Uma análise de "O Gato Preto de Edgar Alan Poe".



Uma análise de "O Gato Preto de Edgar Alan Poe".
Resumo:
Este trabalho tem por objetivo elaborar uma análise do conto "O Gato Preto" de Edgar Alan Poe. Esclarecendo o obscurantismo dos acontecimentos retratados pelo narrador no decorrer do conto. Discutindo a temática da consciência abordada no conto de maneira implícita, de modo que apenas um leitor crítico será capaz de entender a verdadeira intenção de Edgar Alan Poe ao elaborar esse conto, que ora pode ser interpretado como um conto de terror e ora pode ser interpretado como um conto psicológico. A respeito do aspecto psicológico ressaltamos no conto uma semelhança com as idéias de Sigmund Freud a respeito dos desejos instituais. Foi possível identificar a semelhança com as idéias de Sigmund Freud a partir da afirmação do narrador respectivamente na página de número dez do conto.Podemos notar no conto a transmutação da alma humana,através de uma série de acontecimentos desconexos.Em suma o conto "O Gato Preto" revela todo o caráter psicológico do pai do conto norte-americano,Edgar Alan Poe. Palavras-Chave: Análise -Edgar Alan Poe ?O Gato Preto.

INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise do conto "O Gato Preto" de Edgar Alan Poe. Com o intuito de esclarecer o obscurantismo na obra de Poe, que é considerado o pai do conto norte-americano. Para a análise desse conto temos que levar em consideração que existem duas formas de leitura para o mesmo;sendo a leitura racional e a leitura emotiva,sendo que esse trabalho está voltado à uma análise mais racional do conto.
Temos que levar em consideração o fato de Edgar Alan Poe estar inserido no romantismo norte-americano, que tinha um projeto único mais com visões diferentes para retratar a alma humana. Sendo que Edgar Alan Poe está vinculado à idéia de a sociedade é extremamente amarga,e esse enxerga o mundo através do grotesco e do terror.Poe trata de temas eternos, e para ele viver em sociedade gera um eterno descompasso, e o poeta foge desse descompasso através da bebida e da morte; tanto que morre de coma alcoólico.Sendo que o álcool é um fator primordial para a decadência do narrador do conto "O Gato Preto", fazendo com o narrador fique em um estado de alucinação.
Em suma Edgar Alan Poe conseguiu levar à perfeição o relato fantástico e grotesco, sem se desvincular de sua concepção psicológica. Pois seu estilo inconfundível mescla a imaginação livre à concepção mais exata, mudando o rumo do conto moderno e influenciando inúmeros escritores, de Baudelaire a Cortazar.
MATERIAIS E METODOS
Este trabalho foi elaborado através de pesquisas e análise literárias a respeito do conto de Edgar Alan Poe; com o intuito de sanar todas as dúvidas sobre o tema e de adquirir profundidade cultural para tornar-se apto em realizar uma análise crítica sobre o conto de Edgar Alan Poe.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos com as pesquisas literárias comprovaram a profundidade psicológica do conto de Edgar Alan Poe "O Gato Preto", Ressaltando que apenas um leitor dotado de uma visão crítica será capaz de identificar as várias faces do narrador do conto, diferenciando o "ser" do "parecer", aludindo assim o mestre "Machado de Assis" na questão de essência e aparência.
DESENVOLVIMENTO
Edgar Alan Poe, o primeiro escritor realmente notável da América, filho de um casal de pobres atores, teve sua vida desde a infância intensamente atribulada, além de estar à volta de um clima misterioso, pois não se sabe ao certo se seu pai morrera na época ou abandonara a esposa logo após o nascimento do menino. Poe aos dois anos foi adotado pelo rico negociante escocês John Alan e sua esposa.Mais tarde com a morte do pai Poe passou a lutar pela vida escrevendo em numerosos jornais e revistas.Casa-se com sua prima Virgínia Clemm,porém não ganhava muito para o sustento da esposa e da sogra.Sofrendo de constantes crises de alcoolismo e por séqüito de moléstias,as polêmicas e conflitos de Poe se tornaram intensos.
A esposa de Poe Virgínia morreu em 1847, vitima de tuberculose. Viúvo Poe é internado em Baltimore em 1849. Ali Poe ficou algum tempo em tratamento,morreu às vésperas de seu casamento com uma viúva rica.Porém apesar de haver vivido pouco e ter levado uma existência desordenada,Edgar Alan Poe deixou obras de primeira grandeza. Poe escreveu poemas como "O Corvo" conhecido universalmente, o romance "As Aventuras de Arthur Gordam Ryn" e inúmeros artigos de crítica e ensaios literários. Baudelaire traduziu suas histórias para o francês e deu-lhe a maior divulgação possível. A partir daí os contos de terror de Poe passaram a ser conhecidos e apreciados no velho mundo, contos como, O Gato Preto, A Queda da casa de Usher, O Homem da Multidão e tantos outros. Poe revela-se um escritor que prima pelo raciocínio também nos contos policiais.
