funcionamento da aula e da instituição depende as finalidades da aprendizagem.
Vive-se em um mundo de mudanças dos processos de comunicação, das formas de como se faz e se aprende em nosso cotidiano, ou seja, vive-se uma mudança de olhar sobre tudo.
Sabe-se que não existem problemas simples, somos seres complexos e planetários em uma sociedade em profundas transformações que requer aprendizagem constante. Se o comportamento das crianças e jovens vem se transformando nesse novo contexto, a sociedade também cobra dos meios educacionais e dos professores novas formas de pensar, planejar e estruturar a transmissão de conhecimentos.

A ordem, o rigor, a limpeza, a propriedade, a fidelidade à palavra dada, a deferência à autoridade, o respeito ao outro, o cuidado tomado com coisas, a paciência, a humildade, a capacidade de evitar à violência, o senso de cooperação ou de solidariedade, a capacidade de calar-se ou de assumir não caem do céu, mas de culturas familiares e de itinerários individuais muito diversos, de modo que alguns encontram na escola seu universo normativo familiar, enquanto outros ficam "sem rumo", privados de suas referencia habituais (PERRENOUD, 2000, p. 81).

Isso significa dizer que a escola impõe um padrão de comportamento onde todos devem compartilhar, quando um aluno se comporta diferentemente dos demais é visto com maus olhos e suas atitudes são alvos de críticas, quando deveriam ser motivos de estudos e cuidados especiais.
Ser educador hoje em dia é muito diferente do que foram 20 anos atrás, quando não contávamos com a revolução tecnológica e de informação da atualidade. Por isso, percebemos a necessidade de oferecer aos alunos interações mais reais e criativas, vitais para uma nova escola.
Quando um aluno foge aos padrões significa que a metodologia deva ser adaptada de modo a atendê-lo. Essa é uma atitude muito difícil de ser tomada, uma vez que o próprio professor muitas vezes é algo da agressividade do aluno, porém o professor detém uma vantagem que o aluno não possui, tem a capacidade de avaliar e compreender que seu papel naquele momento lhe cobra uma ação profissional.
PERRENOUD (2000, p. 82) explica que é muito natural que "uma criança recuse-se a escutar e a aprender por causa de um professor que confisca seu brinquedo eletrônico ou zomba de suas terríveis balas de morango". O poder da conquista é só uma das armas da qual o professor possui para aproximar-se do aluno agressivo. Explica também que o descumprimento das normas muitas vezes são conseqüências da não aprendizagem dos alunos. Estes se sentem inseguros diante dos desafios que precisam encarar e reagem agressivamente como forma de esconder seus fracassos. É nesse momento que o professor deve atuar pedagogicamente com as atividades diferenciadas de modo a atender as necessidades individuais dos alunos.
O papel do professor na promoção da aprendizagem significativa é desafiar os conceitos já aprendidos, para que eles se reconstruam mais ampliados e consistentes, tornando-se assim mais inclusivos com relação a outros novos. Isso ocorre porque, quanto mais elaborados e enriquecidos forem, maiores serão as possibilidades de novos conhecimentos. Isso significa dizer que quanto mais soubermos, mas teremos condições de aprender.
Vivemos a denominada era do conhecimento, ou da aprendizagem; no entanto, não estamos conseguindo viver e compartilhar os avanços que ocorrera no âmbito das ciências. O sujeito, diante das transformações ocorridas não sabe interpretá-las e acaba se isolando em seu mundo particular, apesar das distâncias encurtadas, e multi-culturalidade e do acesso a diferentes e impensáveis informações. Passa a viver sua responsabilidade social em um relativismo e uma neutralidade preocupante.
Responsabilidade é a grande palavra para todos os pais, professores. Responsabilidade de fazer morrer a cultura da violência a qual diz que se seu amigo lhe bater, você deve responder batendo; que menino tem de ser macho e isso quer dizer não voltar para casa "apanhado". Somos seres que temos a capacidade de resolver nossas diferenças e questões com a conversa, contudo, caso ela seja ineficiente, tem-se os direitos de cidadãos, com os quais se pode sempre contar. Os cidadãos são seres dotados de inteligência para resolver suas diferenças.
As raízes do comportamento inadequado querem seja violento ou indisciplinado, está numa família que não cumpre o seu papel de reunir, de agregar, de cuidar e de prover. Está também na falta de heróis e de causas pelas quais valha a pena viver e lutar; de educadores que sejam claramente exemplos de educadores; de amigos que dêem o tom do que é bom ou mau.
As mudanças autenticadas chegam somente quando se produzem mudanças no pensamento das pessoas e nós, os docentes, mudamos nossas, idéias. Quando as mudanças atingirem as novas realizações será realmente diferente, porque se pensa diferente sobre tais questões. Enfim, há muitas coisas que, ainda teoricamente estão na formação inicial, e somente na prática é possível aprendê-las efetivamente. Aí se inclui como aprender a conhecer o terreno e adquirir as competências para sua interação consciente.
O educador social é um profissional que pode agir e interatuar na prevenção e resolução dos problemas de violência. Ele pode atuar de diferentes formas, designadamente com a família, com as crianças ou jovens, no meio onde se registrem focos de violência e mesmo na escola como elemento mediador. O campo de ação do educador social são os setores sociais em desequilíbrio além de solucionar determinados problemas próprios da inadaptação, tem duas funções não menos importantes: a primeira, desenvolver e promover a qualidade de vida de todos os cidadãos, a segunda, adotar e aplicar estratégias de prevenção das causas dos desequilíbrios sociais. Em outras palavras, apesar das relações entre educação social e marginalização serem evidentes, com marginalização não se esgota o âmbito da educação social.


