Estratégias de mobilização social no 3º Setor



Esta resenha expõe os dois primeiros capítulos do livro "Comunicação e Estratégias de Mobilização Social", (SIMEONE, Márcio. Comunicação e Estratégias de Mobilização Social. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.)
O primeiro capítulo da obra é denominado "Relações Públicas em Projetos de Mobilização Social: Funções e Características" e começa enfatizando ao leitor o quanto as inovações tecnológicas e nas áreas do conhecimento, trouxeram benefícios para a humanidade. Em contrapartida a esta afirmativa, o autor explica que essas mesmas inovações também acarretaram uma série de problemas sociais e que, exatamente, na tentativa de minimizá-los, os movimentos sociais ganharam notoriedade. A partir dos problemas gerados pelo desenvolvimento tecnológico e econômico, houve um despertar nas pessoas para a luta com as causas sociais, democráticas, de direitos humanos e ambientais.
Simeone expõe os questionamentos quanto à importância da Comunicação para solidificar os movimentos sociais e explica a transformação da luta por reconhecimento, em luta por visibilidade. Entretanto, a citação de Toro & Werneck (1996) contrapõe a idéia de proporcionalidade entre o nível de cobertura do meio de comunicação e a efetividade da informação veiculada. Sendo assim, para que se garanta a efetividade da comunicação ela deverá ser dirigida ao público-alvo. O planejamento e a Ética são componentes que devem sempre estar presentes em todos os processos de comunicação, auxiliando os movimentos sociais a atingirem seus objetivos.
A partir de referências a Castellis (1992) e Toro & Werneck (1996), o autor mostra que o papel da comunicação nos movimentos sociais é de "convocação de vontades", que significa inserir as pessoas na luta pelas causas sociais, a partir da identificação pessoal com as causas, em si. Os voluntários precisam se sentir parte do movimento e só assim será possível estabelecer vínculos concretos entre os movimentos e as pessoas.
A fim de aprofundar a idéia de "convocação de vontades", Simeone entra no princípio de "co-responsabilidade", que é o engajamento do cidadão na causa, a partir da percepção de que a sua contribuição com o movimento é fundamental para o sucesso do projeto. Sendo assim, os profissionais responsáveis pela comunicação devem atentar-se a um planejamento de estimulação do público para que estes "abracem" a causa e se sintam importantes no movimento.
O autor descreve algumas funções que devem integrar o processo de comunicação. São elas: a) Difundir Informações: trata-se, basicamente, da divulgação segmentada, dirigida e de massa, do projeto pelo qual se luta; b) Promover Coletivização: complementa a divulgação, uma vez que o sujeito precisa não só saber do projeto, mas ter convicção de que a luta pela causa vale a pena e que ele não está lutando sozinho; c) Registrar a memória do movimento: conservar e manter acesso fácil aos "antecedentes" do movimento, fotos, bancos de dados, acervos. Registros são importantes para incentivar próximas iniciativas. d) Fornecer elementos de identificação com a causa e com o projeto mobilizador: identificar e articular valores que façam com que cada indivíduo se relacione com a identidade do movimento. São símbolos (material gráfico, rituais e eventos) que deverão traduzir a causa e seus valores.
Os elementos citados acima são complementares ao planejamento de comunicação e devem fazer parte do planejamento estratégico do movimento. O profissional comunicador não pode negligenciar nenhuma delas e deverá usá-las para que o público se envolva verdadeiramente com a luta pela causa.
Numa segunda parte, ainda do primeiro capítulo, o autor descreve as características da comunicação no processo de mobilização. Ele afirma que ela deverá ser, sobretudo, construída de forma ética, afastando idéias de manipulação, autoritarismo, paternalismo e comunicação de mão-única.
A comunicação tem o papel de orientar as ações dos indivíduos e deve ser dialógica, libertadora e educativa. Essas três características estão fortemente ligadas e não podem existir separadamente num processo de mobilização social. A dialogia se justifica quando percebemos que a comunicação não deve ser um "monólogo". O receptor deve ter voz ativa, para que a comunicação não se torne um processo unidirecional e, de certa forma, autoritário.
A característica libertadora está subentendida na dialógica, uma vez que dar voz ao indivíduo, não manipular ou agir de forma autoritária, liberta o ator social para que ele expresse suas idéias e se sinta parte da luta. Por fim, o caráter educativo se torna essencial, já que a liberdade e a dialogia promovem o diálogo livre e proporcionam ao indivíduo a possibilidade de expressar suas idéias e, a partir da troca de informações, absorver e apreender novos significados que levarão à mudança de suas concepções sobre o movimento ou sobre a sociedade, em geral.
