Meio Ambiente e a Prática de Estudo do Meio em Joinville



Olhar e Compreender o Meio Ambiente

O espaço rural enquanto suporte físico de atividades produtivas registra intensas marcas do trabalho humano na natureza, incrementado por diferentes culturas e por um potencial tecnológico que a atual sociedade possui. Esse processo de criação e transformação da natureza proporciona o estabelecimento de uma complicada teia de relações, que a princípio não fica muito atrás da conturbada rede de relações do espaço urbano.
Refletindo sobre as atribuições nos diversos campos do saber de respostas que se espera para a sociedade, diversas indagações permanecem sobre a forma de utilização do espaço e mais propriamente sobre as alterações que atingem os ambientes que ainda mantém características naturais relevantes.
O surgimento da problemática ambiental historicamente atado ao fracionamento do conhecimento serviu até agora para o desenvolvimento eficiente do saber científico e da tecnologia de produção, e erigiu as bases concretas da atual sociedade capitalista, no entanto causou distorções entre o ambiente natural e o humano e acelerou a degradação das condições da biosfera.
Para a ciência o meio ambiente é objeto de investigação quando identificado os problemas em decorrência das atividades humanas, sendo proposto uma definição do termo meio ambiente como: o conjunto de meios naturais ou artificializados da ecosfera onde o homem se instalou e que ele explora, que ele administra, bem como o conjunto dos meios não submetidos à ação antrópica e que são considerados necessários à sua sobrevivência. Esses meios são caracterizados pela sua dimensão espacial, por uma geometria e por seus componentes, sendo ainda submetido a processos de transformação, de ação ou de interação envolvendo os componentes e condicionando mudanças espaciais e temporais; por suas múltiplas dependências com relação às ações humanas; por sua importância tendo em vista o desenvolvimento da sociedade. (JOLLIVET & PAVÉ, 1997)
O meio ambiente surge então como domínio de aplicação de conhecimentos já submetidos à observação e a caracterização da prática humana sendo redefinido, se preciso, do ponto de vista das pesquisas interdisciplinares e multidisciplinares.
Há ainda um conceito de meio ambiente do ponto de vista humanista que satisfaz uma melhor sintonia: o meio ambiente possui no humanismo um significado que implica condições as quais as pessoas e os seres vivem e desenvolvem-se, sendo ainda a soma total das influências que modificam ou determinam o desenvolvimento da vida. O meio ambiente denota, além de suporte físico as marcas do trabalho humano, em que o homem, não como mero espectador, imprime aos lugares onde vive. Sinaliza também o potencial que o suporte físico, a partir de suas características naturais tem para o homem que se propõe a explorá-lo e vivenciá-lo. (HOLZER, 1997)
Esse meio ambiente espaço de relações e de realizações humanas comporta uma infinidade de componentes estimulados pela compreensão humana e de construção da sociedade, entre eles a prática do turismo.
A imposição de necessidades econômicas e sociais para práticas ambientais mais justas para com o meio está generalizada nas falas, seja da academia, seja do poder público, no entanto a proteção à natureza muitas vezes é tratada como uma proteção aos recursos naturais, essa matéria-prima para a produção, sem um sentido de preservação da biodiversidade e da própria cultura.
As dificuldades do relacionamento do homem e ambiente estão atadas as diferentes percepções do que seja natureza. Assim o traço cultural é definidor das relações, contribuindo para a conservação ou a extinção de ambientes.
O respeito e o conhecimento dos ambientes possuem na Educação Ambiental uma ferramenta primordial para atingir a sociedade, sem esta qualquer ação no meio pode atingir condições catastróficas. A educação ambiental não pode ficar restrita a ações de folder, manuais ou programas de televisão ou mesmo não pode ficar restrita a ações de separação do lixo. É necessário colocar as pessoas em contato com a natureza do ambiente que está inicialmente próximo, construir relações que sejam de valorização de sua cultura e de seu espaço. Assim, o turismo é também um veículo para a educação ambiental, ao mesmo tempo em que é ele próprio ação desta.
Um trabalho de percepção do ambiente e criação de identidade com a natureza e a cultura de uma região é primordial para a prática do turismo, se a comunidade não está esclarecida sobre os princípios do seu ambiente, qualquer ação vai trazer mais problemas do que soluções, e mesmo que a econômica local seja favorecida os problemas ambientais podem ser maiores do que os atuais.
Compreender os diferentes componentes da natureza é um dos objetivos do trabalho do professor ao olhar o ambiente. Nesse sentido observar e ter uma leitura desse ambiente é fundamental, isso precisa ser feito observando-se certos contextos de transformação do espaço pela cultura. A compreensão do espaço real somente é adquirida com a experimentação, no trabalho de campo.

