A ORDEM DO DISCURSO DE FOUCAULT



FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 10. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004. Tradução Lara Fraga de Almeida Sampaio.

PROBLEMA

O autor procura responder a inquietações: o que seria o discurso em sua realidade material de coisa pronunciada ou escrita? Qual o perigo contido nos discursos, o que há por trás dos discursos?

TESE / HIPÓTESE DEFENDIDA

"Em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade." (p. 9) O autor defende que discurso é uma forma de controle.

ARGUMENTO DO AUTOR

Existem procedimentos externos que incidem sobre os discursos, são os três grandes sistemas de exclusão: A palavra proibida(interdição); A segregação da loucura(separação e rejeição); vontade de verdade(consenso da verdade).
Todo discurso é controlado pela interdição, não podemos falar tudo o que queremos, pois isso vai depender da pessoa que profere e das circunstâncias em que é proferido o discurso. Há três tipos de interdição: o tabu do objeto, o ritual de circunstância e o direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala. Esses tipos de interdição se cruzam e se reforçam, e o autor dá como exemplo a política e a sexualidade como principais tabus presentes na sociedade. E acrescenta que as interdições que atingem o discurso revela sua ligação com o desejo e o poder.
Para explicar a separação e a rejeição, o autor se vale da oposição entre a razão e a loucura. O discurso do louco é considerado nulo por não satisfazer as exigências sociais, por isso rejeitado. Há, então, a separação do sano e insano através da análise do discurso.
E a vontade da verdade, que é historicamente constituído e institucionalmente constrangedor. O Discurso verdadeiro é aquele ao qual era preciso submeter-se, pois pronunciado por quem de direito e conforme o ritual requerido. Era o discurso pronunciado pela justiça, que anunciava o que ia se passar e contribuía para sua realização, profetizando o futuro, suscitava a adesão dos homens e se tramava assim o destino.
Ao lado desses procedimentos externos, que funcionam como sistemas exclusão, e que põem em jogo o poder e o desejo, também existem os procedimentos internos ao discurso, posto que são os discursos que exercem seu próprio controle.
Os procedimentos internos são: O Comentário, conjura o acaso do discurso fazendo-lhe sua parte, permite-lhe dizer algo além do texto mesmo, mas com a condição de que o texto mesmo seja dito e de certo modo realizado; O Autor é, de certo modo, complementar ao princípio do comentário. Não se trata do autor individual, mas o autor como princípio de agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência; A Disciplina que se opõe ao princípio do comentário e do autor, pois a disciplina exerce seu controle na produção dos discursos por meio da imposição de limites e de regras. Desse modo, Foucault esclarece que para que um discurso componha uma disciplina, ele precisa está no plano da verdade, precisa está inserido num determinado campo teórico.
Há um terceiro grupo de procedimentos que visam determinar as condições de seu funcionamento, de impor aos indivíduos que os pronunciam certo número de regras e assim de não permitir que todo mundo tenha acesso a eles. O primeiro que Foucault evidencia são os Rituais da palavra, que definem a qualificação que devem possuir os sujeitos que falam. Assim definem os gestos, comportamentos, circunstâncias, e todo o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso. Fixa a eficácia suposta ou imposta das palavras, seu efeito sobre aqueles aos quais se dirigem, os limites de seu valor de coerção. Há também as Sociedades de discurso que conservam ou produzem discursos, mas para fazê-los circular em espaços fechados, distribuí-los segundo regras restritas. Outro são os Grupos Doutrinários que baseados em discursos comuns, ensejam o sentimento de pertença. A doutrina é sinal, manifestação e instrumento de uma pertença prévia: de classe, status, grupo, nacionalidade, interesse, luta, revolta, resistência, aceitação. Liga os indivíduos a certos tipos de enunciação e lhes proíbe todos os outros, diferenciando dos demais aqueles a quem interliga. Finalmente, o Sistema de Educação que é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo.
Ante esses sistemas, procedimentos ou jogos de limitações e de exclusões, Foucault se propõe a tomar três decisões: questionar nossa vontade de verdade, propondo uma verdade ideal como lei do discurso; restituir ao discurso seu caráter de acontecimento, pois o discurso é a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios olhos; suspender, enfim, a soberania do significante, posto que o discurso nada mais é que um jogo, de escritura, no primeiro caso, de leitura, no segundo, de troca, no terceiro. Essa troca, leitura e escritura jamais põem em jogo senão os signos. Sendo assim, o discurso se anula em sua realidade inscrevendo-se na ordem do significante. Para que essas três tarefas se realizem devem ser observados alguns princípios, quais sejam: Princípio de inversão; Princípio de descontinuidade; Princípio de especificidade; Princípio de exterioridade.
CATEGORIAS / CONCEITOS

Palavras-chave: Discurso, procedimentos de exclusão, vontade da verdade, poder, desejo, ordem.

CONCLUSÃO DO AUTOR

"A análise do discurso, assim entendida, não desvenda a universalidade de um sentido; ela mostra à luz do dia o jogo da rarefação imposta, como um poder fundamental de afirmação. Rarefação, enfim, da afirmação e não generosidade contínua do sentido, e não monarquia do significante." (p. 70)

CONCLUSÃO DO ALUNO

Foucault propõe uma nova ordem do discurso. Pretende a inversão do discurso do poder pelo discurso do desejo. A partir de seus estudos filosóficos, podemos compreender como nasce o discurso, quais os elementos de sua elaboração e modos de execução, quais suas formas de controle, o que há por trás dos discursos.
Autor: David Martins Nunes


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