Banho Anárquico



Banho Anárquico

Um dia, enquanto tomava banho, o simples escorrer da espuma do xampu pelo meu corpo em direção ao ralo do banheiro, me fez refletir de forma tão profunda que espantei-me com o resultado. Pensava comigo na quantidade de toxinas e perigosos elementos que poderiam conter naquele frasco de xampu que quase diariamente eu deixava escorrer um pouco pelo ralo. Além disso, havia também o condicionador, o sabonete, a pasta de dente, o creme de barbear dentre outros. Quantos produtos nocivos eu despejava ali mensalmente? Além de mim, meus visinhos, minha cidade, o estado, o país.
Toneladas de produtos tóxicos são despejados diariamente na rede de esgoto, que comumente, conduz todo esse veneno à algum rio. Esse sim, com toda vida que há nele, será neste primeiro momento o grande prejudicado desse envenenamento diário. Além disso, diariamente são despejados nestes mesmos rios, nossos dejetos humanos ? aliás, esta é a principal função da rede de esgoto.
Somos poluidores, entretanto, não posso me culpar por isso, se somos influenciados a consumir produtos químicos, como cosméticos e medicamentos, por uma rede manipuladora de marketing, que vive de nos encher de toxinas, com o objetivo de melhorarmos nossa aparência, nosso cheiro e até nossa disposição. Ou seja, essas grandes corporações lucram com a nossa demente ilusão de nos tornarmos "sobre-humanos".
Criam padrões de beleza tão bizarros e inúteis, e depois nos dizem o que devemos usar para nos inserirmos nesses padrões, e não dão a mínima para sujeira que essa brincadeirinha de criar seres "perfeitamente belos", deixa para trás. No banho em questão, pude notar que a sujeira é enorme e, talvez nem a notemos agora que temos uma certa reserva ? muito pouca ? de água potável neste país, porém chegará o dia que isso irá mudar.
Faz-se necessário que eu assuma minha culpa nesse jogo sujo, para continuar essa reflexão. Sou culpado sim! Por me deixar influenciar por uma enorme corporação que, faz ótimas propagandas de televisão. Sou culpado por não optar ? apesar de ter livre arbítrio para tal ? por usar produtos naturais, ou pelo menos que seja menos danosos às águas.
Agora você que me lê, deve estar se perguntando: "Mesmo que você are de usar xampu e passe a lavar seu cabelo com babosa, isso não será capaz de mudar absolutamente nada." Este questionamento, mesmo sem perceber nos leva a responder uma pergunta que vem sendo feita desde que o homem tomou consciência de que vivia em sociedade; por que, depois de tantos séculos de civilização, tantas conquistas sociais e tecnológicas, - democracia, república, direitos humanos ? o homem ainda encontra dificuldades em viver como uma sociedade?
Por que a distribuição de renda sempre foi um problema mesmo nos países mais desenvolvido? ? óbvio que nada se compara ao Brasil nesse quesito. Por que a fome maltrata tantas pessoas ao redor do mundo? Por que a violência explode a cada beco das grandes metrópoles? Para que tantas guerras?
As respostas todos sabemos. Um aspecto já foi levantado nesse texto. Poluímos os rios e não nos sentimos culpados por isso, pois nosso vizinho também polui.
Filosofando um pouco mais, chegaremos à uma conclusão inacreditavelmente mais dinâmica ainda. Parece óbvio que por uma questão cultural e alienatória, somos induzidos a nos comportar como robôs, programados para fazer o que nos mandam. E o sistema nos faz pensar que tudo o que fazemos ? e de alguma forma possa acarretar em lucro para alguma multinacional milionária ou bilionária ? é correto.
Como por exemplo, a indústria de cigarros que é causadora de um grande número de mortes ao redor do mundo e é tolerada pelo Estado, como se se tratasse de uma fábrica de brinquedos. Se aceitarmos que a falha de todo esse jogo brutal, esta nas esferas superiores ? Estado/Nação ? perdemos a sensibilidade, e deixamos escapar uma reflexão muito válida. Somos viciados em governo, e o que sempre nos governou nunca passou de uma instituição fantasma. Depositamos toda nossa fé e esperança ao longo da "evolução social" em algo ilusório.
A democracia, nada mais é que uma forma adquirida para que possamos mudar a textura, ou a fisionomia de um sistema de governo. No entanto, a essência parece ser a mesma de séculos atrás ? exploração de uns pelos outros por meio de alienação. É como um homem fraco que resolve usar roupas especiais que o faz parecer mais forte, sem que tenha se tornado realmente forte. Será apenas uma outra maneira de se vestir, mas sua fraqueza permanece lá. Da mesma forma é o governo, é o Estado, esse não vê motivos para que a população que governa mude de atitude, se sua aparência ? popularidade- caminha bem. Afinal se qualquer governo tentar direcionar a atitude de seu povo, sem que não esteja colaborando com os interesses das grandes multinacionais, ele fracassará. Portanto, mesmo o governante com as melhores intenções, seria incapaz de direcionar a conduta da população que governa para fins que fossem benéficos a todos. Por isso , em minha leiga opnião, provinda do governo nunca haverá uma solução para todos estes problemas. Este é sustentado pelas mesmas corporações que poluem os rios.
Não quero com isso exaltar o socialismo, pois até mesmo isto acaba sendo mais um rótulo ilusório cuja essência parece ter se evadido para sempre. Um dia creio que a responsabilidade de mudar algum coisa nesse mundo seja retirada das mão dos governantes e sobretudo, das grande empresas multinacionais, pois cada membro social deve assumir esse compromisso que é seu por natureza.

André Luiz Ribeiro ( Stanley): presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Ass. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor Particular de História e de Inglês em Guaxupé

Autor: André Luiz Ribeiro


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