Sabedoria e temor
Pois, cedo ou tarde, a mente e sua sabedoria se converterão em servidoras subservientes da racionalização dos desejos e exigências do ego e suas vontades.
Onde o " temor" não vem antes da sabedoria, servindo para ela de base, a sabedoria não perdura.
A sabedoria e a razão servirão a qualquer amo com a mesma lealdade. E a vontade e o caráter da pessoa que formam o núcleo de valores em cujo âmbito a razão deve operar.
A palavra sabedoria, no sentido usado neste texto abarca todo conhecimento organizado, todo o domínio da ciência.
Tornou-se quase um truísmo que os enormes avanços da ciência e tecnologia modernas se converterão em maldição ou em bênção segundo o uso que se fizer deles. Se o "temor (respeito) ao Criador" prevalecer no coração dos homens, estaremos no limiar de uma verdadeira era dourada para a humanidade. Mas, se em vez disto, apenas aspirações ilimitadas e ânsia pelo poder regerem o que fazermos, então nossa sabedoria e ciência não irão perdurar muito, pois nossa jactante civilização certamente se autodestruirá e levará o mundo junto com ela.
O Talmud relata que "quatro entraram em D´aat (esfera do conhecimento), das especulações místicas e metafísicas, para obter o conhecimento esotérico. Aconteceu que :
"Ben Azai ficou contemplando e morreu... Ben Zomá fez o mesmo e enlouqueceu.. Acher (Elisha ben Abuia) tornou-se um herege e hostil para com sua própria fé .
Rabi Akiva entrou em paz e saiu em paz."
Por que somente Rabi Akiva pode resistir a estes deslumbrantes ensinamentos?
A resposta encontra-se na própria passagem: "Rabi Akiva; entrou em paz e saiu em paz". Por ter entrado "em paz" com uma base de piedade e reverência, inalteráveis como uma rocha, com intenções originais puras e saudáveis, pôde "sair em paz", com sua fé inabalada e intacta.
No Livro de Provérbios, o Rei Salomão acrescenta outra idéia a este princípio básico: "O começo da sabedoria é o temor e o respeito ao criador."
A sabedoria e o conhecimento da ciência podem explicar muitos dos fenômenos atuais. Pode formular leis de probabilidade a respeito das relações constantes entre determinados fenômenos. Mas a "sabedoria" deste tipo é de pouca utilidade quando tentamos determinar as "origens".
Ao perguntar sobre a origem das coisas, a respeito do início da vida, até mesmo o início do átomo de hidrogênio, a ciência é cega e impotente.
Nem a ciência nem a filosofia conseguem responder à pergunta: Por que existe algo em vez do nada? Nem adianta dar à ciência mais tempo para descobrir a resposta, pois lhe faltam até mesmo as ferramentas para fazê-lo. Perguntas relativas aos "começos" e "origens" e aos "finais" estão, por princípio, fora da competência e alcance da ciência.
Está escrito que :
Apesar da sua vontade nascerá e apesar de sua vontade morrerá.
Diz o talmud "Do que vale o conhecimento se não souber usa-lo."
Os avanços sem precedentes da ciência e tecnologia não foram acompanhados por um desenvolvimento correspondente na consciência religiosa e moral do ser humano.
A sabedoria e conhecimento científico simplesmente permitiram a fabricação de armas novas, infinitamente mais devastadoras do que quaisquer outras conhecidas anteriormente, a serem usadas em sua luta para satisfazer suas cobiças mais selvagens sem restrições morais como moderadores.
Assim citaremos três enfoque de motivos de desunião:
O primeiro enfoque é econômico; por extensão implicaria em uma interpretação econômica da história: os acontecimentos mundiais, as guerras e os movimentos sociais são causados pelos desejos, necessidades ou impulsos materialistas.
Karl Marx popularizou este ponto de vista com seu materialismo dialético, até o ponto em que este é associado ao seu nome no mundo todo. Nos Estados Unidos, Charles Beard aplicou este princípio na sua interpretação econômica da constituição estadunidense.
Com freqüência, se não sempre, a guerra tem uma base econômica: os desejos materiais conduzem à agressão e à conquista.
O segundo enfoque representa a teoria de que as diferenças religiosas foram as responsáveis pelas contendas e violência no mundo.
Desafortunadamente, isto também pode ser documentado. Muito sangue foi derramado com resultado de um idealismo distorcido, do fanatismo religioso, de "guerras santas" destinadas a perpetuar uma determinada "fé verdadeira", que uns procuravam impor aos outros.
O terceiro enfoque é o impulso primitivo de conquista sexual que move o homem pode estar subjacente em muitas das agressões.
Descobrimentos pioneiros de Freud indicaram até que extremo tal motivação pode encontrar-se no inconsciente humano, quando não no pensamento consciente.
Estes são, os principais motivos, capazes de levar pessoas e nações a cometer agressão, até mesmo assassinato. Onde está a sabedoria nestes casos? Na ausência do "temor", a sabedoria e a inteligência são utilizadas para racionalizar os atos de violência e injustiça, e para provar que são supostamente necessários e justificados.
É só acompanhar a história para entender que nada é por acaso.
Dos grandes Mestres, primeiro veio Moisés que ensinou a seguir as Leis e depois veio Jesus para ensinar a compreensão destas leis.
Afinal ninguém vai a faculdade sem passar pelo colegial!
Enfim, enquanto isto, só resta a segurança que o conhecimento se defende e a morte do homem é a principal resposta ao temor.
Mundo de escravos não? !!
E finalmente como disse LA FONTAINE
"Le trépas vient tout guérir;
Mais ne bougeons d´oú nous sommes;
Plutôt soufrir que mourir;
C´est la devise des hommes. "
"A morte vem tudo sarar;
Mas continuando onde estamos;
Antes sofrer do que morrer;
E o destino dos homens."
Autor: Moussa Simhon
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