4. ESCOLA MARCELO CÂNDIA (LOCAL DA PESQUISA)


A pesquisa foi realizada na Escola Marcelo Cândia. Escolheu-se este local por localizar-se próximo a um bairro estigmatizado pela violência e por receber alunos tanto do bairro em que se localiza quanto de bairros mais distantes.
Outra razão que justifica a escolha da escola foi à realização do trabalho feito com o alunado em relação a casos de violência escolar surgido no próprio ambiente, trabalho este realizado pelo Serviço de Orientação Educacional, que de acordo com aquele profissional, constantes trabalhos são realizados com os alunos (vítima e agressor) no próprio ambiente escolar.
A Escola Marcelo Cândia ? Subsede I, situada no Bairro Marcos Freire, na cidade de Porto Velho, é uma conquista da comunidade. Após campanha promovida pela comunidade empresarial local para alocação de recursos, a Escola foi construída sobre um terreno doado pelo casal Dr. Gianstefano e senhora Luíza Riboni.
A Associação Beneficente Casa de Saúde Santa Marcelina assume então a responsabilidade pela Escola e consegue junto aos governos estadual e municipal recursos humanos para o desenvolvimento do projeto pedagógico.
A Escola possui 17 (dezessete) salas de aula e iniciou suas atividades em 1998, e atualmente atende uma clientela de mil trezentos e vinte (1320) alunos do Ensino Fundamental e Médio, oriundos dos Bairros Marcos Freire, Ulisses Guimarães, Mariana, São Francisco e adjacências.
O nome Marcelo Cândia se dá pelo fato de ter sido ele uma das pessoas que muito contribuiu com as obras de Santa Marcelina em Rondônia. Dada a realidade local e justamente por causa dela, a "Associação Beneficente Casa de Saúde Santa Marcelina" mantém, junto à comunidade, desde 1965, projetos que viabilizam um processo educativo, onde a difusão de valores evangélicos e culturais possibilite, aos cidadãos, buscar melhores condições de vida.
A escola e seus educadores têm diante de si um compromisso que não se restringe apenas aos aspectos formativos no âmbito da sala de aula; mas que inclui formas de gestão e de manejo de relações humanas no contexto da escola, da construção de uma prática pedagógica compatível com os avanços tecnológicos capaz de encarar as tensões que o mundo, em seu processo de globalização nos apresenta.
Em seu aspecto físico, a escola é bem ampla em todas as suas dependências. Funciona em prédio bem estruturado, de fácil comunicação interna, apropriado para as necessidades pedagógicas. Dispõe de um quadro de pessoal suficiente e amplamente qualificado para atender toda a demanda. Os funcionários são cedidos pelo governo Estadual e Municipal, havendo ainda necessidade de completar o quadro de pessoal, a Escola conta com apoio de outras entidades, como por exemplo, SEMOB e a própria APP.
Atenta às mudanças educacionais, as evoluções tecnológicas e as transformações comportamentais, a escola recebe crianças e jovens de diferentes estruturas familiares, oriundas de diversos níveis econômicos, culturais e religiosos, respeitando em seu processo educativo a diversidade e a pluralidade, à luz dos documentos e orientações do Magistério da Igreja Católica. Neste sentido, manifesta-se abertura diante das diferenças e enriquece seu trabalho educativo por meio de outras crenças que também privilegiam valores irrenunciáveis como fraternidade, solidariedade, verdade, sentido e valor transcendente da vida humana.