Edgar Alan Poe está vinculado à idéia de que a sociedade é extremamente amarga, e enxerga o mundo através do Grotesco e do terror. Entretanto apesar de ser o primeiro escritor famoso na literatura norte-americana e considerado o pai do conto nos EUA,Poe vive a desilusão de não ser reconhecido em sua terra natal.Poe é um escritor periférico e vai direcionar suas obras ao povo socialmente excluído,mostrando que o homem perdeu sua humanidade e transformou-se em uma maquina.O autor de Willian Wilson trata de temos eternos,e para ele viver em sociedade gera um descompasso constante; sendo que o poeta foge desse descompasso através da bebida e da morte.
Edgar Alan Poe escrevia em conto, gênero este que designa uma história simples e popular, com uma formula concisa. O Gato Preto(1843) foi o conto que mais impressionou a fértil imaginação de Baudelaire e dos artistas franceses em geral.O conto de Poe O Gato Preto é narrado em 1° pessoa e em forma de confissão.O narrador ao perceber que a morte está próxima decide livrar sua alma de lembranças que o aterrorizaram pela vida inteira: "...devo morrer amanhã e hoje desafogo minha alma.Meu intuito imediato é expor ao mundo,sem rodeios,de forma sucinta e livre de julgamentos,uma série de eventos simples e familiares."(Poe,2004,p.).
O narrador busca através de sua confissão livrar-se da culpa do assassinato de sua esposa, transferindo-a para o fantasma do seu gato de estimação. Sendo que para iludir o leitor a respeito de sua índole, o narrador descreve-se como sendo uma pessoa dócil e amante dos animais:" Desde a mais tensa infância, destaquei-me pelo temperamento dócil e humano".(Poe,2004,p.).
Revelando ainda que casara cedo, com uma mulher que também era amante dos animais; e juntos possuíam muitos animais de estimação, dentre eles um gato preto chamado Pluto, animal que o narrador descreve como seu favorito e companheiro.No entanto,a verdadeira intenção do narrador de culpar o gato pelo crime que cometera vai se revelando,observe: "Falando de sua inteligência, minha mulher, que no fundo não era pouco impregnada de superstição, fazias alusões freqüentes à velha crença popular segundo a qual todo gato preto seria uma bruxa disfarçada."(Poe,2004,p.)
Nota-se na citação acima a intenção do narrador de associar o gato a uma concepção demoníaca, dizendo que este segundo a lenda seria uma bruxa disfarçada. Segue afirmando que após muitos anos de devoção ao seu querido gato,seu caráter sofre uma mudança sem nenhum motivo aparente,pois ele é dominado pelo demônio da Intemperança,que na verdade, nada mais é o álcool:"Mas a minha doença se apoderou de mim-afinal que doença se compara ao álcool?!"(Poe,2004.p.)
Sobre a influencia do suposto demônio da Intemperança, o narrador começa a maltratar sua esposa com palavras grosseiras e até mesmo com violência física, e o gato que outrora era tão amado agora sofria nas mãos de seu dono e algoz: "Tirei um canivete do bolso do casaco abri a lamina, segurei o pobre do animal pela garganta e, num ato deliberado arranquei um dos seus olhos! Ruborizo, queimo estremeço enquanto escrevo essa atrocidade."(Poe,2004,p.)
Note que o narrador arranca um dos olhos do gato, pois os olhos nada mais são do que o espelho da alma, e por algum motivo o olhar do felino o incomodava; talvez seja pelo fato dele ver-se refletido no olhar dócil do animal que tanto o amara. Ao tentar mostra-se arrependido de seu ato esse se contradiz ao revelar que sua alma permaneceu incólume, ou seja, salva e livre de qualquer julgamento; o que confirma a idéia central do parágrafo.
O pobre gato conseguiu se restabelecer aos poucos, contudo esse adquiriu aversão pelo dono. A principio o narrador sofrera com a rejeição de seu gato,mas logo cedeu a irritação.Eis que surge então o espírito da perversidade:
Desse espírito a filosofia não diz nada. E, contudo não tenha certeza da existência da minha alma quanto de que o espírito da perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano. uma das faculdades ou sentimentos primários e indivisíveis que norteiam o caráter do Homem.(Poe,2004,p.10).
