Lembranças
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Quando chegou ao hotel, tirou a roupa e se enfiou debaixo do edredon. Como era bom ter calefação e sentir-se quentinho. Ficou olhando pro teto, passando os canais na TV cujo o idioma falado muito rápido e com entonações graves lhe davam vontade de rir. Pensou em todos os lugares para onde já fora e em todos os quais ainda desejava visitar. Era um homem do mundo. Suas raízes tinham sido arrancadas á muito tempo e agora o que lhe restava de subjetividade territorial eram suas lembranças.
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Lembranças do croissant com creme de Portugal, do açúcar em cubos no café de Paris próximo á Tour Eiffel, do café macchiato na 7th Avenue, da pizza muito ruim de Roma, das tortilhas da Espanha...tudo tão novo, tudo tão antigo.
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Em outros tempos, ele teria se deixado levar pela paisagem e teria esquecido de tudo do seu lado do continente, percorrido de comboio terras longínquas em busca das respostas para as inquietações que sempre o habitavam. Mas agora?...agora tinha para quem voltar e nesse momento era ela quem habitava suas lembranças, mas eram lembranças recentes de alguém que lhe fazia bem, lhe fazia sorrir, lhe tocava a alma com suavidade e serenidade. Estivera por tanto tempo no bojo do furacão de si mesmo e/ou dos outros que agora, estar em paz com ela e por causa dela o fazia pensar que talvez não precisasse de soluções, apenas de abraços e isso ela fazia melhor do que qualquer um.
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Suas lembranças antigas devagar foram se dissipando nas ondas do Mediterrâneo enquanto as mais recentes revolviam-se em ondas fazendo-o desejar voltar aos trópicos, ao calor, ao sol, ao aquecimento profundo daqueles braços que ele amava.
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Abriu a mesa de cabeceira, deu uma olhada na passagem aérea de volta: 3 dias! Que bom, daria tempo de comprar os mimos que queria dar a ela e ao mesmo tempo o tempo com um fuso de 5 horas á mais passaria rápido. Sorriu...lembranças, agora elas eram saudades boas.
Autor: Enrique Darnello
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