O Lugar e a Paisagem Enquanto Experimentação do Meio Ambiente

O lugar que toma forma nos pensamentos e sentimentos das pessoas refere-se ao cotidiano, ao sentido de ligação e afinidade, mais ainda é o lugar delineador das necessidades e muitas vezes das paixões. Os lugares nem sempre são visíveis, eles se fazem visíveis através do meio, sendo que é percebido pela rivalidade, conflito com outros lugares, ou ainda pelo contraste visual, pelos sinais artísticos, pela arquitetura, cerimônias e ritos. Esses lugares somente se tornam mais reais através da ação do homem, o meio ambiente se fortalece enquanto lugar pelas aspirações humanas, pelas necessidades e os ritmos da vida pessoal e dos grupos. (TUAN, 1983)
A diferença entre os lugares é o resultado do arranjo espacial dos modos de produção particulares. O "valor" de cada lugar depende de níveis qualitativos e quantitativos dos modos de produção e da cultura e da maneira como eles se combinam. (SANTOS, 1979)
Enquanto o lugar se traduz no cotidiano da afeição a paisagem somente é possível através da percepção, sobretudo a visual. Conforme sistemas simbólicos concebidos pela cultura ou pela sociedade (como os sistemas de representação), a paisagem é o espaço percebido. A paisagem tem a dimensão do olhar, com todas as construções que a sociedade constrói no conhecimento humano. O espaço da paisagem possui uma perspectiva horizontal, com profundidade e graduação de objetos no horizonte, e uma verticalidade. (COLLOT, 1990)
A paisagem é o resultado da combinação entre os elementos físicos, biológicos e antrópicos, interagindo uns sobre os outros, fazendo desta, um conjunto único e indissociável, em permanente evolução.
Todo o objeto que é percebido no espaço tem uma face oculta à visão, mas a estrutura total do objeto dificilmente escapa aos outros sentidos da percepção, ou ainda a mente trabalha em uma possível contextualização a partir da parte observada. Por não ser totalmente abarcada com a visão é que a paisagem constituí uma totalidade coerente, sendo mesmo assim fragmentária, ou seja há muitos elementos independentes. "Assim a paisagem se define como espaço ao alcance do olhar, mas também a disposição do corpo; e ela se reveste de significados ligados a todos os comportamentos possíveis do sujeito. O ver amplia-se para o poder." (COLLOT, 1990:27)
Observar os contornos da convivência com o meio consiste em grande parte em um trabalho etnográfico de impressões da experimentação humana. Facilmente é negligenciado o fenômeno humano da experimentação e normalmente se atem ao trabalho humano que marca a paisagem. Esta ação humana sobre a natureza, o trabalho, parece confortar talvez em conseqüência de uma visão economicista acadêmica ou de um pensamento ocidental que permeia as construções humanas e não realmente o homem. (TUAN, 1980)
Construir um olhar reflexivo sobre o lugar, com seus significados culturais e pessoais, e compreender os elementos das paisagens, é uma das principais atribuições do professor quando tratar do meio ambiente. Lembrando que é essencial a compreensão da cultura, da sociedade, da natureza e de todos os elementos que compõem a experiência do ser humano.