A definição que o narrador faz sobre o espírito da perversidade faz alusão à obra de Sigmund Freud intitulada "O Futuro de uma Ilusão", onde Freud também afirma que o ser humano nasce dotado de desejos instituais tais como: o incesto, o canibalismo e ância de matar, observem:
Os desejos instituais que sob elas padecem, nascem de novo com cada criança; há uma classe de pessoas neuróticas, que reagem a essas frustrações através de um comportamento associal. Entre esses desejos instituais encontram-se os do canibalismo, do incesto e da ância de matar.
(Freud, 1978, p.91)
Certa manhã sobre o domínio do espírito da perversidade, o narrador mata seu gato de estimação enforcado:" Amarrei um laço em torno de seu pescoço e o pendurei no galho de uma arvore".(Poe,2004,p.).A narrativa nesse ponto torna-se totalmente incoerente,pois o ato cometido pelo narrador não corresponde com a sua justificativa,pois esse afirma que enforcou o gato porque sabia ele o amara: "Enforquei-o porquê sabia que ele me amara,porque sentia que não me tinha me dado nenhuma razão para agredi-lo".(Poe,2004,p.)
Eis que na noite do dia desse ato cruel, um incêndio misterioso consome toda a casa do narrador, caracterizando perda total da casa. Porém certa afirmação do narrador induz a idéia de que ele próprio teria incendiado sua casa,pois ao falar de seus bens que haviam sido queimados não demonstra nenhuma frustração,pelo contrário resigna-se a fatalidade da situação;"Com todos os meus bens mundanos engolidos,me resignei desde então ao desespero".(Poe,2004,p.)
Para desviar a atenção do leitor sobre a causa do incêndio o narrador revela que a figura de um gato gigantesco ficara gravada em uma das paredes em baixo relevo, e para enfatizar ainda mais a cena afirma que havia uma corda no pescoço do animal.Porém como um animal de porte médio poderia ficar "gigantesco", talvez seja pelo fato do tamanho do gato remeter à culpa do narrador. Todavia mais incoerente do que a figura mencionada acima pelo narrador é a maneira pela qual o gato teria chego até a parede.Conforme revela o narrador que com os gritos de incêndio o jardim fora imediatamente tomado pela multidão e alguém cortou a corda da arvore e atirou o gato em seu quarto,por uma janela aberta ,com o intuito de acordá-lo. E a queda das outras paredes comprimiu o gato contra o reboco recém aplicado, de modo que a cal sob as chamas combinando com o amoníaco da carcaça do bicho produzira o retrato descrito. Deixando assim claro a contradição entre o que realmente aconteceu e o que fora confessado pelo narrador: "Ainda que assim eu satisfizesse prontamente a razão - para não falar na totalidade da consciência ? quanto ao fato surpreendentemente que acabo de descrever,nem por isso ele deixou marcas menos indeléveis na minha imaginação"(Poe,2004,p.)
A confirmação de que o narrador não tem escrúpulos vem com a afirmação proferida por ele: "... durante esse período voltou ao meu espírito um ressaibo que parecia remorso, mas não era", demonstrando assim que o narrador nem ao menos sente remorso por ter matado seu próprio animal de estimação, ou então o fato que fora narrado não acontecerá,sendo mais um devaneio do narrador.
O assassino do gato passa a freqüentar antros desprezíveis, o que demonstra que a relação com a esposa já andava em harmonia. O mais curioso é que agora o narrador começa a procurar outro animal de estimação com aparência similar do que fora morto.Entretanto uma noite encontrava-se entorpecido,ou seja, sob a influencia de qualquer substancia tóxica inibidora dos centros nervosos,esse vê um gato preto muito grande,tão grande quanto Pluto.Porém o narrador teria visto mesmo o gato ou seria uma alucinação,observe: Eu vinha fitando o tampo daquele barril fazia alguns minutos, e o que agora me causava espécie era o fato de não ter percebido antes aquele objeto."
Seria realmente um gato ou seria a manifestação da consciência do narrador, pois ninguém nunca tinha vista aquele gato antes, nem mesmo o proprietário do lugar onde o narrador o encontrara. Tomado de amores pelo felino o narrador leva-o para casa e logo seu novo animal de estimação torna-se uma das predições de sua esposa.No entanto,o narrador começa a sentir uma aversão crescente pelo animal:"Pouco a pouco esses sentimentos de repugnância e irritação elevaram-se à amargura do ódio."
