DESAFIOS DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL



Introdução: Este artigo apresenta os principais conceitos ligados ao Fórum Social Mundial e seu funcionamento. O assunto foi abordado à partir da pesquisa bibliográfica, tendo como fonte diversos autores, a Sociedade Brasileira de Economia Política e a própria Carta de Princípios do Fórum Social Mundial.
Conceitos Básicos: O Fórum Social Mundial, é um espaço onde se debate idéias, aprofundando reflexões, trazendo à luz novas propostas e ações comuns, identificar questões decisivas para a construção de uma nova sociedade, e de possivelmente desencadear campanhas internacionais em torno delas. Onde também há trocas de experiências entre as ONGs e outras organizações da sociedade civil. Estas se reunem para tentar mudar a perspectiva de que o capitalismo seja a força dominante da sociedade, denominado por Vieira ( 2001, p. 382) "contrapoder planetário" Para (p. 59) foi batizado Fórum Social para demonstrar o privilégio daquilo que afeta a grande maioria da população do mundo, os direitos sociais, em oposição à "ditadura da economia, na verdade, dos mercados, expressa pelo neoliberalismo".
Idéia Central: Após séculos de desenvolvimento econômico desenfreado, baseado na exploração do trabalho, dos recursos naturais e humanos. Hoje, grita-se por um novo mundo, onde o valor que é atribuido à vida e à qualidade desta, não vem com guerras e revoluções, mas com organização.
Nesse contexto é que surge o Fórum Social Mundial.
O mundo atual vive as crises que expõem a inviabilidade do sistema atualmente predominante no mundo. As crises financeiras, alimentar, climática e energética não são fenômenos isolados, e representam a mesma crise de modelo que é movido pela superexploração do trabalho e da natureza e da especulação e financeirização da economia.
Iniciativas como o FSM potencializaram concretamente cidadãos e organizações para não mais sonhar, ao invés disso, efetivamente contruir um mundo melhor. O que há algum tempo seria considerado uma utopia, torna-se um sonho possível de ser concretizado. As transformações do mundo são mesmo necessárias, e através da interação em rede, mudanças tornaram-se tangíveis.
Laura Oliviere (2001), em seu artigo, nos explica que rede, é um conceito contemporâneo que refere-se a uma alternativa prática de organização, possibilitando processos capazes de responder às demandas de flexibilidade, conectividade e descentralização das esferas contemporâneas de atuação e articulação social.
Enquanto se dava o processo de glogalização neo-liberal e, até mesmo intrinsecamente aos movimentos dialéticos do próprio capitalismo, afirmavam-se mundo afora, com a mesma intensidade da lógica dominante mas apenas sem o mesmo poder de mídia à época, movimentos locais, comunitários e de minorias como uma resposta muito clara de que a diversidade e as significações específicas existiam e reivindicavam um lugar no mundo. Hoje, é muito mais valorizado e divulgado pelas mídias qualquer evento que se dê em prol de melhorias de condições para os desfavorecidos e aos direitos humanos. As reações adversas ao uso indiscriminado do capitalismo estão aí, em todo organismo terrestre.
Segundo Todd, (apud AYERBE, 2006, p. 65) A dependência da cultura capitalista para os países economicamente desenvolvidos, como os Estados Unidos, provocou uma dependência sem precedentes na história das nações do primeiro mundo, dependem de outros países para manter seu padrão de vida onde predomina o consumismo. Enquanto se perdem em seus paradigmas, o mundo está mudando e hoje se fala até em, como diz Holloway (2003, p.1)"Mudar o mundo sem tomar o poder". Mudaram as táticas para a transformação planetária. Admitindo que talvez não seja mesmo o caminho, a luta armada e a tomada de poder (porque na verdade o poder não é um objeto, para se tomar). Tomar o poder é uma forma de apropriar-se do que já está formado, alimentandoo então para que continue a existir. As tentativas de mudar o mundo conquistando o Estado foram fracassadas e Hollaway (2003, p. 32/312), afirma que, durante mais de cem anos, os sonhos de transformação da sociedade foram canalizados para a burocracia, mediante a definição de estratégias orientadas paa a construção de um partido, para o estabelecimento de formas de disciplinar a luta de classes, para a utilização das regras eleitorais e para a ocupação de postos políticos na esfera do Estado, ou para a luta armada. Estas estratégias, na opinião do autor, mesmo quando se mostraram vitoriosas, desembocaram no triunfo e no reforço das relações sociais capitalistas.
O que falhou é a idéia de que a revolução significa tomar o poder para abolir o poder. [...]a única maneira de se imaginar agora a revolução é como a dissolução do poder, não como a sua conquista (HOLLAWAY, 2003, p. 37)
O FSM, constitui a luta por um mundo sem excluidos, a exemplo da resistência histórica dos povos contra todo o tipo de opressão em toda história da humanidade. Com avanços conceituais e estratégicos.
Os três primeiros encontros mundiais, cujo tema foi: "um outro mundo é possível", deram-se em 2001, 2002 e 2003, no Brasil, realizado em Porto Alegre, e tornou-se um processo permanente em busca de alternativas às políticas neoliberais. Passou então a ser itinerante, sendo os seguintes realizados em Bombaim, na India; em 2005 Porto Alegre; 2006 em Caracas, Karachi e Bamako; 2007 na Africa e 2008 foi descentralizado; em 2009 voltou a ocorrer no Brasil, mas em Belém do Pará. Originalmente o FSM, foi proposto como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, que se realiza anualmente em janeiro. Atualmente as datas não coicidem. Anualmente, o FSM tem maior número de participantes, e tem contado com personalidades e líderes planetários. Diversas entidades nacionais e estrangeiras, com apoio do governo do Estado do Rio Grande do Sul e da Prefeitura de Porto Alegre, responsabilizaram-se pela realização do evento, que surpreendeu a muitos que acreditavam se tratar de uma ato ingênuo, uma utopia de sonhadores de um mundo focado mais no ser e menos no ter. O Fórum Social Mundial é articulado por um conselho internacional, que reune mais de cem redes globais de movimentos e organizações, e funciona por meio de comissões.