5. A PESQUISA


A pesquisa foi desenvolvida por meio de questionários compostos por questões pertinentes ao tema em questão. Queria-se identificar alunos vítimas e agressores e quais providências a escola toma frente às ocorrências de violência com os alunos.
O referido questionário foi aplicado a seis alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, dentre os quais três eram vítimas e três agressores. Foram ainda sujeitos da pesquisa três professores e três pais desses alunos.


6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS


A seguir será apresentado o resultado da pesquisa realizada com os sujeitos da pesquisa. Tais informações encontram-se dispostas conforme os grupos de pesquisa (aluno/vítima, aluno/agressor, professores e pais).
A análise é realizada após a apresentação dos dados a fim de que se possa estabelecer um paralelo entre as respostas dadas, facilitando assim a compreensão dos mesmos.

7. QUESTIONÁRIO APLICADO AO ALUNO (VÍTIMA)

Esse questionário foi composto por seis questões, cujo objetivo era saber a freqüência, a forma e as principais atitudes frente à violência escolar.
A. Alguma vez você foi (ou esta sendo) vítima de violência em sua escola?
A primeira questão queria saber se o aluno já havia sofrido algum tipo de agressão. Essa questão era necessária, pois se a resposta fosse negativa a pesquisa não poderia ser continuada, uma vez que o objetivo desse questionário era justamente identificar o aluno vítima de violência escolar.
B. Com que freqüência ocorreu?
A segunda questão queria saber com que freqüência essa violência ocorria, os três responderam que aconteceu mais de uma vez.
C. De que forma foi agredido?

GRÁFICO 1 ? Forma de agressão

FONTE: Alunos da Escola Marcelo Cândia.

Quando perguntados sobre a forma da agressão, os alunos marcaram mais de uma resposta. De acordo com os alunos, a forma mais comum de violência são os apelidos e a agressão física com 33% das respostas.
D. O que fez?
Quanto à atitude tomada diante da situação, também marcaram mais de uma questão. As mais citadas informam que o professor e os colegas são quem primeiro ficam sabendo.
E. No caso de a escola ter sido informada que providencias foram tomadas?

GRÁFICO 2 ? Providências adotadas pela Escola

FONTE: Alunos da Escola Marcelo Cândia.

Com relação à atitude por parte da escola os alunos também marcaram mais de uma questão, no entanto as maiorias das respostas apontam para uma conversa com o agressor.
F. Você acredita que a escola podia fazer mais para acabar com a violência na escola? Como?
Quando perguntados se acreditam que a escola podia fazer mais para acabar com a violência na escola, os alunos afirmaram que sim. Acreditam que a maioria dos alunos ficam impunes e que a conversa com a orientadora nem sempre resolve, pois eles voltam atacar.
Eles afirmaram que o assunto é mais bem resolvido quando "a Ir. Diretora "chama atenção" às coisas melhoram". De acordo com o exposto anteriormente, todos os alunos que responderam a este questionário já foram (ou estão sendo) vítima de algum tipo de violência escolar.
De acordo com o gráfico 1 as formas mais comuns de violência escolar encontrada naquele ambiente são os apelidos e a agressão física. Para ZALUAR (2000) essas atitudes são consideradas formas de violência escolar porque causam perturbação e desestabilizam as relações interpessoais.
A pesquisa mostrou ainda que os alunos na maioria das vezes busquem refúgio nos professores, mas que nem sempre encontram a segurança que procuram. Quanto a isso os professores alegam que há muitos alunos na sala e que os casos de conflitos diários são tantos que muitos deles nem merecem tanta atenção.
Por outro lado, percebe-se que a escola procura manter um ambiente de diálogo com o aluno praticante da ação agressiva, o que é recomendado por muitos especialistas. Observou-se que a escola procura agir com prudência.
Na visão dos alunos, a conversa não é a medida mais adequada, eles gostariam que o aluno agressor sofresse uma punição maior, é como se desejassem que eles sofressem o mesmo, percebeu-se que fica uma sensação de justiça não realizada. Acredita-se que o trabalho deve ser realizado com o aluno vítima também.