Exatamente nesse ponto o narrador se contradiz ao afirmar: "Eu evitava a criatura; um sentimento de vergonha e a lembrança do meu ato prévio de crueldade me impediam de atacá-lo." Pois o narrador faz referencia ao crime que iria cometer em um futuro próximo, atribuindo ao gato a função de espectro da morte, revelando mais uma vez a intenção do narrador de culpar o gato pelo seu ato futuro. E continua dizendo que seu ódio pelo gato cresceu depois que descobrira que ele também como Pluto perdera um dos olhos. Todavia enquanto ele odiava o gato com todas as forças,sua esposa amava cada vez mais o animal, causando-lhe uma espécie de inveja: "...possuía em alto grau aquela humanidade de sentimentos que outrora fora meu traço característico e a fonte dos meus prazeres mais puros e simples."
A aversão do narrador pelo animal era tão grande que esse chega a chamá-lo de besta, pois agora o animal causava-lhe pavor: "Esse pavor não era propriamente o medo de um mal físico-embora não consiga defini-lo de outra maneira.".
Curiosamente apenas nesse momento o narrador revela que sua narrativa está sendo elaborada dentro de uma cela de criminosos, sendo que todo horror e terror que o animal inspirava no narrador eram provenientes da única diferença visível entre a "estranha besta e a outra que ele havia matado uma marca de pelo branco no peito. Porém o que causava arrepios era a forma da marca, a imagem de uma horripilante forca. Desse momento em diante o estado de alucinação do narrador é nítido; "Ó, lúgubre e terrível instrumento do Horror e do crime, da Agonia e da Morte"!".
Todavia nessa altura da narrativa o demônio da Intemperança e da Perversidade já não existe mais, pois o narrador revela toda sua prepotência ao se comparar a Deus: "È uma beta irracional-cujo camarada eu insolentemente destruíra ? uma besta irracional vinha me impor a mim-, um homem criado à imagem do Altíssimo-tamanho intolerável infortúnio.".
Sendo que a intenção do narrador é de auto denominar uma pessoa dócil e simples, na tentativa de ocultar sua verdadeira personalidade.Prova disso é o fato do narrador ser tomado por um sentimento de inveja do espírito dócil e humanitário de sua esposa,tanto que premedita matá-la e utiliza o gato preto como há libe de seu crime: "Maus pensamentos se tornaram meus únicos confidentes ? os mais sombrios e perversos de todos os pensamentos."
Outra prova da premeditação do crime do narrador é estabelecido pela maneira pela qual o crime acontece; irritado com o gato que "quase" o faz cair nas escadas do porão de sua casa. Então o narrador um pega um machado que encontrava no local "ocasionalmente" para matar o gato: "... deferi contra o animal um golpe que se aplicado como eu pretendia,teria se provado instantaneamente fatal." No entanto inesperadamente o narrador fora interrompido pela mão de sua esposa,que é morta no lugar do gato: "Incitado por essa interferência a uma fúria mais que demoníaca,livrei meu braço da mão dela e enterrei o machado no seu cérebro.Ela caiu morta na hora,sem dar um pio."
Como já visto o narrador premedita o assassinato da esposa e agora planeja o que iria fazer com o corpo da vitima: "Muitos planos me passaram pela cabeça. A certa altura pensei em cortar o cadáver em pequenos fragmentos e atear-lhes fogo." Quando finalmente decide emparedar o corpo na parede do porão, aludindo à visão de Edgar Alan Poe onde o espaço é sempre misterioso: "O porão era perfeitamente adequado a esse tipo de propósito.".
Após esconder o corpo da esposa sem deixar o menor vestígio o narrador mostra-se satisfeito com seu trabalho; confirmando assim sua má índole: "Ao menos aqui afinal, meu trabalho não foi em vão." A confirmação de que o narrador usará seu próprio animal de estimação como há libe para o crime que cometera, caracteriza-se pela seguinte afirmação do mesmo: "O próximo passo era procurar o bicho que fora a causa de tanta desgraça, pois agora eu estava firmemente decidido a matá-lo." Note que ao utilizar o vocábulo agora o narrador cai em contradição com em relação a suas afirmações anteriores, pois ele expressa que somente "agora" agora tinha a intenção de matar o gato e antes não tinha intenção de consumar o ato ou era apenas uma camuflagem para desviar a atenção do leitor a respeito de sua verdadeira intenção em matar sua esposa. Todavia o gato preto desaparecera misteriosamente.
Com o sumiço do animal o narrador sente uma espécie de alivio, porém lembremos então que em dado momento dessas analise definimos o 2° gato como sendo a consciência do narrador, logo se o gato desaparecesse, a consciência do narrador também desapareceria, fato que explica a seguinte afirmação:
"Ela não apareceu, durante a noite e assim, ao menos por uma noite desde o seu ingresso na casa, dormi, mesmo tranqüila e profundamente; sim dormi mesmo com o peso do assassinato na alma."