Conhecendo o Lugar: Caracterização Geral do Município de Joinville

Localizada no Nordeste do Estado de Santa Catarina, o município de Joinville possui o maior número de habitantes no estado, com aproximadamente 460.000. Caracterizado como o terceiro pólo industrial do Sul do Brasil, em uma região que produz 13,6 % do PIB global do Estado. Situa-se em ponto estratégico de acesso ao Mercosul. Está situado na Latitude 26°18' S e Longitude 48°50' W Gr. A altitude da sede é de 4,5 m acima do nível do mar. A área do município é de aproximadamente de 1.081,70 km² (IBGE) e de 1.135,05 km² (IPPUJ).
O município possui um clima subtropical úmido. Com Temperatura média anual: 20,5° C. Temperaturas médias máximas do verão Janeiro: 28,5° C e médias do inverno Julho: 14° C. Há na região micro-climas associados a intensa urbanização do centro da cidade, e a proximidade com a Serra do Mar. O índice médio anual de umidade relativa do ar é de 87,2 %.
O Índice pluviométrico tem a média de 160 mm/mês, os meses mais chuvosos janeiro, fevereiro e março e menos chuvosos junho, julho e agosto. Há na região a ocorrência de chuvas orográficas em virtude da existência de uma barreira natural (a Serra do Mar).
No município pode se caracterizar o relevo com duas principais estruturas: a planície costeira que se estende para oeste, até ser interceptada pela Serra do Mar.
Grande parte do município está sobre a planície costeira é caracteriza por um relevo plano, contendo morros isolados com altitudes variando de 40 a 225 m como, como por exemplo, os morros do Boa Vista e Iririú, situados na cidade de Joinville. Esta planície possui um substrato rochoso bastante antigo, com aproximadamente 2,7 bilhões de anos, composto por rochas metamórficas dos tipos: quartzitos e gnaisses, que afloram nos morros, enquanto na planície ocorrem sedimentos de origem marinha e continental depositados nos últimos 10 mil anos. (GONÇALVES, 2004)
Os rios da planície costeira possuem formas sinuosas, com baixa velocidade de suas águas, muitas vezes influenciadas pela ação das correntes de maré, pois suas desembocaduras encontram-se na Baia da Babitonga e o solo é muitas vezes encharcado, com grande quantidade de matéria orgânica, conhecida como turfa.
A cobertura vegetal dessa região é caracterizada pela Floresta Atlântica, juntamente com seus ecossistemas associados como o Manguezal e a Restinga, onde na maioria das vezes está caracterizada por Vegetação Secundária em diversos estágios de recuperação. Originalmente, a área era coberta por uma Floresta Primária que, após a sua derrubada parcial, ocorreu um processo de regeneração, onde no primeiro estágio de desenvolvimento, ocorre o aparecimento de ervas e pequenos arbustos (capoeirinha). Num segundo estágio, em virtude da intensa luminosidade e baixa umidade, a vegetação se caracteriza por um grande número e densidade de árvores com a altura média de 10 m e diâmetro em torno de 12 cm. Nesse estágio, as gramíneas, samambaias e trepadeiras com espinhos são comuns e as espécies arbóreas dominantes são a capororoca,(Rapanea ferrugínea) o jacatirão (Tibouchina mutabilis) e o jacatirão-de-copada (Miconea cinnamomifolia). O jacatirão é muito comum na região onde, entre os meses de dezembro e janeiro, dão um toque especial na paisagem, com sua florada em tons de rosa. Esta fase, caracterizada pelas espécies citadas, é conhecida por capoeira. (GONÇALVES, 2004)
O Ecossistema de Manguezal predomina nas margens da Baia da Babitonga, caracterizado por uma vegetação espessa, arbórea e arbustiva, com muitas raízes aéreas, ocorrendo: o mangue vermelho (Rhizophora mangle); a siriuva (Avicennia schaueriana) e o mangue branco, também conhecido como de curtume (Laguncularia racemosa). O manguezal é um ecossistema extremamente sensível às alterações do ambiente: com águas pouco profundas e flutuações de salinidade já que o mesmo é o elo entre os ambientes marinhos e fluviais. A queda das folhas, aliada ao lodo e aos excrementos de animais, em um ambiente onde há uma mistura de água doce dos rios com água marinha, dá origem a um meio rico em nutriente e vital para a vida marinha, sendo conhecido como seu berçário. Sendo por isso um nicho de caranguejos, aves, peixes, mamíferos e répteis que do manguezal se servem para abrigo, alimentação e reprodução. (GONÇALVES, 2004)
Já o Ecossistema de Restinga possui vegetação herbácea ou arbustiva influenciada pelo oceano: situando-se entre o mar e o sopé das Serras sendo caracterizada, principalmente, por campos litorâneos próximos ao mar onde a vegetação é rasteira e herbácea. Afastando-se do mar, apresenta-se como uma vegetação espessa arbustiva com a presença de árvores baixas; há nessas matas muitas epífitas , principalmente bromélias. (GONÇALVES, 2004)
