Dependência e Reciprocidade de Fabaceae (Angiosperma) e Xylocopa (Hymenoptera: Apidae) no município de Aracaju-SE.



UNIVERSIDADE TIRADENTES
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
LIMA, L. B
ARACAJU, 2008


1.INTRUDUÇÃO

Dentre as quase 115.000 espécies de Hymenopteros descritas (LASSALE &GAULD, 1993), existem aproximadamente 20.000 espécies distribuídas praticamente por toda a parte do mundo onde há Angiospermas (MICHENER, 1979). Esses Hymenopteros dependem quase que totalmente das Angiospermas constituindo-se num elemento de primordial importância na maioria dos ecossistemas terrestres (SILVEIRA, 2001).
Existem cerca de 250.000 espécies de Angiospermas e grande parte delas, dependem de insetos para a polinização de suas flores e consequentemente para sua reprodução (WILSON, 1994; RAVEN, EVERT & EICHHORN, 2004).
Voando de flor em flor em busca do néctar, fonte de açucares para a produção do mel, ou do pólen, fonte de proteína para sua família, as abelhas polinizam as flores. Como polinizadoras, transportam durante o vôo, os grãos de pólen de uma flor para o estigma de outra da mesma espécie (IMPERATRIZ-FONSECA, 2004). Sua eficiência como polinizadora dar-se-á por sua grande quantidade na natureza e por sua alta adaptação às complexas estruturas florais (KEVAN&BAKER, 1983; PROCTOR et al, 1996).
A polinização é um fator fundamental ao desenvolvimento de inúmeras culturas. Ela pode ocorrer na própria planta e através de fatores externos ou agentes polinizadores, como por exemplo, os insetos. Dentre estes, as abelhas se destacam constituindo com os vegetais uma relação de dependência e reciprocidade, a abelha coleta o néctar e em troca leva o pólen garantindo assim, a perpetuação da espécie vegetal. Essa relação garantiu ás plantas a polinização cruzada, uma importante evolução visto que, possibilitou-as varias combinações genéticas e o aumento da produção de frutos e sementes (COUTO & COUTO, 2002). Entretanto, espécies de plantas de muitas famílias são tóxicas às abelhas causando seu envenenamento.
As relações entre as plantas e polinizadores podem ser muito especializadas. Algumas espécies de plantas apresentam polinização tão específica que dependem exclusivamente de uma (oligoléticas) ou algumas (poliléticas) espécie de abelhas para realizar a polinização (FAEGRI & VAN DER PIJL, 1979). Nota-se, todavia, uma predileção das abelhas a determinadas plantas podendo, em alguns casos, observar-se uma evolução morfológica ou mecanismos especializados para a coleta de recursos florais de difícil acesso (SCHLINDWEIN, 2000).
Os mecanismos de comunicação variam de acordo com cada espécie. Estes podem ser constituídos por sons específicos, gênero Melipona, por exemplo (ESCH et al. 1995; HRNCIR et al. 2000; AGUILAR AND BRICEÑO, 2002; NIEH et al. 2003), e por trilhas de cheiro, gênero Trigona ( IMPERATRIZ-FONSECA, 2004), entre outros.
HEITHAUS (1974), concluiu, a partir de dados encontrados em comunidades da Costa Rica, que as interações planta-polinizador são fundamentais na determinação da estrutura das comunidades (AGUIAR, 1995). Esta estrutura pode ser definida de acordo com as inter-relações de nichos das espécies que utilizam um conjunto peculiar de recursos (PLEASANTS, 1983).
A polinização sem sombra de dúvidas, foi um grande avanço natural, ela é considerada como o segundo processo biológico mais importante para as plantas já que, é insubstituível na formação das sementes além de ser serviço ambiental, sem gastos, realizado pelos animais, especialmente pelas abelhas (IMPERATRIZ-FONSECA, 2004).
Neste contexto, não somente os integrantes desta interação são beneficiados, mas também o homem, que durante anos vem desenvolvendo técnicas que lhe garanta um melhor aproveitamento dessas sementes e frutos originados a partir da polinização.
A primeira forma de utilização das abelhas pelo homem foi através da produção de mel, uma fonte açucarada orgânica e natural, de grande valor alimentar e medicinal. Com o passar do tempo descobriu-se outras finalidades das abelhas como, por exemplo, a produção de cera, pólen e resina, produtos atualmente de grande valor comercial (IMPERATRIZ-FONSECA, 2004).
No Brasil, inúmeros aspectos de interações entre abelhas e plantas vêm sendo estudados. Métodos de análise polínica têm sido empregados no levantamento das fontes de alimento de espécies eusociais, principalmente na região amazônica (ABSY & KERR, 1977; ABSY et al.,1980; 1984; MARQUEZ-SOUZA, 1993) e em São Paulo (MOUGA, 1984; IMPERATRIZ-FONSECA et al., 1984; 1989; RAMALHO et al., 1985; 1989; 1990; KLEINERT-GIOVANNINI & IMPERATRIZ-FONSECA, 1987; CORTOPASSI-LAURINO & RAMALHO,1988; AGUIAR,1995).
Os primeiros estudos sobre as abelhas do nordeste brasileiro foram realizados por DUCKE (1907,1908) que descreveu inúmeras espécies desta região. Esses tipos de pesquisas, ainda são escassas (AGUIAR, 1995). Como no nordeste brasileiro, esses trabalhos, começaram recentemente, poucas localidades foram estudadas. (SILVEIRA, 2001).
No estado de Sergipe não existem materiais que discutam a estrutura de comunidades de abelhas e suas interações com os vegetais, mesmo apresentando vários ecossistemas com condições para esse tipo de estudo (SILVEIRA, 2001).
O objetivo principal desse trabalho é fornecer dados concretos sobre a dependência e reciprocidade de Fabaceae (Angiosperma) e Xylocopa (Hymenoptera: Apoidae) já que, os estudos com abelhas e suas relações com as plantas polinizadas, são escassas na região do nordeste brasileiro. Justificando-se assim, com o intuito de dar seguimento a iniciação desses trabalhos científicos em Sergipe visando seu valor acadêmico e Social.

