Lembranças



Ele aqueceu as mãos nos bolsos, elas estavão enregeladas de pelo frio primaveril que em meio á chuva, ao vento e á sensação térmica de 6 graus mais parecia tê-lo transportado ao inverno rigoroso do sul de seu país. Mas ele estava há um oceano de distância, em outro continente, em uma península. Sorriu...os ares da Europa sempre lhe faziam repensar a vida. Gostava de New York, mas jamais aquele pedaço de StarBucks teria o charme de um Capuccino com panna.
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Quando chegou ao hotel, tirou a roupa e se enfiou debaixo do edredon. Como era bom ter calefação e sentir-se quentinho. Ficou olhando pro teto, passando os canais na TV cujo o idioma falado muito rápido e com entonações graves lhe davam vontade de rir. Pensou em todos os lugares para onde já fora e em todos os quais ainda desejava visitar. Era um homem do mundo. Suas raízes tinham sido arrancadas á muito tempo e agora o que lhe restava de subjetividade territorial eram suas lembranças.
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Lembranças do croissant com creme de Portugal, do açúcar em cubos no café de Paris próximo á Tour Eiffel, do café macchiato na 7th Avenue, da pizza muito ruim de Roma, das tortilhas da Espanha...tudo tão novo, tudo tão antigo.
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Em outros tempos, ele teria se deixado levar pela paisagem e teria esquecido de tudo do seu lado do continente, percorrido de comboio terras longínquas em busca das respostas para as inquietações que sempre o habitavam. Mas agora?...agora tinha para quem voltar e nesse momento era ela quem habitava suas lembranças, mas eram lembranças recentes de alguém que lhe fazia bem, lhe fazia sorrir, lhe tocava a alma com suavidade e serenidade. Estivera por tanto tempo no bojo do furacão de si mesmo e/ou dos outros que agora, estar em paz com ela e por causa dela o fazia pensar que talvez não precisasse de soluções, apenas de abraços e isso ela fazia melhor do que qualquer um.
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Suas lembranças antigas devagar foram se dissipando nas ondas do Mediterrâneo enquanto as mais recentes revolviam-se em ondas fazendo-o desejar voltar aos trópicos, ao calor, ao sol, ao aquecimento profundo daqueles braços que ele amava.
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Abriu a mesa de cabeceira, deu uma olhada na passagem aérea de volta: 3 dias! Que bom, daria tempo de comprar os mimos que queria dar a ela e ao mesmo tempo o tempo com um fuso de 5 horas á mais passaria rápido. Sorriu...lembranças, agora elas eram saudades boas.
Autor: Enrique Darnello


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