Alem da planície costeira o município de Joinville também possui como forma de relevo a Serra do Mar. Esta é o mais extenso cinturão montanhoso e um dos mais espetaculares cenários paisagísticos naturais do País, estendendo-se paralelamente à linha da costa atlântica, desde o Estado do Espírito Santo, até o nordeste de Santa Catarina no Município de Joinville, separando o litoral do interior do Brasil. As encostas da Serra apresentam relevo predominantemente escarpado, com declividade acima de 75%. Pontos culminantes: Serra Queimada - 1.325 metros; Serra da Tromba 967 metros; Pico Jurapê 1.149 metros.
Com relação à sua origem geológica, a mesma, passou por um processo de soerguimento, há cerca de 550-600 milhões de anos (Ma), através de processos tectônicos associados com atividades vulcânicas e terremotos. Mas antes disso, há 2,7 bilhões de anos, as primeiras rochas metamórficas já estavam se formando. Na região, a Serra do Mar possui diversas denominações de acordo com a localidade: Serra do Quiriri, Serra Queimada, Serra Dona Francisca, Serra da Tromba, Serra da Prata, Serra do Piraí e Tiririca. É caracterizada por apresentar um relevo montanhoso representando uma ruptura abrupta entre a planície costeira e o planalto, com desníveis muitas vezes superiores a 1000 metros. Suas encostas, voltadas para leste, possuem inclinações elevadas, geralmente maiores que 30o, sendo entremeadas por vales profundos e encachoeirados, guardando os remanescentes mais preservados de Floresta Atlântica, protegidos pela topografia acidentada. (GONÇALVES, 2004)
Os rios que nascem e drenam as encostas da Serra do Mar, diretamente para o Oceano, são caracterizados por vales encaixados, seguindo as estruturas geológicas da região e, em geral, possuem grande velocidade de suas águas, permitindo o transporte de grande quantidade de sedimentos (fragmentos de rochas e minerais) conhecidos como seixos rolados e areias. Estes depósitos têm sido explorados por mineradoras que, em alguns casos, causam problema de turbidez, quando feitos acima das captações de água para abastecimento de Joinville. (GONÇALVES, 2004)
Na Serra do Mar é comum encontrar belas cachoeiras, como as do Rio da Prata, Quiriri e Salto do Rio Cubatão. A floresta que cobre as encostas da Serra do Mar apresenta-se como uma grande massa verde onde as copas das árvores são tão fechadas, que de longe não permite perceber seus troncos, formando um grande tapete verde. Dentro da floresta, a luz do sol filtrada pelas copas das árvores fornece um rendilhado de luzes e sombras. Algumas partes deste tapete verde são originais, ou seja, estão intactas e, a maior parte, são florestas secundárias, identificáveis pela elegante presença do guapuruvu (Schizolobium parahybun) com a sua florada amarela em geral no mês de abril, embaúba (Cecropia pachystachya) e o jacatirão (Tibouchina mutabilis) com a sua florada em diferentes tons de rosa. (GONÇALVES, 2004)
A Floresta original é chamada de Primária que possui como característica principal, um bosque desenvolvido com pouca entrada de luz, tendo árvores que alcançam até 30 m de altura e de grandes diâmetros, em média 2 metros, sendo que muitas vezes, esse valor é extrapolado, com árvores exibindo mais de 10 metros de circunferência. As árvores típicas são o cedro (Cedrela fissilis) palmito (Euterpe edullis), a laranjeira-do-mato (Xanthoxylum tingoassuiba), a figueira-branca (Fícus guaranitica), o pau-sangue (Croton celtidifolius) e a maçaranduba (Manilkara bidentata). (GONÇALVES, 2004)
Outro tipo de vegetação que merece destaque é denominado de Campos de Altitude, que ocorre geralmente acima de 900m no alto das serras e sobre o planalto, determinando a transição da Floresta Ombrófila Densa (Atlântica) para a Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), apresentando uma vegetação de campos limpos onde predominam as espécies herbáceas de gramíneas e os campos sujos com as matas ciliares (nas margens dos rios) e de galeria. Nestes locais, as condições climáticas variam muito do verão para o inverno, quando as geadas são freqüentes. O solo é pouco espesso e propício à formação de húmus, devido às temperaturas mais baixas. Nesta paisagem se situam as nascentes dos rios Cubatão, Negro, Piraí e do Júlio, sendo uma região de transição entre a Serra do Mar e o planalto, possuindo alto valor ambiental. (GONÇALVES, 2004)
Algumas espécies de Fauna presentes na região onde está situado o município de Joinville são: puma (Leopardus concolor); jaguatirica (Leopardus pardalis); anta (Tapirus terrestris); veado mateiro (Mazana americano); coruja (Pulsatrix koeniswaldiana); gavião-pombo (Leucopternis lacernulata); papagaio (Triclaria malachitacea); araponga (Procrias nudicollis); furão (Galictis cuja); mão - pelada (Procyon cancrivorus); capivara (Hydrochaeris hidrocaeris); cuíca d'água (Chironectes minimus); irara (Eira bárbara); lontra (Lutra longicaudis); quati (Nasua nasua); paca (Agouti paca); macaco - prego (Cepus apella); bugio - ruivo (Alouatta guariba) etc.

