ESTAÇÃO VOCÊ



Estação você.
Está frio, e estou nu. Só a ilusão me veste. Á espera de um trem que me leve a algum lugar... De novo? Quantos lugares novos virão, ainda, para esse velho viajante do tempo???!!
Estou numa antiga estação. Filha do passado. Mostram em suas paredes as marcas indeléveis do tempo. Em suas entranhas guardam os olhares de quantos que por ali passaram. Marcas de mãos solitárias. Impressões de rostos sem face... Choro sem lágrimas...
O piso de madeira reproduz o som dos pés de quem nunca os pisou. Observo uma pequena parte do lastro, carcomido; vitima de um voraz bicho cupim. Essa pequena parte a muito não é visitada...
O velho sino agüenta firme a intempérie. As repetidas batidas que anunciam a chegada, também denunciam as partidas. Qual é um som da saudade?Não sei. Mas esse velho sino o sabe. Este é o seu trabalho. Este é o seu papel: Fazer o barulho que rompe o silêncio que se faz entre as pessoas. O sino é o presente!
Sentado num banco; dócil banco; relaxo! Firme, agüenta bem o peso dos anos. Um móvel de duas pernas que suporta uma centopéia humana. Muitas pernas e poucas estradas??!! Mas são os trilhos que me chamam a atenção.
Os trilhos que nos levam inexoravelmente a algum lugar nenhum. Dormentes que mentem, e não sentem a dor das mentes doentes... Num impulso tento arrancá-los e forjar um travesseiro para recostar minha cabeça. Transformá-los em um macio colchão, onde poderei copular com a vida. Gozar no seu fosso e no roço do gozo desse fosso, oferecer minha boca ardente; e deixar-me fecundar!?
Mas é preciso embarcar. Quem sabe encontrar um lugar prazeroso. Uma janela em que se me ofereça uma paisagem. Em que meu olhar possa esbaldar-se. Um horizonte em que caiba além de coisas e interesses; pessoas. Em que os sorrisos signifiquem linguagem. O abraço e o aperto de mão um sinal de humanização. Entre pensamentos não percebo o tempo esvair-se. Eis que chego à próxima estação. Estação 2011!
Era uma manhã que parecia igual a tantas outras. Enquanto saia da locomotiva deparei-me com uma criança a chamar sua avó. Gritava freneticamente: - Olha vó, uma cachoeira!Uma cachoeira!Deixa de grito, menino. Cale a boca, insistiu. E o garoto continuou maravilhado a gritar: olha a cachoeira!Olha a Cachoeira! ...E eu a ouvir: olha a vida!Olha a Vida!!!
De olhos fixo naquele fio d?agua que escorria ao pé do trilho,pensei na vida.Pensei nas crianças.Nas lições simples.Ora,como pode uma maravilhosa cachoeira surgir de um filete d?agua e um cascalho?
É. Estamos bem no meio de um rio. Caudaloso rio da vida!Talvez na próxima embocadura deparemo-nos com uma maravilhosa cachoeira. Aprendamos com as crianças. Uma cachoeira se forma de um simples olhar diferente, nem sempre de complexas conquistas. E para que existam cachoeiras é preciso pedras.
No rio da vida encontram-se muitas pedras. Ás vezes tentamos removê-las. Reclamamos das feridas que se nos abrem. Trabalhemos então na construção da nossa cachoeira. Recolhamos as pedras, dispondo-as de tal maneira que possam produzir beleza.
Mais um trecho deste rio se nos apresenta. Ano 2007!Você é o timoneiro deste barco. Atraque-o. Estude o trecho. Talvez este seja o local adequado para a construção da sua...
Neste instante ouço o sino avisando que é hora de partir. Olho pra mim e vejo a estação... No trilho a vida... Fazia um dia frio e começava a chover. Sentei-me... Peguei uma pedra e pensei em uma bela...
E a locomotiva global?Esta nós conhecemos bem!Boa viagem!!

Autor: Afonso Rocha Sombra


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