Uma análise da Cultura Balinesa




Geertz, Clifford ? ??A Interpretação das Culturas?? - Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989
Resenhado por: Carlos Augusto¹

O antropólogo Geertz Clifford e sua esposa (também antropóloga) foram até uma pequena aldeia em Bali na Indonésia, com o propósito de estudar a cultura balinesa. O autor deixa evidente que eles já possuíam algum conhecimento sobre a cultura local, pois, cita alguns autores que anteriormente estudaram a cultura balinesa.
A principio eles utilizam como instrumento de pesquisa principal a observação.
Após conseguirem romper com a indiferença dos balineses, eles avançam para o objetivo principal que é estudar a importância da briga de galos dentro da cultura balinesa. O autor descreve que as brigas de galos são para os balineses o que o pôquer e o golfe são para os norte-americanos, porém a briga de galos possui peculiaridades próprias daquela cultura e, portanto se torna uma pesquisa atraente com tons fascinantes, porque expressa sentimentos do balinês. O problema elaborado pelo autor é desvendar quais são os aspectos principais e os significados que a briga de galos traz consigo como demonstração da identidade balinesa.
Segundo o autor a briga de galos não é chave principal para se entender a vida balinesa, porém, o balinês modela e descobre o seu temperamento e o temperamento de sua sociedade ao mesmo tempo em que tenta demonstrar a hierarquia do status e a sua auto-apreciação.


_______________________________________
Discente do sétimo período do curso de Bacharel em Serviço Social pela UNIPLI-RJ
??Nós éramos invasores, profissionais é verdade, mas os aldeões nos trataram como parece que só os balineses tratam as pessoas que não fazem parte de sua vida. Até certo ponto para nós mesmos, éramos não pessoas, espectros, criaturas invisíveis. Praticamente ninguém nos cumprimentava, e este comportamento é comum em Bali diferentemente de outros lugares como Indonésia e Marrocos onde as pessoas acorriam de todos os lados para me ver e até me tocar. ??
Esta invasão também pode ser entendida como uma invasão cultural e para os aldeões balineses a presença dos visitantes deve ser considerada por eles como novidade e tudo que é novo pode causar estranheza. Sabendo que o comportamento dos balineses é algo incomum se comparado a outros lugares, os antropólogos resolvem estudar esta indiferença.
Surge então: ... ??uma briga de galos muito disputada na praça pública, para angariar dinheiro para uma nova escola??. A principio esta briga de galos surge como uma espécie de movimento popular, pois possuía um objetivo social.
Em Bali as brigas de galos são proibidas, porém segundo o autor elas ocorriam com freqüência nos cantos isolados das aldeias. E foi nesta briga de galos em plena praça pública que os balineses se identificam pela primeira vez com os antropólogos, após uma batida policial os visitantes resolvem correr junto com os aldeões e tal atitude fez com que momentaneamente eles fossem vistos como balineses.
A briga de galos é algo entranhado na cultura balinesa, de modo que os homens passam a maior parte do tempo com os seus galos aparando-os, alimentando discutindo sobre eles, admirando-os e também experimentando-os uns contra os outros.
...??Nós todos somos loucos por galos??. Descreve o anfitrião dos antropólogos.
??A loucura tem, porém, algumas dimensões menos visíveis, pois, embora seja verdade que os galos são expressões simbólicas ou ampliações da personalidade do seu proprietário, o ego masculino narcisista em termos esopianos, eles também representam expressões e bem mais imediatas daquilo que os balineses vêem como a inversão direta, estética, moral e metafísica da condição humana: a animalidade.??
Estas ampliações da personalidade do proprietário que são transferidas para o galo, são descritas pelo autor como se o galo fosse o pênis do seu dono, ou em alguns casos como se o galo fosse o próprio dono na rinha lutando contra o dono de outro galo.
A animalidade humana é representada pela violência com que os galos se comportam algumas vezes se ferem até a morte.
As regras das brigas de galos são transferidas de geração a geração como uma tradição cultural. Segundo as pesquisas do autor, no passado a briga de galos se constituía como um evento social, político e sua pratica era institucionalizada.
O interessante é que nas brigas de galo os valores e as características do gênero masculino possuem um peso muito maior do que o próprio dinheiro apostado. O jogo segundo o autor é na verdade uma espécie de status social e acredito que é uma forma do balinês se sentir incluído na sociedade. Também fica evidente o seu caráter alienador e viciante principalmente entre os mais pobres. Esta alienação trazida pelo jogo pode ser um tipo de alienação cultural semelhante ao que temos no Brasil com o jogo do bicho e os jogos lotéricos este segundo é perverso, pois a sua lógica parte do principio que milhões perdem para somente um ganhar. Ainda falando sobre a alienação, podemos também identificar a alienação política produzida pela briga de galos balinesa, este tipo de alienação atinge todas as classes sociais e todas as parcelas da sociedade balinesa que fica inerte diante dos acontecimentos políticos locais, regionais e nacionais.
??Um homem quase nunca aposta contra um galo de propriedade de seu próprio grupo parentesco??.
Esse apoio ao galo de um parente traduz o desejo de que, se alguém tem de alcançar um status social que seja da minha família, este deve ser o fator motivacional que talvez possamos usar para justificar este apoio, O autor completa dizendo que quando houver um galo de algum conhecido, mesmo que este galo não tenha chances de vencer a luta, o balinês deve apostar neste galo para evitar assim um rompimento social.
Os pesquisadores descobrem enfim que na realidade não existem ascensão social e mobilidade na hierarquia de status, pois a briga de galos só é real para os galos e se configura apenas com um elemento cultural popular importante dentro da cultura balinesa.


Acredito que o texto de Clifford traz informações importantíssimas para aprendermos a cerca de uma cultura diferenciada como é a cultura balinesa, porém, o autor poderia ter aprofundado muito mais os seus estudos, pois o termo cultura pode e deve ser ampliado se pensarmos nela como um conjunto de idéias, costumes, prática religiosa, relações entre gêneros, artes, postura política dentre tantos aspectos que permeiam uma sociedade no decorrer de sua história.
A respeito das relações sociais entre os balineses faltou abordar o papel da mulher naquela sociedade, embora fique subentendido que esta sociedade é machista, e que o objeto de estudo principal é abordar os desdobramentos da briga de galos como elemento principal da cultura balinesa. O autor deixa algumas lacunas que podem ser aproveitadas por outros cientistas sociais que desejem desvendar estes e outros elementos tão fascinantes dentro da cultura balinesa.

Autor: Carlos Augusto


Artigos Relacionados


JustiÇa Cantando De Galo

O Galo Tonicão...dono Absoluto Do Quintal!

O Sítio

Sonho De Criança

Galiza, A Terra Dos Celtas

A VocÊ, Pensamento Novo!

O Maior Show Business Do Mundo No Brasil - Ufc 148