A hidrografia do município apresenta as seguintes bacias:
Bacia do Rio Cachoeira com área total de 84,82 km², as nascentes encontram-se numa altitude de 40 metros aproximadamente. A foz caracteriza-se como uma região estuarina, sob a influência das marés, onde encontram-se áreas remanescentes de manguezais. Principais afluentes: Rio Bom Retiro, Rio Morro Alto, Rio Matias, Rio Jaguarão, Rio Bucarein, Rio Itaum-Açu e Rio Itaum-Mirim.
Bacia do Rio Palmital, drena uma área de 357,6 km² (incluindo Garuva) os principais afluentes: Rio Canela, Rio Bonito, Rio Três Barras, Rio Sete Voltas e Rio Onça.
Bacia do Rio Cubatão, com área de 483,8 km² é a maior e mais importante do Município. Nasce na Serra Queimada e deságua no Rio Palmital. Principais afluentes: Rio Quiriri e Rio da Prata.
Bacia do Rio Piraí, drena uma área de 569,5 km², principais afluentes: Rio Piraí, Rio Quati, Rio Águas Vermelhas, Rio Dona Cristina e Rio do Salto.
Bacia do Rio Parati, área de 72,2 km², principais afluentes: Rio do Morro e Rio Araquari. Suas nascentes estão no bairro Itinga, numa altitude de 100 metros.
Há ainda a chamada Bacias do Leste formada por pequenos rios de planície que nascem nos morros isolados do Iririú e Boa Vista.

De posse dessas indicações básicas dos elementos da paisagem de Joinville o educador pode iniciar observações mais pontuais sobre o meio ambiente em que trabalha e as modificações sobre este. Educar no sentido de compreender o meio ambiente vem sendo chamado de Educação Ambiental.