8. QUESTIONÁRIO APLICADO AO ALUNO (AGRESSOR)

Esse questionário foi composto por oito questões. Nesse caso o objetivo tinha como principal característica compreender as causas da violência escolar, considerando ainda alguns pontos apresentados no questionário aplicado ao aluno vítima.
A. Você já agrediu algum colega na escola?
A primeira questão também se fazia necessário uma resposta afirmativa, do contrário não faria sentido continuar, já que o questionário era direcionado ao aluno agressor.
B. Por quê?
A segunda questão pedia justificativas da atitude grosseira. As respostas foram às seguintes: "porque ele mexeu comigo primeiro", "porque ele perturba", "porque ele é chato", e assim por diante.
C. Com que freqüência tem esse tipo de atitude?

GRÁFICO 3 ? Freqüência da agressão




FONTE: Alunos da Escola Marcelo Cândia.

Sobre a freqüência, 67% dos alunos disseram que sempre e 33% afirmaram que raramente.
D. Que atitude costuma tomar?
Quanto à forma de agredir, as respostas também giraram em torno dos apelidos e da agressão física. É importante ressaltar que foram marcadas mais de uma questão.
E. Por que costuma fazer isso?
Quando perguntados sobre o principal motivo de sua atitude agressiva, dois alunos responderam que o fazem apenas para se defender, o outro disse que é para mostrar poder.
F. Faz isso sozinho?
Foi perguntado se agridem sozinhos ou em coletividade, dois afirmaram que sim e um apenas disse que não.
G. Já recebeu punição de alguém por conta disso? De quem?

GRÁFICO 4 ? Punições recebidas

FONTE: Alunos da Escola Marcelo Cândia.

Quanto às conseqüências. Os alunos afirmaram, em sua maioria, que já foram punidos pela escola.
H. Como se sentiu agredindo seus colegas ou outras pessoas?
Por fim, perguntou-se como se sentiram agredindo os colegas ou outras pessoas. Dois alunos disseram que não é bom, mas que só o fazem para se defender. O outro, porém, disse que se sente bem porque sabe que os outros não vão mexer mais com ele.
O objetivo do estudo com os alunos agressores foi identificar as causas que o levam a praticar atos de violência com seus pares.
De acordo com FREUD (1937) tais atos justificam-se pela natureza humana. Pois ele acredita que o homem tem por natureza uma predisposição inata para a violência. Isso significa dizer que tal predisposição pode ser acionada a qualquer momento por um agente externo.
Esse pensamento vai de encontro com as respostas dadas pelos sujeitos agressores como justificativa de suas atitudes violentas: "porque ele mexeu comigo primeiro", "porque ele perturba", "porque ele é chato", etc.
A pesquisa mostrou ainda que algumas dessas atitudes sirvam apenas para mostrar poder diante dos demais. Quanto a isso BEE (1986) define agressividade a partir de dois conceitos. O primeiro, a agressão instrumental, é utilizada apenas para conseguir algo, não tem objetivo específico de atingir alguém. O segundo, a agressão hostil, tem como finalidade atingir diretamente uma segunda pessoa, o que seria um ato proposital e direcionado.

9. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES
O questionário aplicado ao professor foi comporto por seis questões, investigou sobre o conhecimento da ocorrência de violência escolar em seu ambiente de trabalho e quais medidas eram tomadas a respeito.
A. Você acredita que em sua escola ocorre a violência escolar?
Os três professores foram unânimes em suas respostas. Eles afirmaram que ocorre violência em sua escola.
B. Com que freqüência ocorre?
Quanto à freqüência do fato, afirmaram as atitudes de violência ocorrem com bastante freqüência, pois todos responderam que sempre.
C. Como são informados?

GRÁFICO 5 ? Forma de informação

FONTE: Professores da Escola Marcelo Cândia.

Quanto à forma de informação sobre essa ocorrência, 60% afirmaram que na maioria dos casos é por meio dos próprios alunos agredidos e 40% declarou que outras vezes a informação vem por meio dos alunos que presenciam.
D. Como esses casos são tratados?
Uma vez informados, quis-se saber quais as atitudes tomadas. Os professores informaram que a maioria dos casos é tratada com diálogo, no caso de persistência adota-se a punição. As formas de punição variam algumas vezes o aluno fica sem pode gozar do horário do intervalo, outras vezes ele realiza alguma atividade de ajuda na escola, o fica na escola após o horário da saída.
E. Para você, quais são as principais causas da violência escolar
GRÁFICO 6 ? Principais causas da violência escolar

FONTE: Professores da Escola Marcelo Cândia.

