Logo que chegou reparou aquela estranha visão



Logo que chegou reparou a imagem estranha, Uma mão que lhe acenava amigavelmente, não fosse o fato do corpo se encontrar totalmente submerso na água da lagoa preta. A Praia da lagoa estava vazia, não tinha muita vegetação, o vento estava parado, tudo calmo não fosse aquela mão estranha.Um ser da floresta com o dom de respirar em baixo da água? Uma alucinação da mente controvertida? Seria consciente? Não soube. Caminhou até mais perto, tentava ver se não estava enganado, não, aquilo era uma mão fora d?água, e convidava cada vez mais para sua direção perigosa, difícil acesso e regresso, somente atraia para seu encontro real. Impossível não querer descobrir o quê era aquilo.
Ficou em pé parado na beira da lagoa analisando qual a distancia que lhe balançava aquela mão. Uns trezentos metros? Era horrível na noção de distância, mas sabia o quanto estava longe, o espaço deserto e parado ao redor valorizava o encontro com o aceno. Foi entrando na água preta e transparente da lagoa preta, uma transparência que a tornava um pouco rubra. Ia pisando no fundo da água tateando com os pés o fundo lamacento e repulsivo, tanto o fez que pulou de cabeça na água gelada, leve para nadar. Sabe nadar bem embora nade de forma errada com a cabeça o tempo todo fora da água, sem tirar os olhos da mão dando tchau. Nadou e nadou, a distancia era maior do que esperava, porém a vontade de descobrir o quê era aquilo o fez nadar cada vez mais rápido. Já conseguia ver até o anel do dedo.
Cada vez mais perto e ainda sem saber do que se trata aquela mão balançando, já não era só uma mão, reparou o antebraço fora d?água. Parou de nadar a alguns metros do acenar. Esticou o corpo fora d?água tentando ver a silhueta do dono da mão, não conseguiu ver nada no espelho negro da lagoa. Estava perto, e ficou com medo de mergulhar para tentar tocar o que estivesse lá embaixo. Parado boiando na água começou analisar a mão, era delicada, feminina e com as linhas bem desenhadas, se fosse cigano conseguiria ler tudo em suas linhas fortes, mesmo assim tentou decifrar qual a situação nos signos da mão. Imaginou uma deusa lhe convidando para um mundo novo, era um escolhido e tem a oportunidade única de penetrar no além, deu um impulso para cima puxando ar e mergulhou de encontro à mão. Chocou-se com uma grade, tipo uma gaiola, bateu com os braços esticados na porta de ferro abrindo-a sem querer, uma sucção o arrastou para o fundo da grade, foi o suficiente para a porta se fechar novamente prendendo-o na gaiola ao lado de um corpo de metal, com uma engrenagem de oscilação que movimentava o balanço repetitivo de uma haste de metal com uma prótese de braço perfeitamente igual ao de um humano. E o oxigênio foi acabando. Sabe que o desespero consome mais ar, por isso colocou o braço para fora d?água e começou acenar com a mão. No mesmo ritmo do aceno de metal.


Mateus Guimarães Alves,
13 de outubro de 2006

Autor: Mateus Guimarães Alves


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