Educar Ambientalmente: histórico e concepções da chamada Educação Ambiental

Mesmo considerando que sempre se educa para o meio ambiente, foi somente recentemente que surgiu no mundo a designação Educação Ambiental.
Considera-se que a emergência de uma Educação Ambiental é historicamente recente no mundo. O marco foi a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (CNUMA) em 1972, em Estocolmo. Nos anos 80 populariza-se com a questão ambiental , ao mesmo tempo em que a Organização das Nações Unidas (ONU) a recomendava (e ainda recomenda) para os currículos escolares.
Existem várias modalidades de Educação Ambiental e que ocorrem em diferentes contextos: a informal (folhetos de sensibilização específicos, jornais, livros, etc.) e a formal (aquela que é praticada nos meios escolares regulares como escolas e universidades).
Essa dualidade sustenta-se em diferentes concepções da prática pedagógica e filosófica. Destacamos duas concepções: uma oriunda das Ciências Humanas, onde os fatores sócio-históricos são mais relevantes que os técnicos e naturais, e outra que trata a questão ambiental na sua dimensão técnica e natural, sendo que a primeira tendência usualmente prevalece.
Por trás dessas concepções de Educação Ambiental, estão diferentes concepções de meio ambiente, que muitas vezes é confundido com a natureza, e entendido simplesmente por uma visão natural, ou seja, a fauna, o solo, o clima, a poluição, entre outros ou mesmo como ecologia, que é o estudo dos ecossistemas. Entende-se aqui que há possibilidades de avançar nestas concepções e incorporar elementos que nos permitam ampliar o conceito, entendendo o meio como formado pela inter-relação da natureza (flora, fauna, etc.) e o espaço produzido pelo homem, que tem a capacidade de interferir em todos os elementos, alterando-os consciente e/ou inconscientemente através das dimensões econômicas e políticas e das organizações sociais que constrói, ou ainda como um conjunto de realidades externas ao sujeito, que age sobre ele e sobre as quais ele age.
Por isso, discutir acerca do meio ambiente

[...] significa tratar questões bastante complexas, como agricultura, indústria, pobreza e desenvolvimento. A educação ambiental não pode limitar-se a ensinar os mecanismos de equilíbrio da natureza. Fazer educação ambiental é também revelar os interesses de diferentes grupos sociais em jogo nos problemas ambientais. Além do amor à natureza e do conhecimento dos seus mecanismos, é preciso aprender a fazer valer nossos ideais com relação aos destinos da sociedade em que vivemos e do planeta que habitamos (CEDI/CRAB: 1994, 10)

Abordado desta forma, torna-se uma totalidade, e para entendermos como esta totalidade se expressa na realidade, no cotidiano, procuramos desenvolver metodologias (como fazer) que dêem suporte para aprendermos sobre o meio no qual estamos inseridos e transformamos.
O entendimento da questão ambiental em seu aspecto mais amplo não pode ficar restrito às formas tradicionais de aquisição de conhecimento. Por melhores que sejam as contribuições das diferentes áreas do saber, elas atuam de forma fragmentada, isolada às vezes, e nem sempre oferecendo respostas às indagações. Neste sentido, busca-se uma abordagem interdisciplinar, onde diferentes áreas do conhecimento possam contribuir numa nova forma de aprender, de pensar e agir na realidade.
Entende-se que a metodologia do estudo do meio pode viabilizar o trabalho numa perspectiva interdisciplinar e auxiliar o educador a compreender como se compõe esse meio ambiente.