O segundo capítulo da obra de Simeone tem como título "O planejamento da comunicação para a mobilização social: em busca da co-responsabilidade" e leva o leitor a pensar sobre "Como fazer?". O autor explica que é necessário que se defina modelos de planejamento de comunicação que se baseiem em valores e princípios éticos e que sejam eficientes no projeto mobilizador, identificando as finalidades do movimento, os instrumentos de comunicação disponíveis, envolvendo os públicos e garantindo o sucesso da causa pela qual se luta.
Ao mesmo tempo em que explica a necessidade de um plano de comunicação, salienta a dificuldade em estabelecer modelos que se apliquem às questões sociais, fugindo de modelos utilizados em organizações de caráter empresarial que, no geral, visam não só a construção a imagem perante o público, mas também a geração de lucros. Sendo assim, o plano de comunicação para mobilização social deve estar voltado para a realidade e para os valores de cada movimento.
Mobilização nada mais é que convocação. Convocação de um público específico para agir em prol de causas de interesse comum. O autor explica que a sociedade é repleta de problemas sociais, ambientais, etc., e que os indivíduos precisam se sentir coagidos a contribuir na luta para a melhoria desses problemas, o que não tira a responsabilidade do Estado em continuar atuando no progresso de vida da sociedade e na solução de problemas, mas atribui à ela própria, a capacidade de ajudar a minimizá-los.
O profissional de Relações Públicas encontrará o desafio de agir no emocional de cada indivíduo (levando em conta questões culturais, políticas e históricas, além de visões de mundo) sem que haja manipulação, para que não se desvie da comunicação dialógica, libertadora e educativa, exposta no primeiro capítulo.
Parte-se, agora, para a diferenciação dos conceitos de solidariedade, participação e assistencialismo. Solidariedade é o desejo de acabar com uma situação e deve ser exercida no presente, o que a difere de participação, que requer mais envolvimento com a causa. Já o assistencialismo é um gesto de "desencargo de consciência", em que ajudam constantemente, mas não se envolvem, de fato.
O estabelecimento do diagnóstico da comunicação deve levar em consideração oito aspectos que auxiliam no entendimento dos vínculos do público com o movimento. São eles: localização espacial; informação; julgamento; ação; coesão; continuidade, co-responsabilidade e participação institucional. Esses aspectos são explicados detalhadamente pelo autor e lembra ele que "eles não se excluem, mas se somam."
No decorrer do capítulo, Simeone volta às idéias de plano de comunicação, consolidação de vínculos, mobilização, valores, mas adiciona o fator "definição de público", reforçando que a divulgação da causa é o ponto de partida para que se conquiste indivíduos verdadeiramente envolvidos com o movimento.
A definição dos públicos está ligada a três características básicas, que são a plasticidade, a permanente atualização e a mobilidade do centro. Na obra, o autor detalha cada uma dessas características e dá ao leitor o panorama da atividade de definição de públicos, com as dificuldades e as oportunidades.
O modelo de mapeamento e segmentação de projetos mobilizadores possibilitou a visão dos públicos em três dimensões: os beneficiados, os legitimadores e os geradores, que são explicadas pelo autor, inclusive através de um mapa tridimensional dos públicos.
As principais informações que se absorve a partir da leitura dos dois primeiros capítulos do livro "Comunicação e Estratégias de Mobilização Social" são as de que a comunicação se tornou um fator preponderante na construção da imagem do movimento social e na captação de indivíduos que desejem fazer parte dessa luta. O autor expos de maneira detalhada cada característica apontada por ele e por outros autores. Além de aguçar o sentimento de que cabe a nós, profissionais de Relações Públicas, levar em consideração, fatores culturais, políticos e sociais do público-alvo ao elaborar um plano de comunicação para o fim mobilizador. Além de despertar o interesse para a causa social.
Márcio Simeone Henriques atualmente é Professor na Universidade Federal de Minas Gerais, no setor de Comunicação. É graduado em Comunicação Social (UFMG), possui Mestrado em Educação (UFRJ) e Doutorado em Comunicação Social (UFMG). Atua na área de Relações Públicas entre organizações e comunidades, comunicação pública e estratégias de comunicação para mobilização social. Já participou da organização/publicação/edição de diversos artigos e livros como "Visões de futuro: responsabilidade compartilhada e diálogos com a comunidade" (2005) e "Comunicação e Estratégias de Mobilização Social" (2002). Trata-se, então, de um autor com alta bagagem na área de Comunicação e, especialmente, de Comunicação voltada para a mobilidade Social.
Essa obra é indicada aos profissionais, não só das Relações Públicas, mas da Comunicação em geral, que queiram se inserir no 3º setor, aos estudantes da área e aos responsáveis pela coordenação dos movimentos sociais, em geral.

Autor: Renata Enéas


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