2.MATERIAL E MÉTODOS

Esse trabalho foi desenvolvido no município de Aracaju-SE. O presente estado localiza-se no nordeste brasileiro limitando-se ao Norte com Alagoas, ao Sul e Oeste com a Bahia e ao leste com o oceano Atlântico. Seu território compreende aproximadamente 21.962,1 km² caracterizando-se por um relevo de planície litorânea com várzeas e depressões na sua maioria. A vegetação é composta por mangues no litoral, áreas de floresta tropical, caatinga e cerrado. O clima é quente com temperaturas que oscilam entre 24°C e 26°C, apresentando uma estação chuvosa no período outono-inverno e uma seca com chuvas de trovoadas no período primavera-verão. Os dados referidos foram obtidos no site: www.citybrasil.com.br.
Segundo o IBGE, a capital sergipana, Aracaju, possui uma área territorial de 174 km², localiza-se no leste sergipano mais precisamente á 1º 27? 21? S (latitude) e 48º 30? 14? W (longitude). Seu solo é composto predominantemente por areal e manguezais. O clima é quente e úmido , com período chuvoso de março a agosto. A temperatura média anual é de 26°C e precipitação média anual, de 1590 mm.A vegetação é composta por campos limpos e sujos e campos de vázeas e manguezais (www.ibge.gov.br).
A pesquisa foi realizada no mês de Maio durante sete dias sendo quatro dias, caracterizados por período chuvoso. A observação foi feita das 7:00 ás 13:00 horas retornando a obtenção de dados das 14:00 ás 17:00 horas. A planta foi coletada, colocada em manta e encaminhada para identificação. As abelhas visualizadas eram de grande porte podendo, portanto serem observadas diretamente a olho nu e com o auxílio de binóculos, para melhor riqueza de detalhes estando elas, em vôo ou em repouso. Algumas foram capturadas com o uso de redes entomológicas, colocadas em potes mortíferos e em seguida, transportadas para recipientes e levadas para sua classificação. O presente estudo caracterizou-se por ser classificatório com teor exploratório.

3.RESULTADOS

A Crotalaria retusa é uma planta tóxica da família Fabaceae que na área estudada apresentou-se de 10 á 40 cm de altura. Suas folhas são simples, alternadas e inteiras. As flores, compostas por três pétalas, possuem cor amarelo-dourado com linhas marrons para dentro. O fruto é uma cápsula que guarda as sementes de coloração amarela ou marrom e que quando seco confere um som parecido com o de uma cascavel, daí sua nomenclatura vulgar de chocalho de cobra, pelo fato das sementes chocalharem em seu interior.
As abelhas visualizadas foram da espécie Xylocopa frontalis e X. grisescens que se comportam de forma peculiar. Aproximam-se da planta em linha reta, sobrevoam a planta a ser polinizada, pousam sobre as estruturas reprodutivas do vegetal e com o auxílio das patas e contrações do tórax e abdome, vibram as anteras para a retirada do pólen fazendo assim ruídos. Este método de polinização por vibração garante de forma quantitativa, um aumento do pólen retirado em cada peça floral o que justifica a presença em grande número do pólen espalhado no ventre das abelhas capturadas.
Pôde-se observar também, que durante as horas mais quentes do dia a visita floral foi reduzida, tal acontecimento levou-se a crer que o aumento da temperatura é infavorável a polinização talvez pelo fato do calor provocar o fechamento das flores impossibilitando seu forreamento bem como, a redução dessa atividade durante o período chuvoso possivelmente devido às adaptações á pressões climáticas.
Segundo Morse (1982), as mamangavas são influenciadas pela intensidade luminosa, apesar de serem as primeiras a começarem a forragear e as últimas a cessarem o forrageamento (MANENTE-BALESTIERI & MACHADO, 2002).
SOARES (2004), estudando a ecologia da de Spathicalyx Sp no município de Ivinhema, Ms, concluiu que todas espécies de visitantes florais, inclusive as mamangavas, analisadas responderam positivamente á luminosidade, velocidade do vento e temperatura e negativamente á umidade relativa do ar. Podendo considerar a existência de uma interação entre os fatores abióticos e o forrageamento dos visitantes, assim sendo os fatores abióticos influenciaram em suas visitas.


4.CONCLUSÃO

Os dados obtidos neste trabalho sobre a dependência e reciprocidade de Fabaceae (Angiosperma) e Xylocopa (Hymenoptera: Apoidae) no município de Aracaju-SE ainda são preliminares e não permitem o estabelecimento de padrões para essa região visto que, o tempo de observação foi escasso devido a consecutivos períodos de chuva, o que de certa forma atrapalhou seu desenvolvimento. Outros estudos deverão ser implementados na área, com os objetivos de ampliar as informações sobre a temática.

5.REFERÊNCIAS

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Autor: Larissa Lima


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