Trajetórias do Estudo do Meio

O Estudo do Meio constitui-se numa metodologia integradora, capaz de viabilizar uma abordagem interdisciplinar a partir da observação e análise da realidade.
Como prática é antigo, sendo realizado como estudo do entorno, observação do meio circundante, do contexto social, etc. Sistematicamente iniciou com Freinet educador europeu no início do século. No Brasil, as primeiras experiências desta metodologia foram desenvolvidas pelos imigrantes anarquistas nas escolas livres no início do século. Na década de 1930 surge na Universidade de São Paulo (USP) sendo difundido na década de 60 sob inspiração do Movimento Escola Nova. Proibido no período da ditadura militar, retorna na década de 80 de forma mais sistematizada principalmente nos cursos de Geografia da USP e na rede municipal de ensino da capital paulista.
Atravessando diferentes contextos históricos, essa metodologia foi enriquecida por pensadores das teorias críticas da educação e por aportes teóricos de outras áreas do conhecimento como a Geografia, a Língua Portuguesa, a História e as ciências em geral.
Desde 1995, é trabalhado na UFSC em grupos de estudo, na Disciplina de Prática de Ensino de Geografia e inserido no Movimento de Reorientação Curricular da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. Em 1998 foi apresentado como uma metodologia para o desenvolvimento de Educação Ambiental do Parque Nacional de São Joaquim e entorno.
Busca-se entender o papel socio-ambiental e os diferentes contextos nos qual a escola está inserida, bem como propiciar ao professores a oportunidade de vivenciar como a metodologia se desenvolve, sua aplicação e suas dimensões didáticas e pedagógicas.


Modelo Explicativo da Metodologia

ESTUDO DO MEIO:

Metodologia de trabalho capaz de viabilizar uma abordagem interdisciplinar a partir da observação e análise da realidade

É uma metodologia integradora, capaz de desencadear e dinamizar um processo coletivo e interdisciplinar

MEIO : conjunto de realidades externas ao sujeito, que age sobre ele e
sobre as quais ele age, procurando não perder jamais de vista o
contexto total de meio natural e humano.

ETAPAS

Þ Definição do meio: rua, escola, parque, cidade, etc.
Þ Coleta de informações/levantamento de dados

à bibliografias sobre o local
à órgãos oficiais/imprensa/contatos
à plantas/fotos/mapas

Þ Levantamento preliminar (observação informal)
à definição/reconhecimento do local de estudos
identificação das relações que se dão neste espaço (sujeitos X tema)
à observação dos atores sociais para posterior entrevista
à detectar as necessidades inerentes às etapas posteriores
à o primeiro contato sempre será do professor

Þ Sistematização (antes)
à elaboração do professor: projeto de pesquisa, escolha dos procedimentos didáticos (trabalho em grupo, entrevistas, maquetes, croquis, etc.), sempre articulando os aspectos anteriores ao planejamento mensal, bimestral, etc.
à Questionamento: Como dar conta do específico de cada disciplina? Ou ainda, como despertar o aspecto interdisciplinar ao qual o projeto se propõe?
à Criação da(s) problemática(s)

Þ Elaboração do trabalho de campo
à Organizar a saída da escola
à Definir os instrumentos de estudo (entrevistas, roteiros de observação, percurso, planilha de registro, etc.)
à divide-se os grupos de acordo com a planta do local
à tomar as providências administrativas
à efetuar o registro de campo

Þ Sistematização dos dados (depois)
à atividades a serem desenvolvidas a partir dos dados coletados
à É um momento de produção coletiva

Þ Conclusões
à trabalhos, avaliações, exposições, apresentações, etc.


METODOLOGIA:

LEITURA DO ESPAÇO Þ PROBLEMATIZAÇÃO Þ LEVANTAMENTO DE FONTES Þ INTERPRETAÇÃO E CRÍTICA


Þ Estudo do meio como técnica: você dá o conteúdo

Þ Estudo do meio como metodologia: você trabalha e os temas emergem

Þ LÍNGUA PORTUGUESA NO ESTUDO DO MEIO

à As linguagens visuais/articuladas ? orais/escritas constituem uma das dimensões do espaço social, portanto, sendo expressão do mesmo constituem uma forma de aprendê-lo.
à A linguagem própria do lugar, sua característica dada pela cultura.