Constata-se que de acordo com 60% dos docentes a principal causa está no ambiente familiar seguido do social com 40% das indicações.
Para os docentes a mídia é um fator de interferência no comportamento dos alunos, pois passa ma imagem mito forte de violência. Segundo eles os desenhos atuais só retratam a guerra, mesmo do lado dos mocinhos. Esses desenhos atuais estão repletos de sangue.
F. Qual o papel da escola no combate (ou prevenção) a violência escolar?

Para finalizar a pesquisa com os professores perguntou-se qual o papel da escola no combate (ou prevenção) a violência escolar.
Um professor respondeu que se deve realizar um trabalho com a família atual, pois as crianças estão ficando muito abandonadas. Afirmou que a cada ano que passa os alunos estão mais rebeldes e irresponsáveis.
Outro professor disse que se deve primeiro resolver os problemas na família, pois os alunos estão aprendendo a serem agressivos no próprio ambiente familiar, eles hoje já não respeitam mais nem os próprios pais. É necessário realizar um trabalho intenso de parceria entre a escola e a família, disse outro professor. Pois nenhuma das duas instituições terá sucesso agindo sozinhas.
A intenção do questionário era investigar se os professores tinham conhecimento de que em sua escola ocorria violência escolar e que atitudes vinham tomando diante do conhecimento de tal fato.
Verificou-se que os mesmo tinham esse conhecimento e que a Escola vinha se posicionando. Os dados mostraram que o diálogo é a forma mais utilizada na tentativa de sanar o conflito.
VINHA (2000) acredita que o primeiro passo é investigar as razões que levam os alunos a esse comportamento agressivo. Para ela a criança não é agressiva o tempo inteiro, há sempre um agente externo que desperta tais ações negativas. A autora orienta que o educador procure saber mais sobre as condições de vida do aluno a fim de que possa compreendê-lo e ajudá-lo.
Esses diálogos costumam serem bem mais eficazes que os castigos. FABER & MAZLISH (1995) afirmam que o castigo não é a melhor saída, e recomendam que sejam apresentadas aos alunos as conseqüências de suas atitudes.
PERRENOUD (2000, p. 82) também acredita que o diálogo é o melhor caminho. Ele entende que quanto mais castigo for dado menos se resolverá o problema, pois o aluno se sentirá cada vez mais excluído e se tornará cada vez mais agressivo com seus colegas e com o próprio professor.
VINHA (2000, p. 339) defende que a criança agressora não se sente bem agindo dessa maneira, embora isso fique evidente. Ela explica que a criança agressora é extremamente frágil, insegura e vulnerável, possuindo um baixo nível de autoconfiança e de auto-estima. Complementa que ela não consegue se controlar e que depois de praticar atitudes violentas sente-se péssima, frustrada, infeliz, culpada, ferida em seu amor-próprio.
10. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PAIS

O último dado apresentado refere-se ao questionário aplicado aos pais. Este foi composto por apenas cinco questões, cujo objetivo era investigar se os pais tinham conhecimento da ocorrência de violência escolar na escola em que seus filhos estudam.
A. Você sabia que na escola em que seu filho estuda ocorre violência escolar?
Na primeira questão perguntou-se se eles tinham conhecimento que na escola em que seu filho estuda ocorre violência escolar. Os três afirmaram que sim.
B. A que você atribui esse tipo de comportamento?
GRÁFICO 7 ? Atribuição quanto ao comportamento agressivo na escola

FONTE: Pais de alunos da Escola Marcelo Cândia.