Passaram-se três dias e o gato não aparecerá, e o narrador julgava-se um homem livre, e não sentia nenhum remorso por ter matado sua esposa: "A culpa pelo meu ato atroz mal me perturbava.".
O narrador considerava-se tão esperto que convicção de que a policia não seria capaz de descobrir seu ato atroz. Porém no quarto dia após o crime um grupo de policiais apareceram em sua casa para efetuar uma investigação rigorosa no local.A principio não encontraram nada , o narrador encontrava-se totalmente seguro de que nada ocorreria consigo:"Meu coração batia com a calma de um cochilo inocente."
Entretanto o ego do narrador era tão grande, diria até gigantesco, que esse mesmo proferiu as palavras que o levaram ao cárcere.
Desejo-lhes saúde a todos e lhes presto mais uma vez os meus cumprimentos. A propósito, senhores, esta é uma casa muito bem construída ? no desejo enlouquecido de ter o que dizer, eu mal sabia o que acabava de proferir-, eu diria mesmo que é uma casa excepcionalmente bem construída. Estas paredes ?já estão de partida,senhores?-foram solidamente erguidas.
Durante seu discurso sobre a estrutura da casa o narrador bate com uma bengala justamente no local onde se encontrava o cadáver de sua esposa, e simultaneamente após a batida ouviu-se uma suplica que logo se transformou em um grito. E em poucos segundos os policiais quebraram a parede que caíra em massa,quando por fim revelou-se o cadáver coberto de sangue e em decomposição,e junto do cadáver estava o gato preto:" Sobre a cabeça,com a boca vermelha aberta e único olho flamejante,estava sentada a besta medonha..."
Observe que mesmo após ter sido descoberto pela policia o narrador insiste que a culpado pelo crime pelo crime que cometera era na verdade o gato preto: "... a besta medonha cuja manha me induzira ao assassinato e cuja voa delatora me confiava ao carrasco." Porém se considerarmos o 2° gato como a consciência do narrador, então esse fora algoz de si mesmo ao entregar-se para a policia, pois se não fosse suas insinuações para os policiais a respeito do esconderijo do cadáver esse não seria descoberto.
Após a analise de "O Gato Preto", podemos comprovar que o escritor Jacques Cabau estava certo ao afirmar que o conto de Edgar Alan Poe é o contrario do conto de terror clássico, pois em lugar de lançar um individuo normal em um universo inquietante, Poe larga um individuo inquietante em um universo normal. Nada acontece ao herói ele é que acontece ao mundo.Não é tomado por um horror exterior,não é o medo que dispara a neurose ,mas a neurose que suscita o medo.O herói é medusado pela própria visão.Uma vez apanhado nos seus próprios mecanismos de fascinação é arrastado para a engrenagem da obsessão.

CONCLUSÃO
Ao termino da analise do conto O Gato Preto de Edgar Alan Poe podemos constatar que a confissão do narrador é obscura e nebulosa; sendo que durante toda a narrativa a intenção do narrador é de convencer o leitor de sua inocência pelo crime que cometera. É possível afirmar ainda que o narrador utiliza seu gato de estimação,o gato preto, como álibi para seu crime colocando toda culpa para o animal.Em suma podemos afirmar plenamente que o narrador premedita e executa o homicídio, assassinando sua esposa, porém o que não se pode afirmar com certeza é o motivo do crime.Todavia existem remanências na narrativa de que o narrador entre em um processo de alucinação que o leva a cometer o crime,porém há também indícios de que o narrador sentia inveja de sua esposa,e esse sentimento combinado com a alucinação podem ter levado o narrador a cometer tamanha atrocidade com sua própria esposa.Pois o narrador revela no conto o seu eu repleto de terrores, presságios,complexos e sobretudo males morais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Freud, Sigmund. Os Pensadores.São Paulo:Abril Cultural;1978.
Penteado, Jacob. Contos Norte-Americanos.São Paulo:Edgraf ltda.,1988.
Poe, Edgar Alan. Contos de Terror,de Mistério e de Morte.Rio de Janeiro:Nova Fronteira;1981.
Poe, Edgar Alan. Historias Extraordinárias.São Paulo:Nova Cultural;1993.
Poe, Edgar Alan. Gigantes da Literatura Universal.Lisboa:Ed.Verbo,1972.









Autor: Rosangela Estevam Da Conceição


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