O Fórum Social Mundial caracteriza-se também pela diversidade e pluralidade. e pela democracia, além de não ter, em absoluto, um caráter político partidário ou governamental. Não é uma organização, nem uma entidade e não impõe regras ou sequer tem caráter deliberativo. Apenas um processo, para atingir o bem comum. Ao contrário do que temos como exemplo vindo de países economicamente desenvolvidos, como os EUA no texto de Todd (2003, p. 32), que comportamenta-se com intolerância às diferenças e destruição de culturas que desconhece, intolerância essa, causada em compensação pelo enfraquecimento da competitividade internacional americana. Estaria então, o Estado Americano, sofrendo, segundo os conceitos de Wallerstein (apud SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA POLÍTICA, 2005, p. 4) o processo de queda, que sucede a ascenção e consolidação. Durante a decadência do sistema, prevalece a crise que exige uma reestruturação. Enquanto as tendências seculares do moderno sistema mundial são capazes de absorver suas contradições, "novos ciclos sistêmicos" (ascenção, consolidação e queda do sistema) podem ser desencadeados, redirecionando os caminhos do desenvolvimento.
O FSM, é regido por uma carta de princípios, cujo objetivo, segundo é orientar a continuidade dessa iniciativa. Os princípios que contém, consolidam as decisões que presidiram a realização do fórum de Porto Alegre e asseguraram seu êxito, e ampliam seu alcance, definindo orientações que decorrem da lógica dessas decisões.
Segundo Whitaker, Tanaka e Sampaio (2005, p. 27), a carta de Princípios do Forum Social Mundial constitui o documento básico do Forum Social Mundial, ao qual devem se referir todos os foruns sociais que se pretenda organizar, integrados à sua proposta, em qualquer nível.
A tarefa a que se propõem os participantes do FSM, nunca foi tão urgente e vital, e nunca houve na história da humanidade uma situação tão alarmante como a que vivemos hoje. Pois, o homem, só chegou a ter certeza que a degradação do ambiente e seu estilo de vida era tão destrutiva a ponto de criar a possibilidade de extinguir a vida humana muito recentemente. As propostas e caminhos apresentados só prosperarão se todos se conscientizarem, ao contrário da mentalidade que nos trouxe até a situação atual, e que estranhamente ainda encontra seguidores fervorosos, que advogam, aceitam, comungam, toleram e colaboram para que a humanidade caminhe cada vez mais velozmente para o final.
Em alguns anos, iniciou-se um ciclo da história, repleto de mudanças, novas perspectivas sociais, econômicas, políticas e culturais. Mesmo o que não sofreu forte abalo, já não é como antes. As relações no jogo da força estão alteradas em todo o mundo. Não só no leste europeu, União Soviética, Europa e Estados Unidos, naturalmente mais atingidos, como também na Africa, Asia, Oceania, América Latina e Caribe, em todos os cantos do mundo há repercussões mais ou menos notáveis da ruptura histórica.
Com a confirmação científica de que nosso planeta caminha para o fim, a destruição, o homem parece mais sensível. Na verdade, sensível a si próprio, pois não passou a amar a natureza, mas entender que necessita dela para existir. Aprendendo que precisa respeitar o meio ambiente e tentar preservar outras formas de vida, em todos os âmbitos, governamental, social, administrativo etc. Ao mesmo tempo, em que cresce, desenvolve-se através da ciência e conecta-se em tempo real, aos problemas e soluções de todo o planeta. Trazendo mais uma idéia, a de um mundo globalizado.
A globalização, veio como uma armadilha, que ilude os mais fracos, fazendo-os acreditar que o mundo será como um único Estado. Quando na verdade, enquanto o País mais desenvolvido economicamente investe no mais desfavorecido, mas faz questão de manter-se internacional. Fortalecendo a economia do seu próprio país de orígem às custas da manutenção da pobreza nos que são por ele explorados. De acordo com o artigo da SEP (2005, p. 2), as empresas capitalistas, agem assim, porque são organizações competitivas que buscam concentrar em suas bases nacionais de origem, os ativos estratégicos que permitem sua projeção sobre a economia mundial. Sendo assim, nada teria realmente mudado.
A única maneira de salvar a humanidade é todos unirem forças para promover o desenvolvimento sustentável, o fim da pobreza e a promoçao da qualidade de vida. Alguns dos tópicos relacionados nos encontros do FSM são, a sustentabilidade (objetivos, estratégias e táticas), meio ambiente, pobreza, riqueza e ecologia, sobre os processos de urbanização e temas transversais.
Da organização dos temas, podemos dizer que a cada ano se escolhe quatro temas transversais a serem discutidos no ano posterior. Para evitar repetições, um tema sobre política, um sobre economia, um sobre sociedade e outro sobre cultura. A serem apresentados como desafios. Além das atividades relativas a seus temas específicos, as organizações que vão a cada fórum são convidadas a contribuir para a formulação de alternativas em torno dos assuntos transversais.
Conclusão: Em todo o conjunto de acontecimentos, fatos cientificamente comprovados, a reação mundial a todas as circunstâncias aqui mencionadas. Podemos acreditar que, a união dos esforços de todos, pode sim, trazer excelentes resultados, principalmente quando olhamos o problema como algo possível de ser solucionado, quando as soluções dependem de um entusiasmo e conhecimentos técnicos existentes e principalmente organização. O Fórum Social Mundial é um exemplo muito atual disso e esclarece ainda mais, que o poder não é um objeto de uso de quem está governando a nação mas de todos os que estiverem dispostos a fazer o que for preciso para que se tenha um mundo melhor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS. Desenvolvimento e Direitos Humanos: diálogo no Fórum Social Mundial. São Paulo: Peiropolis, 2002.