Perguntou-se a que eles atribuíam esse tipo de comportamento. A maioria, 67%, atribui à mídia o comportamento agressivo das crianças.
Segundo os pais, a televisão é um canal de grande influência entre as crianças e os jovens e os programas atuais mostram muita violência.
Os demais, 33%, atribuem a família o comportamento agressivo por parte dos alunos.
C. Seu filho já foi agredido na escola?
Quando perguntados se o filho já havia sido agredido na escola. Os três afirmaram que isso já havia ocorrido.
D. Como reagiu?
Quanto à reação, um dos pais disse ter exigido da escola uma providencia. Os outros dois disseram que acham isso normal.
E. Qual o papel da escola no combate (ou prevenção) a violência escolar?
A última questão quis saber a opinião dos pais com relação o papel da escola no combate (ou prevenção) a violência escolar.
O pai que disse ter exigido uma atitude por parte da escola, disse que a escola deve preocupar-se não só com o conteúdo, afirmou que ela deve educar para que os alunos não cometam atos de violência.
Outro pai disse que a escola não pode sozinha combater a violência, declarou que a familiar deve fazer a sua parte. Por fim, o terceiro pai disse que os alunos precisam aprender que seus atos implicam em conseqüências, portanto a escola deve preocupar nesse ponto.
Os dados mostraram que os pais também tomarem consciência de que há ocorrência de violência escolar no ambiente em que seus filhos estudam.
Quanto à atribuição de tal fato, a maioria dos pais acredita que as questões sociais são as maiores responsáveis pelo desencadeamento de tais atitudes nas crianças. FREUD (1937) concorda com essa posição, pois acredita que o indivíduo nasce e cresce num ambiente violento, porque também a sociedade é violenta.
Um número menor entende que a família também é responsável. Quanto a isso WEBER (2005, p. 75), afirma que as experiências que a criança vive na família como parte do seu cotidiano pode ser marcada por fatores positivos ou negativos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A pesquisa mostrou que diversas são as causas da violência escolar. Suas raízes estão na sociedade que por sua vez estão no ambiente familiar. Tal compreensão nos mostra que o que ocorre é um grande circulo nas raízes culturais originados de várias mudanças, sociais e econômicas e que deve ser reconhecido e tratado em todos os ambientes (casa, escola e sociedade).
Percebe-se que a escola é um grande receptor de problemas, pois é um ambiente onde as relações ocorrem de maneira intensa, pois o individuo a freqüenta cada vez mais cedo e é onde também passa a maior parte de sua vida.
É nesse espaço que aprende a se relacionar com as pessoas e criar grupos fixos de convivência, no entanto ainda que um indivíduo crie determinado grupo nem sempre consegue conviver com este por muito tempo; é justamente neste ponto onde começam as discussões e pequenas desavenças onde futuramente resultam na violência.
Quando um indivíduo não consegue conviver com o grupo que havia criado, muitas vezes pensa que para desligar-se do mesmo é necessário gerar ou criar violência, quando na verdade a melhor atitude é dialogar com os outros componente e expor os fatos a que lhe levaram a tomar tal decisão.
Quando isso não ocorre à escola deixa de fazer sentido em sua vida. A pesquisa demonstrou que todos têm consciência de que algo está fora do lugar, ou seja, que a escola vem se transformando num ambiente que muitas vezes exclui.
Mostrou também que os educadores estão procurando solucionar os problemas de convivência através do diálogo. Sabe-se que o diálogo é o melhor caminho, mas não é o único, é necessário que haja um trabalho que envolva uma parceria entre a escola e a família, uma vez que são o ambiente onde o individuo passa a maior parte de sua vida.
Enfim, o quadro da violência, não somente na escola, nos é razoavelmente conhecido, e certamente não precisamos de outros dados para melhor configurá-lo.


REFERÊNCIAS


BEE, Ellen. O desenvolvimento dos relacionamentos sociais, in: A criança em desenvolvimento. São Paulo: Harbra, 1986.
FABER, A & MAZLISH, E. Pais liberados, filhos liberados. São Paulo: Ibrasa, 1985.

FREUD, Anna. Infância normal e patológica (determinantes do desenvolvimento). 4ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1987.

JUSKA, Alexandre. Agressividade: o professor precisa saber lidar com este tipo de conduta, in: Revista do Professor. Porto Alegre ? RS, nº 11 (41), jan/mar. 1995.

PERRENOUD, Philippe. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

RUSS, J. Dicionário de Filosofia. São Paulo, SP: Seccione, 1994.

TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. São Paulo: Geme, 1996.

VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil: uma visão construtivista. Campinas ? SP: Mercado das Letras: São Paulo: Fapesp, 2000.

ZALUAR, A. (2000). Um debate disperso: Violência e crime no Brasil da democratização. Revista São Paulo em Perspectiva, 3(13), 03-17.

APRENDIZAGEM, Revista. Formação de professores. Ano 1 n° 2. Setembro, 2007. Editor

Autor: Maria Nilce S. Monteiro


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