Þ CIÊNCIAS NO ESTUDO DO MEIO

à Buscar como se dá a utilização do conhecimento científico em uma realidade
à Incentivar a pesquisa

Þ HISTÓRIA NO ESTUDO DO MEIO

à Estudo das diversas temporalidades
à Abordagem de mudanças e permanências, diferenças e semelhanças entre o passado e presente; entre o espaço vivenciado e outros espaços.
à A história oral; a história do cotidiano (tempo curto/longo, tempo particular e geral)

Þ GEOGRAFIA NO ESTUDO DO MEIO

à Meio é uma Geografia viva. Não há "lugares pobres" nem privilegiados para se estudar.
à Compreender o espaço produzido pela sociedade, suas desigualdades e contradições, a apropriação da natureza pela sociedade.
à Explicar como o espaço é produzido conforme interesses em momentos históricos diferentes
à Entender que esse processo implica numa transformação contínua.


O TRABALHO DE CAMPO

à PARTICIPANTES: professores e alunos
à PRESSUPÕE: atividades em sala de aula e fora dela.
à ETAPAS DE PROGRAMAÇÃO:
Planejamento - Realização - Exploração

ANTES - PLANEJAMENTO
à organização dos objetivos - conhecimento prévio do local - preparação do aluno: O que observar? O que coletar? Como registrar? Como utilizar os registros? Como sintetizar? Quando concluir? Normas de atuação.
à manuseio de cartas geográficas, plantas, fotografias aéreas, imagens de satélites, descrições, dados estatísticos.
à contatos com a equipe técnico-administrativa da escola, com
os pais (objetivos, custos, responsabilidades).
à contatos prévios com os responsáveis pelo(s) local(is) a ser(em) visitado(s) e pessoa-fonte.
à previsão dos meios de transporte, despesas, hospedagem,
material a ser levado.

DURANTE - REALIZAÇÃO

à registro dos aspectos observados (escritos, gravados, fotos)
à possível coleta de materiais
à entrevistas (roteiro prévio)
à comparação e estabelecimento de relações
à professor atuante: orientando, estimulando, retomando o que já foi feito, organizando momentos de lazer em grande grupo.


DEPOIS - EXPLORAÇÃO

à relatos orais e escritos
à sistematização dos dados coletados
à questionamento a partir das observações e dos dados
à trabalho com plantas e mapas
à produção de um texto coletivo
à textos individuais e gráficos
à maquetes
à teatralização
à formulação de conclusões
à encaminhamento para novas investigações...


EXEMPLO:
Þ EXPLORAÇÃO DE UM RECURSO NATURAL DA COMUNIDADE:

à referencial conceitual
à observação do recurso sendo explorado
à entorno
à o processo de exploração
(equipamento - mão-de-obra - energia - etapas - problemas Ambientais)
à se houver deslocamento ("viagem"), registrar as observações
do trajeto.

Þ ESTUDO DE UMA UNIDADE DE PRODUÇÃO DE QUALQUER
UM DOS SETORES DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS OU
DOS ELEMENTOS DO ESPAÇO (PRODUÇÃO - CIRCULAÇÃO).

à Agrícola, pecuária, agricultura, extrativismo, silvicultura, etc.
à Áreas de preservação
à Indústria
à Turismo
à Comércio e Transportes
à Comunicações (rádio - jornal - TV), centrais de processamento
de dados
à Estudo de uma parte da cidade/zona urbana - planta funcional
à Funções urbanas: residencial - comercial - serviços - transportes - industrial ? lazer.
REFERÊNCIAS

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GONÇALVES, Mônica L. et. al. Caminhos e trilhas. Joinville: Letradágua. 2004.

HOLZER, Werther. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem e lugar, território e meio ambiente. In: Território, LAGET, UFRJ. Ano II, n. 3 (jul./dez. 1997) ? Rio de Janeiro: Garamond, 1997.

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PALADIM JR. Et Al. Projeto estudo do meio: integrando a escola e a comunidade na produção do conhecimento. In: Relatos da Rede. Secretaria Municipal de Educação, Florianópolis, 1996.

PENTEADO, Heloísa. Meio ambiente e formação de professores. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção questões da nossa época).

PONTUSCHKA, Nídia. A formação pedagógica do professor de geografia e as práticas interdisciplinares. São Paulo: USP (tese de doutorado), 1994.

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Autor: Orlando Ednei Ferretti


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