AYERBE, Luiz Fernando. Ordem, poder e conflito no século XXI: esse mesmo mundo é possível. 1ª edição, São Paulo: Unesp, 2006.

CARTA DE PRINCIPIOS DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL http://www.forumsocialmundial.org.br/main.php?id_menu=4&cd_language=1
Acesso em 20/11/2009.

HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem tomar o poder: o significado da revolução hoje. Sao Paulo: Viramundo, 2003.

SADER, Emir (org). Os porquês da desordem mundial: mestres explicam a globalização. Rio de Janeiro: Record, 2005.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA POLÍTICA. Artigo: http://www.sep.org.br/artigo/ixcongresso53.pdf?PHPSESSID=ef89c8cb5dd08914408140f829e365c2 acesso em 20/11/2009.

TODD, Emmanuel. Depois do Império: a decomposição do sistema americano. Rio de Janeiro: Editora Record, 2003.


VIEIRA, Liszt. Os argonautas da cidadania: a sociedade civil na globalização. Rio de Janeiro: Sindicato Nacional dos Editores de Livros, 2001.

WHITAKER, Chico; TANAKA, Gisele; SAMPAIO, Rosa Maria e Rede de Informações do Terceiro Setor. O Desafio do Forum Social Mundial: um modo de ver. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Autor: Valeria Pedro Da Silva


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